segunda-feira, 12 de agosto de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Prefeitos que não deram fim a lixões precisam se explicar

O Globo

Brasil ainda tem 3.000 depósitos irregulares que causam doenças e aumentam o aquecimento global

Se todo o lixo produzido no mundo a cada ano fosse colocado em contêineres enfileirados, cobriria distância maior que uma viagem de ida e volta à Lua. Jogados em lixões, os resíduos causam problemas de saúde pública, contaminam o meio ambiente e produzem gases que provocam o aquecimento global. Entre 400 mil e 1 milhão de pessoas morrem por ano de doenças ligadas à má gestão do lixo, diz relatório recente da ONU.

Em tema tão premente, prefeitos brasileiros de diferentes regiões devem explicações. No Brasil, 33,3 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos, ou 40% do lixo gerado, têm destinação inadequada, segundo a Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema). A prática é um desrespeito à legislação e exige escrutínio de órgãos de controle.

Jorge Darze* - Diálogo contra a crise dos hospitais federais no Rio

O Globo

Não basta o governo se unir ao setor privado na tentativa de resolver o problema. Essa não é a solução

Apesar do nosso respeito pelo autor do artigo “Parcerias contra a crise dos hospitais federais no Rio”, publicado pelo GLOBO na semana passada, não podemos concordar com suas teses sobre a crise dessas unidades. Fazer parte da democracia é ter o direito de discordar e apresentar uma visão distinta sobre um problema tão complexo. Desde a promulgação da Constituição de 1988, até hoje nada foi feito para livrar esses hospitais das muitas dificuldades que enfrentam.

Só quando o programa Fantástico revelou a situação precária dessas unidades, o governo federal parece ter despertado para a gravidade do problema e apresentado soluções atabalhoadas, sem ouvir o controle social previsto na Lei 8.142 de 1990 e sem abrir um diálogo efetivo com as instituições representativas da sociedade civil. Para quem defende o SUS, essa postura é um erro grave.

Fernando Gabeira - Perdendo o jogo na Venezuela

O Globo

A tática já foi anunciada por Lula: construir uma narrativa democrática, apesar de tantas evidências

Li uma entrevista de um homem de 100 anos dizendo que seu segredo era deixar os problemas cotidianos fora do quarto de dormir. Não tenho a pretensão de chegar aos 100, mas preciso banir dois personagens de minhas divagações noturnas: o Flamengo e o governo brasileiro.

Não vou aborrecer ninguém com minha paixão pelo futebol, preciso de dois parágrafos para o Flamengo. É clube com orçamento milionário e uma direção incompetente. O técnico de futebol é homem de pobres sinapses. É possível antever a derrota apenas lendo a escalação do time.

Suas explicações nunca vão às causas do problema. Outro dia, após uma derrota, ele reclamou do calor, como se seu time jogasse no sol, e o vencedor numa redoma de ar-condicionado.

Miguel de Almeida - O sequestro da fé

O Globo

Jesus não tem escapado ao escrutínio da investigação histórica

Numa tarde qualquer, um padre entra secundado por alguns policiais na casa de uma família judia e leva o filho de 6 anos. O garoto será educado pela Igreja. O pai não poderá sequer reclamar ao Papa, porque é ele quem ordena o rapto. A lei permite: não católicos não podem criar crianças na religião. “O sequestro do Papa”, obra-prima do italiano Marco Bellocchio, 84 anos, conta a história verídica de Edgardo Mortara na Bolonha do século XIX. Filho de judeus, foi batizado às escondidas por uma empregada.

Não se sequestram mais crianças para serem educadas pela Igreja (até o momento em que escrevo). Também o Papa não possui o mesmo poder absolutista. Por ceder um anel ou outro, Papa Francisco é chamado de comunista pela extrema direita. O secularismo avançou com a ciência — a expectativa de vida quase dobrou desde o rapto de Edgardo, em 1857. Nada disso parece importar.

Bruno Carazza - E agora, quem poderá nos defender?

Valor Econômica

Sociedade brasileira precisa se conscientizar que mudança não virá de cima para baixo

Na semana passada, o economista André Lara Resende, um dos idealizadores do Plano Real, publicou aqui no Valor um texto criticando o “sequestro da imaginação” a que a política econômica brasileira está submetida.

Na sua visão, estamos presos a uma armadilha ditada por um receituário conservador que prescreve arrocho fiscal e juros altos, enquanto o tratamento alternativo proposto pela esquerda tem como efeitos colaterais a captura do orçamento público pelo patrimonialismo e pelo corporativismo.

André Lara Resende chega a propor um roteiro de quatro dimensões para nos libertar dessa arapuca econômica: 1) melhoria da governança pública para blindar o orçamento da captura de grupos de interesse; 2) regulamentação inteligente da economia, voltada para ganhos de produtividade; 3) desenvolvimento de um plano de investimentos de longo prazo e 4) criação de um conselho para a coordenação das políticas monetária e fiscal.

Alex Ribeiro - Qual é a chance de o BC subir o juro?

Valor Econômico

Copom não está disposto a fazer sinalizações num ambiente de grande incerteza, mas quer mostrar que não está leniente

O diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, foi porta-voz da mensagem mais conservadora do Comitê de Política Monetária (Copom) que coloca sobre a mesa a possibilidade de subir os juros na reunião de setembro. Qual é a chance de essa ameaça ser levada a cabo?

Como o Copom não assumiu antecipadamente nenhum compromisso firme - vai depender de como os dados evoluem até lá - não é possível afirmar com certeza. O que dá para dizer é que, se o comitê se confrontar com a mesma situação do último encontro, o cenário provável é a Selic subir acima dos atuais 10,5% ao ano.

Assis Moreira - A proporção de jovens 'nem-nem' no Brasil chega a 20,6%

Valor Econômico

OIT alerta para riscos globalmente com milhões de jovens sem emprego, estudo ou formação profissional

Um entre cinco jovens no Brasil com idade entre 15 e 24 anos não tem emprego, não estuda e nem segue uma formação profissional, refletindo uma situação economica e social difícil que tende a suscitar ansiedade crescente entre eles.

Relatório publicado hoje pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostra que a proporção de jovens ‘nem-nem’ no Brasil, ou seja, que não estuda nem trabalha (NEET na sigla em inglês), era de 20,6% em 2023, comparado a 16,1% na Argentina, 12,9% na China, 12,2% na Rússia, 25,9% na India e 31,7% na Africa do Sul.

Humberto Saccomandi - Kamala começa a despontar como favorita nos EUA

Valor Econômico

Candidata democrata está avançando sobre Donald Trump e vários fatores devem impulsionar candidatura e consolidar favoritismo

democrata Kamala Harris está avançando sobre o republicano Donald Trump nas pesquisas de intenção de voto e começa a surgir como possível favorita, a pouco menos de três meses das eleições presidenciais nos EUA. Uma série de fatores deve impulsionar a sua candidatura nas próximas semanas e pode consolidar esse favoritismo. A situação da economia americana parece ser hoje o maior risco para a democrata.

Praticamente todas as recentes pesquisas de intenção de voto nos EUA indicam situação de empate técnico entre Kamala e Trump. Mas, na última semana, a democrata aparece numericamente à frente do republicano na maioria das sondagens. Isso é uma reviravolta na disputa, já que Trump sempre apareceu à frente ao longo deste ano.

Guilherme Casarões - Plataforma nacionalista-cristã de Trump é ameaça à democracia

Folha de S. Paulo

Projeto 2025 indica um eventual segundo mandato ainda mais centralizador

Após a decisão do presidente Joe Biden de abandonar a corrida presidencial, anunciada em 21 de julho, todos os olhos se voltaram para Kamala Harris. Por um momento, o republicano Donald Trump foi deixado de lado. Mesmo a poderosa imagem do ex-presidente levantando-se após quase ser morto em um atentado cedeu espaço aos discursos, aos sorrisos e à aparente vitalidade da vice-presidente e atual candidata democrata.

Biden era alvo fácil, e sua desistência desorganizou a estratégia trumpista. Trump está perdido em seus ataques contra Kamala, ora acusando-a de manipular sua ascendência negra para ganhar votos, ora sugerindo que ela irá banir o consumo de canudos plásticos e carne vermelha (!). Suas declarações, claro, oscilam entre o preconceito aberto, a caricatura desonesta e a mentira absoluta.

Marcus André Melo - Genealogia do Chavismo

Folha de S. Paulo

A maldição dos recursos naturais ou o que explica a instabilidade política na Venezuela?

As vicissitudes da democracia na Venezuela explicam-se por vários fatores. Trato aqui de um dos mais importante deles —de natureza estrutural—: o país é um petroestado.

O país liderou a formação da OPEP (1960), embora a PDVSA só tenha sido concebida em 1976, duas décadas depois da criação da Petrobras. Durante o chamado 1º choque do petróleo, o barril do produto foi de US$ 3 para US$ 12, e chegou a US$ 34, em 1980. O país passou, então, a ostentar a maior renda per capita da América Latina.

Denis Lerrer Rosenfield - Esquerda e extrema esquerda

O Estado de S. Paulo

Se antes o pensamento era calado pela disciplina partidária bolchevique, agora o é pelos critérios arbitrários da aparência

Houve época em que o PT, em debates sobre sua identidade, perguntava-se se o seu caminho seria enveredar rumo à social-democracia ou permanecer um partido de esquerda bolchevique, com algum verniz de democracia. No caso da primeira alternativa, o caminho seria o de uma social-democracia tipo alemã, que abandonou o marxismo, elegeu a democracia e adotou uma economia de mercado. Grandes políticos como Willy Brandt ou pensadores como Eduard Bernstein poderiam ter sido guias de ação e reflexão. Na segunda alternativa, deveria enveredar pela via revolucionária, com o recurso à violência, embora, sem muita convicção, tenha optado pela via democrática, a de conquista do poder para, depois, abolir as condições mesmas de exercício da democracia. Hugo Chávez seria um exemplo perto de nós.

Diogo Schelp – Desigualdade olímpica

O Estado de S. Paulo

A dádiva lulista aos esportistas reproduz princípio medieval, que é a origem da desigualdade no País

As 20 medalhas do Brasil na Olimpíada de Paris vão render, no total, R$ 5,39 milhões em prêmios do COB aos atletas. Muita gente ficou inexplicavelmente surpresa ao “descobrir” que até 27,5% do valor das premiações seria abocanhado pelo Imposto de Renda. O surto patriótico nas redes sociais motivou alguns parlamentares a propor leis para abolir a “taxação olímpica”. O presidente Lula se antecipou e assinou uma medida provisória isentando de IR os prêmios aos medalhistas.

Poesia | Verdade, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Mônica Salmaso - A volta do malandro