Aquecimento da economia exige toda a cautela
O Globo
PIB deve ser celebrado, mas, sem deter
expansão da dívida pública, crescimento será insustentável
Há exatos dois anos, em dezembro de 2022, os
analistas previam que a economia brasileira cresceria 0,75% em 2023 e 1,71% em
2024. Nesta terça-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
divulgou o número revisado para o Produto Interno Bruto (PIB) do ano
passado e os dados para o terceiro trimestre deste ano. O resultado oficial:
crescimento de 3,2% em 2023 e de 3,1% nos 12 meses terminados em setembro.
Mesmo com a esperada desaceleração, poucos duvidam de que o PIB ficará acima de
3% em 2024. O desemprego caiu para 6,2% no trimestre encerrado em outubro,
menor índice da série histórica iniciada em 2012. A superação das expectativas
deve ser motivo de celebração. Mas o aquecimento da economia também exige
extrema cautela.
O principal ponto de atenção é a situação fiscal, em flagrante deterioração. Pelos números divulgados ontem pelo Tesouro, o governo central registrou R$ 64,4 bilhões de déficit primário entre janeiro e outubro. No acumulado de 12 meses até outubro, foram R$ 225,3 bilhões, ou 1,9% do PIB. Apesar de o arcabouço fiscal tolerar déficit de até R$ 28,8 bilhões (0,25% do PIB) em 2024, a previsão do próprio governo é passar de R$ 64 bilhões no fim do ano, em razão das despesas excluídas da meta (“gastos parafiscais”). O déficit zero proclamado no anúncio do arcabouço se revelou uma quimera. Pela estimativa da Instituição Fiscal Independente (IFI), a dívida pública chegará a 84,5% em 2026, ante 71,7% em 2022. E não há perspectiva de que venha a cair. Sem cuidar de estabilizar a trajetória de endividamento, a ressaca do crescimento promete ser feia.