terça-feira, 24 de setembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Lula enfrentará na ONU os paradoxos de sua diplomacia

O Globo

Do meio ambiente à Venezuela, da Ucrânia ao Oriente Médio, Itamaraty criou armadilhas no atual governo

Ao abrir a Assembleia Geral da ONU no ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva causou boa impressão pelo contraste com o antecessor. Parecia, enfim, que o Brasil estava de volta à cena internacional depois de relegado à posição de pária pelo bolsonarismo. Com quase dois anos de mandato, o encanto se quebrou. Nesta terça-feira, ao repetir a tradição do discurso de abertura, Lula terá de enfrentar os paradoxos e contradições de sua política externa. Sejam quais forem os temas abordados — do aquecimento global à fome, da guerra na Europa ao conflito no Oriente Médio, da Venezuela à crise migratória —, a diplomacia brasileira sob o PT esbarra em obstáculos que ela mesma criou.

meio ambiente é um exemplo didático. Antes de assumir, Lula fez questão de se apresentar como líder do combate às mudanças climáticas. Dois anos depois, chega a Nova York com o Brasil encoberto pela fumaça da Amazônia e do Pantanal. A estação seca deste ano bateu recordes, é verdade. Mas faltaram planejamento e prevenção. O governo fez pouco para recompor órgãos ambientais, contratar brigadistas temporários e coordenar o trabalho com equipes estaduais para deter os criminosos. Lula não perde a oportunidade de exigir recursos dos países ricos para mitigar os efeitos das mudanças do clima — e está certo. Mas faria melhor se demonstrasse capacidade de gestão. A levar em conta a atual, mais dinheiro não será barreira para o fogo.

Merval Pereira - Teoria e prática

O Globo

Brasil não lidera um movimento de políticas climáticas, como tem recaídas em políticas de combustíveis fósseis que deveriam ser desativadas, e não incentivadas, como a exploração da Margem Equatorial na foz do Rio Amazonas

O discurso de Lula na Cúpula do Futuro da ONU precisará ser revigorado hoje, na abertura da Assembleia Geral, para que ganhe mais força além da retórica correta e do diagnóstico preciso de que estamos rumo a um “fracasso coletivo”. Se não estivéssemos tão fragilizados devido às queimadas na Amazônia, no Pantanal e noutros biomas, teríamos mais força moral para assumir o papel de bedel do mundo em relação ao meio ambiente, pois temos, na teoria, um Ministério do Meio Ambiente liderado por uma das figuras mais relevantes do setor, respeitada mundialmente, a ministra Marina Silva, e uma equipe técnica das mais competentes.

Além do mais, temos um presidente comprometido com a política de proteção ao meio ambiente substituindo um que, ao contrário, considerava esse um entrave ao desenvolvimento. Na teoria, o discurso de Lula foi correto, com boas posições, mas a falta de liderança na região, a América Latina, enfraquece a retórica. Não apenas não estamos liderando um movimento de políticas climáticas, como temos recaídas em políticas de combustíveis fósseis que deveriam ser desativadas, e não incentivadas, como a exploração da Margem Equatorial na foz do Rio Amazonas.

Maria Cristina Fernandes - O governador que pactuou com Marina pelo Pantanal

Valor Econômico

Reação de Riedel às queimadas no Pantanal foram classificadas por Marina de “paradigmáticas”

Um dos pivôs da traumática saída da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, do mesmo cargo no segundo governo Luiz Inácio Lula da Silva, que também a levou a deixar o PT, fundar o Rede e disputar a Presidência da República, foi o então governador do Mato Grosso e rei da soja, Blairo Maggi, que levantou barricadas na batalha contra o desmatamento.

Dezesseis anos depois, Marina escolheu um outro governador, o do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel - desta vez para símbolo do diálogo possível no combate às queimadas. Mencionou a relação com o Estado como exemplo na reunião dos governadores da semana passada, levou Riedel para a entrevista que se seguiu, junto com o ministro da Casa Civil, Rui Costa e, nesta segunda, em entrevista ao podcast “Café da Manhã” a ministra nomeou a reação do governador às queimadas como “paradigmática”.

Miriam Leitão - Dúvidas fiscais e respostas oficiais

O Globo

A equipe econômica acha que o mercado financeiro não valoriza seu esforço para colocar as contas em dia. Já o mercado acredita em risco fiscal

Era só a divulgação de um relatório, mas acabou virando mais um ponto de completa divergência entre o governo e o mercado financeiro. O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, falou em “incômodo da equipe” com a “irracionalidade na repercussão” que “ignora certos fatos da realidade”. E afirmou que “contabilidade criativa e calote do governo” houve na administração anterior. Era resposta ao mercado que tem falado muito no risco fiscal do país. Não apenas falado. Na sexta-feira e ontem os juros futuros fecharam com forte alta, o termômetro mais objetivo dessa preocupação. A bolsa caiu pelo quinto pregão seguido e o dólar voltou a subir.

Bruno Carazza - Mitos e verdades sobre a “matemágica” do ajuste fiscal

Valor Econômico

Projeções do governo despertam suspeitas sobre capacidade de estabilizar a dívida pública

Divulgado no final da sexta-feira, o Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias do 4º Bimestre de 2024 gerou uma série de críticas de analistas durante o final de semana. No centro dos julgamentos negativos estava a preocupação com a falta de realidade das projeções para este ano, o que levou alguns especialistas a utilizarem o termo “matemágica” para descrever os malabarismos do governo para cumprir a meta fiscal de 2024.

Em coletiva de imprensa realizada nesta segunda, os secretários executivos dos ministérios da Fazenda e do Planejamento, Dario Durigan e Gustavo Guimarães, detalharam os números e defenderam enfaticamente a posição da equipe econômica, que se mantém confiante em atingir o objetivo de equilibrar receitas e despesas – sendo tolerável uma diferença negativa de 0,25% do PIB.

Pedro Cafardo - Crescer é muito perigoso?

Valor Econômico

O pessimismo sobre o desempenho da economia predomina há anos, e a citação de boas notícias vem sempre com a ressalva do ‘risco fiscal’

Nas últimas semanas, vieram boas notícias na economia. O PIB cresceu mais do que o esperado no segundo trimestre: 1,4% em relação ao primeiro e 3,3% ante o mesmo período do ano passado. Houve deflação de 0,02% em agosto. A arrecadação federal teve um aumento real de 9,5% de janeiro a agosto. O consumo e os investimentos cresceram.

O PIB vai superar as expectativas do mercado neste ano, algo que ocorre desde 2020, quando se projetava recessão de 6,5% e ela foi de 3,3%. Em 2021, a expansão prevista era +3,4% e a efetivada foi +4,8%. Em 2022 estimava-se +0,3% e deu +3%. Em 2023 o esperado era +1,4% e deu +2,9%. No início deste ano previa-se +1,6% e caminhamos para +3%.

O pessimismo sobre o desempenho da economia predomina há anos. A citação de boas notícias vem sempre com a ressalva do “risco fiscal”, do crescimento acima do potencial e da inflação. Por isso, o Banco Central aumentou a taxa de juros na semana passada, voltando a promover aperto monetário que deve reduzir o crescimento. Teve amplo apoio do mercado. Este colunista, abrindo espaço ao contraditório, fez uma pergunta provocativa a quatro economistas, todos do não mercado: “Crescer é perigoso?”.

Eliane Cantanhêde – ‘Perda de vitalidade’

O Estado de S. Paulo

Lula leva um discurso correto à ONU, mas perdeu relevância e legitimidade

O presidente Lula que abrirá hoje a Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, não tem a força, a disposição e o portfólio de feitos e promessas daquele Lula de 2023, que estava de volta, tinindo, para o terceiro mandato. O discurso e as cobranças serão basicamente os mesmos, mas Lula, assim como a atenção e a repercussão internacional, não.

A expectativa é de que repita o tom e o script de domingo no Pacto do Futuro, evento paralelo à abertura da assembleia-geral, um ano antes da COP-30, em Belém: críticas à “perda de vitalidade” da ONU e à falta de atualização do Conselho de Segurança e cobrança aos países ricos por mais responsabilidade, recursos e ações coordenadas no combate à fome, à miséria e à crise climática.

Carlos Andreazza - O uso extremado de Alexandre de Moraes

O Estado de S. Paulo

Se o ministro declara que a decisão é pela democracia e contra o discurso de ódio, tudo pode

A semana passada terminou com nova determinação de Alexandre de Moraes à Polícia Federal: para que identificasse e notificasse quem fizera uso extremado do X, no Brasil, após o bloqueio.

Lembremos: o ministro havia ordenado a suspensão da rede social em 30 de agosto. Seria multado em R$ 50 mil quem recorresse a VPN para entrar no outrora Twitter.

A aberração tinha alcance original irrestrito: seria multado qualquer um – não interessando a natureza/duração do uso – que ingressasse no X via subterfúgio.

Rubens Barbosa - Reforma do Judiciário no México

O Estado de S. Paulo

A insegurança jurídica, a influência do crime organizado e a politização das decisões poderão vir a ser evidenciadas nos próximos anos

O Congresso mexicano aprovou uma ampla mudança constitucional que prevê profunda reforma do Judiciário, submetida pelo presidente López Obrador na reta final de seu mandato. A lei, já sancionada por Obrador, deverá ser aprovada por cerca de 27 Estados onde o partido Morena, de Obrador, tem ampla maioria. Nas eleições presidenciais de junho passado, o atual presidente conseguiu eleger Claudia Sheinbaum como sua sucessora e alcançou ampla maioria não só nas duas casas do Congresso, mas também em 17 dos 32 Legislativos estaduais.

As mudanças aprovadas no México são semelhantes à reforma que Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, quis aprovar em razão de desavenças com a Suprema Corte, mas não conseguiu por falta de apoio da sociedade israelense e de votos no Knesset. Segundo os críticos da reforma, caso aprovada, acabaria com a independência judicial em Israel.

Jorge J. Okubaro - A década que nunca termina

O Estado de S. Paulo

É difícil imaginar que, depois de tanto tempo de conformismo, surja na AL e Caribe uma onda de modernização e de crescimento como a preconizada pela Cepal

Sombrio é como alguns jornais descrevem o ambiente econômico na China. A desaceleração da atividade econômica é acentuada. A produção industrial e as vendas no varejo crescem menos que o esperado, o desemprego começa a subir, o mercado de ações despenca. O resto do mundo acompanha com apreensão esse desenrolar. Países desenvolvidos temem que, necessitando estimular a economia, a China adote medidas protecionistas ou práticas comerciais não convencionais. Outra parte do mundo será afetada pela queda da demanda da China.

Isabel Lustosa - Dom Pedro 1º: uma Constituição e um funeral

Folha de S. Paulo

Nos 190 anos da morte do primeiro líder do Brasil independente, sabe-se que o imperador exibiu contradições, mas obteve sucesso ao realizar seus ideais

No mesmo ano em que se comemoram os 200 anos da Carta Constitucional que dom Pedro 1º outorgou ao país em 25 de março de 1824, relembram-se, nesta quarta-feira (24), os 190 anos da morte deste que foi o primeiro governante do Brasil independente.

Entre a outorga da Carta e a morte dramática do ex-imperador no Palácio de Queluz, em 24 de setembro de 1834, pouco mais de dez anos se passaram. As singulares circunstâncias do personagem estão na origem da velocidade e da intensidade dos acontecimentos que mudaram sua vida.

Em 1824, foi conflagrada em Pernambuco a Confederação do Equador, a mais violenta revolta armada que abalou o Primeiro Reinado. No ano seguinte, tiveram lugar as sinuosas negociações com a Inglaterra para fazer com que Portugal reconhecesse a Independência do Brasil. Em 1826, morreu dom João 6º. Apesar de ser seu legítimo herdeiro, dom Pedro era imperador do Brasil e teve que abdicar da coroa portuguesa em favor da filha mais velha. No final daquele mesmo ano, sofreu a morte da imperatriz, leal companheira tão ofendida e humilhada pelo marido. Ainda em 1826, houve a retomada do funcionamento regular do Parlamento —o qual, ao longo dos anos seguintes, seria cada vez mais agitado por uma oposição aguerrida, que, apoiada e insuflada pela imprensa livre, acabaria por obrigá-lo a também abdicar do trono brasileiro em 7 de abril de 1831.

Joel Pinheiro da Fonseca - A imprensa não é tutora da democracia

Folha de S. Paulo

O papel do jornalismo hoje não é mais o de megafone de algumas poucas vozes

A discordância é o que move o debate público. Quando é de alto nível, melhor ainda. Sendo assim, aproveito esta oportunidade para discutir o artigo de Leão Serva publicado na Folha ("Imprensa repete erro que levou Hitler ao poder ao chamar Marçal para debates"), do qual discordo profundamente.

Nele, Serva argumenta que não se deve dar espaço para candidatos como Pablo Marçal, Bolsonaro e Trump em debates políticos. Dar palco a candidatos que atacam a democracia e a imprensa é pavimentar o caminho da ditadura.

Usar uma retórica agressiva com relação à imprensa ou que prometa "atos disruptivos" da democracia deveria ser motivo para excluir um político do debate público? Ia sobrar bem pouca gente. Se vale para Marçal e Bolsonaro, deve valer para todos. Inclusive para Lula quando ameaçou, em 2015, colocar o "Exército do Stédile" (o MST) nas ruas para brigar pelo PT? Sem dúvida seria disruptivo.

Hélio Schwartsman - O tamanho do botão

Folha de S. Paulo

Disputa entre Moraes e Musk por acesso a X lembra querela entre Trump e Kim Jong-un em torno de bombas atômicas

refrega entre Alexandre de Moraes e Elon Musk em torno do acesso ao X lembra-me o embate entre Donald Trump e Kim Jong-un em 2018 para estabelecer quem detinha o maior botão nuclear –uma disputa de egos que produziu muito ruído sem alterar substancialmente o statu quo.

Moraes até começa com mais razão do que Musk. Se uma empresa estrangeira que atua no Brasil se recusa a cumprir decisões judiciais, é perfeitamente razoável que as autoridades locais lhe imponham multas e eventualmente determinem o fechamento de seus escritórios no país.

Dora Kramer - Nasce um escândalo

Folha de S. Paulo

Congresso extrapolou, e farra das emendas agora está na mira do Ministério Público

Três deputados federais do PL estão denunciados ao Supremo Tribunal Federal pela Procuradoria-Geral da República por desvio de recursos das emendas parlamentares. Josimar Maranhãozinho, Pastor Gil, ambos do Maranhão, e Bosco Costa, de Sergipe, são acusados de peculato e extorsão em São José de Ribamar (MA).

Segundo o relato da PGRmandavam recursos para a prefeitura em troca da devolução de uma parte do dinheiro em forma de comissão paga por empresas ou pelo cofre municipal.

Alvaro Costa e Silva - A bola de cristal do senador

Folha de S. Paulo

Senador diz que haverá loucura em 2026; mas loucura de quem ou contra quem?

Aprendiz de Mãe Dinah, Ciro Nogueira prevê que o impeachment de ministros do STF será uma das principais pautas na eleição do Senado em 2026. "Vai ser uma loucura, você não tem ideia do que vai acontecer", ameaçou em entrevista à Folha. O líder do centrão acredita que Jair Bolsonaro vai recuperar os direitos políticos —ou por meio do próprio Judiciário que o tornou inelegível, ou por anistia do Congresso— e poderá ser candidato ao Planalto daqui a dois anos.

Morre Sebastião Nery, jornalista e deputado cassado pela ditadura

Correio Braziliense

Escritor teve mandato como deputado estadual cassado pela ditadura e atuou na criação do PDT

Morreu na madrugada desta  segunda-feira (23/9) o jornalista Sebastião Nery, aos 92 anos. Segundo informações dadas pelo jornal Folha de S.Paulo, onde foi colunista, Nery estava com a saúde debilitada havia cerca de quatro meses e morreu de causas naturais. A cerimônia de cremação ocorrerá nesta terça-feira (24/9), das 8h às 10h, no Cerimonial do Carmo, bairro do Caju, no Rio de Janeiro. 

Com mais de 15 obras publicadas, o baiano de Jaguaquara (BA) foi um dos jornalistas políticos mais influentes na época da ditadura. Nery nasceu em 8 de março de 1932 no interior baiano, mas deixou a cidade natal para frequentar seminário em Amargosa (BA). Na década de 1950, ele se muda para Minas Gerais, onde inicia a carreira como jornalista. 

Em 1963, Nery é eleito deputado estadual pela Bahia, mas tem o mandato cassado em 1964 pelo regime militar e passa um período preso, até agosto, quando deixa a prisão. O político ainda chega a reassumir o mandato, mas é cassado novamente e perde os direitos políticos. 

Durante o período que passou fora da política, Sebastião Nery atuou em veículos como TV Globo, Folha de S.Paulo e TV Bandeirantes. Com a anistia, o jornalista se alia a Leonel Brizola na fundação do Partido Democrático Trabalhista (PDT) e é eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro em 1983. 

O escritor era viúvo e deixa três filhos, Jacques, Sebastião Nery Júnior e Ana Rita.

 

Poesia | Não chore mais o erro cometido, de William Shakespeare

 

Música | Marisa Monte - Para ver as meninas (Paulinho da Viola)