Lula enfrentará na ONU os paradoxos de sua diplomacia
O Globo
Do meio ambiente à Venezuela, da Ucrânia ao
Oriente Médio, Itamaraty criou armadilhas no atual governo
Ao abrir a Assembleia Geral da ONU no
ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva causou boa impressão pelo contraste com o antecessor. Parecia, enfim, que
o Brasil estava de volta à cena internacional depois de relegado à posição de
pária pelo bolsonarismo. Com quase dois anos de mandato, o encanto se quebrou.
Nesta terça-feira, ao repetir a tradição do discurso de abertura, Lula terá de
enfrentar os paradoxos e contradições de sua política externa. Sejam quais
forem os temas abordados — do aquecimento global à fome, da guerra na Europa ao
conflito no Oriente Médio, da Venezuela à
crise migratória —, a diplomacia brasileira sob o PT esbarra
em obstáculos que ela mesma criou.
O meio ambiente é um exemplo didático. Antes de assumir, Lula fez questão de se apresentar como líder do combate às mudanças climáticas. Dois anos depois, chega a Nova York com o Brasil encoberto pela fumaça da Amazônia e do Pantanal. A estação seca deste ano bateu recordes, é verdade. Mas faltaram planejamento e prevenção. O governo fez pouco para recompor órgãos ambientais, contratar brigadistas temporários e coordenar o trabalho com equipes estaduais para deter os criminosos. Lula não perde a oportunidade de exigir recursos dos países ricos para mitigar os efeitos das mudanças do clima — e está certo. Mas faria melhor se demonstrasse capacidade de gestão. A levar em conta a atual, mais dinheiro não será barreira para o fogo.