terça-feira, 18 de junho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Incêndios florestais exigem ação urgente do poder público

O Globo

Seca inclemente contribui para maior quantidade de focos dos últimos 21 anos. E pior ainda pode estar por vir

Depois das cheias no Rio Grande do Sul, está em curso novo desastre ambiental com a maior temporada de incêndios florestais dos últimos 21 anos. Até a semana passada, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) contava quase 28 mil focos de incêndio no primeiro semestre, acima do recorde de 2003. A temporada deste ano promete ser tão ou mais severa, pois a estação de incêndios, na maioria dos biomas, ocorre no segundo semestre e chega ao auge entre setembro e outubro. O pior, provavelmente, ainda está por vir.

Só no Pantanal, os focos de incêndio aumentaram mais de dez vezes em relação a 2023. E a combustão não tem se limitado a esse bioma. Ao longo dos últimos três anos, os incêndios têm varrido Cerrado e Amazônia, pondo em risco também Caatinga e Mata Atlântica. Apenas o Pampa ficou a salvo do fogo, como atestam as enchentes gaúchas.

Merval Pereira - Um país encrencado

O Globo

Vale o que fala Fernando Haddad, ministro da Fazenda, ou Gleisi Hoffmann, presidente do PT? Lula fica de um lado para o outro e não se define

O ministro da Fazenda de um país afirmar em palestra que avalia a possibilidade de voltar a dar aulas porque o país “é uma encrenca” e “difícil de administrar” geraria uma crise sem precedentes. No Brasil, e é daqui que tratamos, não causou comoção porque Fernando Haddad expressou apenas o sentimento de boa parte do PIB e da classe média brasileira, que já desconfiavam há bastante tempo de que ele não tinha apoio interno para realizar as reformas necessárias.

O PT não sabe governar sem cisões e disputas internas, e mais uma vez vemos isso acontecer, num momento em que a liderança de Lula é declinante, embora ainda prevaleça sobre as demais figuras partidárias — ninguém para superá-lo, mas muitos já sem o temor de confrontá-lo. Esse confronto se dá por uma posição anacrônica da esquerda petista, que não se conforma com a necessidade de contenção de gastos para equilibrar as contas públicas.

Míriam Leitão - Os créditos sem fundo

O Globo

O mau uso do sistema de crédito do PIS/Cofins explica uma parte da gritaria do empresariado contra a MP 1227, que foi devolvida pelo Senado

Algumas empresas estariam se creditando indevidamente do PIS/Cofins e isso é que teria gerado tanta gritaria em relação à MP 1227/24, aquela que acabou devolvida pelo Senado. É essa a informação de técnicos da Receita. Alguns créditos não eram devidos, mas as empresas estariam usando os supostos créditos para pagar tributos como Imposto de Renda e Contribuição Social sobre Lucro Líquido, recolhimento previdenciário e outros. Os combustíveis foram desonerados no governo Bolsonaro e, por isso, as distribuidoras não pagaram PIS/Cofins, mas querem se creditar do imposto pago pelas refinarias. Isso, numa primeira análise, daria um custo tributário de R$ 20 bilhões.

Lula ataca Banco Central e critica isenções em entrevista à rádio CBN

Por Jenifferr Gularte e Bernardo Lima /O Globo

Na véspera da reunião do Copom que deve interromper a queda de juros, presidente afirma que Campos Neto 'trabalha muito mais para prejudicar o país do que ajudar' e o compara a Sérgio Moro

Na véspera da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) para decidir a nova Taxa Selic, e num momento em que analistas do mercado preveem que os juros vão parar de cair, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou nesta terça-feira o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. A reunião para definir a Selic começa nesta terça-feira. A taxa atual está em 10,5% e, se for mantida, vai interromper uma sequência de redução nos juros iniciada em agosto de 2023 .

Lula afirmou que o comportamento da instituição é a única coisa "desajustada" na economia do país. E comparou Campos Neto ao ex-juiz e hoje senador Sergio Moro (União-PR), que foi o responsável por condená-lo na Lava-Jato. Segundo o petista, Campos Neto tem "lado político" e não demonstra "capacidade de autonomia".

Paes tem 40 pontos de vantagem em relação a Ramagem, aponta pesquisa Quaest

Camila Zarur / Valor Econômico

Intenção de votos no bolsonarista, porém, cresce com associação a Bolsonaro e chega a 29%, ante 51% do prefeito

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), tem 51% das intenções de voto para se reeleger neste ano, segundo aponta pesquisa Quaest divulgada nesta terça-feira (18). Na primeira sondagem feita pelo instituto sobre a corrida municipal carioca, o atual chefe do Palácio da Cidade aparece na liderança da disputa, com 40 pontos percentuais de diferença para o segundo colocado: o deputado federal bolsonarista Alexandre Ramagem (PL), com 11%.

A pesquisa foi encomendada pela Rádio Tupi, do Rio, e feita entre os dias 13 e 16 deste mês, com eleitores de 16 anos ou mais. Foram realizadas 1.145 entrevistas presenciais. A margem de erro é de 3 pontos percentuais, para cima ou para baixo, e o índice de confiança é de 95%.

Em terceiro lugar, segundo a sondagem, está o deputado federal Tarcísio Motta (Psol), com 8%. Em seguida, aparecem o deputado estadual Rodrigo Amorim (União Brasil), com 4%, e o federal Marcelo Queiroz (PP), com 2%.

O percentual de eleitores que afirmaram que vão votar nulo, branco ou não irão votar é de 20%. Os indecisos, por sua vez, são 4%.

Maria Cristina Fernandes - Eleitor é conservador, não fundamentalista

Valor Econômico

Eleitor é punitivista, não aceita ser garfado em direitos nem se engana sobre a vítima de estupro

Foram duas derrotas consecutivas, num prazo de duas semanas, impostas pela sociedade, nas redes sociais e nas ruas, à extrema-direita: a proposta de emenda constitucional que prevê a venda de terrenos de marinha, chamada de “pec das praias”, e o projeto que criminaliza a prática do aborto, nos casos já previstos em lei (estupro, risco de vida da mulher e má-formação do feto), acima de 22 semanas.

Os governistas puseram o pescoço para fora depois que a derrota, em ambos os casos, já estava consolidada. Calejados pela derrubada do veto presidencial à proibição da saída temporária dos presos por razão familiar, as chamadas “saidinhas”, fruto de um cochilo em relação ao consenso punitivista vigente, deixaram de enxergar o fosso que separa uma sociedade conservadora da extrema-direita fundamentalista.

Eliane Cantanhêde - Golpe de mestre ou jogo sujo?

O Estado de S. Paulo

Estratégia da oposição é tirar da gaveta projetos infames só para acuar Lula e o governo

A urgência aprovada na Câmara para o fim das delações premiadas de presos e a equiparação do aborto após 22 semanas de gravidez a homicídio não foi para valer, para levar até o fim e ambas virarem leis. Então, por que os pedidos de urgência foram colocados em votação pelo presidente da Câmara, Arthur Lira? Para dar um susto no governo, empurrar o presidente Lula contra a parede e animar o bloco bolsonarista.

Golpe de mestre ou jogo sujo da oposição? O fato é que o governo e Lula foram jogados duas vezes numa situação difícil, batendo cabeça num momento já delicado, com a popularidade medíocre do presidente, dúvidas sobre o equilíbrio fiscal, dólar, juros e ataques especulativos contra Fernando Haddad. Nesse ambiente, bolsonaristas sacaram um projeto para “bagunçar o coreto” governista, ao sujeitar meninas e mulheres a 20 anos de prisão, caso abortem após 22 semanas de gestação, mesmo nos casos já previstos em lei.

Carlos Andreazza - Lira lobo mau

O Estado de S. Paulo

Ex-réu, é presidente onipotente de uma Câmara com lideranças murchas

De repente se descobriu Lira. De novo descoberto. De repente, de novo. De repente de novo. Dilapidador do processo legislativo desde 21, solapador da democracia representativa, presidente da Câmara cujos métodos para destruir os tempos da atividade parlamentar foram admitidos, muitas vezes aplaudidos, ao operar por agenda de interesse do governo da reconstrução.

O amor e a esperança voltaram; não os mecanismos de obstrução por meio dos quais as oposições freavam imposições. Obra de Lira. A política voltou, marginalizadas as comissões técnicas e a representação partidária proporcional. A democracia venceu. Com Lira. O sistema de votação remota instrumentalizado para ministrar esvaziamentos episódicos do plenário, com o que controla-cassa os debates.

Jorge J. Okubaro - A união de que Lula necessita

O Estado de S. Paulo

O presidente precisa também entender as aspirações legítimas de diferentes segmentos e governar sem abrir mão de seu compromisso com os mais necessitados

O mundo político e econômico parecia ter decidido que era hora de se unir contra o governo. Como se não bastassem a vigorosa oposição que enfrenta num Congresso de tendência majoritariamente conservadora e a resistência de diferentes segmentos da sociedade aos programas do PT e dos partidos aliados, o governo oferecia motivos para consolidar a união contra si. Para muitos, o presidente da República e seus ministros davam sinais de estar sem rumo. Teria Luiz Inácio Lula da Silva perdido a habilidade de lidar com adversidades políticas?

Luiz Carlos Azedo - Caso Juscelino acende a luz vermelha no Supremo

Correio Braziliense

As "emendas Pix" ou "emendas cheque em branco" foram criadas para dificultar o rastreamento do dinheiro do Orçamento destinado às bases eleitorais dos parlamentares

O caso do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, indiciado pela Polícia Federal (PF) por crimes como corrupção passiva, fraude em licitações e organização criminosa, acendeu uma luz vermelha no Supremo Tribunal Federal (STF) em relação ao destino das emendas parlamentares ao Orçamento da União. O ministro Flávio Dino determinou, nesta segunda-feira, que seja feita uma audiência de conciliação, com representantes do Executivo, do Legislativo, do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Controladoria-Geral da União (CGU), para discutir o possível descumprimento da decisão da Corte que barrou o chamado orçamento secreto.

Juscelino é acusado de desviar emendas parlamentares quando era deputado federal, destinadas ao município de Vitorino Freire (MA), cuja prefeita é Luanna Rezende, sua irmã. O dinheiro teria sido enviado por meio da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) para a pavimentação de ruas. A empresa pública é a preferida dos deputados do Nordeste para destinação de verbas federais, devido à grande capilaridade e à facilidade para contratação de obras e serviços nos municípios. Esse inquérito da Polícia Federal jogou luz sobre um problema: o caso Juscelino pode ser a ponta de um iceberg envolvendo as emendas parlamentares.

Cristovam Buarque* - Pautas contraditórias

Correio Braziliense

A pauta dos eleitores perdeu sintonia com a pauta humanista, mas as chamadas forças progressistas mantêm-se prisioneiras a um tipo de futuro que o presente faz impossível

É surpreendente como as sucessivas vitórias eleitorais da direita ainda surpreendem analistas e militantes de esquerda presos à antiga Era de Abundância, por não perceberem a pauta dos eleitores na Era dos Limites: visível no desequilíbrio ecológico, no esgotamento financeiro dos Estados, na pressão dos imigrantes, nas reivindicações das minorias, nos deficits previdenciários, na inversão da pirâmide etária com mais velhos e menos jovens.

Até recentemente, com os recursos que pareciam ilimitados na natureza e no Estado, a esquerda apontava na direção do aumento dos direitos sociais. Era possível receber imigrantes sem reduzir direitos já conquistados, aumentar o consumo sem pressionar desequilíbrios ecológicos para as gerações futuras, atender a crescentes benefícios previdenciários, respeitar minorias sem ofender a maioria. A migração em massa desarticula os direitos conquistados em décadas passadas, a crise ambiental não permite oferecer o mesmo padrão de consumo às gerações futuras, as finanças públicas desequilibradas não asseguram os recursos fiscais necessários para aposentadorias e outros benefícios. Com a consciência dos limites de recursos e o fim da ideia de abundância para todos, esses direitos e promessas ficam ameaçados, e o eleitor opta pela direita para defender privilégios  com a mesma lógica que antes votava em propostas progressistas da esquerda para aumentar direitos.

Dora Kramer - O dito de Ulysses

Folha de S. Paulo

Quanto mais poderoso, menos estatura moral tem exibido o Parlamento

Há a velha máxima de que o próximo Congresso será sempre pior que o antecessor. Vale como tirada de humor autodepreciativo consagrada pelo então presidente da Câmara, deputado Ulysses Guimarães, mas não necessariamente como expressão da verdade na história.

Já tivemos ótimas sucessoras de boas legislaturas. Caso da que veio em seguida à da Assembleia Constituinte eleita para o período de 1991-95, substituída por aquela que aprovou o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, as privatizações e a abertura da economia —justiça seja feita e apesar de todos os pesares, iniciada no governo de Fernando Collor.

Os mais antigos nessa lide lembramos bem. Havia fisiologismo, balcão de negócios, corporativismo, malandragem, mas não era a regra.

Hélio Schwartsman - Batalha de metáforas

Folha de S. Paulo

PL Antiaborto por Estupro perdeu apoio parlamentar porque permitiu descrever mudança como uma medida que imporia à vítima pena maior do que a prevista para o estuprador

Pelo que leio nos jornais, o famigerado PL Antiaborto por Estupro vai para a geladeira. A repercussão negativa da proposta foi de tal ordem que os deputados do centrão que ajudaram a aprovar o regime de urgência pularam fora. Em seguida, a própria bancada evangélica, sentindo cheiro de derrota, começou a achar melhor deixar a investida contra os direitos das mulheres para uma próxima ocasião. O que aconteceu?

Alvaro Costa e Silva - Eduardo Paes está minando o bolsonarismo

Folha de S. Paulo

Obras e alianças com evangélicos atingem a candidatura Ramagem, que não decola

Na lista de 33 deputados coautores do PL Antiaborto por Estupro, cuja urgência Arthur Lira aprovou em votação que durou 23 segundos, consta o nome de Alexandre Ramagem, que sonha em ser prefeito do Rio. Ou ele não esperava a reação negativa da sociedade, que gerou mobilização nas redes e protestos nas ruas, ou está pouco ligando.

Sua candidatura, imposta ao PL por Bolsonaro, não decola. Íntimo do ex-presidente e de seus filhos, ex-chefe da Abin investigado por arapongagem, eleito deputado federal pela primeira vez em 2022, Ramagem –ou Delegado Ramagem, alcunha com a qual pede votos– aposta em "sua essência de direita" para compensar a falta de experiência política e administrativa.

Poesia | Manuel Bandeira - Vou me embora pra Pasárgada

 

Música | Mariana Aydar e Mestrinho - Te faço um cafuné