quarta-feira, 22 de maio de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Combate a armas ilegais está no rumo certo

O Globo

PF desbaratou quadrilha que falsificava registros para fornecer armamento ao crime organizado

A oferta farta de armas a organizações criminosas está associada aos altos índices de violência no Brasil. Pistolas, revólveres, fuzis ou metralhadoras à disposição é tudo o que querem os bandidos. Nos últimos meses, o governo tem demonstrado estar no caminho certo ao combater a venda ilegal de armamento. Nesta terça-feira, uma força-tarefa comandada pela Polícia Federal (PF) prendeu mais de 15 suspeitos de envolvimento com o crime organizado nos estados de Alagoas, Bahia e Pernambuco. Entre os alvos dos mandados de busca e apreensão, diversos policiais militares, lojistas e CACs (categoria formada por colecionadores, atiradores e caçadores).

Em ação que contou com 320 agentes de forças policiais e do Exército, a operação adotou a estratégia mais eficaz para desbaratar organizações criminosas: inteligência financeira. Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou movimentação de R$ 2,7 milhões na conta de um policial militar. Outro investigado e sua mulher enviaram Pix a um comerciante de armas somando R$ 185 mil. Os rastros desses pagamentos foram cruciais para entender o modus operandi dos suspeitos.

Vera Magalhães - Governos tateiam e esperam a água baixar

O Globo

Divergências falam mais que as concordâncias neste momento em que as decisões começam a ser tomadas no RS

A enormidade da tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul está todos os dias nas telas, nas páginas, nas ondas do rádio, mas quando você passa alguns dias em solo gaúcho é possível sentir o cheiro, ver o estrago a olho nu e compreender as muitas camadas de iniciativas que serão necessárias por parte do poder público e que estão longe de estar sequer iniciadas.

É salutar que palavras como reconstrução, união, cooperação e outras rimas estejam na boca das autoridades há mais de 20 dias, quando as chuvas começaram a dizimar o estado, mas as divergências falam mais que as concordâncias neste momento em que as decisões começam a ser tomadas.

A questão fiscal, como sempre, é uma delas. O governador Eduardo Leite (PSDB) negou no Roda Viva que tivesse feito uma contraposição, em entrevista à Folha de S.Paulo, entre a prevenção a calamidades climáticas e “outras agendas” prioritárias, como colocar as contas do estado em dia. Mas acabou reafirmando que seus primeiros anos de mandato foram dedicados a reformas para recuperar a capacidade de investimento do Rio Grande do Sul.

Em seguida, engatilhou uma nova estratégia: passar a tratar o ministro extraordinário para a reconstrução do estado, Paulo Pimenta, como “aliado” ou “embaixador”, dois termos que usou, para defender os interesses rio-grandenses junto ao presidente Lula. Em vez de um concorrente, ou “interventor” branco, Pimenta passaria a ser visto como alguém a quem pressionar em nome do melhor interesse do estado. No caso, a favor da quitação da dívida do Rio Grande do Sul com a União, algo que não passa pela cabeça do Ministério da Fazenda e que poderia levar a um precedente explosivo caso fosse aceito, pois automaticamente passaria a ser pleiteado por outros estados, mesmo que não assolados por intempéries.

Bernardo Mello Franco – As desculpas de Leite

O Globo

Governador se desculpa por falas desastradas, mas insiste em defender mudanças que afrouxaram legislação ambiental

A declaração causou espanto no início da semana passada. Em entrevista à rádio BandNews, o governador Eduardo Leite disse que o alto volume de doações ao Rio Grande do Sul poderia prejudicar as vendas do comércio local.

“O reerguimento desse comércio fica dificultado na medida em que você tem uma série de itens que estão vindo de outros lugares”, afirmou.

A frase repercutiu tão mal que o tucano precisou se retratar. Disse que não quis desprezar os donativos nem esnobar a ajuda ao estado.

“Meu mais sincero pedido de desculpas pela confusão que possa ter causado no entendimento de algumas pessoas”, escusou-se.

Sem tirar o colete laranja da Defesa Civil, que passou a vestir até em solenidades no palácio, Leite argumentou que “ninguém está livre de errar”. Pode ser, mas ele parece estar exagerando no marketing — e abusando da boa vontade alheia.

Bruno Boghossian - Leite e a hora do julgamento

Folha de S. Paulo

Governador comete erros graves ao encarar causas e precedentes da tragédia no RS

Eduardo Leite conhecia o tamanho do desastre gaúcho quando disse que não era hora de "procurar culpados". Naqueles primeiros dias da tragédia, ele tentava deixar em segundo plano um inevitável julgamento da população do estado sobre o desempenho de seus governantes. Semanas depois, o próprio tucano parece ter precipitado esse momento.

O governador vinha concentrando esforços em ações de socorro. Ele se aliou a outras autoridades para organizar uma resposta imediata a uma calamidade com poucos precedentes no país. O ineditismo e o drama talvez tenham dado a Leite a ilusão de uma absolvição sumária.

Luiz Carlos Azedo - Marcha dos Prefeitos é largada pré-eleitoral

Correio Braziliense

Neste ano, por causa dos vetos às desonerações da folha de pagamento com a Previdência dos pequenos municípios, Lula enfrentou uma plateia mais difícil

Não foi à toa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido na Marcha dos Prefeitos com um misto de vaias e aplausos. O evento ocorre num ano eleitoral, no qual governo e oposição se digladiam em busca de apoios políticos e votos. Prefeitos em dificuldades financeiras e eleitorais gostam de terceirizar seus problemas e transferir responsabilidades. Se as dificuldades de Lula com o Congresso resultam do fato de que o PT somente elegeu 70 deputados, em todo o país, o partido de Lula, nas eleições de 2020, elegeu 183 prefeitos e 258 vice-prefeitos, num universo de 5.567 municípios.

Os cinco partidos que mais elegeram prefeitos foram MDB (772), PP (680), PSD (649), PSDB (512) e DEM, hoje União Brasil (459). Das 95 cidades com mais de 200 mil eleitores no país, o PSDB venceu a eleição em nove delas, seguido de MDB (6), DEM e PSD (5), PP (4) e PL (2). Cidadania, PDT, Podemos, PSB, PSC e Solidariedade elegeram um prefeito cada. Entretanto, com a eleição de Lula, em 2022, para seu terceiro mandato na Presidência, inicia-se um processo de migração de prefeitos de outras legendas para o PT. O partido conta, agora, com 265 prefeituras.

Fernando Exman - Uma fábula sobre a relação Lula-Centrão

Valor Econômico

Autoridades do governo Lula não confiam no Centrão e acreditam que em 2026 as legendas que integram o grupo terão uma candidatura de oposição

A fábula “O homem e a raposa”, de Esopo, poderia ter sido escrita sob a inspiração da relação do governo Lula com o Centrão. Diz que um homem estava possesso com uma raposa. Ele então pegou esse animal que vinha prejudicando-o e, como queria “infligir-lhe um bom castigo”, amarrou à sua cauda uma estopa embebida de óleo e ateou fogo. Depois o homem a soltou em pleno campo, mas a esperteza da raposa a fez correr para a lavoura de seu carrasco.

Ao acompanhar os seus passos, o homem ia se lamentando diante da colheita perdida. A moral da história está no desfecho do pequeno texto, seguindo o padrão do célebre autor grego: “Calma! Não te deixes levar pela desmedida: tua raiva poderá te causar um grande mal”.

Marcelo Godoy - O exemplo alemão e o desafio a Moraes

O Estado de S. Paulo

Defesa de Martins apresenta novas provas de que o ex-assessor não se ausentou do País

O príncipe Heinrich XIII Reuss, a juíza Birgit Malsack-Winkemann, ex-deputada do Alternativa para a Alemanha (AfD), e o tenente-coronel Rüdiger Von Pescatore, ex-comandante do 251.º Batalhão Paraquedista, começaram a ser julgados em Frankfurt. O trio acusado de liderar uma organização de extrema direita que planejava um golpe de Estado na Alemanha acreditava que um estado paralelo controlava Berlim e pensava que a morte da rainha Elizabeth II era um sinal secreto para seu movimento agir. Acabou preso. Um gaiato pode dizer: “Se isso acontece na Alemanha, imagina no Brasil”.

Reuss, Winkemann e Pescatore não tinham a capacidade de mobilizar o exército alemão para a ação. Isso, porém, não tornava o crime impossível, tampouco limitava a conspiração a atos preparatórios. Pode-se pensar em um certo paralelo do caso alemão com o 8 de Janeiro. Aqui como lá, os conspiradores não contavam com apoio da cúpula militar, mas teriam o dolo, a intenção, de tomar as sedes de poder para dar o golpe.

Hélio Schwartsman - Tabus petistas

Folha de S. Paulo

Interdição a discussões como desvincular benefícios previdenciários de salário mínimo dificulta busca por equilíbrio fiscal

Nas últimas semanas, economistas vêm mostrando, em colunas e entrevistas, que existem inconsistências graves no arcabouço fiscal brasileiro. As várias vinculações e indexações ao lado da política de valorização do salário mínimo fazem com que o Orçamento caminhe para tornar-se uma quimera. E isso ocorreria mesmo que o governo conseguisse aumentar "ad libitum" suas receitas.

Pelo sistema vigente, mais arrecadação resulta automaticamente em incremento dos gastos em educação e saúde; ganhos reais para o salário mínimo se transformam em fatias cada vez maiores de despesas obrigatórias. Não importa o que se faça, os gastos carimbados tomarão o espaço de todos os demais, incluindo aqueles que, sem ser obrigatórios, são indispensáveis, como pagar as contas de luz da administração. O crescente apetite de parlamentares por emendas só agrava o problema.

Wilson Gomes – O paradoxo da intolerância

Folha de S. Paulo

Os 'crentes', mesmo se inflexíveis, podem não ser aceitos na democracia?

A tolerância é um princípio fundamental de convivência em sociedades pluralistas, nascido da convicção de que grupos antagônicos só podem viver juntos se aceitarem que suas crenças sobre a verdadeira fé não podem ser a base do contrato social.

Cada grupo pode continuar acreditando que cultua o único Deus, adota a única ideologia autêntica e os melhores valores, mas isso não pode influenciar as leis ou as instituições que organizam a vida em comum.

É impressionante que, nestes dias em que todos parecem ter crenças democráticas profundas, aumente o número de grupos que dizem que nem todos cabem em sua democracia ideal. É comum que ultraconservadores, teocratas e extremistas de direita façam listas de pessoas que deveriam ser expulsas da República ou, no mínimo, despojadas de direitos e respeito. Já faziam isso muito antes de se julgarem os verdadeiros democratas.

Arnaldo Niskier* - Presença da filosofia

Correio Braziliense

É saudável que a filosofia ocupe a mente dos homens, para que haja melhor uso da inteligência. Queremos também melhor compreensão do papel da ciência, das letras e das artes na vida humana

A filosofia é matéria de que não se pode abrir mão no ensino médio. É fundamental para a compreensão do fenômeno da educação. Ela unifica as diversas descobertas da ciência, supera crenças e enfoques empíricos. Todos se questionam, hoje em dia, sobre o conhecimento, o ser, a existência, os valores, com a missão de encontrar respostas ou mostrar o que é possível entender.

A educação trata da natureza do conhecimento e de como este é ensinado e organizado. Sua abrangência é uma concepção da verdade e da liberdade com aquilo que é ensinado. Assim, procuramos fazer uma visão crítica daquilo que é ensinado. O objetivo não poderia ser outro senão o crescimento e a evolução da sociedade.

Vinicius Torres Freire - Dois meses de más notícias

Folha de S. Paulo

Juros nos EUA, contas do governo, ruído no BC e na Petrobras e RS pioram ânimos

Notícias ruins desde meados de março têm comido pelas bordas o otimismo relativo a respeito de um ano que começou bem.

Além da tristeza horrível com as mortes e da apreensão com o futuro das vidas arrasadas, a catástrofe no Rio Grande do Sul turva ainda mais o cenário. Vamos ter pelo menos três meses de trimestre de incerteza ruim, se tivermos alguma sorte e cabeça no lugar.

Durante quase o primeiro trimestre inteiro, as perspectivas para a economia melhoraram. Como ocorre desde 2021 e, em particular, desde 2022, o PIB andava em ritmo melhor do que o estimado.

A receita do governo aumentava bem, consequência da atividade econômica melhor, mas também de mais impostos e dinheiros de petróleo etc. Aliás, até o fim de abril, a arrecadação federal continuou a crescer: mais de 8% maior do que no ano passado, descontada a inflação.

Lu Aiko Otta - Abuhab, o “pai” do “split payment”

Valor Econômico

Ideia surgiu em 2003, em Santa Catarina, e já passou por Palocci, Mantega e Levy

Depois de dedicar toda sua carreira política pela aprovação da reforma tributária, o deputado Luiz Carlos Hauly (PODE-PR) estava fora do Congresso Nacional na atual legislatura. Numa reviravolta do destino, ganhou uma cadeira na Câmara dos Deputados em junho de 2023, quando o procurador Deltan Dallagnol perdeu seu mandato. Assim, pôde participar das votações históricas que mudaram o sistema tributário brasileiro.

As contribuições de Hauly, do já falecido deputado federal Mussa Demes (1939-2008) e do engenheiro Miguel Abuhab no debate da reforma tributária foram reconhecidas pelo secretário extraordinário da Reforma Tributária, Bernard Appy, em audiência na Câmara dos Deputados no início deste mês.

Abuhab é o “pai” do “split payment”, a base tecnológica em que se ancora toda a reforma dos tributos sobre o consumo que o Brasil adotará. É o sistema que vai recolher os tributos automaticamente, além de transformar o complicado sistema de créditos e débitos tributários em algo parecido com uma conta corrente.

Zeina Latif - Presente de grego para o próximo presidente do BC

O Globo

Vários fatores, somados, aumentam as dificuldades futuras do BC. Elas seriam maiores se o corte de juros tivesse sido mais ousado

O trabalho dos bancos centrais de manter a inflação baixa ou na meta é influenciado por sua reputação, ou seja, pela crença de que serão capazes de cumprir sua missão. Ocorre que muitos fatores externos afetam essa construção de credibilidade. No Brasil, a política econômica do governo tem jogado contra.

Um termômetro da credibilidade do Banco Central é o comportamento das expectativas inflacionárias, e elas estão aumentando. As projeções de inflação do mercado estão em 3,74% para 2025 e 3,5% para os anos seguintes.

Independentemente do seu grau de acerto (na verdade, com frequência os analistas subestimam a inflação), há efeitos práticos da desancoragem das expectativas, como a tendência de repasse mais intenso de aumentos de custos ao consumidor, como mostra a pesquisa de Carlos Carvalho e outros economistas.

Roberto DaMatta - O que os desastres ensinam?

O Globo

O cataclismo no Rio Grande do Sul demanda uma reação inesperada porque não é ‘político’. Não tem nem lado de ‘direita’ nem de ‘esquerda’

Desastres ensinam o óbvio infalível dos inesperados que reafirmam nossa ignorância, desmazelo e onipotência. Alertam sobre o que precisamos aprender e chamam a atenção para os limites de nossas certezas. Para o fato de não haver rotina, treinamento, regra, programa ou costume que não tenha a sua contraparte no acidente, no esquecimento, na mentira, na ausência e na surpresa do que está aquém ou além da plausibilidade do aqui e agora, garantidores da concretude do real.

São os imprevistos humanos ou naturais que nos obrigam a parar para pensar. O imprevisto força a desconfiar do previsto. Coage a tomar consciência do exagero ou da intrigante falha que promoveu o inesperado. Do inesperado que desmanchou a cena, o roteiro, o plano, esquema ou rotina, obrigando a realizar o grave e difícil exercício de “ouvir, parar e olhar”, como dizem os avisos americanos nas encruzilhadas ferroviárias.

Tedros Adhanom Ghebreyesus* - Acordo pandêmico

O Globo

Segurança sanitária mundial depende da garantia de que não existem elos fracos na cadeia de defesa 

Durante mais de dois anos, países de todo o mundo vêm trabalhando juntos em prol de um objetivo histórico: garantir que estaremos mais bem preparados para a próxima pandemia, aprendendo as lições da devastação causada pela Covid-19. Numa altura em que conflitos, política e economia provocam destruição, discórdia e divisão, governos de mais de 190 nações colaboram para forjar um novo acordo global, protegendo assim o mundo contra futuras e inevitáveis pandemias.

Essa colaboração começou durante o acontecimento mais devastador das nossas vidas. Oficialmente, a Covid-19 causou mais de 7 milhões de mortes. Mas o número real é provavelmente muito mais elevado. A doença trouxe prejuízos de bilhões de dólares à economia global.

Poesia | Não Desistas, de Mario Benedetti

 

Música | Mariana Aydar e Mestrinho - Filho do Dono