terça-feira, 4 de junho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Greve nas federais passou do limite

O Globo

Depois de dois meses, universidades perdem prestígio e competitividade, enquanto alunos são quem mais sofre

A greve de professores e servidores de colégios, institutos e universidades federais completou dois meses sem nenhuma perspectiva de solução. Alunos que perdem aula já veem ameaçadas formatura, obtenção do diploma e a chance de conseguir emprego. Além deles, ninguém parece preocupado. E o governo não tem feito o bastante.

Estima-se que hoje a paralisação afete, em diferentes estados, pelo menos 52 universidades, 79 institutos federais e 14 unidades do Colégio Pedro II. Embora a adesão à greve não seja total, a rotina universitária está irremediavelmente comprometida. Serviços foram suspensos e há casos em que o bandejão deixou de funcionar, prejudicando estudantes mais vulneráveis.

Merval Pereira - Ser humano

O Globo

Nunca, como nos anos recentes, os ministros do Supremo mostraram-se tão humanos na capacidade de cometer erros em consequência de situações pessoais que influenciam suas decisões

A ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia assume a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com duas missões, uma interferindo na outra. Seu mandato, que se encerra dois meses antes das eleições presidenciais de 2026, terá como objeto principal aprovar normas que protejam os candidatos do uso da inteligência artificial para distorcer informações ou mentir pela boca de adversários com o uso de deepfake.

As medidas tomadas agora terão repercussão não apenas nas próximas eleições municipais. Ao mesmo tempo, porém, ela terá de fazer isso com a moderação que lhe é característica, impedindo que a legislação protetiva termine se transformando em instrumento de polarização política.

Bernardo Mello Franco - 'Algoritmo do ódio'

O Globo

Ministra culpa big techs por "vírus" da desinformação, mas não revela antídoto para combatê-lo

Ao assumir a presidência do Tribunal Superior Eleitoral, Cármen Lúcia prometeu combater o "algoritmo do ódio" nas redes sociais.

A ministra fez uma advertência às chamadas big techs: vai responsabilizá-las pela enxurrada de desinformação que contamina o debate político.

"A mentira espalhada pelo poderoso ecossistema digital das plataformas é um desaforo tirânico contra a integridade das democracias", justificou.

Maria Cristina Fernandes - Discurso cita ‘mentira’ 15 vezes e frustra aposta em brandura

Valor Econômico

Quem esperava que a ministra Carmen Lúcia assumisse o TSE com uma postura mais branda que a de Moraes foi desenganada por seu discurso de posse

Quem esperava que a ministra Carmen Lúcia assumisse o Tribunal Superior Eleitoral com uma postura mais branda do que aquela de seu antecessor, ministro Alexandre de Moraes, foi desenganada por seu discurso de posse. Cotejado com aquele de Moraes, em setembro de 2022, o de Carmen Lúcia foi ainda mais contundente. A brevidade de uma fala de apenas 12 minutos não a impediu de citar “mentira”, por 15 vezes, e, por seis, “ódio”. “A mentira espalhada pelo ecossistema digital é um desaforo tirânico contra integridade da democracia”, disse.

Sem deixar de agradecer, “como cidadã e juíza”, a contribuição de Moraes para a garantia da democracia brasileira, não teve dúvida em interromper o ministro quando ele, ainda na presidência do TSE, quis convidar o diretor-geral do tribunal a lhe dar o termo de posse antes que Carmen Lúcia cumprisse a formalidade de declarar que aceitava o cargo.

Luiz Carlos Azedo - Cármen Lúcia comandará as eleições da inteligência artificial

Correio Braziliense

Uma das maiores dificuldades da Justiça Eleitoral em eleições municipais e proporcionais é julgar em tempo hábil os casos que chegam aos tribunais

A ministra Cármen Lúcia, do STF, assumiu a presidência do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com o desafio de comandar eleições municipais que serão um laboratório para o uso político da inteligência artificial (IA) pelos candidatos. A ministra já comandou a Corte, nas eleições municipais de 2012, mas nem de longe as situações são semelhantes: àquela época, não havia a polarização política que existe hoje, embora já houvesse uma insatisfação difusa na sociedade, nem as redes sociais e as fakes news tinham o peso que têm hoje na formação de opinião dos eleitores.

Míriam Leitão - Razões da boa notícia do PIB

O Globo

Dados do 1º trimestre mostram crescimento maior do que era previsto. Desemprego e inflação em baixa completam a lista de boas notícias

O primeiro trimestre do ano foi bom, o PIB cresceu 0,8%, mais do que o inicialmente previsto pelo mercado. Além disso, houve queda do desemprego e queda da inflação, dois dados que não costumam cair juntos. Isso é ainda mais notável quando há um aumento da renda, como houve. Entre janeiro e março deste ano, o Brasil exportou US$ 78,3 bi, 3,2% mais do que no ano passado. Tanto a exportação, quanto o saldo de US$ 19 bi, foram recordes. O ano começou melhor do que o esperado, mas deve crescer menos do que o ano passado, ainda que de forma mais distribuída pelo país e pelos setores. A tragédia do Rio Grande do Sul vai ter um impacto forte no segundo trimestre, mas o efeito da recuperação também será sentido este ano ainda.

Luiz Schymura - Com o déficit nominal nas alturas, conta nenhuma fecha

Valor Econômico

Não há como negar que o notável processo de aprimoramento institucional dos últimos 25 anos no front fiscal

Na pauta econômica, o tema que tem tirado o sono do atual governo está no campo fiscal. Se, por um lado, há a necessidade de recursos para financiar tanto o sistema público já em operação como as políticas públicas que foram promessas de campanha, do outro, o Executivo tem que assegurar um resultado fiscal que não comprometa a saúde financeira das contas públicas. Contudo, na visão de muitos analistas, em virtude dos contextos nacional e internacional, o governo federal está errando a mão ao sancionar gastos públicos excessivos.

Luiz Gonzaga Belluzzo - BCs, instituições de planejamento?

Valor Econômico

Salvo pequenos incidentes, a economia no pós-Segunda Guerra deslizou nos trilhos do crédito dirigido, dos controles de capitais entre os países, do gasto público amparado em sistemas fiscais progressivos

Em recente edição, o Valor informou: “MP cobra medidas para identificar eventual desvio de finalidade do Copom”. O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (MPTCU) ofereceu uma representação ao tribunal para “adoção das medidas necessárias a identificar eventuais desvios de finalidade pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na definição da taxa Selic”.

O subprocurador-geral do MPTCU, Lucas Furtado, assina o documento. Na peça, o subprocurador menciona que as projeções do relatório Focus “exercem grande influência” na decisão do Copom e que as instituições financeiras que respondem à pesquisa “podem ter interesse na manipulação do índice para ganhos próprios e privados indevidos e em prejuízo aos interesses públicos e ao erário”.

Vamos recordar.

Michael Stott - Os desafios diante de Sheinbaum no México são enormes

Financial Times / Valor Econômico

Mexicanos escolheram a promessa da continuidade na cruzada pela justiça social do presidente Andrés Manuel López Obrador

O segredo da vitória esmagadora de Claudia Sheinbaum nas eleições presidenciais do México, no domingo, pode ser resumido em uma palavra: redistribuição.

Os mexicanos mais pobres foram os grandes vencedores no mandato do presidente Andrés Manuel López Obrador, que mais do que duplicou o salário mínimo e expandiu os programas de assistência social, embora a economia mal tenha crescido, em termos per capita, desde a sua posse em 2018.

Os eleitores relevaram os números alarmantes dos crimes violentos e os temores sobre a erosão das instituições democráticas. Preferiram recompensar Sheinbaum, uma aliada próxima do presidente nacionalista de esquerda, pelas promessas de continuar e aprofundar sua cruzada por justiça social em um país com níveis elevados de pobreza e desigualdade.

Depois de 30 anos de livre comércio com os EUA e o Canadá, o norte do México prosperou, mas muito pouco dessa riqueza chegou ao centro e ao sul do país, ou aos grupos de renda mais baixa.

Eliane Cantanhêde - Cármen contra o ódio e o medo

O Estado de S. Paulo.

Fake news proliferam e deixam a incômoda sensação de guerra perdida

Sai a audácia de Alexandre de Moraes e entra a cautela de Carmen Lúcia, mas a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) continua numa batalha contra as fake news e a Inteligência Artificial nas eleições municipais de outubro que passa a incômoda sensação de guerra perdida. Além de o Congresso não ajudar, leis e regras não são suficientes mesmo. A guerra político-eleitoral, que já não é ética nem moral, muitas vezes se torna insana na reta final.

Carlos Andreazza - Haddad assombrado

O Estado de S. Paulo

O governo é Dilma 3 e a despesa – a constante do natimorto fiscal – crescerá sempre

Fernando Haddad vê fantasminhas. O espírito do arcabouço fiscal o ronda. É a alma penada da regra natimorta que o atormenta. Fantasmão, o da credibilidade perdida. Natural que o chame de ruído.

Antes fosse. Lula é coerente e dá materialidade ao espectro. Obstinado por um Estado como alavanca do crescimento. “Não teria aceitado o novo marco fiscal se isso tivesse mudado substancialmente” – disse o ministro da Fazenda ao Valor.

O governo é Dilma 3 e o presidente não pode ser acusado de estelionato eleitoral. A raia fiscal foi improvisada para corridas à larga. Não há rumor. Há constatação tardia.

Bruno Boghossian - Quanto vale uma polícia melhor e mais responsável?

Folha de S. Paulo

Argumento da austeridade fiscal de Tarcísio é verniz para sabotagem de câmeras corporais

Tarcísio de Freitas procurou muitas desculpas para se livrar das câmeras corporais da Polícia Militar. Na campanha, dizia que o equipamento tirava a privacidade dos agentes. Eleito, alegou que as gravações não tinham efetividade na segurança do cidadão. Agora, ele poliu o discurso com um argumento financeiro.

O edital para a contratação de novas câmeras para a PM permite que os policiais deixem o equipamento desligado. Segundo Tarcísio, a gravação contínua "gera muitos custos ao estado pela necessidade de armazenamento". O governador afirmou que o sistema atual gasta dinheiro para guardar um material que, "no final das contas, não serve para nada".

Hélio Schwartsman - Lula afasta centristas

Folha de S. Paulo

Se tivermos em 2026 outro pleito apertado, presidente poderá arrepender-se de não ter cultivado relações mais próximas

Lula foi eleito —por um triz, registre-se— porque parte ponderável do centro político decidiu opor-se a Jair Bolsonaro. Durante a campanha, o petista disse várias vezes que governaria com uma frente ampla. Mas, por razões que não cabe aqui discutir, Lula não quis consolidar e perenizar essa aliança.

A principal figura desse grupo, o vice-presidente Geraldo Alckmin, que, na transição, chegou a ser apontado como peça-chave do futuro governo, não encontrou muito espaço e anda apagadíssimo. Outra centrista, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, produz propostas que nem sequer são discutidas no entorno de Lula, pois são vistas como muito neoliberais. E nem falo do revisionismo histórico do PT, que gera teses que espantam potenciais aliados, como a de que a corrupção na Petrobras não passou de uma armação ou a de que o problema da Venezuela é excesso de democracia.

Dora Kramer - O delírio sobre Lira

Folha de S. Paulo

Governo erra ao espalhar que Lira é pato manco na presidência da Câmara

Nada mais falso e danoso para o andamento dos interesses do Planalto no Congresso que a disseminação da ideia de que Arthur Lira seja um pato manco na presidência da Câmara.

Desde a virada do ano isso é sussurrado aos ouvidos de analistas permeáveis a qualquer versão vinda do Palácio. Se a história faz algum sentido, e essa até faria fosse outro o personagem, sapecam-lhe o carimbo de "bastidor", e a coisa se espalha por Brasília como tradução da realidade.

No caso específico, essa prática é o pano de fundo do rompimento do deputado com o ministro Alexandre Padilha. Justa ou injustamente, Lira julgou ter identificado no gabinete de Padilha a origem dos sussurros sobre a desidratação de seu poder.

Alvaro Costa e Silva - Presidencialismo de descoalizão

Folha de S. Paulo

Governo refém do Congresso inviabiliza planos de combate à violência

Com quatro meses no Ministério da Justiça e tentando impor um estilo mais discreto e sem embates diretos com a oposição —se comparado ao tempo de Flávio Dino—, Ricardo Lewandowski prepara uma emenda constitucional para ampliar o poder do governo no combate à criminalidade. Uma espécie de SUS que, em vez da saúde, cuidaria da violência.

Criado em 2018, o Susp (Sistema Único de Segurança Pública) só existe no papel. E, ao contrário do SUS, não está na Constituição, a qual determina que segurança é tarefa dos estados. Aí começa o busílis. Alguns governos estaduais veem na atuação da Polícia Militar um palanque político, misturando serviço público com campanha eleitoral. "Queremos uma população segura e não um policial vigiado", disse Tarcísio de Freitas sobre câmeras corporais.

Joel Pinheiro da Fonseca - Trump acaba de ficar mais forte

Folha de S. Paulo

Se vencer, ainda que preso, ex-presidente sairá de cabeça erguida para se sentar no Salão Oval

Os EUA não têm lei da ficha limpa. Trump será candidato a presidente mesmo com sua condenação criminal, e nada poderá impedi-lo, nem mesmo se for preso quando o juiz sentenciá-lo em julho. Mais do que isso: é o favorito e acaba de ficar mais forte.

Primeiro, o lado técnico: os EUA já tiveram um candidato à Presidência preso. Era o socialista Eugene Debbs na eleição de 1920. Não tinha a menor chance, mas pôde concorrer e receber quase 1 milhão de votos em sua cela em Atlanta sem problema algum. O mesmo valerá para Trump. E, se pode ser candidato, pode vencer.

Ferreira Gullar conta como escreveu "Poema sujo"

 

Música | Maria Bethânia e Zeca Pagodinho - Amaro a Xerém