segunda-feira, 27 de maio de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Analfabetismo em queda abre novas perspectivas ao país

O Globo

Apesar do avanço mais lento que o desejável, Brasil tem obtido êxito no combate à chaga secular

O analfabetismo, que há séculos envergonha o Brasil, tem sido enfrentado com êxito, revelam dados do Censo de 2022. Em relação a 2010, a parcela de analfabetos na população com mais de 15 anos caiu 2,6 pontos percentuais, de 9,6% para 7%. É verdade que, em números absolutos, ainda há 11,4 milhões de brasileiros que não sabem ler nem escrever. Mas a situação já foi bem pior — e tem melhorado.

“Em 1930, apenas 21% dos brasileiros estavam alfabetizados, enquanto na Argentina esse número já era 63%”, diz Claudia Costin, ex-diretora global de educação do Banco Mundial. Em 1940, menos da metade da população era alfabetizada. Apenas depois da redemocratização, a educação passou a ser encarada com a devida importância, e a partir daí o progresso tem sido contínuo, ainda que mais lento que o desejável. Para Costin, o Brasil ainda paga um preço alto pela demora em universalizar o acesso à educação primária.

Fernando Gabeira - La Niña, a garota que vem do mar

O Globo

Se há algo que pode nos unir para além das divergências políticas, é a sobrevivência diante do caos climático

Preciso avisar com ligeira antecedência, mas ela deve chegar a partir de julho. La Niña vem para derrubar momentaneamente o domínio patriarcal de El Niño.

Ambos são filhos dos ventos alísios que sopram com constância, mas às vezes são mais lentos ou mais rápidos. Quando são lentos, não conseguem levar as águas quentes para o lado asiático do Oceano Pacífico. Quando são mais rápidos, acabam esfriando a costa peruana.

Os pescadores peruanos chamam o primeiro fenômeno de El Niño porque aparece por volta do Natal. La Niña chega aqui entre julho e setembro e, às vezes, dura dois anos. Por que essa preocupação com avisar? Na verdade, é um hábito antigo.

Preto Zezé - Desradicalizar é necessário

O Globo

Precisamos encontrar um lugar na política onde todos possam ser ouvidos, fazer um pacto com informações baseadas em evidências e fatos

O cenário social e político brasileiro está radicalizado, com disputas nas ruas e nas redes sociais entre narrativas que refletem conveniências políticas e ideológicas. No meio disso, existe uma crise social sem precedentes, herança de uma sociedade baseada em escravidão, destruição de ecossistemas e submissão de povos originários.

A fatura chega a áreas urbanas superlotadas, onde mais de 20 milhões de brasileiros vivem em favelas, enfrentando adversidades sociais, insegurança e falta de direitos básicos. Estive no Rio Grande do Sul, observando de perto a realidade e o trabalho da sociedade civil na tragédia. Agentes públicos como policiais e bombeiros, que perderam suas casas, estão alojados em casas de parentes e trabalhando desde o primeiro dia, quando as águas invadiram o estado. A situação é preocupante.

Demétrio Magnoli -Três objetivos decorativos

O Globo

Ninguém escutou do vice uma única palavra de contestação à flexibilização do arcabouço fiscal

Lula bateu Bolsonaro por margem mínima. O triunfo deveu-se às alianças com o centro democrático firmadas no início da corrida eleitoral (Geraldo Alckmin) e depois do primeiro turno (Simone Tebet e Marina Silva). As três lideranças ingressaram no governo carregando as expectativas do eleitorado que decidiu a disputa. O tempo mostrou, contudo, que elas não passam de objetos decorativos.

Marina figura como outdoor da vertente ambiental da política externa lulista. Seu ministério só consegue realizar um programa mínimo, expresso na redução do desflorestamento na Amazônia. Adaptação às mudanças climáticas? Transição energética? No primeiro item, a ministra oferece apenas diagnósticos acadêmicos. No segundo, um equívoco conceitual paralisante.

Rachel Maia - O que move os seguidores nas redes sociais?

O Globo

Gerar engajamento promovendo informações relevantes é um caminho potente para criarmos uma rede rumo à transformação necessária

As redes sociais, nós sabemos, representam um meio de comunicação importantíssimo hoje. Com elas, podemos nos relacionar com familiares, amigos, colegas de trabalho e até com quem não conhecemos pessoalmente, mas que, de alguma forma, admiramos ou nos admira. O poder dessas redes é inquestionável, servindo tanto para promover ações positivas quanto para disseminar, por exemplo, notícias falsas (fake news).

Marcus André Melo - Corrupção honesta

Folha de S. Paulo

Tammany Hall é o Brasil: foi derrotado nos EUA, mas aqui estamos perdendo a luta

Tammany Hall é o símbolo de máquina política corrupta, tendo inspirado filmes e livros. Tratava-se de uma organização que dominou o Partido Democrata em Nova York por 40 anos. Um dos seus líderes, George Plunkitt, fez uma distinção que ilumina a análise da corrupção entre nós.

Contra aqueles que denunciavam seu enriquecimento ilícito, afirmava que não viam a "diferença entre corrupção honesta (honest graft) e corrupção desonesta e, consequentemente, confundem tudo. Existe uma grande diferença entre saqueadores políticos e políticos que fazem fortuna com a política mantendo os olhos bem abertos. O saqueador entra sozinho, sem considerar sua organização ou sua cidade. O político zela pelos seus próprios interesses, pelos interesses do partido e pelos interesses da cidade, tudo ao mesmo tempo".

Ruy Castro - Prefeito perfeito

Folha de S. Paulo

Todos admiramos Graciliano Ramos como escritor. Mas é que ainda não o conhecíamos como prefeito

Em 1931, os relatórios de um ex-prefeito de Palmeira dos Índios, em Alagoas, circularam sabe-se lá como pelo Rio. Prestações de contas, mesmo de um prefeito corajoso, honesto e trabalhador, não são literatura. São prestações de contas. Mas, ao caírem aos olhos do poeta e editor Augusto Frederico Schmidt, este pensou: "Quem escreve desse jeito deve ter um romance na gaveta". Mandou carta ao ex-prefeito e este confirmou: sim, tinha um romance, vou lhe enviar o manuscrito.

Semanas depois, chovendo no Rio, Schmidt foi pegá-lo no correio. Enfiou-o no bolso da capa, voltou para a editora, pendurou a capa no armário e foi fazer qualquer coisa. Como não chovesse pelos meses seguintes, não voltou a usar a capa e se esqueceu onde guardara o pacote, achou que o perdera. Em 1932, foi ao armário e lá estava. Leu, maravilhou-se e escreveu ao autor propondo publicação. E assim, por intermédio de "Caetés", título do romance, em 1933 o Brasil conheceu Graciliano Ramos.

Camila Rocha - Tarcísio e Nunes querem educação para ditadura

Folha de S. Paulo

Em vez de ordem e progresso, futuro com escolas militarizadas promete retrocesso

Imagine que a escola de seu filho mudou. Agora, ele precisa manter os cabelos raspados para ir à aula. Conflitos rotineiros são resolvidos por policiais que usam spray de pimenta, ameaçam bater nos alunos e levam jovens à delegacia para serem fichados. Colegas com deficiência ou dificuldade de aprendizado se sentem pressionados a abandonar a escola. Atividades como colocar fantasias para um festival de inglês, ou falar sobre racismo e violência policial, passam a ser vistas com desconfiança ou são censuradas. O medo e a insegurança crescem na comunidade escolar. Você tenta mudar seu filho de escola, mas é inútil, pois agora todas as escolas da sua região são "cívico-militares": educam crianças e jovens para viver em uma ditadura.

Sergio Lamucci - O peso das vinculações de despesas no problema fiscal do país

Valor Econômico

O grande desequilíbrio das contas públicas está no lado do gasto, mas enfrentar o problema com determinação não está na agenda do governo

Com menos de um ano de vigência, o novo arcabouço fiscal já tem a credibilidade arranhada. O governo afrouxou em abril a meta de resultado primário (exclui gastos com juros) de 2025 e dos anos seguintes, e o ajuste das contas públicas depende muito de um aumento forte e incerto de receitas, visto com ceticismo por muitos analistas. O grande desequilíbrio fiscal do país está no lado do gasto, mas enfrentar o problema com determinação não está na agenda do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda que a ministra do Planejamento, Simone Tebet, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenham falado nas últimas semanas sobre a necessidade de se discutir a vinculação de despesas.

Bruno Carazza - Cadê o Cade que estava aqui?

Valor Econômico

Instrumentalização política e fragilidade institucional colocam órgão de defesa da concorrência à deriva

Nos meus tempos de criança no interior de Minas, creme dental era chamado de dentifrício - e isso rendeu muita gozação de meus amigos quando me mudei para Belo Horizonte para fazer faculdade. (Décadas depois, num supermercado na região do Douro, em Portugal, vi numa gôndola que lá eles também usam a palavra dentifrício; estranha conexão linguística entre povos da montanha dos dois lados do Atlântico.)

Na mesma época em que riam do meu modo de falar, nos anos 1990 muita gente se referia a creme dental simplesmente como Kolynos - exemplo clássico de metonímia, em que a liderança da marca é tão forte que o consumidor se refere a ela como sinônimo para o próprio produto. Mas em 1995 a Colgate, a segunda colocada do mercado, comprou a Kolynos, gerando uma concentração de 78% no mercado de cremes dentais.

Maria Cristina Fernandes - Câmeras policiais antecipam embate de 2026

Valor Econômico

Depois do edital paulista, governo federal lança diretrizes para câmeras corporais

O edital para a compra de novas câmeras para os uniformes da Polícia Militar de São Paulo reúne dois temas do embate antecipado da corrida sucessória de 2026, a segurança pública e a eficiência administrativa. Depois de polemizar em torno do programa durante a campanha eleitoral e ao longo do primeiro ano de sua gestão, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, espera convencer que as novas câmeras, além de estarem em linha com o enxugamento de gastos pretendido, são também mais eficientes. O edital enfrenta forte resistência de entidades civis que apontam enfraquecimento do controle da atividade policial.

Carlos Pereira – A antessala do populismo

O Estado de S. Paulo

Decisões monocráticas, como as de Toffoli, geram desencantamento político e desconfiança nas instituições

O mal-estar social e a desconfiança gerados pela atuação individual de ministros podem pavimentar o terreno para emergência de novas saídas populistas de perfil extremista

O Ministro do STF, Dias Toffoli, decidiu, de forma monocrática, pela “nulidade absoluta” de todos os atos processuais praticados contra Marcelo Odebrecht no âmbito da Operação Lava Jato.

Se baseou em gravações hackeadas de conversas do então juiz Sérgio Moro com os procuradores da Lava Jato que, segundo Toffoli, atuaram em conluio ignorando o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa do acusado, ao misturar a função de acusação com a de julgar.

Poesia | Como fazer-te saber que há sempre tempo, de Mario Benedetti

 

Música | Ana Cañas e Ney Matogrosso - Como nossos pais