sábado, 28 de setembro de 2024

Pablo Ortellado - Foi erro legalizar as bets

O Globo

Todos os meses, os brasileiros apostam entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões, 19% da massa salarial do país

Relatório recente do Banco Central trouxe dados alarmantes sobre o mercado de apostas on-line no Brasil. Todos os meses, os brasileiros apostam entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões, aproximadamente 19% da massa salarial do país. Segundo a estimativa do BC, 24 milhões de pessoas, cerca de 23% da força de trabalho, fizeram apostas on-line nos últimos 12 meses.

Dezessete por cento desses apostadores são chefes de famílias beneficiárias do Bolsa Família. Outros 4% não são os chefes, mas integrantes dessas famílias. No total, mais de um quinto dos apostadores brasileiros em jogos on-line está em situação de vulnerabilidade social. A mediana da aposta desse grupo é de R$ 100 por mês. Os números podem ser ainda maiores, já que o estudo considerou apenas transações via Pix.

Carlos Alberto Sardenberg - Não é para amadores

O Globo

Os pedidos de seguro-desemprego estão em alta porque o mercado de trabalho está muito aquecido

No original, a frase de Tom Jobim era a seguinte:

— O Brasil não é para principiantes.

Com o tempo, “principiantes” foi substituído por “amadores” e ficou até melhor. Pelo menos, mais popular. E verdadeira?

Digamos que faz sentido em muitos momentos e muitos lugares deste imenso Brasil. Considere a sentença: os pedidos de seguro-desemprego estão em alta porque o mercado de trabalho está muito aquecido.

Pode ler de novo. É isso mesmo que você entendeu: quanto mais a economia gera vagas de trabalho, mais crescem os pedidos de seguro-desemprego a que têm direito os empregados demitidos sem justa causa.

Nos Estados Unidos, é diferente. Os pedidos de seguro-desemprego formam um importante indicador, seguido semanalmente e interpretado conforme uma lógica que parece indiscutível: se caem os pedidos, só pode ser porque mais gente conseguiu trabalho e, pois, a economia está aquecida. O inverso também é verdadeiro. 

O menor desemprego

O Globo / Mayra Castro e Marcos Furtado

Taxa caiu para 6,6%, e ocupação atinge recorde de 102 milhões. Renda cresce

A taxa de desemprego foi de 6,6% no trimestre encerrado em agosto, a menor para o período desde 2012, quando começou a série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, que foi divulgada ontem pelo IBGE. O mercado de trabalho aquecido fez a população ocupada atingir novo pico de 102,5 milhões, aumentando em mais de 1 milhão em um trimestre. O rendimento médio subiu para R$ 3.228, numa alta de 0,5% frente a trimestre anterior.

Rodolpho Tobler, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/ Ibre), diz que o resultado veio levemente abaixo do esperado, com a redução do número dos desempregos (menos 502 mil) acompanhado de um aumento na força de trabalho:

— Mercado de trabalho aquecido e renda subindo estimulam as pessoas a voltarem ao mercado. E essas pessoas têm conseguido emprego. Houve alta em todas as atividades econômicas, com destaque para construção e comércio, mas disseminada pelos setores. É um resultado bastante positivo.

Dora Kramer - Batalha de Itararé

Folha de S. Paulo

O esperado embate entre Lula e Bolsonaro na eleição em São Paulo não aconteceu

Não foi desta vez —talvez venha a ser no segundo turno— que a eleição em São Paulo foi palco do embate preconizado por Luiz Inácio da Silva (PT) entre ele e Jair Bolsonaro (PL). Tal qual aquela esperada na revolução de 1930 em Itararé (SP), a batalha não aconteceu.

Gradativamente, por razões diferentes e algumas não muito claras, presidente e antecessor foram se afastando dos papéis de protagonista e antagonista diretos. A motivação mais generosa para ambos poderia ser a decisão de se distanciar da cena tóxica.

A mais realista, porém, indica cálculos objetivos resumidos no seguinte: o cheiro de queimado. Numa disputa tão embolada quanto imprevisível é grande o risco de se virar sócio da derrota. Não valeria o desgaste. Na hipótese de vitória, um dos dois ganharia no máximo o título de tutor do prefeito da cidade mais importante do país.

Alvaro Costa e Silva - A 'jenialidade' no transporte público

Folha de S. Paulo

Cinturão de teleféricos, tirolesa e Uber subsidiado estão entre as propostas dos candidatos

Uma pesquisa feita pelo Ipec mostrou que os passageiros de ônibus, metrô e trem perdem hoje em média duas horas e 47 minutos por dia nos deslocamentos em São Paulo, o que significa dez minutos a mais em comparação com 2023. Os motoristas de carro, no entanto, tiveram um refresco: gastam 18 minutos a menos do que há um ano. Ou seja, a tendência é que cresça ainda mais o uso do carro particular como meio de transporte.

Não é preciso ser especialista, tampouco candidato a prefeito da maior cidade do país, para perceber que o resultado da pesquisa contraria o consenso de que é necessário investir no transporte público para mitigar problemas como congestionamentos, emissão de poluentes e desigualdade de acesso à mobilidade urbana —pautas incontornáveis das campanhas não só de São Paulo como do Rio de Janeiro e outros grandes centros, só perdendo para a segurança, campeã absoluta das atenções.

Marco Aurélio Nogueira - Como se reconhece um democrata?

O Estado de S. Paulo

Ele se move pelas sendas complicadas da razão, recusando a manipulação das emoções que políticos e governantes fazem regularmente, sobretudo em períodos eleitorais

Estamos sendo invadidos por falsos democratas. Pessoas brutais, grosseiras e violentas, não há quem rejeite a qualificação, ainda que seja para rebaixá-la, simplificá-la e distorcê-la. “Ser democrata” é hoje uma autoatribuição generalizada.

O indivíduo democrata não se reduz a uma ou outra “virtude”. Defender a liberdade de expressão, por exemplo, tornou-se uma barafunda de significados, que flutuam nos interstícios de redes e organizações. Em nome dela, praticam-se barbaridades inomináveis. Embora a ideia seja preciosa para os direitos que devem prevalecer numa democracia, ela precisa ser bem compreendida, o que somente acontece quando vinculada a outras ideias.

Ninguém nasce democrata. Crianças e adolescentes podem ter um senso mais agudo de justiça e compartilhamento, podem ser generosos com os outros, mas nem por isso são desde logo democráticos. É verdade, porém, que quanto mais bem formadas (na família, na escola, nos grupos de vizinhança), maior será sua predisposição para abraçar a democracia. Como se costuma dizer, abraçar a democracia é uma construção socialmente determinada.

Carlos Andreazza - Teremos a nossa Las Vegas

O Estado de S. Paulo

Liberaram oferta agressiva – e então correm para tipificar potenciais dependentes e lhes tutelar os gastos

O Congresso aprovou o projeto de legalização das apostas esportivas cantado pela promessa inflada dos dinheiros fáceis, sob a sempre ardilosa miragem do olho grande, tocado pelo lobby vendedor de uma Las Vegas para cada Estado e de receitas bilionárias para os tesouros.

A Fazenda também se encantou, a regulamentação do bicho concebida todinha tendo as possibilidades de arrecadação como norte. Haddad e seus raspadores de tacho de olhos crescidos para aquelas projeções tremendas – os bilhões que viriam compor para lhe fechar a farsa da meta fiscal.

A gula subestimou a complexidade do mundo real. Que se impõe. E de repente todos preocupados com as consequências dos estímulos ao consumo de apostas sobre a vida das gentes.

Michel Temer - A hora da paz!

O Estado de S. Paulo

Nada melhor para a ONU revelar a sua competência do que fazer chegar ao fim o conflito do Oriente Médio

Tenho visto fotos dos bombardeios realizados no Líbano. São dolorosas, já que mostram crianças despedaçadas pelas bombas jogadas pelo governo do primeiro-ministro. São centenas de libaneses mortos nesses conflitos. De fora a parte outros milhares de palestinos mortos em Gaza ou quando dela saem para buscar entrada no Egito.

Também doloroso foi verificar logo no início do conflito a matança daqueles jovens judeus que se divertiam numa festa que veio a ser invadida por integrantes do Hamas. Como angustiante é saber dos reféns que se encontram detidos pelo Hamas. Imagino a dor sentida pelas famílias desses aprisionados. Como sou capaz de imaginar o desespero das famílias palestinas e libanesas que perderam seus entes queridos sem nem sequer participarem diretamente da batalha.

José Natal - Eleições municipais: mudam os sacos, a farinha é a mesma

Correio Braziliense

É desanimador, e perigoso, assistir ao festival macabro dessa eleição paulista e saber que qualquer que seja o eleito vai cair sobre ele a mancha do desatino de que participou

Há quem diga, e são muitos, que eleições em São Paulo, para qualquer cargo, equivale a uma eleição nacional, uma disputa da maior importância. A maior e a mais importante cidade do país, e uma entre as maiores da América do Sul, carece de um quadro melhor qualificado para comandá-la, administrar seus passos e corrigir seus rumos. O gigantismo de São Paulo não pode, ou pelos menos não deveria, ser entregue a aventureiros sem propostas de trabalho, planos que beneficiem a comunidade ou lhes dê o mínimo de ações que sinalizem providências voltadas para saúde, segurança e melhor qualidade de vida.

Brasília não tem eleição municipal, o que, diga-se de passagem, é uma pena que assim seja. Não existe na constituição da capital um artigo que permita ao cidadão escolher seu prefeito, aquele que cuida dos interesses e direitos da comunidade. Geraldo Alckmin, hoje vice-presidente da República, em campanha para a Presidência do país em 2018, pregava que o que mais uma cidade precisa é de um prefeito. Aquele que conheça a comunidade, seus problemas, angústias e ideias que podem gerar soluções. Alckmin dizia que um prefeito já deve sair de casa de manhã anotando os problemas que vê pelo caminho que o leva à Prefeitura. Essa visão matinal dos problemas que afetam a cidade ajuda nos despachos burocráticos com assessores. Indica soluções.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Alta na dívida reflete desdém pela crise fiscal

O Globo

Quanto mais tempo governo demorar para enfrentar realidade, mais cara será a conta a pagar

O endividamento público nunca é indolor, apesar do desprezo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem manifestado pela crise fiscal. A conta um dia chega. Dívidas altas resultam em custos mais elevados para pagá-las. Com a incerteza sobre a solvência, o mercado exige que o governo pague juro maior para emprestar ao governo. Em consequência, sobra menos dinheiro para investir em saúde, educação, infraestrutura ou segurança — e o crescimento da economia é menor. Protelar o ajuste só piora a situação. Quanto mais tempo o governo demorar para enfrentar a realidade, maior será a crise adiante, pondo em risco políticas públicas prioritárias.

Quando Lula assumiu, a dívida equivalia a 74,4% do PIB. O Tesouro Nacional estimava que fecharia este ano em 76,6%. Anteontem, porém, o próprio governo reconheceu piora nesse cenário. Agora prevê que ela chegará a 77,8%. Pelas estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI), o endividamento brasileiro em 2024 será o quarto maior entre países emergentes. Mantida a toada atual, a dívida crescerá em todos os anos do atual mandato. Para o Tesouro, só parará de crescer em 2027. Nas contas do mercado, segundo as opiniões coletadas pelo Banco Central, apenas em 2032, quando bater em 89,7%. A perspectiva é Lula deixar como herança um aumento de 10 pontos percentuais em quatro anos.

Poesia | Verdade, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Paulinho da Viola - Foi um Rio que passou em minha vida