Alta na dívida reflete desdém pela crise fiscal
O Globo
Quanto mais tempo governo demorar para
enfrentar realidade, mais cara será a conta a pagar
O endividamento público nunca é indolor,
apesar do desprezo que o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva tem manifestado pela crise fiscal. A conta um dia chega. Dívidas altas
resultam em custos mais elevados para pagá-las. Com a incerteza sobre a
solvência, o mercado exige que o governo pague juro maior para emprestar ao
governo. Em consequência, sobra menos dinheiro para investir em saúde,
educação, infraestrutura ou segurança — e o crescimento da economia é menor.
Protelar o ajuste só piora a situação. Quanto mais tempo o governo demorar para
enfrentar a realidade, maior será a crise adiante, pondo em risco políticas
públicas prioritárias.
Quando Lula assumiu, a dívida equivalia a 74,4% do PIB. O Tesouro Nacional estimava que fecharia este ano em 76,6%. Anteontem, porém, o próprio governo reconheceu piora nesse cenário. Agora prevê que ela chegará a 77,8%. Pelas estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI), o endividamento brasileiro em 2024 será o quarto maior entre países emergentes. Mantida a toada atual, a dívida crescerá em todos os anos do atual mandato. Para o Tesouro, só parará de crescer em 2027. Nas contas do mercado, segundo as opiniões coletadas pelo Banco Central, apenas em 2032, quando bater em 89,7%. A perspectiva é Lula deixar como herança um aumento de 10 pontos percentuais em quatro anos.