sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

A economia e o estrago eleitoral - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

A conversa geral em Brasília agora é sobre a necessidade de equilibrar as contas públicas. Mas a atitude do governo, até agora, não passa firmeza.

O presidente Lula mudou em alguma coisa seu discurso. Repete que defende a responsabilidade fiscal, que não deixará que as despesas estourem sobre as receitas e insiste em que obteve déficit zero em 2024, sem levar em conta que a dívida pública saltou dos 71,7% do PIB em 2022 para 76,1% do PIB em 2024. E ainda garante que não vai adotar nenhuma providência para conseguir algum superávit fiscal. Ao contrário, desautoriza seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que reconhece a existência de um rombo e não conta com bala de prata para abatê-lo.

O novo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, pede mudança de rumo na economia “porque não há crescimento com caos econômico”, como disse à CNN. Por aí se vê que o propalado acordo entre Executivo e Legislativo deve ser visto com ressalvas.

Lula parece ter entendido que a capacidade de obter bons resultados nas eleições de 2026, fato político que já está à vista, depende de uma boa condução da economia.

Mas a inflação e, mais do que isso, a percepção do consumidor de que a alta dos alimentos vai corroendo a capacidade de compra do seu salário conspiram contra esse objetivo. Até agora, o governo, especialmente o ministro chefe da Casa Civil, Rui Costa, girou em falso na busca de uma solução para o problema. O ministro já sugeriu intervenção nos preços, o que prontamente corrigiu, falou em importar alimentos e pretendeu resolver tudo com uma conversa com comerciantes e produtores.

Enquanto isso, a pressão inflacionária começa a se espraiar para a área dos serviços. Em nenhum momento, o governo reconhece que a principal fonte do avanço do custo de vida está na disparada das despesas públicas, que criam demanda acima da capacidade de oferta da economia. Ou que o Banco Central tem de se encarregar sozinho do serviço de combater a inflação, na contramão do governo.

O Congresso, por sua vez, vai diagnosticando as fraquezas do governo e age de acordo com seu jogo. Já viu que um ministro da Fazenda “fraco”, como apontou Gilberto Kassab, é boa brecha por onde meter seus aríetes. E por que Lula não lhe transmite força além dos elogios de gogó? Provavelmente porque teme que uma boa condução da economia fortaleça Haddad como eventual candidato para 2026.

Está em curso forte desaceleração da atividade econômica. Em compensação, os níveis de desemprego são os mais baixos da história, o dólar resvalou para abaixo dos R$ 6, uma safra agrícola recorde vem vindo aí e as exportações do Brasil por enquanto estão fora da mira da metralhadora giratória de Trump.

Embora um tanto tarde, este é o momento certo para a virada, desde que não se limite a meros recursos de marketing.

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