domingo, 12 de janeiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

É tarefa urgente combater aumento de casos da dengue

O Globo

O ano de 2025 começa com previsões alarmantes sobre proliferação de doença letal e evitável

É preocupante o alerta feito pelo Ministério da Saúde a estados e municípios sobre o possível aumento de casos de dengue nos primeiros meses deste ano. Significa que uma situação que já é dramática pode se tornar ainda pior se as medidas necessárias não forem tomadas a tempo. Em 2024, diante de ações tíbias das autoridades sanitárias dos três níveis de governo, a doença se espalhou, batendo todos os recordes. Pelos números oficiais, foram 6.644.336 casos registrados — quase quatro vezes mais que no ano anterior — e 6.041 mortes (outras 875 estão sob investigação).

Projeções do Ministério para a temporada 2024-2025 estimam que os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Tocantins, Mato Grosso do Sul e Paraná poderão apresentar incidência maior do que no ano passado. Outra preocupação é que, apesar de os sorotipos predominantes ainda serem o DENV1 (73,4%) e o DENV2 (25,9%), o DENV3, para o qual a maior parte da população brasileira não tem imunidade, já circula em estados como Amapá, São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Roraima e Pará.

Os donos da verdade - Merval Pereira

O Globo

Lula assumiu o controle da História nos seus domínios provisórios querendo reescrevê-la do seu ponto de vista

"No Brasil, até o passado é incerto”, definiu o economista Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda do Plano Real e um pensador do país dos mais consistentes. Mais incerto ainda porque, como já disse o grande escritor George Orwell, “a história é escrita pelos vencedores”. Com o advento da internet, as fake news substituíram com vigor insuperável os boatos, que já tiveram seu papel na nossa história, como a acusação de que o brigadeiro Eduardo Gomes teria desprezado os votos dos “marmiteiros” na eleição presidencial de 1945 contra Eurico Gaspar Dutra, que acabou vencendo por larga margem.

O uso das redes sociais nas campanhas políticas, agravado agora pela Inteligência Artificial (IA) está em discussão há algum tempo no mundo, e agora mais do que nunca com a decisão de Mark Zuckberg de retirar de suas plataformas digitais (Facebook, Instagram, WhatsApp) as checagens sobre a veracidade do que é publicado. A vontade de distorcer os fatos dos vencedores do momento em benefício próprio não é novidade. Em 1924, após a morte de Lênin, principal líder da Revolução Bolchevique de 1917, Leon Trotsky e Josef Stalin passaram a dividir a influência sobre o partido comunista que, na prática, governava a União Soviética.

Trump e a volta do “imperialismo yankee” - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Agora, às vésperas de tomar posse, Trump choca o mundo com uma visão geopolítica expansionista que vai muito além da “guerra comercial” com a China

Por definição, o imperialismo ocorre quando uma nação promove uma expansão territorial, econômica e/ou cultural sobre outra nação pela força. A colonização da África, da Ásia e da Oceania, que se iniciou na segunda metade do século XIX, representou o auge do imperialismo. Em termos atuais, pode ser empregada no caso da invasão da Ucrânia pela Rússia, por exemplo. Segundo o historiador Eric Hobsbawm, essa forma de neocolonialismo representou a ocupação de 25% das terras do planeta.

O revolucionário russo Vladimir Lênin, que liderou a Revolução de 1917 e fundou a antiga União Soviética, porém, associava o imperialismo ao estágio monopolista do capitalismo. “Essa definição compreenderia o principal, pois, por um lado, o capital financeiro é o capital bancário de alguns grandes bancos monopolistas fundido com o capital das associações monopolistas de industriais e, por outro, a partilha do mundo é a transição de uma política colonial que se estendeu sem obstáculos às regiões não apropriadas por nenhuma potência capitalista para uma política colonial de posse monopolista dos territórios da Terra, já inteiramente repartida.”

Com o fim da antiga União Soviética, que havia se transformado de uma força anticolonialista, sobretudo na Ásia e na África, numa potência imperialista na Europa Oriental, essa visão perdeu relevância. Com o fim do colonialismo, a integração das diversas regiões do globo por meio do desenvolvimento dos transportes e das comunicações ultrapassou os modelos nacional-desenvolvimentistas que nela se baseavam, sobretudo a partir de a China adotar o capitalismo de estado e emergir como nova potência econômica mundial.

Foi lindo – Dorrit Harazim

O Globo

Assunto para desesperança não falta, daí a importância de relembrar a felicidade coletiva pelo prêmio de Fernanda Torres

A terra arde na Califórnia, falta ar respirável na Venezuela de Nicolás Maduro, Mark Zuckerberg assume sua covardia cívica, e o mundo gira aparvalhado às vésperas de uma nova era — a era Trump II. Assunto para desesperança não falta, daí a importância de relembrar também aqui, e sempre que necessário, a felicidade coletiva que inundou o Brasil nas últimas horas do domingo passado.

Dada a excepcional safra de concorrentes ao Globo de Ouro de Melhor Atriz, poucos ousavam esperar que Fernanda Torres saísse premiada pela atuação em “Ainda estou aqui”, o precioso filme de Walter Salles baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva. O filme já havia corrigido uma lacuna colossal na História do país (e da ditadura militar) dando voz, corpo e alma à figura de Eunice Paiva. Já havia sensibilizado mais de 3 milhões de brasileiros e devolvido vida a salas de cinema. Já havia gerado análises fluviais e pertinentes em todas as mídias nacionais. Mas foi o anúncio surpresa transmitido ao vivo de Beverly Hills que fez com que o Brasil (ou boa parte dele) acordasse na manhã seguinte em estado de euforia coletiva. Uma alegria não estridente nem impositiva, de mera felicidade impregnada pela arte. Como foi gostoso sentir orgulho compartilhado e sem soberba. De repente, o amanhã fugidio e incerto foi substituído por um presente generoso, marcante, esperançoso.

O projeto das big techs - Bernardo Mello Franco

O Globo

Deu no Financial Times: o homem mais rico do mundo quer derrubar o governo britânico. Elon Musk está conspirando contra o primeiro-ministro Keir Starmer. Pretende forçar sua queda antes das próximas eleições, previstas para 2029.

O dono do X, da Tesla e da Starlink gastou mais de R$ 1,5 bilhão para ajudar Donald Trump a voltar ao poder nos Estados Unidos. Agora busca expandir sua influência política na Europa. Nos últimos meses, aproximou-se de diversos líderes de extrema direita. Prometeu conselhos e dinheiro, não necessariamente nesta ordem.

Eduardo Paes contra a máfia - Elio Gaspari

O Globo

O ano começou com uma grande notícia. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, atacou o cartel dos transportes públicos da cidade:

— Estamos enfrentando uma turma que é uma máfia. (...) Mafiosos que fazem essa caixa-preta há muito tempo no Rio. Eles não vão nos deter. Vamos dar transparência a esse sistema e pagar um preço justo.

Na raiz da zanga do prefeito está sua tentativa de integração dos transportes com um novo sistema de bilhetagem. No quarto mandato, Paes conhece de cor e salteado as operações do que agora, felizmente, chama de máfia.

Revisitar as proezas desse cartel é um passeio pela ruína da política e dos serviços públicos da cidade.

Em 2004, a prefeita Marta Suplicy instituiu o Bilhete Único em São Paulo. Incomodou as empresas e os transportes que defendiam seus interesses. No Rio, fez-se de conta que a inovação era coisa de outra galáxia. Só em 2007 a Fetranspor, alma do cartel, criou um pastel de vento chamado RioCard Expresso, sem desconto.

O Rio só instituiu o Bilhete Único em 2010. Custava mais caro que o de São Paulo e tinha serventia menor. A Assembleia Legislativa criou uma CPI para abrir a caixa-preta da Fetranspor. Acabou em CPIzza.

São Sidônio não faz milagre - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Marketing faz bem, mas não resolve inflação, dengue, falta de gestão nem Congresso guloso

Demorou, mas aconteceu o que Brasília inteira previa: o petista gaúcho Paulo Pimenta sai e o baiano Sidônio Palmeira entra na Secretaria de Comunicação, com “carta-branca” para montar a própria equipe e dar ordem de comando para que ministros e altos funcionários defendam Lula, o governo e eles próprios de ataques e fake news. Daqui pra frente, tudo será diferente? Bem… marketing não faz milagre.

Nenhum gênio da comunicação e do marketing tem poderes extraordinários para esconder, ou apagar, dados objetivos e oficiais. Dois exemplos fresquinhos, de 2024: a inflação fechou em 4,83%, muito acima do centro da meta, 3%, e até do teto, 4,5%, e mortes por dengue dispararam para 6.041, 400% a mais do que no ano anterior e ultrapassando a soma de 2015 a 2023.

Trump, o Brasil e o mundo pós-2025 - Pedro Malan

O Estado de S. Paulo

Protagonismo do País é afetado pela percepção do mundo sobre como estamos equacionando nossos inúmeros problemas domésticos

O futuro, que tem por ofício ser incerto, está a se tornar ainda mais incerto, imprevisível e perigoso. São momentosas as razões para que seja assim. A relação cada vez mais conflituosa entre os EUA e a China nas áreas econômica, tecnológica e militar; o agravamento dos conflitos no Oriente Médio; a belicosidade da Rússia em relação à Europa; o desenvolvimento vertiginoso da inteligência artificial e seu potencial de uso no desenvolvimento de armas mais letais como também em campanhas de propaganda política e desinformação. Tudo sob o dramático pano de fundo da mudança climática, do risco de aumento de endemias e de grandes fluxos migratórios que com grande frequência causam virulentas reações.

A avassaladora vitória eleitoral de Donald Trump deve a seus olhos constituir um claro mandato para intensificar seu peculiar modus operandi e sua visão sobre o que significa fazer a América “great again”. Anos atrás, a revista The Economist sugeriu que as ações de Trump seguiam um roteiro padrão, composto de três atos: fazer ameaças, alcançar acordos (propiciados pelas ameaças) e declarar vitória sempre (“make threats, strike deals, always declare victory”).

Consertado o relógio, resta cuidar do País - Rolf Kuntz

O Estado de S. Paulo

Lula pode contabilizar crescimento acumulado superior a 6,5%, mas deve reconhecer insegurança das contas públicas, desconfiança do mercado e persistência do risco inflacionário

Quando ouço a palavra cultura, pego minha arma. Citação imprecisa de uma peça do alemão Hanns Jost, essa frase poderia ter sido lembrada na terça-feira, em Brasília, quando foram reintegradas ao acervo do governo 21 peças vandalizadas em 8 de janeiro de 2023. O horror dos golpistas à arte, à cultura e a outras manifestações da civilização manifestou-se mais uma vez, naquele dia, quando vândalos depredaram as sedes dos Três Poderes e emporcalharam com sua presença a capital da República. Agora restauradas, ânforas de porcelana haviam sido reduzidas a cacos pelos invasores do Palácio do Planalto. Também foi reconstituído o relógio trazido ao Brasil em 1808 pelo regente João VI e arrebentado por um dos manifestantes.

Inflação, a febre da economia - Celso Ming

Estado de S. Paulo

Não é febre alta, mas há meses começou a preocupar. A temperatura do organismo econômico aumentou, tende a aumentar mais e a criar mais incertezas. A inflação de 2024, medida pelo IPCA, não chegou aos 5%, mas ficou perto, ficou nos 4,83%. Em dezembro ficou dentro do esperado, nos 0,52%.

Como a meta é de 3% em 12 meses, com 1,5 ponto porcentual de escape tolerado, os juros crescentes, agora nos 12,25% ao ano, não foram suficientes para dar conta da obrigação. E empurraram um arrasto inflacionário também para dentro de 2025.

Como parte desta inflação é consequência da alta do dólar, que teve forte impacto sobre os preços dos alimentos, alguns empresários e políticos alegam que essa inflação não é de demanda e que, portanto, não pode ser atacada com alta de juros. É um equívoco.

Uma despedida - Bruno Boghossian

Folha de S. Paulo

Esta é a última das quase 1.400 colunas de um período de 7 anos por aqui

Em certos momentos da história, analisar a política e o comportamento da sociedade é como escrever um manual de instruções de um aparelho que vemos pela primeira vez. É preciso desaprender a detectar mecanismos que seguem padrões já conhecidos e descobrir como giram as novas engrenagens.

Os últimos anos representaram um desafio dessa natureza. Quando publiquei minhas primeiras colunas na Folha, de 2017 para 2018Lula estava à beira de uma condenação que o levaria à prisão. Jair Bolsonaro era um agitador com popularidade ímpar nas redes e dois dígitos nas pesquisas. O barulho feito por Donald Trump mal transmitia a resiliência de um movimento político que se espalharia pelo planeta.

Responsabilidade compartilhada - Marcos Lisboa

Folha de S. Paulo

Desequilíbrio fiscal é obra de muitas mãos

Tornou-se lugar-comum criticar o governo federal pelo desequilíbrio fiscal.

O Executivo tem a sua parcela de responsabilidade, mas o problema é bem mais complexo, e distinto, do que afirma o contraponto "a direita que não quer pagar imposto, e a esquerda não quer cortar despesa".

Existem muitas regras que tornam a despesa do Estado brasileiro mais rígida do que em outros países, assim como diversos privilégios tributários. Elas contam com amplo apoio da esquerda e da direita, e refletem o sucesso de diversos grupos de pressão da sociedade.

reforma tributária foi abalroada por diversos setores, cada um justificando que seu caso era particular, e que não poderia pagar a alíquota padrão a ser cobrada do restante da sociedade.

Empresas de profissionais liberais, como médicos, economistas e advogados, faturando milhões de reais por ano, conseguiram alíquotas reduzidas.

Vale mencionar que já existe um benefício tributário para empresas que faturam até R$ 78 milhões por ano. Os regimes especiais permitem pagar uma alíquota menor de imposto sobre o lucro do que as empresas no regime geral.

Zuckerberg: corrupto ou covarde? - Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

Bilionário do Facebook mudou de posição para puxar saco de Trump

Mark Zuckerberg decidiu cancelar o fact checking no Facebook e disponibilizar a rede social como plataforma para a extrema direita.

Há duas explicações possíveis para a mudança: ou Zuckerberg está com medo ou é corrupto. Elas podem ser verdade ao mesmo tempo.

Na primeira hipótese, Zuckerberg e outros bilionários temem sofrer retaliações de Trump se não doarem dinheiro, ou se não fizerem a vontade do governo. Na segunda hipótese, o Vale do Silício percebeu que Elon Musk vai ganhar dinheiro (com regulação das redes, ou das criptomoedas, ou com protecionismo contra a concorrência chinesa) por ter se aliado a Trump, e resolveu correr atrás de boquinha semelhante.

A manchete é uma dessas duas: Zuckerberg acha Trump um ditador ou Zuckerberg acha Trump corrupto. Liberdade de expressão não é o assunto aqui.

Como pensar igual a um filósofo - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Livro cheio de surpresas traz biografias e principais ideias de 30 pensadores

"How to Think Like a Philosopher" (Como Pensar Igual a Um Filósofo), de Peter Cave, é um livro estranho. E utilizo aqui o termo estranho num sentido positivo. A reflexão filosófica, afinal, surge com o "thaumázein", o verbo grego para designar o estranhamento.

Em princípio, "How to Think..." é mais uma introdução à filosofia. São 30 pequenos ensaios que traçam o perfil e procuram explicar as ideias de 30 pensadores. Os motivos para o estranhamento começam já na lista dos escolhidos.

Ainda estamos aqui – Márcio Macêdo*

Correio Brazililense

O filme é uma obra prima: roteiro preciso, retrato fiel de um momento histórico. Uma riqueza de detalhes e sutilezas que muitas vezes os filmes não conseguem alcançar

Demorei para assistir ao filme de Walter Salles — Ainda estou aqui, inspirado no livro de Marcelo Rubens Paiva. Estava esperando uma noite, depois do expediente, em que estivesse descansado ou um fim de semana sem trabalho e com o espírito preparado. Mas resolvemos eu e a Karina, minha esposa, irmos na noite chuvosa de 8/1, dia marcado pela tentativa de golpe de Estado no nosso país há dois anos. Dia em que o governo do presidente Lula organizou duas solenidades em defesa da democracia e dos movimentos sociais e os partidos democráticos fizeram o abraço à democracia na Praça dos Três Poderes, em Brasília.

O filme é uma obra prima: roteiro preciso, retrato fiel de um momento histórico. Uma riqueza de detalhes e sutilezas que muitas vezes os filmes não conseguem alcançar. Uma plástica irreparável, belas imagens, atuações espetaculares dos atores, com destaque para Fernanda Torres e Selton Mello. 

Poesia | Vinicius de Moraes - Mensagem à Poesia

 

Música | Geraldo Azevedo - Lembrando Carlos Fernando