quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Sem novo ensino médio, avanço do Enem seguirá fraco

O Globo

Governadores devem acompanhar implementação das mudanças para que tenham chance maior de sucesso

É boa notícia o aumento de 3 pontos na média do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024 em relação ao ano anterior. Melhor ainda é a constatação de que as notas em todas as áreas foram superiores às registradas em 2019, antes da pandemia do novo coronavírus. Outro ponto positivo foi o aumento no número de participantes. No ano passado, mais de 4,3 milhões se inscreveram para fazer o Enem, e a presença foi de 73,5%. Em 2023, foram 3,99 milhões de inscritos, com presença de 71,9%. “É ótimo que a nota do Enem tenha aumentado mesmo com a ampliação do número de estudantes”, diz a presidente executiva da ONG Todos Pela Educação, Priscila Cruz. “Muitos são jovens que não tinham no horizonte fazer o Enem ou entrar para uma universidade. Isso só reforça a importância do aumento da nota”.

A comunicação enquanto política - Vera Magalhães

O Globo

Governo precisa é de uma mudança mais ampla, que aumente sua base social para além dos convertidos 

De que forma o anúncio da guinada de política de moderação de conteúdo feita por um gigante como a Meta e a troca da guarda no comando da comunicação do governo Lula se conectam neste tenso início de ano, e o que a prevalência desses assuntos demonstra?

A resposta parece ser que, de qualquer ângulo que se olhe, as mudanças vertiginosas na comunicação e seu impacto imediato na vida de pessoas, sociedades e países são a grande moeda política e econômica dos tempos que vivemos.

A mudança feita por Lula na Secom parece até pueril diante do potencial de estrago causado pela demonstração, a partir do anúncio feito por Mark Zuckerberg, de que agora vale tudo para que as chamadas big techs se alinhem ao Zeitgeist da volta de Donald Trump ao poder, apesar de tudo o que perpetrou em seu primeiro mandato e depois que foi derrotado.

O verdadeiro desafio de Trump – Elio Gaspari

O Globo

Na segunda-feira Donald Trump assumirá pela segunda vez a Presidência dos Estados Unidos, na crista de uma espetacular vitória eleitoral. Desde novembro, no seu estilo teatral, ameaçou anexar o Canadá, ocupar a Groenlândia e retomar o Canal do Panamá. Tudo fumaça. Trump tem uma queda por fantasias. Ora assusta os americanos dizendo que os imigrantes comerão seus cachorrinhos, ora tenta assustar o mundo, insinuando que usará a força militar para respaldar seus delírios expansionistas.

Faz tempo, aconselhando Bill Clinton, o marqueteiro James Carville fulminou:

— É a economia, estúpido.

Trump assumirá uma semana depois de a China ter revelado que fechou 2024 com um superávit comercial de US$ 990 bilhões. Esse resultado surpreendeu o mundo.

As indústrias chinesas conseguiram uma coisa parecida com o desempenho dos Estados Unidos nos anos seguintes à Segunda Guerra, quando a Europa estava arruinada. Panamá? Groenlândia? Canadá? Imigrantes? Nada disso, é a China, bobão.

A ameaça de Trump à democracia dos EUA - Martin Wolf

Valor Econômico

Devemos esperar que o povo americano não abandone levianamente as tradições iluministas de seu país

A democracia dos Estados Unidos sobreviverá à segunda presidência de Donald Trump? Esta não é uma questão teórica. É evidente que Trump está seguindo um roteiro conhecido para transformar uma democracia liberal em uma não liberal. Este último, é um eufemismo para uma ditadura - um regime em que as decisões se baseiam na vontade de uma pessoa, amplamente livre de prestação de contas a qualquer outra.

Em “The Spirit of Democracy”, Larry Diamond, da Universidade Stanford, afirma que uma democracia liberal consiste em eleições livres e justas, proteção dos direitos civis e humanos de todos os cidadãos igualmente, e um Estado de Direito que une todos os cidadãos igualmente. Essas, então, são as “regras do jogo”. Mas a eficácia dessas regras depende de restrições sobre aqueles que controlam temporariamente o Estado. As restrições mais importantes são o Judiciário, os partidos políticos, as burocracias e a imprensa. A questão é se elas se manterão, primeiro enquanto Trump for presidente e depois no longo prazo.

Êxito – Roberto DaMatta

O Globo

Em ‘Ainda estou aqui’, agentes da ditadura absurdamente promovem insegurança e desarmonia um lar

Numa aldeia, todo mundo é famoso

(Erving Goffman)

É um desfecho venturoso de um ato ou obra. O êxito assegura a existência da felicidade e produz momento de gratidão pela existência.

— A vida presta — ponderou sabiamente uma exitosa Fernanda Torres.

As lágrimas do êxito vão para o céu e são o avesso dos pranto amargo das injustiças e dos infortúnios que obrigam a engoli-las.

Uma explosão de êxito foi o que vi no agradecimento de Fernanda Torres ao receber o Globo de Ouro de melhor atriz no filme “Ainda estou aqui” — um drama revelador de eventos morais e políticos marcados pela coragem e determinação de Eunice Paiva, uma mulher que teve a vida contada num livro comovente do filho, Marcelo Rubens Paiva, cujo talento como autor eu admiro.

A explosão exprime uma vitória patente e — como diria Nélson Rodrigues — insofismável da cinematografia do Brasil como uma arte fundamental de universalização de fábulas e estórias que constituem o coração e a alma da cultura do país. São essas articulações — com início, meio e fim — da ficção que traduzem para o outro, e para cada um de nós, a sociedade com seus dilemas e singularidades.

Começou a campanha para o Lula 4 - Nilson Teixeira

Valor Econômico

Ambiente exigirá a construção pelo governo de uma agenda com apelo não apenas para os eleitores de esquerda, mas também para aqueles que se associam ao centro e, no limite, à centro-direita

Políticos dificilmente se satisfazem com um único mandato, buscando quase sempre ampliar sua influência e alcançar cargos mais altos. Mesmo quando eleitos com o discurso de busca de apenas um exercício, a maioria dos ocupantes de cargos eletivos muda de ideia e termina por pleitear a reeleição. As justificativas são variadas, sendo a mais frequente o desejo de completar o trabalho ainda não concluído. O presidente Lula é um exemplo. A menos que haja contratempos de saúde, Lula buscará a reeleição, mesmo tendo sugerido que o seu terceiro mandato poderia ser o último.

Uma das razões da vitória de Lula sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro na eleição de 2022 foi a crença de que sua escolha afastaria o risco de instalação de um regime autoritário de direita. Apesar de possivelmente fazer parte da campanha de 2026, essa plataforma não parece capaz de ser o fio condutor da reeleição, mesmo com a alegação de que alguns membros do governo passado agiram de forma incompatível com o regime democrático.

O benefício para Lula de ser o candidato incumbente não parece mais tão determinante, dada a marcante divisão da sociedade entre esquerda, centro e direita a partir da eleição de Bolsonaro em 2018. O ex-presidente foi capaz de agregar politicamente a pauta conservadora, já disseminada com a proliferação de igrejas evangélicas. A campanha eleitoral no município de São Paulo em 2024 também comprovou que um candidato com perfil mais à direita tem um percentual elevado de eleitores, o que dificulta o sucesso de um postulante de esquerda, mesmo com Lula sendo o incumbente.

Entre ruídos, os sinais da equipe econômica - Fernando Exman

Valor Econômico

Equipe econômica quer deixar claro que cumprimento do arcabouço fiscal está sendo trabalhado

Têm sido frequentes, como de costume, os contatos de integrantes da equipe econômica e da cúpula do PT com agentes do mercado neste início de janeiro. Parte considerável do esforço deles nessas conversas é assegurar que decantem algumas mensagens sobre os rumos da política fiscal, em meio a um volume relevante de questionamentos sobre a solidez das contas públicas.

Nas entrelinhas, capta-se a preocupação de interlocutores do mercado com um eventual arroubo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em outras palavras, que ele possa adotar medidas populistas para acelerar a atividade de uma economia já considerada sobreaquecida, se estiver insatisfeito com sua taxa de popularidade. O ano de 2025 é estratégico para a permanência do partido na Presidência.

Maduro expõe fissuras na esquerda - Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Lula percebeu o quanto sua defesa de ditadores esquerdistas favorecia os seus adversários

Em algum momento do semestre passado, Lula percebeu o quanto sua constante defesa de ditadores de esquerda, seu negacionismo diante do desmonte acelerado de instituições democráticas liderado por aliados de esquerda e sua complacência com violações de direitos humanos em países "resistentes ao imperialismo" favoreciam seus adversários.

Adotou, então, uma postura mais cautelosa: distanciou-se de Daniel Ortega, evitou ungir Nicolás Maduro em sua autoproclamada vitória e até endossou a pressão internacional para que fossem apresentadas as atas eleitorais venezuelanas. Pelo que se conhece de Lula, esse esforço de autocontenção não deve ter sido fácil.

Importa se Lula é sincero sobre à Venezuela? - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Mesmo que distanciamento tenha motivação populista, nova posição é melhor que a anterior

Minha coluna desta segunda-feira (13), sobre o afastamento de Lula em relação a ditaduras de esquerda, dividiu os leitores. Parte deles acha que o presidente, movido pelo populismo, apenas finge distanciar-se de Maduro. Em seu íntimo, ele continuaria tão bolivariano quanto antes.

É decerto possível analisar motivações. Mas, neste caso, como veremos mais adiante, não penso que faça tanta diferença. Comecemos, porém, pelo começo. Um pensador que dava grande ênfase a motivações era Kant.

O Congresso e os R$ 80 milhões por dia - Ranier Bragon

Folha de S. Paulo

Congresso troca o comando no dia 1º, mas sem sinal de rever a fantástica fábrica de imprimir dinheiro

Em 1º de fevereiro o comando do Congresso será trocado e muito provavelmente Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) vão assumir as cadeiras de presidente da Câmara e do Senado, respectivamente.

Toda renovação pressupõe alguma esperança de mudança, mas sempre há exceções.

Motta deve ser o mais jovem presidente da Câmara da história —ele tem 35 anos—, mas já está em seu quarto mandato na Câmara e chega ao cargo pelas mãos de Arthur Lira (PP-AL), o atual ocupante do posto. Alcolumbre volta ao cargo que ocupou de 2019 a 2021 e após emplacar em seu lugar o hoje presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Há 40 anos Tancredo Neves vencia o regime de exceção - Aécio Neves

Folha de S. Paulo

Hoje, com o ódio e a violência dominando a política, é impossível não pensar em passagem da vida do estadista que se confundem com a história do país

Em um 15 de janeiro como este, há exatos 40 anos, encerrava-se o ciclo de 21 anos de ditadura militar com a eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral.

Ao lado de outros companheiros e de milhões de brasileiros, Tancredo venceu o regime de exceção usando as armas da democracia, cerzindo com sabedoria e paciência as oportunidades de avanço pelas frestas da ditadura imposta ao país.

"Acabou o ciclo autoritário; Tancredo é o 1º presidente civil e de oposição desde 64", foi a manchete da Folha no dia seguinte.

Nas ruas, a emoção explodia de todas as formas. O Brasil parecia acordar de um longo pesadelo e se reconciliava consigo mesmo. Trago ainda viva na minha memória a imagem de Cazuza no primeiro Rock in Rio cantando "Pro dia nascer feliz" com a bandeira do Brasil nas costas.

Missão de Sidônio é alavancar a liderança moral – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Essa foi a primeira troca da reforma ministerial que está sendo maturada no Palácio do Planalto. Lula depende de uma imagem positiva para não se tornar refém do Congresso

O publicitário Sidônio Palmeira, marqueiro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assumiu a Secretaria de Comunicação Social do Palácio do Planalto com a tarefa não apenas de gerenciar a imagem presidencial sem intermediários, mas, também, de alavancar a popularidade governo. Não será fácil. Mas, agora, o desafio está nas mãos de um profissional bem-sucedido do marketing político e não de um político profissional, o ex-ministro Paulo Pimenta, que volta à Câmara para exercer seu mandato de deputado federal.

Publicitário, Sidônio tomou posse, nesta terça-feira, em solenidade das mais concorridas do Palácio do Planalto, porém sem a presença expressiva da bancada do PT na Câmara, que perdeu uma posição importante no governo. A fala de despedida de Pimenta contrastou com o discurso de posse de Sidônio. Enquanto o ex-ministro fez um longo discurso falando de sua trajetória de "petista raiz" e aliado incondicional de Lula, Sidônio — como é chamado no meio publicitário — deixou claro que não tem filiação partidária e que vai cuidar de todo o governo, cujo "bom trabalho" não estaria sendo devidamente percebido pela população.

Eles continuam aqui - Cristovam Buarque*

Correio Braziliense

Militares ainda têm sintonia com aqueles que sequestraram Rubens Paiva. Mais ameaçador que isso, a maioria dos parlamentares não parece ter sintonia com os líderes que lutaram contra a ditadura

No evento para lembrar o 8 de janeiro, o presidente Lula disse "nós, democratas, ainda estamos aqui", mas depois de 40 anos de democracia, eles, os golpistas, também estão aqui: tanto militares que ameaçam de fora, quanto civis que enfraquecem a democracia por dentro. Apesar de nada ter a ver com os crimes do passado, a atual geração de militares ainda tem sintonia com aqueles que sequestraram Rubens Paiva. Mais ameaçador que isso, a maioria dos parlamentares não parece ter sintonia com os líderes que lutaram contra a ditadura desejando construir um futuro democrático para o país, os parlamentares de hoje apodrecem a democracia.

40 anos de redemocratização: A vida numa conversa - André Gustavo Stumpf

Correio Braziliense

Tancredo Neves, depois de eleito, deu uma volta ao mundo para se mostrar como o novo presidente do Brasil. Parou em Washington. Conversei com ele longamente na Embaixada do Brasil

Quarenta anos passaram muito rapidamente e, neste período, o país mudou bastante. Na época, não havia internet nem telefone celular. Os jornalistas eram obrigados a conversar pessoalmente com suas fontes, frequentar almoços, jantares e, não raro, café da manhã para saber das novidades, que ocorriam com velocidade alucinante. O regime militar estava desmoronando, com inflação elevadíssima, o presidente João Figueiredo fora de combate, depois que operou o coração, e o poder estava nas mãos do chefe da Casa Civil, Leitão de Abreu. O equilíbrio político era muito precário.

A política estava nas ruas desde 1984, quando a campanha em favor das eleições Diretas Já incendiou o país. A emenda do deputado Dante de Oliveira pretendia que as eleições para presidente da República fossem realizadas, de maneira direta, naquele ano. O Congresso não aprovou a medida. Mas a mobilização continuou em todo o país. A resposta do governo foi convocar o Colégio Eleitoral, que era constituído por membros do Congresso Nacional mais representantes dos estados. Foi a maneira imaginada para controlar a eleição. Não deu certo.

Poesia | Testamento do homem sensato, de Carlos Pena Filho

 

Música | Marisa Monte - Segue o seco