sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Desabamento em igreja expõe descaso com patrimônio

O Globo

Não falta dinheiro, mas uma rotina de cuidado com as relíquias históricas e com a segurança dos turistas

O desabamento do teto da Igreja da Ordem Primeira de São Francisco, no Centro Histórico de Salvador, mostra o descaso com que o Brasil trata os turistas e o patrimônio histórico. A tragédia matou uma jovem de 26 anos, feriu cinco visitantes e destruiu uma relíquia do barroco brasileiro. Era notória a precariedade do templo, conhecido como Igreja de Ouro e considerado uma das sete maravilhas de origem portuguesa no mundo.

Dois dias antes da tragédia, o frei Pedro Júnior Freitas da Silva, guardião-diretor da igreja, alertara o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) sobre a dilatação no teto e pedira vistoria. A inspeção estava prevista para esta quinta-feira, mas o desabamento não esperou os trâmites burocráticos. A fissura no teto era só uma das muitas carências da igreja. Em 2023, reportagem do portal g1 revelou o estado do edifício. Havia pilastras sem reboco, piso desnivelado, fiação exposta e, em alguns lugares do complexo religioso, o teto estava escorado em ripas de madeira. Um dos pátios fora parcialmente interditado devido ao risco de queda de um pináculo, depois removido.

A resilência da frágil democracia brasileira - César Felício

Valor Econômico

A incapacidade de qualquer grupo político ser hegemônico no Brasil protege e preserva a democracia no País. Esta é a explicação que a cientista política chilena Marta Lagos, diretora da Corporação Latinobarometro, encontra para explicar a resiliência da democracia brasileira, que completa 40 anos em março.

Momentos de perigo não faltaram: morte de um presidente que não chegou a tomar posse, dois processos de impeachment, uma hiperinflação, um ex-presidente condenado por corrupção, e, para arrematar, um complô para um golpe de Estado tramado dentro da sede do governo. O apreço à democracia entre os brasileiros oscila, mas está entre os mais baixos do Continente. A violência perpassa todo o tecido social. Está nas ruas, está no Estado, está dentro das casas. O Brasil, contudo, está longe de ser o país latino-americano com a maior ameaça ao sistema.

José de Souza Martins - Caipira não é o que se diz

Valor Econômico

A exposição da Pinacoteca de São Paulo, infelizmente, não ressalta o que de fato ela documenta: a supressão do mundo do caipira e sua sobrevivência imaginária

A exposição destes dias sobre o caipira, na Pinacoteca do Estado de São Paulo (“Caipiras: Das Derrubadas à Saudade”), sem o pretender propõe desafios a quem a visita. A abordagem impressionista trata do que é o caipira aos olhos de hoje, e não aos olhos da História.

Já no século XVI, os jesuítas criaram comunidades de nativos nos aldeamentos ao redor da Vila de São Paulo de Piratininga e estimularam o surgimento de uma cultura diversa da cultura do conquistador e da metrópole. Na verdade, uma cultura brasileira. Os próprios portugueses se mesclaram com mulheres indígenas, dando origem a uma nação de mamelucos, isto é de pardos e mestiços.

A língua indígena dominante, a língua geral, o tupi, transformou-se em língua de todos, indígenas, mestiços e brancos. No século XIX, o general Couto de Magalhães a definirá como nheengatu, língua bonita.

Sai Taxad, entra o Haddad Paz e Amor - Bruno Carazza

Valor Econômico

Ministro da Fazenda emite sinais claros de que daqui pra frente será portador de boas notícias

Para aqueles que se atentam à linguagem corporal, o semblante cansado e a fisionomia carregada diante das perguntas dos jornalistas denunciavam que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não estava nada confortável com o anúncio casado entre as medidas de contenção fiscal e a intenção do governo de isentar do imposto de renda as pessoas que ganham até R$ 5 mil por mês.

Denunciando a tensão das longas negociações com a ala política do governo nos dias anteriores, a aparência do chefe da equipe econômica talvez antecipasse também os tempos difíceis que estavam por vir. Afinal, com quase dois anos no posto de “pior emprego do mundo” (Traumann, 2018), Haddad já tinha condições de imaginar que o mercado não iria receber bem a mensagem contraditória de um ajuste nos gastos aguardado há meses vir acompanhado de um surpreendente agrado para milhões de contribuintes.

Reforma sem rumo não conserta nada - Vera Magalhães

O Globo

Lula não sinaliza a aliados o que pretende com mudança em ministérios, nem qual será sua extensão

Ninguém sabe mais, ou ainda, qual será o escopo, o tamanho, o rumo e o objetivo da propalada reforma ministerial. De pouco adianta Lula dizer que é mania da imprensa ou dos políticos falar em reforma a cada início de ano. Foi ele que deflagrou a especulação sem saber ao certo o que pretende ao seu término — uma forma bastante errática de proceder, ainda mais com popularidade em baixa.

Pior que a incerteza quanto aos rumos da mexida no governo é a apatia do entorno do presidente — do Palácio aos ministérios mais distantes na Esplanada, do PT aos partidos do Centrão —, que, pela primeira vez neste mandato, demonstra preocupação com o risco de derrota em 2026 e admite que existe fadiga de material.

Arroz e melão mais baratos – Flávia Oliveira

O Globo

Preço da comida é drama concreto na vida brasileira, e global, nos últimos anos

Convém a Luiz Inácio Lula da Silva lembrar que foi levado, pela terceira vez, ao Palácio do Planalto pelos votos, predominantemente, de mulheres, negros, nordestinos, população de baixa renda — frequentemente, com características combinadas, porque eleitores, eleitoras não são unidimensionais. É bem-vinda — e algo tardia — a preocupação do mandatário com a inflação dos alimentos. Trata-se de mazela que preocupa, perturba, ameaça as famílias brasileiras, sobretudo as que o escolheram nas urnas. Desde a virada do ano, o presidente reuniu — e espremeu — um punhado de ministros (Casa Civil, Fazenda, Agricultura, Desenvolvimento Agrário), todos homens, em busca de solução. Tal qual laranja fora de época, extraiu, em vez de suco, bagaço.

O presidente da República, em discursos de improviso, gosta de lembrar as lições de economia doméstica que aprendeu com a mãe, dona Lindu. Pois, se nela pensasse na hora de falar da carestia da comida, acertaria mais do que repetindo os jargões de macroeconomia que absorveu das conversas com o titular da Fazenda, o presidente do Banco Central, os empresários do agro, os financistas da Faria Lima, os criadores de bonés.

Haddad acha que podem acontecer surpresas positivas na inflação - Míriam Leitão

O Globo

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, acredita que podem ocorrer surpresas positivas na inflação, por causa da safra e da queda do dólar, contudo concorda com a avaliação do Banco Central de que a taxa pode ficar acima do teto da meta em junho, mas que a resposta virá rapidamente por conta do choque de juros.

- A política monetária tem um delay para fazer efeito. Ela não faz efeito na hora. No caso do Brasil, na minha opinião, vai ser mais rápido, muito mais rápido do que se pensa, porque o choque de juros foi muito forte, então a resposta vai vir mais rápido. Penso que nós podemos ter uma acomodação mais rápida também em função disso. Ainda que em junho eles tenham escrito uma carta para nós, eu acredito que o horizonte relevante do Banco Central já vai estar convergindo para a meta.

Esquerda erra ao bater na globalização - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Maior integração econômica ajudou a tirar da miséria milhões de pessoas em países emergentes

A esquerda brasileira sempre bateu na globalização. Fazia-o, creio, porque esse movimento era parte do chamado consenso de Washington, o que vale dizer que era uma manifestação do imperialismo ianque.

Na prática, porém, a globalização é um dos ingredientes da notável redução da desigualdade mundial. Entre 1990 e 2020, o coeficiente de Gini do planeta passou de 70 para 60,6. Quanto mais esse número se aproxima de 100, mais concentrada é a renda. A queda foi puxada pela diminuição da desigualdade entre países. O Gini que compara nações foi de 60 para 47,1 no mesmo período.

Balneário Camboriú na Faixa de Gaza? - Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Por bravatas que possam ser, declarações do presidente são transparentes no rumo das intenções

Donald Trump não dá sossego. Expressão de um capitalismo desenfreado, o falastrão da Casa Branca investe contra a ordem liberal e o Estado republicano ao entregar a gestão pública a bilionários alucinados, como Elon Musk, promover o terrorismo tarifário para assombrar adversários e expor ideias estapafúrdias para solucionar problemas complexos, como o conflito entre Israel e Palestina.

A dúvida que paira no ar é até que ponto os descalabros em série que Trump vem anunciando devem ser encaixados na categoria de bravatas intencionais com vistas a obter vantagem em negociações, se são distrações ou se é melhor levá-los a sério. É o dilema que desnorteia analistas e agentes políticos.

Crédito vai a nível recorde no Brasil - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Em caravana de propaganda na metade do mandato, presidente se esforça para refazer imagem

O presidente da República disse nesta quinta-feira que virão novidades dos bancos públicos. Em um país escaldado pelo estrago que se fez com o crédito estatal sob Dilma 1 e mesmo no final de Lula 2, o observador prudente levanta as sobrancelhas e abre os olhos.

Por enquanto, a atuação dos bancos públicos tem sido moderada, ao menos no atacado. O total de crédito em relação ao tamanho da economia jamais foi tão grande. O saldo do estoque de crédito (total de dinheiro ora emprestado) como proporção do PIB chegou a 54,4% em dezembro passado.

O povo não é bobo - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Lula erra na comunicação ao transferir ao consumidor a culpa pela inflação

Não há boné que dê jeito na comunicação do governo se o presidente da República é o primeiro a contrariar o preceito básico do bom diálogo: fazer do interlocutor um aliado.

Pois Lula (PT) foi na contramão da regra ao transferir ao consumidor a responsabilidade de controlar os preços dos alimentos mediante a troca de produtos e/ou recusa de comprar os mais caros. Como se não andassem todos pela hora da morte.

Caso a ideia tenha sido atrair a sociedade para um combate conjunto à inflação, a execução saiu torta. De duas, uma: falhou o conselheiro e novo mago da Esplanada, Sidônio Palmeira, ou falhou o presidente em sua confiança nos improvisos.

Arapuca, que arapuca? - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Lula precisa entender: não é hora de distribuir bonés, é de vestir a carapuça

Se é essa a estratégia do presidente Lula para recuperar popularidade, a coisa não vai bem: viajar pelo País para lançar programas, inaugurar obras e dar entrevistas para rádios locais é o arroz com feijão do marketing – aliás, só em momentos de calmaria –, mas falar uma bobagem atrás da outra anula eventuais ganhos e produz manchetes, análises negativas e festa na oposição e na internet. Lula deveria estar careca de saber disso.

Na primeira entrevista coletiva em meses, uma semana atrás, estava descontraído e bem-humorado, mas durou pouco. Ao falar ontem a rádios da Bahia, fechou a cara, endureceu o tom e foi buscar o “culpado” pelos erros da economia. Sim, ele, Roberto Campos Neto, que nem é mais presidente do Banco Central, mas é acusado por Lula de ter deixado “uma arapuca difícil de sair”.

A economia e o estrago eleitoral - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

A conversa geral em Brasília agora é sobre a necessidade de equilibrar as contas públicas. Mas a atitude do governo, até agora, não passa firmeza.

O presidente Lula mudou em alguma coisa seu discurso. Repete que defende a responsabilidade fiscal, que não deixará que as despesas estourem sobre as receitas e insiste em que obteve déficit zero em 2024, sem levar em conta que a dívida pública saltou dos 71,7% do PIB em 2022 para 76,1% do PIB em 2024. E ainda garante que não vai adotar nenhuma providência para conseguir algum superávit fiscal. Ao contrário, desautoriza seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que reconhece a existência de um rombo e não conta com bala de prata para abatê-lo.

Soberania - Laura Karpuska

O Estado de S. Paulo

O que Trump propõe é um mundo onde as instituições são descartáveis

Nesta semana, colegas economistas calcularam o impacto das tarifas impostas pelo governo Trump a alguns parceiros comerciais dos Estados Unidos. Os números são, claro, alarmantes. Trump voltou atrás, e muitos comemoraram. Mas a conta ignora o mais importante. O discurso de Trump vai além de um mundo menos livre e interconectado. Não se trata apenas de um retrocesso ao liberalismo econômico. É uma ameaça à soberania das nações.

Trump tem adotado uma postura expansionista em relação a outros territórios. Já sugeriu anexar o Canadá, comprara Groenlândia e agora fala abertamente sobre os Estados Unidos “assumirem o controle” da Faixa de Gaza. São declarações que desafiam não apenas normas diplomáticas, mas a própria lógica da soberania como princípio organizador da política internacional.

Trump assombra o mundo com suas ambições imperiais - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Como não lembrar o discurso de Chaplin: “Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência”

Quando assume o governo de Tomainia, Adenoid Hynkel acredita em uma nação puramente ariana e passa a discriminar os judeus. Essa situação é desconhecida por um barbeiro, que está hospitalizado devido à participação em uma guerra. Ao receber alta, mesmo sofrendo de amnésia sobre o que aconteceu, passa a ser perseguido e precisa viver no gueto. Lá, conhece a lavadora Hannah, por quem se apaixona. A vida do barbeiro passa a ser monitorada pela guarda de Hynkel, que tem planos de dominar o mundo. Seu próximo passo é invadir Osterlich, um país vizinho, e para tanto negocia um acordo com Benzino Napaloni, ditador da Bactéria.

O complexo dos muros - José Sarney*

Correio Braziliense

O Brasil é tão grande e tão sensato que não tem planos de construir muros com ninguém, principalmente com a Argentina, com quem desejamos, cada vez mais, fortalecer nossa amizade fraternal com o seu povo, como já começamos a fazer com a criação do Mercosul

Estamos num tempo de guerras sem tiros, sem lenço e sem documento. Refiro-me à guerra econômica, de taxas protecionistas, alfandegárias, de um lado para o outro, entre os Estados Unidos e a China, o Canadá, o México e a Colômbia. E nós, no Brasil, aqui, encolhidos, esperando que sobrem para nós algumas taxas em nossos sapatos, aço, sucos e outras coisas mais. Como o Brasil tem com os Estados Unidos uma troca de exportação-importação equilibrada, não dá para entender nada daquela frase do presidente Trump de que "eles precisam mais de nós do que nós, deles."

Recordo com saudade as iniciativas políticas para a América Latina do presidente Roosevelt, a "Política de boa vizinhança" (Good Neighbor Policy), e a do presidente Kennedy, "Aliança para o Progresso" (Alliance for Progress), tão queridos de todos nós.

Desafios para o Congresso na área trabalhista - José Patore*

Correio Braziliense

Os parlamentares que acabam de voltar das férias, terão muito trabalho para atender os pedidos do STF nesses três campos do mundo do trabalho, entre eles a ampliação da licença paternidade

O Supremo Tribunal Federal (STF) deu prazos para o Congresso Nacional aprovar três leis que são exigidas pela Constituição de 1988 na área trabalhista. A primeira é a lei sobre a licença-paternidade, porque a regra atual de 5 dias foi aprovada pelos constituintes como provisória. A segunda é a lei sobre a proteção dos trabalhadores contra os problemas causados pela automação, também prevista na Constituição e, até hoje, não aprovada. A terceira é a lei de proteção dos trabalhadores contra os trabalhos penosos. As três são requeridas pela Carta Magna. São três imensos desafios:

Poesia | Pra viver um grande amor, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Casuarina - Terra Firme