terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Tarifas de Trump terão efeito nefasto em todo o mundo

O Globo

Não se sabe até que ponto ele levará a cabo suas ameaças, mas uma guerra comercial terá custo alto para todos

No que diz respeito às tarifas, ninguém pode acusar Donald Trump de estelionato eleitoral. Ele foi explícito na campanha à Presidência ao dizer que taxaria produtos importados de CanadáMéxico e China. Ao pôr a promessa em prática, explora politicamente o ressentimento de quem se sente alijado dos benefícios da integração comercial. Para os Estados Unidos e para o mundo, porém, o efeito será péssimo. Com diagnóstico contrário à ciência econômica, Trump faz pouco-caso das consequências potencialmente devastadoras. A reação ao tarifaço levanta o risco de uma guerra comercial sem precedentes em quase cem anos.

Depois da ameaça inicial, Trump congelou por um mês as tarifas impostas sobre México e Canadá. Nesse prazo, os países buscarão consenso sobre medidas de segurança na fronteira. Em discurso emocionante, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, fizera questão de lembrar o longo histórico de parceria com os americanos: “Das praias da Normandia às montanhas da Península Coreana, dos campos de Flandres às ruas de Kandahar, nós, canadenses, lutamos e morremos ao seu lado”. E lembrou que o Canadá é rico em minerais estratégicos para a economia digital. Não se sabe até que ponto Trump levará a cabo suas ameaças, mas perder o apoio canadense, implodir a área de livre-comércio na América do Norte ou deflagrar uma guerra comercial de proporções globais terá custo altíssimo para todos — a começar dos americanos.

O governo Lula é ruim, mas é difícil derrotá-lo - Paulo Celso Pereira*

O Globo

Presidente tem a máquina pública a seu favor, o maior partido do país, o segundo maior fundo eleitoral e controla o tempo

Na primeira semana de fevereiro de 2021, Jair Bolsonaro dava início à segunda metade de seu mandato emplacando os aliados Arthur Lira na presidência da Câmara e Rodrigo Pacheco na do Senado. Àquela altura, o país já havia perdido mais de 200 mil vidas para a Covid-19 e, após atrasos do Ministério da Saúde, finalmente as primeiras doses de vacina chegavam aos brasileiros.

Janeiro havia sido marcado por empresários alardeando a necessidade de o governo ficar atento ao déficit fiscal, com Bolsonaro reclamando, veja só, da dificuldade de isentar o imposto de renda quem ganhava até R$ 5 mil:

— O Brasil está quebrado. Eu não consigo fazer nada — bradou.

O governo era bem avaliado por 31% dos brasileiros, segundo o Datafolha, enquanto 40% o consideravam ruim ou péssimo — índice que passaria de 50% no segundo semestre daquele ano.

Cenário para 2026 têm Lula competitivo e direita dividida

Fernanda Alves / O Globo

Petista lidera em intenções de voto em todos os cenários testados e vence seus rivais nas simulações de segundo turno

Apesar da queda de popularidade de seu terceiro mandato, registrada na última pesquisa Genial/Quaest, novos resultados do mesmo levantamento divulgados na segunda-feira mostram que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se mantém como o nome mais competitivo entre os cotados para a disputa ao Palácio do Planalto em 2026. O petista lidera em intenções de voto em todos os cenários testados e vence seus rivais nas simulações de segundo turno, como antecipou no domingo a coluna de Lauro Jardim no GLOBO.

Em meio à fragmentação da direita, que busca um nome para substituir o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível, o cantor Gusttavo Lima (Sem partido) desponta com o melhor desempenho em eventual segundo turno contra Lula na comparação com outras lideranças do campo, como os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

Lula mantém o favoritismo com oposição dividida – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

No segundo turno, num embate contra Tarcísio, Lula venceria pelo placar de 43% a 34%. Já contra os governadores Romeu Zema e Ronaldo Caiado, Lula teria 45% dos votos, contra 28% e 26%

Começou o segundo tempo do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Se considerarmos a teoria do copo pela metade — para os otimistas está quase cheio, para os pessimistas, quase vazio —, diríamos que está se esvaziando, porém Lula ainda tem direito a refil. Apesar da queda de popularidade, principalmente após o impacto da inflação, anabolizado pela controvérsia do Pix, a pesquisa da Genial/Quaest, divulgada nesta segunda-feira, mostra que, se as eleições fossem hoje, Lula venceria todos os seus adversários na disputa de 2026.

Na semana passada, pesquisa Genial/Quaest mostrou que a reprovação de Lula ficou maior do que a aprovação, pela primeira vez, desde janeiro de 2023. Nesse novo levantamento, foram traçados quatro cenários para o primeiro turno, e, para o segundo turno, seis. Lula venceria em todos os cenários do segundo turno, porém perderia para a soma dos votos dos adversários em todos as simulações do primeiro turno. A pesquisa foi realizada entre 23 e 26 de janeiro e ouviu presencialmente 4.500 brasileiros de 16 anos ou mais. A margem de erro é de apenas um ponto percentual.

Os motivos do recuo de Donald Trump - Míriam Leitão

O Globo

Trump recuou em relação ao México e ao Canadá. Falta a China. Se cumprir as ameaças, os EUA serão afetados

A suspensão por um mês das tarifas de 25% impostas por Donald Trump ao México e ao Canadá foi um momento de lucidez no comportamento belicoso e caótico do novo presidente americano. Ele fez a mesma ameaça contra a China. Esse aumento unilateral de tarifas, caso aconteça, em algum momento, afetará principalmente a economia americana. A tarifa incide sobre a exportação para os Estados Unidos, mas quem a recolhe é o importador, que repassará o custo aos preços, elevando a inflação. A queda do crescimento também será primeiramente sentida na economia dos EUA. Uma tarifa de 10% não reduzirá a competitividade da China.

Faca no pescoço - Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Relação com Legislativo pode até melhorar, mas termos de colaboração não mudarão

Lula foi eleito graças a seu capital político pregresso e à rejeição de Bolsonaro. Ideologicamente falando, seu grupo político está à esquerda da média do eleitorado. E à esquerda, também, da média do Congresso.

A democracia brasileira é multipartidária, e nenhum partido tem maioria no Congresso sozinho. Sendo assim, o presidente, seja ele quem for, precisa selar alianças com diversos partidos. Sendo grande a distância ideológica entre governo e diversos desses partidos, formar a coalizão se torna ainda mais difícil, ou mais caro.

Emendas acima de tudo – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Homenageado pela nova direção, centrão terá a primazia nos acertos do Congresso

Os primeiros sinais da sinfonia congressista emitidos pelos novos maestros da Câmara e do Senado corroboram a impressão geral de que os comandos mudaram para permanecer tudo como está.

Tanto o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) quanto o senador Davi Alcolumbre (União-AP) pontuaram de modo excessivo o protagonismo do Legislativo na cena da República.

Ambos ocuparam boa parte dos discursos com a defesa enfática do avanço do Parlamento sobre o Orçamento federal, inequívoco fator de desequilíbrio entre os Poderes.

Motta ainda fez leve referência à necessidade de transparência. Alcolumbre nem isso. Preferiu se concentrar na guarda das prerrogativas dos pares, segundo ele, "inegociáveis". Por aí já se vê o caminho que os dois tomarão na conversa que pretendem ter com o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, para "negociar" a liberação de emendas suspensas.

O novo presidente da Câmara chegou ao limite do sacrilégio ao citar várias vezes a figura de Ulysses Guimarães (1916-1992) para comparar o Congresso de hoje ao da Constituinte.

O biênio que ameaça implodir o conflito - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

O motor do conflito é 2026. Executivo e Congresso querem manter o poder. Para isso, o governo precisa recuperar o Orçamento do qual os parlamentares não querem abrir mão

Parlamentares mais jovens na presidência de suas Casas Legislativas desde a redemocratização, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), 35 anos, e o senador Davi Alcolumbre (União-AP), 47 hoje e 41 na primeira eleição, assumirão os mandatos mais conservadores de suas Casas. Visto que o Legislativo nunca usufruiu de tanto poder, terão a missão de conservá-lo.

Como mostraram Helio Tollini e Marcos Mendes, o Congresso executa 24% de toda a despesa discricionária do Orçamento (eram 2% dez anos atrás), feito sem paralelo no país e no mundo desenvolvido. Foi este estudo que levou o ministro Flávio Dino a calcular que o desarranjo institucional decorrente da hipertrofia das emendas custou aos cofres públicos R$ 186 bilhões nos últimos cinco anos.

A votação extraordinária - Alcolumbre obteve 73% a mais que na sua primeira eleição e Motta atingiu o patamar de 86% dos votos - é uma reiteração da força da qual estão investidos. A manutenção deste poder colide com o Executivo, ao contrário do que sugere o clima de congraçamento da primeira reunião dos dois parlamentares com o presidente na manhã desta segunda.

Poder e economia - Luiz Gonzaga Belluzzo

Valor Econômico

Depois de décadas ajudando a moldar políticas em questões importantes como impostos e seguro saúde, os economistas descobrem que sua influência está em baixa

Eli Hecksher no clássico “Mercantilism “resume magistralmente a conformação das relações no mercantilismo à inglesa. Hecksher afirma que a ingerência direta do Estado nas Companhias era quase imperceptível. “Muito mais importante era outra tendência: a de transferir às companhias as prerrogativas de poder próprias do Estado”.

Na “Riqueza das Nações”, Adam Smith empenha-se em argumentar contra as teorias econômicas da Era Mercantil. Enquanto há uma dependência do “político”, não é possível pensar a economia como um sistema governado por leis naturais. Essas leis naturais decorrem da “razão” dos indivíduos, razão que os predispõem às relações contratuais mediante a livre disposição da vontade. A economia surge, portanto, com a pretensão de se constituir numa esfera privilegiada da convivência, em que a liberdade é uma imposição das leis que regem a natureza humana. Tais leis devem seguir o seu curso, desembaraçadas da interferência e do arbítrio da política.

É hora de atenção máxima à arrecadação pública - Luiz Schymura

Valor Econômico

Apesar de as despesas estarem caminhando dentro do esperado, o cumprimento das metas de déficit primário contempladas no novo arcabouço fiscal dependerá do comportamento das receitas

Em 4 de novembro do ano passado, Donald Trump saiu-se vitorioso no pleito presidencial estadunidense. Adicionalmente, o Partido Republicano passou a controlar as duas casas legislativas. O presidente recém-eleito deu declarações que indicavam que a guerra comercial em seu segundo mandato seria intensa, com imposição de tarifas altas em muitos países (incluindo o Brasil) e relativas a uma cesta ampla de produtos. Diante deste cenário, em 27/11, o governo brasileiro apresentou o pacote fiscal que daria, hipoteticamente, mais estabilidade à economia brasileira. No entanto, o pacote originalmente anunciado também trazia uma benesse bastante onerosa aos cofres públicos nacionais: a isenção do imposto de renda para aqueles que têm renda mensal de até R$ 5 mil. Embora não houvesse respaldo constitucional para aprovar tal benefício, o ambiente já estava tão turbulento que os agentes econômicos viram na proposta um vetor de mais incerteza.

Mensagem de Lula ao Congresso tenta afastar ideia de política fiscal frouxa - Lu Aiko Otta

Valor Econômico

Presidente busca confrontar decepção com pacote apresentado em novembro do ano passado 

Em meio à crise das emendas de parlamentares ao orçamento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou mensagem ao Congresso Nacional na qual diz que não hesitará em lançar mão de bloqueios e contingenciamentos de despesas este ano para alcançar a meta de déficit zero, resultado “crucial” para estabilizar a dívida pública na casa dos 80% do Produto Interno Bruto (PIB) por volta de 2028.

O recado está na mensagem presidencial entregue ao Congresso Nacional, na abertura do ano legislativo.

Num esforço de reconstrução da credibilidade na política fiscal, o texto lista exemplos de medidas duras adotadas para ajustar as contas públicas.

A tempestade perfeita da Europa - Rana Foroohar

Valor Econômico

O continente precisa de sua própria estratégia industrial para lidar com os desafios da China e dos EUA

As discussões sobre competitividade estão no centro do debate na Europa neste momento. A nova Bússola para a Competitividade da Comissão Europeia, resposta ao relatório Draghi, defende que a UE desenvolva sua própria infraestrutura de inteligência artificial (IA), intensifique a política industrial e termine o trabalho de integração do mercado único. Objetivos válidos, sem dúvida, mas com uma americana chegando ao aeroporto de Bruxelas na semana passada, tudo o que consegui pensar foi: “Por que a fila do controle de passaportes demora três horas?”

Isso não é apenas uma reflexão isolada de uma forasteira (pelo menos não só isso). Vivi e trabalhei na Europa por dez anos, justamente quando a moeda única foi introduzida. Foi um período de otimismo. Mas desde então a Europa tem ficado atrás dos EUA em praticamente todos os indicadores econômicos, do crescimento à renda per capita, o tamanho dos mercados de capitais e o número de empresas de tecnologia de alto valor.

A bola está com Lula - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Sucesso do governo no Congresso depende de Lula, seu pragmatismo e sua popularidade

A relação do Planalto com o Congresso está diretamente vinculada à popularidade e à capacidade do presidente Lula de sair do fundo do poço e recuperar o fôlego, principalmente na economia, na gestão e na imagem. Disso dependem a pauta do governo nas várias áreas e uma questão delicada, fundamental nas eleições de 2026: a anistia para os condenados pelo 8 de Janeiro e, de quebra, Jair Bolsonaro.

Se tudo está atrelado à economia, inclusive a popularidade de Lula, como conceber um ministro da Fazenda “fraco”, que perdeu a guerra interna para o chefe da Casa Civil, Rui Costa, e é ameaçado o tempo todo pelo velho populismo e a coceira intervencionista do PT? Lula depende do governo, que depende de uma economia azeitada, que depende de equilíbrio fiscal, que depende de um ministro da Fazenda forte. Ou todos vão se estatelar.

Harmonia entre Poderes - Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

“Todo poder emana do povo e em seu nome é exercido”. Hugo Motta chamou o fundamento da Constituição para uma releitura corporativista do valor da representação, que respaldaria – em nome da soberania popular, como se expressão da democracia – as distribuições autoritárias e opacas de dinheiros públicos na forma de emendas parlamentares.

Esse é o tamanho do buraco. Que continuará a ser cavado. Consagrada a perenidade. Sai Alcolumbre, entra Alcolumbre. Sai Lira, entra Lira. Ainda estamos aqui. Aclamado o orçamento secreto. Reeleito o esquema de perversão das emendas.

Votação que é produto de acordo pela defesa da “prerrogativa” de o Congresso disparar obscuramente bilhões de dinheiros públicos e garantir cabresto sobre currais Brasil adentro – acordo pela manutenção da autonomia degenerada do Legislativo, fundada no controle absolutista de fundos orçamentários.

Um verão fatídico - Ricardo Marinho

Se alguém alguma vez pensou que Donald Trump ao assumir a Presidência dos Estados Unidos da América teria um tom e conteúdo que, sem alterar o cerne da sua concepção do exercício do poder e a dureza inata do seu pensamento, ao menos mitigaria, por responsabilidade do Estado, os aspectos mais conflituosos e ameaçadores de sua política, estavam equivocados.

Trump pisou no acelerador e confirmou no dia de seu retorno ao poder o que se atribui a Charles-Maurice Talleyrand (1754-1838) referindo-se aos Bourbons quando voltaram ao trono da França, após a queda de Napoleão (1769-1821): eles não aprenderam nada, nem esqueceram nada.

Quem sabe se poderíamos acrescentar que os 4 anos passados fora do poder acentuaram seus traços belicosos e ele foi eleito de forma bem forte, um sobrevivente para tarefas fundamentais. Seus slogans não mudaram, mas suas ideias são mais populares hoje, ele é mais rico e tem uma guarda pretoriana de plutocratas na vanguarda das tecnologias, que como ele não têm convicções, valores e/ou cultura democrática e que pensam que sabem o que é conveniente ou não para os comuns. Eles são a ponta da hipermodernização instrumental e pensam que a modernidade é um puro obstáculo ao seu desenvolvimento.

Poesia | Calma, de Fernando Pessoa

 

Música | Roberta Sá - Insensatez (Tom Jobim)