Valor Econômico
Ministro da Fazenda emite sinais claros de que daqui pra frente será portador de boas notícias
Para aqueles que se atentam à linguagem
corporal, o semblante cansado e a fisionomia carregada diante das perguntas dos
jornalistas denunciavam que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não estava
nada confortável com o anúncio casado entre as medidas de contenção fiscal e a
intenção do governo de isentar do imposto de renda as pessoas que ganham até R$
5 mil por mês.
Denunciando a tensão das longas negociações com a ala política do governo nos dias anteriores, a aparência do chefe da equipe econômica talvez antecipasse também os tempos difíceis que estavam por vir. Afinal, com quase dois anos no posto de “pior emprego do mundo” (Traumann, 2018), Haddad já tinha condições de imaginar que o mercado não iria receber bem a mensagem contraditória de um ajuste nos gastos aguardado há meses vir acompanhado de um surpreendente agrado para milhões de contribuintes.
Estávamos no final de novembro e tinha início
ali o inferno astral de Haddad, que viu nas semanas seguintes o dólar bater os
R$ 6,27 e, como se não bastasse, seria envolvido numa polêmica nacional a
respeito da decisão da Receita Federal de fiscalizar as transações via pix.
Quem acompanhou a entrevista coletiva após a
reunião com o novo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), na
quarta, ou leu entrevista concedida à jornalista Miriam Leitão, no jornal O
Globo, pôde perceber uma sensível diferença no humor de Haddad.
Não que as perspectivas econômicas para 2025
tenham melhorado – pelo contrário, ficaram até mais desafiadoras diante de toda
a incerteza provocada por Trump. Tampouco a mudança foi provocada por um
empoderamento dado ao ministro da Fazenda por Lula para implementar novas
medidas de controle fiscal, carta branca que não lhe foi dada em novembro (e
certamente nunca será).
Para quem acompanha a política brasileira,
fica claro que a nova postura de Haddad – mais leve e confiante, ressaltando as
conquistas de sua gestão e não os problemas a enfrentar – é fruto de uma bem
pensada estratégia de comunicação. E os sinais desse novo “Haddad Paz e Amor”
se fazem notar não apenas na linguagem corporal ou na escolha das palavras. A
própria condução do Ministério da Fazenda vem sendo adaptada a esses novos
tempos, tendo outubro de 2026 no horizonte.
A tática de morde e assopra, ou de compensar
medidas econômicas impopulares com promessas de ações positivas, que deixou o
ministro numa saia justa em novembro, com a isenção do IR sendo apresentada
como analgésico para as regras mais duras para concessão de benefícios sociais,
parece não incomodar mais. Afinal, no último dia 29, horas antes de o Banco
Central anunciar mais um aumento de um ponto percentual na Selic, vimos um
Haddad bem animado convocar a imprensa para divulgar regras para facilitar a concessão
de crédito consignado pelos bancos.
Ou seja, se antes causava desconforto a
contradição de apresentar propostas de contenção de gastos com uma nova isenção
tributária, agora não havia mais constrangimentos em prometer o barateamento de
crédito no mesmo dia em que o Copom subia os juros.
Até mesmo na apresentação das prioridades do
Ministério da Fazenda para o novo presidente da Câmara percebe-se que, no
começo da segunda metade do mandato de Lula, houve um claro arrefecimento nas
ambições das transformações econômicas almejadas por Haddad.
Em que pesem os possíveis efeitos benéficos
sobre a progressividade tributária que o projeto de reforma da renda pode
trazer, é ingênuo não reconhecer que são os potenciais ganhos eleitorais da
isenção, a entrar em vigor em pleno ano eleitoral, que interessam.
Fora esse projeto, que absorverá todo o
capital político do governo Lula em 2025, as outras medidas marcadas com o selo
de “prioridade” por Haddad já estavam pactuadas com Lira e Pacheco (o término
da regulamentação da reforma tributária do consumo), são simbólicas (difícil
imaginar grandes avanços na previdência dos militares ou nos supersalários) ou
paliativas (medidas pontuais no ambiente de negócios ou de “transformação
ecológica”).
Essa nova roupagem de Haddad – mais incisivo
na defesa dos bons números econômicos, contrabalanceando medidas amargas com
benesses e menos ambicioso nas reformas legislativas – tem tudo a ver com o
cenário eleitoral de 2026.
Num momento em que a alta dos preços dos
alimentos e a trapalhada da medida para fiscalizar o pix afetaram a
popularidade de Lula, não interessa nem um pouco ter um ministro da Fazenda que
só fala de preocupações ou propõe aumentos de tributos ou cortes de benefícios
sociais.
É bom lembrar, ainda, que Haddad é atualmente
o único Plano B do Partido dos Trabalhadores caso a saúde de Lula não o permita
concorrer à reeleição. E deve ter sido bastante preocupante saber que, entre os
entrevistados da última pesquisa Quaest que dizem conhecer o ministro da
Fazenda, nada menos que 56% o rejeitam.
Na estratégia eleitoral de Lula, do PT e do
próprio Haddad, está mais do que na hora de o “Haddad Paz e Amor” se sobrepor à
imagem do Taxad.
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