Saída dos EUA da OMS cria riscos geopolíticos
O Globo
Desestabilização com a perda de verbas da
organização global terá impacto maior em países mais pobres
Entre as decisões tomadas por Donald Trump na
volta à Casa Branca, a saída dos Estados Unidos da
Organização Mundial da Saúde (OMS)
é a que deverá ter mais impacto nas populações mais pobres de países onde a
ação do Estado em prol dos desassistidos é rarefeita. Em seu primeiro governo,
Trump só retirou o país da OMS em 2020, e a medida foi revogada por Joe Biden
logo no início de seu governo, em 2021. Por isso os efeitos negativos sobre a
estrutura e a ação da OMS não foram sentidos. Agora serão.
Os Estados Unidos são, de longe, os maiores financiadores da organização que reúne 194 países. Com o desembolso de cerca de US$ 1 bilhão anualmente, respondem por algo como um quinto do orçamento. A contribuição financeira americana aumentou com a pandemia, tendo chegado a US$ 1,28 bilhão em 2022 e 2023, quase 40% mais que a segunda fonte de recursos, a Alemanha. O temor é que, sem os aportes de Washington, diversas ações fiquem comprometidas, em especial nas regiões menos desenvolvidas. A revista científica Science afirmou em editorial que, com uma OMS enfraquecida, o mundo ficará mais exposto e menos seguro diante de novas doenças ou pandemias. Como princípio, em organizações dessa natureza, cuja missão é agir em benefício de toda a humanidade, é razoável que a maior carga de recursos recaia sobre os países mais ricos.