Folha de S. Paulo
Lula erra na comunicação ao transferir ao
consumidor a culpa pela inflação
Não há boné que
dê jeito na comunicação do governo se o presidente da República é o primeiro a
contrariar o preceito básico do bom diálogo: fazer do interlocutor um aliado.
Pois Lula (PT) foi na contramão
da regra ao transferir
ao consumidor a responsabilidade de controlar os preços dos alimentos mediante
a troca de produtos e/ou recusa de comprar os mais caros. Como se não andassem
todos pela hora da morte.
Caso a ideia tenha sido atrair a sociedade para um combate conjunto à inflação, a execução saiu torta. De duas, uma: falhou o conselheiro e novo mago da Esplanada, Sidônio Palmeira, ou falhou o presidente em sua confiança nos improvisos.
A fala soou mal, por insensível. A culpa pode
ser do dólar alto, das enchentes, da seca, dos juros, do
desprezo aos avisos sobre o risco inflacionário do desapreço ao controle de
gastos, mas da população é que não é.
Considerando que o povo não é bobo, como
dizia o velho slogan de protestos, as pessoas hão de perceber a jogada e
rejeitar a parceria numa situação que cabe ao poder por elas constituído
resolver. Lá atrás, quando da edição do Plano Real, houve a convocação geral à
colaboração, mas a partir de uma solução objetivamente apresentada pelo
governo.
Aqui, a impressão é oposta, a de que o
governo quer tirar o corpo fora. O presidente vem a público compartilhar
indignação com a carestia (termo usado pelo PT quando era oposição) e diz que
"assim não é possível", acreditando que suas palavras têm o dom de se
sobrepor aos fatos.
O truque é gasto. No entanto, o presidente
insiste na fórmula vencida também quando traz de volta a figura de Roberto
Campos Neto para responsabilizá-lo pela inflação que o então titular
do Banco
Central buscou conter, com a anuência do sucessor indicado por Lula,
na alta dos juros.
Se quiser mesmo recuperar a confiança dos
brasileiros, e daí a popularidade, convém ao mandatário fazer jus à delegação
recebida nas urnas e começar por assumir suas responsabilidades. Sem falácias,
transferências ou maquiagens.
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