segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Crime organizado na Amazônia impõe reação imediata

O Globo

Apreensões feitas pela Polícia Federal na região indicam atuação cada vez maior de quadrilhas

A conjugação de altos rendimentos com nenhum risco de maiores punições provoca uma corrida do crime organizado para a exploração de atividades ilegais na Amazônia, na exploração de ouro, madeira, caça e pesca. Além do evidente reforço na vigilância e repressão, com uma coordenação entre instituições locais e federais, é preciso urgência na aprovação pelo Congresso de um Projeto de Lei apresentado em outubro, com a assessoria da Polícia Federal (PF), para elevar as penas de crimes ambientais cometidos por quadrilhas.

O assassinato do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista e servidor licenciado da Funai Bruno Pereira, em 2022, no distante Vale do Javari, perto das perigosas fronteiras com Peru e Colômbia, chamou a atenção para a pesca ilegal no local. A atuação de grupos criminosos naquela região amazônica começou a ser retomada assim que o reforço policial foi sendo relaxado.

Quente, o ano começa quente – Fernando Gabeira -

O Globo

Trump quer anexar o Canadá, tomar o Canal do Panamá. Certamente, estará muito ocupado nos primeiros momentos

Maduro no dia 10; Trump, no dia 20. São datas diferentes de posse e eles estão longe um do outro. No entanto é possível esperar dias tensos no Sul.

Trump quer anexar o Canadá, tomar o Canal do Panamá e comprar a Groenlândia. Certamente, estará muito ocupado nos primeiros momentos. Nos discursos de campanha, ele mencionou algumas vezes a Venezuela:

— Estão nos mandando presidiários e delinquentes.

Ao que tudo indica, isentou os venezuelanos da prática de matar e comer gatos e cachorros em Springfield. Essa acusação acabou pesando contra os haitianos.

Literatura engajada brasileira – Miguel de Almeida

O Globo

Ali pelo final da ditadura militar, as bancas com livros nos corredores das universidades vinham povoadas de Trótski, Lênin e até Rosa Luxemburgo. Ou Karl Liebknecht. Como refresco, havia a redescoberta (para a minha geração) de Oswald de Andrade e a leitura silenciosa de “Poema sujo” de Ferreira Gullar. Apesar da bela sedição de ambos os poetas, havia um ar restrito e nada múltiplo para o pensamento. Mas estávamos numa guerra, e excessos podiam ser tolerados. O compromisso: abater o governo autoritário.

Nos 40 anos da redemocratização, a mais longa convivência do brasileiro com a democracia no período republicano, apesar do fétido 8 de Janeiro, no lugar de Trótski e Lênin, entrou em cena a literatura racial e de gênero de cepa nacional numa imitação calamitosa da esquerda de Nova York.

E preguiçosa: James Baldwin ou Amiri Baraka (nascido LeRoi Jones), dois autores negros de primeira linha, ícones nos inquietos 1960, não produziam títulos de espírito óbvio ou ativista. Por aqui não encontraram eco, onde a geografia ideológica se viu aparentada de algo vizinho ao grupo Panteras Negras.

Haddad se alinha com a estratégia do Banco Central - Alex Ribeiro

Valor Econômico

Na área fiscal, o ministro fez em alguns momentos mais do que se esperava, mas a percepção segue de que ele tem um mandato apenas parcial de Lula para ajustar a economia

Passou quase despercebido, mas o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reconheceu na semana passada que a economia brasileira está sobreaquecida e que será preciso desacelerar a atividade para baixar a inflação e garantir um maior equilíbrio para as contas externas do país.

A mensagem foi transmitida numa entrevista à “GloboNews” e procura responder a uma das principais inquietações dos participantes do mercado, no que diz respeito à política monetária: o receio de que, agora que o Banco Central colocou em movimento um choque na taxa básica de juros, o governo possa reagir com mais estímulos fiscais ou parafiscais assim que a economia perder fôlego.

A crise nasceu na Política e a solução deve vir da Política - Bruno Carazza

Valor Econômico

Governo Lula armou armadilha econômica que pode comprometer seus planos de reeleição

O ano começa com uma crise cuja origem é sobretudo psicológica. Afinal, é preciso reconhecer os acertos da equipe econômica, a despeito do balanço negativo que fizemos aqui nas últimas colunas de 2024. Os ministros Fernando Haddad e Simone Tebet têm consciência da gravidade da situação fiscal e buscam soluções para equacioná-la.

Correções tributárias foram implementadas e, mesmo quando perderam os embates no Congresso, conseguiram conter a sangria de recurso, como nos casos dos limites à desoneração da folha e do Perse.

Mas se a dívida pública saltou de 71,4% para 77,8% do PIB desde o início do mandato, claramente o arcabouço fiscal tem sido insuficiente. E quando o anúncio do tão aguardado “ajuste pelo lado da despesa” veio não apenas com propostas aquém do necessário, mas ainda acompanhado de sinais dúbios de compromisso da cúpula do governo com essa agenda - e, pior, do respaldo político dos ministros da Fazenda e do Planejamento - disparou-se o gatilho da desconfiança dos agentes do mercado.

Entrevista | Carlos Siqueira: Esquerda precisa de renovação, e Lula tem que acertar mais

Por Bianca Gomes / O Estado de S. Paulo

Carlos Siqueira defende Alckmin como vice em 2026 e afirma que campo progressista precisa mudar para se conectar com eleitorado evangélico

Há 10 anos na presidência do PSB e a poucos meses de passar o bastão para um sucessor — que, ao que tudo indica, será o prefeito do Recife, João Campos —, Carlos Siqueira defende a manutenção da dobradinha Lula-Alckmin em 2026. Para ele, trocar o vice não seria uma atitude de “bom senso” por parte do petista. “Nenhum presidente poderia desejar um vice melhor do que ele”, afirmou Siqueira em entrevista ao Estadão.

O dirigente partidário, que é contra antecipar as discussões eleitorais, avalia que 2025 será um ano em que o governo precisará “acertar mais do que tem acertado”. Siqueira também fez críticas à esquerda, afirmando que há insatisfação com os governos progressistas no Brasil e no mundo, o que, segundo ele, impõe a necessidade de uma autorrenovação. Para o presidente do PSB, o identitarismo com que a esquerda se apresenta precisa ser “repensado” para que o campo consiga se reconectar com o eleitorado evangélico.

Em 2026, Lula deve manter Alckmin como vice em uma eventual chapa à reeleição ou seria o momento de buscar uma renovação?

Se o presidente decidir concorrer à reeleição— e eu espero que seja o caso — não manter o Alckmin como vice não seria uma atitude de bom senso. E eu sempre considerei o presidente Lula alguém de bom senso e com a capacidade de reconhecer que um vice melhor do que o Alckmin ele não encontraria no Brasil. Alckmin é um homem que tem uma história bonita, longa, correta, além de ser um vice trabalhador e leal. O que mais se pode esperar de um vice?

O STF que o ‘Estadão’ não mostra - Luís Roberto Barroso*

O Estado de S. Paulo

É possível não gostar da Constituição e do papel que ela reservou para o Supremo. Mas criticar o tribunal por aplicar a Constituição é que não é justo

No último ano, o jornal O Estado de S. Paulo produziu mais de 40 editoriais tendo por objeto o Supremo Tribunal Federal (STF) ou o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgãos que presido. Por um lado, tal fato revela a importância que o Judiciário tem na vida brasileira, seu papel na preservação da estabilidade institucional e nas conquistas da sociedade. O Brasil é o país que ostenta o maior grau de judicialização do mundo, o que revela a confiança que a população tem na Justiça. Do contrário, não recorreria a ela.

E, no entanto, praticamente todos os editoriais foram duramente críticos, com muitos adjetivos e tom raivoso. Ainda que não deliberadamente, contribuem para um ambiente de ódio institucional que se sabe bem de onde veio e onde pretendia chegar. Ao longo do período, o jornal não vislumbrou qualquer coisa positiva na atuação do STF ou do CNJ. Faz parte da vida. Parafraseando Rosa Luxemburgo, liberdade de expressão é para quem pensa diferente. Mas o que existe está nos olhos de quem vê.

As manobras de Zuckerberg e o Brasil - Diogo Schelp

O Estado de S. Paulo

Aliança de Zuckerberg com trumpismo e similares começou antes no Brasil

A eleição de Donald Trump juntou a fome coma vontade de comer de Mark Zuckerberg, CE Oda Meta. A mesma vontade, aliás, de outras big techs que resis tem às pressões para conter a disseminação dedes informação e às tentativas de regulação que enfrentam mundo afora. Leis comoa de Serviços Digitais, da União Europeia, em vigor desde fevereiro do ano passado, que buscam promover maior transparência, responsabilidade e segurança online, acabam por impor custos às plataformas e limitam sua capacidade de rentabilizar com conteúdos danosos. Desinformação e discurso de ódio rendem engajamento, ou seja, dinheiro. Por isso, os programas de moderação de conteúdo, como os que Zuckerberg decidiu abolir para Facebook e Instagram, equivalem a tapar o sol com uma peneira. Há muito mais em jogo.

O mundo está entrando em condição de guerra - Denis Lerrer

O Estado de S. Paulo

Já ingressamos em uma era em que o Ocidente deverá recorrer ao uso da força na defesa de seus valores de liberdade e igualdade

Se os filósofos sempre prezaram a racionalidade, chegando a formulara ideia de que o homem, por definição, seria um animal racional, a história da humanidade, porém, fez um contraponto: o da irracionalidade, se não o da maldade, da relação entre os homens e, mais especificamente, entre Estados. Intenções malignas, voltadas única e exclusivamente para destruição do outro, são apenas uma amostra disso. A violência, perseguida como um fim em si mesma, e não como um meio, continua povoando a História, apesar de tentativas de estabelecera concórdia e odiá logo como vetores das relações intraestatais.

A cena histórica é frequentemente irracional. A relação entre Estados, enquanto unidades políticas, é regida por aquilo que filósofos como Thomas Hobbes, Jean-Jacques Rousseau e Friedrich Hegel consideravam como estado de natureza. Ou seja, ela seria regida por desejos de dominação e subjugação do outro. Os motivos podem ser variados, como prestígio, glória, ganhos econômicos e apropriação de territórios. Por sua vez, as relações internas aos Estados, individualmente considerados, nas experiências democráticas e constitucionais, vieram a se definir pelo império da lei, pelo livre jogo das instituições, pelas liberdades e pela economia de mercado.

Sob as garras do conservadorismo - Ana Cristina Rosa

Folha de S. Paulo

O comprometimento com diversidade e inclusão mostrou-se sujeito a pressões políticas e tendências do mercado

Reconhecimento, justiça e desenvolvimento são os pilares da Segunda Década Internacional para os Afrodescendentes (2025-2034), reeditada pela Assembleia geral das Nações Unidas, em dezembro, para promover a efetividade de direitos humanos.

Receio que a iniciativa esteja fadada ao fracasso. Não só porque uma década (ou duas, no caso) é pouco para deslindar o trágico legado dos séculos de escravização africana. Mas também porque as principais causas da insuficiência da Primeira Década (2015-2024) —falta de investimentos, baixo incentivo institucional e pouco compromisso— não foram resolvidas.

Os riscos da ditadura da liberdade - Carol Tilkian

Folha de S. Paulo

Decisão da Meta atravessa nossos votos de amor e paz para 2025

Mal tivemos tempo de digerir os votos de amor e paz para 2025 e já somos atravessados por mudanças coletivas que nos presenteiam com um cavalo de Troia. Sob a justificativa de priorizar a liberdade de expressão, Zuckerberg anunciou que a Meta encerrará programas de checagem de fatos e reduzirá filtros para conteúdos sobre identidade de gênero, xenofobia e misoginia. Embora a decisão tenha sido tomada nos EUA, ela reverbera globalmente entre os mais de 6 bilhões de usuários de Instagram e Facebook. O resultado? Uma liberdade que embala discurso de ódio e polarização.

Qual reforma ministerial? - Aldo Fornazieri

CartaCapital

As eventuais mudanças na equipe de governo devem almejar a coesão em torno de um projeto de País

O presidente Lula iniciou a reforma ministerial pela Secretaria de Comunicação Social. Era mais ou menos óbvio, pois a comunicação do governo tem recebido críticas de todos os lados. Sai o político Paulo Pimenta, entra o marqueteiro Sidônio Palmeira. Pela lógica, o próximo cargo a ser trocado seria a Secretaria de Relações Institucionais, pasta que enfrenta uma chuva de críticas pela sua inefetividade.

A reforma ministerial não decorre apenas dos resultados insuficientes deste ou daquele ministro, pois este é apenas um dos fatores que a determinam. Existem motivos conjunturais mais fortes: o PT saiu fragilizado das eleições municipais, os partidos de centro-direita saí­ram fortalecidos, crescem as dificuldades do governo no Congresso, é preciso garantir um apoio mínimo razoável de deputados e de senadores para evitar um impasse na aprovação de projetos governamentais, o governo não vai bem na avaliação da opinião pública, é preciso montar uma estratégia para as eleições de 2026, existe um estresse dos setores produtivos, e por aí vai.

As cryptotulipas - Luiz Gonzaga Belluzzo e Manfred Back

CartaCapital

Entre os episódios de loucura coletiva das nações destacam-se a Tulipomania, os bitcoins e o mantra do risco fiscal

Era uma vez, em 1630, um país chamado Holanda. Nas terras dos assim chamados Países Baixos ocorre um frenesi que se apodera da grande maioria da população, do mais rico ao mais pobre. A Tulipomania mobiliza corações e mentes na busca obsessiva por riqueza fácil.

Em 1636, um bulbo dessa exótica planta ornamental poderia ser trocado por uma nova carruagem, dois cavalos cinzentos e um conjunto completo de arreios. A febre do cultivo e comercialização de vários tipos de bulbos alastrou-se na economia holandesa mais rápido que a velocidade da luz. Não havia Internet!

A demanda por espécies raras de tulipas cresceu tanto que foram criados mercados regulares para a sua comercialização em Bolsas de Valores em Amsterdã, Roterdã e outras cidades holandesas.

Eleição de Tancredo completa 40 anos em período instável - Joelmir Tavares

Folha de S. Paulo

Vigilância cívica defendida pelo presidente eleito indiretamente em 1985, e que jamais assumiu, voltou à cena sob Bolsonaro

A eleição indireta de Tancredo Neves para a Presidência da República completa 40 anos na próxima quarta-feira (15) como uma espécie de lembrete para defensores da democracia. O apelo do político mineiro para que as forças civilizatórias não se dispersassem é visto ainda hoje como um discurso atual.

A votação do Colégio Eleitoral que em 1985 escolheu Tancredo para ser o primeiro presidente civil após 21 anos de ditadura militar entrou para a história como um marco da redemocratização do Brasil. Simbolizava a esperança do fim dos anos de chumbo e o triunfo do Estado democrático de Direito.

Na prática, os caminhos foram mais tortuosos —antes e depois da eleição em que deputados deram 480 votos ao candidato do então PMDB contra Paulo Maluf (PDS), o preferido de 180 dos votantes.

Novo produto, velha estratégia, mesma mentira – Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Por que Bette Davis, Humphrey Bogart, Lauren Bacall e Peter Lorre acendiam 30 cigarros por filme?

Outro dia, numa revista americana dos anos 1940, vi um anúncio estrelado por John Wayne. Era do tipo em que o modelo fala, e o produto era o cigarro Camel. No título, Wayne já dizia: "Os papéis que interpreto exigem muito da minha voz. Não posso me arriscar a uma irritação de garganta. Por isso fumo Camel. Ele é suave" —sublinhado e tudo. Seguia-se o texto: "Estou há muito tempo no cinema e sei a importância da suavidade do cigarro para um ator. Assim, quando precisei decidir qual cigarro era mais adequado para minha garganta, fui exigente. Fiz um teste de 30 dias com Camel e descobri por que mais pessoas fumam Camel do que qualquer outra marca".

Livreiros de calçada - Juliana de Albuquerque*

Folha de S. Paulo

Nunca deixei de me surpreender com a quantidade de clássicos disponíveis em seus pequenos acervos itinerantes

Quem anda pelas ruas do centro do Recife está acostumado com a ruidosa presença de vendedores ambulantes especializados em todos os tipos de produto, como relógios, capinhas para celular, garrafinhas d’água, sombrinhas e guarda-chuvas, brinquedos, frutas, utensílios domésticos, animais de estimação, itens de papelaria e livros, muitos livros mesmo.

Embora uma parte desses livros fique exposta nos quiosques da praça do Sebo, localizada entre as avenidas Guararapes e Dantas Barreto, a outra é vendida nas calçadas do centro afora, onde os livros estão geralmente empilhados uns sobre os outros, apoiados em caixotes, banquetas e muros ou simplesmente espalhados pelo chão.

Os livreiros de calçada quase sempre adotam pontos de venda estratégicos, permanecendo relativamente próximo de um fiteiro ou de uma parada de ônibus um pouco mais movimentada do que as demais. Um ponto assim costumava existir na esquina da rua do Hospício com a do Riachuelo, não muito longe da Faculdade de Direito do Recife e do antigo prédio da Escola de Engenharia onde, na minha época de graduação, costumávamos renovar as nossas carteirinhas de estudante.

Poesia | João Cabral de Melo Neto - Circuito da Poesia do Recife

 

Música | Chico Buarque - Frevo (Tom Jobim e Chico Buarque)