O Globo
Lula não sinaliza a aliados o que pretende
com mudança em ministérios, nem qual será sua extensão
Ninguém sabe mais, ou ainda, qual será o
escopo, o tamanho, o rumo e o objetivo da propalada reforma ministerial. De
pouco adianta Lula dizer que é mania da imprensa ou dos políticos falar em
reforma a cada início de ano. Foi ele que deflagrou a especulação sem saber ao
certo o que pretende ao seu término — uma forma bastante errática de proceder,
ainda mais com popularidade em baixa.
Pior que a incerteza quanto aos rumos da mexida no governo é a apatia do entorno do presidente — do Palácio aos ministérios mais distantes na Esplanada, do PT aos partidos do Centrão —, que, pela primeira vez neste mandato, demonstra preocupação com o risco de derrota em 2026 e admite que existe fadiga de material.
Não existe uma esperança real de que mudanças
nas pastas possam fidelizar os partidos que hoje nominalmente integram a base
de Lula. Será a avaliação do petista que contará, lá na reta final, para
decidir quem pulará em cada canoa. Ela dependerá da economia, em primeiro
lugar, mas também da capacidade de o presidente reconquistar parte do seu
borogodó, um patrimônio gasto nos dois primeiros anos, sobretudo no espectro
que votou nele com base no discurso da frente ampla.
O diagnóstico, desta vez, não é meu. Foi
feito, em maior ou menor grau, por ministros e parlamentares de diversos
matizes, mas todos eles aliados de Lula. O tripé descrito por Sidônio Palmeira
em sua exposição na reunião ministerial do começo do ano — comunicação, gestão
e política — está com as três pernas bambas. Por ora, Lula só mexeu na
primeira, e o case do boné, nesta semana, parece ter dado algum ânimo aos
aliados para pelo menos tirar uma onda por ter deixado a extrema direita
baratinada pela primeira vez em muito tempo
Mas, se a gestão não andar e a política não
fizer sua parte, não será com base em sacadas para as redes sociais que Lula
recomporá sua imagem, eles mesmos sabem.
A gestão está atada ao titular da Casa Civil,
Rui Costa, que encarna o maior paradoxo do mandato Lula 3: goza, aparentemente,
de plena confiança do chefe, mas é praticamente unanimidade negativa entre seus
colegas, que antes mesmo de servirem água e café aos visitantes se põem a falar
mal de quem deveria coordenar o governo e nem sequer responde a suas ligações e
os deixa plantados em reuniões de que sai sem se despedir, para não falar das
propostas que deixa tomando poeira em sua gaveta.
A política está com seu destino atrelado à
novela das emendas parlamentares, e Lula não dispõe de instrumentos para
resolvê-lo sem desatar esse nó. Dependerá da capacidade de os três Poderes
chegarem a um denominador comum, mas ninguém acredita que o Executivo
conseguirá, com o Supremo, com tudo, fazer com que o naco do Orçamento nas mãos
do Congresso seja reduzido. Pode, no máximo, conseguir desembaçar um pouco o
vidro para dar à destinação dos recursos alguma transparência. E, quiçá,
convencer deputados e senadores a aplicar parte do dinheiro nos seus projetos
estruturantes.
Para que reforma, então, nesse cenário em que
os movimentos são tão limitados? Isso ninguém, por mais próximo de Lula que
seja, sabe responder. Porque ele mesmo ainda não deixou claro o que pretende.
Trocar a articulação política por alguém do PT ou do Centrão é uma
possibilidade, mas sem garantia de sucesso.
A Saúde — em qualquer diagnóstico sério de
desempenho do tripé comunicação, gestão e política — teria de ser o primeiro
ministério a ser consertado, até porque o fracasso nessa área que mexe
literalmente com a vida de todos pode custar a reeleição. Mas ninguém sabe se
Lula insistirá, sabe-se lá por quê, em manter Nísia Trindade, que é seriíssima
e tem biografia a toda prova, mas não deu certo na função.
Com esse grau de improviso e falta de rumo, a
reforma pode resultar apenas na troca de seis por meia dúzia ou, pior, quatro
ou cinco.
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