sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Incúria fiscal dos governadores é preocupante

O Globo

Em dois anos, despesas dos governos estaduais cresceram 8,7%, ante aumento de apenas 2,1% nas receitas

Menos evidente e menos discutida que a incúria do governo federal com as contas públicas, a irresponsabilidade fiscal dos governadores também preocupa. Assim como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, muitos administram as contas dos seus estados como se não houvesse amanhã. Com a perspectiva de desaceleração da economia, a má gestão dos estados é a receita para um desastre. As tentativas de ajuste têm sido insuficientes. Nenhum governador pode alegar desconhecimento sobre as consequências da negligência.

Os governos estaduais deverão encerrar a metade dos atuais mandatos com o crescimento dos gastos em ritmo superior ao das receitas. Em 2023, as despesas dos 26 estados e do Distrito Federal subiram 3,9% sobre o ano anterior, enquanto as receitas caíram 3,1%, segundo levantamento do jornal Valor Econômico. No ano passado, os esforços para conter o desequilíbrio foram insuficientes. De janeiro a outubro, as receitas cresceram 5,3% em relação ao mesmo período do ano anterior, e os gastos 4,7%. Ao longo dos dois anos, os gastos subiram 8,7%, e as receitas apenas 2,1%.

Um olho em Trump, outro na própria casa - Fernando Abrucio

Valor Econômico

É preciso definir quais são as questões prioritárias que devem ser a bússola até 2026, seja para implementação pelo Executivo, seja para aprovação no Congresso Nacional

O início do governo Trump causa incerteza, nervosismo e perplexidade no mundo. Não dá para saber o que será pirotecnia e o que será efetivamente implementado, mas há boas chances de os demais países terem de adaptar seus planos de voo à nova política americana. O Brasil poderá ser atingido também, embora não se saiba em que medida. De todo modo, Lula inevitavelmente terá de governar nos próximos dois anos de olho nas ações do trumpismo. Só que terá de adotar essa postura sem perder de vista que a lição de casa não pode ser esquecida em meio à turbulência externa.

Um bordão resume a estratégia que deveria ser adotada pelo governo brasileiro: um olho em Trump, outro na própria casa. Parece óbvio, porém, a avalanche de ameaças, factoides, ações cinematográficas, violência explícita e propostas de acordo que Trump fará ao mundo nos próximos meses será enorme. Isso tenderá a nublar a visão dos governantes pelo mundo, o que pode ocorrer igualmente com o presidente brasileiro.

A chapa ‘imbatível’ contra Lula para 2026 - Andrea Jubé

Valor Econômico

Declarações de caciques da direita sobre a sucessão presidencial confirmam o alinhamento dessas forças

As recentes declarações de caciques da direita sobre a sucessão presidencial de 2026 confirmam o alinhamento dessas forças, que se reuniram no ano passado pela reeleição de Ricardo Nunes (MDB) para a Prefeitura de São Paulo.

Não há consenso entre esses dirigentes, entretanto, sobre o nome que deverá enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas urnas no ano que vem. Porém, crescem adesões a uma chapa que um aliado próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro classificou como “imbatível”.

“Tarcísio para presidente, e Michelle na vice”, revelou essa fonte, em tom de franco entusiasmo, em alusão ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL). O argumento é de que Tarcísio, com apoio de Bolsonaro, reuniria a direita em torno de seu nome. E Michelle agregaria carisma e sua desenvoltura nas redes à aliança.

Em entrevista, Lula tenta trancar debate sobre sua sucessão em 2026 - César Felício

Valor Econômico

Reação do presidente às críticas de Kassab dá pistas sobre estratégia para próximas eleições

Na longa entrevista coletiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva há um ponto que se destaca: a reação do governante às declarações da véspera feitas pelo presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, que classificou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como “fraco” e disse que a oposição seria favorita se a eleição presidencial fosse hoje.

Seria fácil para Lula se esquivar da pergunta. Lula poderia dizer, assim como fez Haddad, que não havia tomado conhecimento das declarações. Ninguém iria acreditar, mas seria uma sinalização de que as declarações de Kassab não haviam sido tão importantes quanto parecem ser, vindas de quem vêm. O presidente optou por outro caminho: chamou Kassab de “companheiro” e disse que, ao ver a história, começou a rir. “A eleição vai ser só daqui a dois anos”, ressaltou Lula.

Lula rebate críticas de Kassab e defende Haddad – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O presidente da República admitiu que o governo ainda não entregou o que prometeu e, por isso, o povo fica insatisfeito. Disse, porém, que vai cumprir suas promessas de campanha

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu da zona de conforto, convocou uma entrevista coletiva sem pauta preestabelecida, na qual falou sobre quase tudo, e rebateu as críticas do presidente do PSD, Gilberto Kassab, de que Fernando Haddad (Fazenda) é "ministro fraco" e o PT, se as eleições fossem hoje, entraria na disputa pela reeleição "como derrotado". A entrevista de Lula marcou uma mudança de estratégia de marketing do governo, agora comandada pelo publicitário Sidônio Palmeira, que assumiu a Secretaria de Comunicação Social do Palácio do Planalto.

Lula disse que "começou a rir" quando soube da crítica feita pelo presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab. Questionado, destacou que não adianta especular sobre o que acontecerá até 2026: "Quando eu vi a história do companheiro Kassab, eu comecei a rir. Porque, como ele disse que, se a eleição fosse hoje, eu perderia, quando eu olhei no calendário e percebi que a eleição vai ser só daqui a dois anos, eu fiquei muito despreocupado, porque hoje não tem eleição", respondeu Lula.

A cópia brasileira de Trump - José de Souza Martins

Valor Econômico

Na carona que tentaram pegar na candidatura e na eleição do americano, Bolsonaro e o bolsonarismo caíram numa armadilha

O teatro de comédia que se desenrolou quanto ao papel de brasileiros na posse de Donald Trump cumpriu funções reveladoras do muito menos do que para ele são Bolsonaro e os bolsonaristas.

Uma das revelações é a de que Bolsonaro não é o Trump brasileiro, é apenas pretensão de ser. Com a mudança política nos EUA, sendo Trump mediação involuntária do imaginário do bolsonarismo, os Bolsonaros vão se descobrir desconstruídos e revelados pela dialética do que é uma trama de irracionalidades e reciprocidades visíveis e invisíveis. E com eles o bolsonarismo, os cúmplices e coadjuvantes, os sabidos e os ingênuos, os que o integram, civis e militares.

Tanto Trump quanto Bolsonaro consideram-se absolutos. Trump entende que Deus é servo do poder que ele ocupa. Bolsonaro, como se viu em ato supostamente religioso, de que foi protagonista sua esposa que declarou ser a cadeira presidencial de Deus e que Deus designara o marido para ocupá-la.

O 'novo' comando do Congresso - Vera Magalhães

O Globo

Alcolumbre nunca deixou de exercer poder imenso no Senado, ditando o rumo dos recursos das emendas e decidindo pautas, e Motta teve de pedir a bênção de Lira

Vem aí um novo comando do Congresso, que de novo não tem nada. Só haverá, de fato, mudança se passar a vigorar uma nova lógica no pagamento de emendas parlamentares, depois de anos de um descontrole completo, que levou parlamentares a prescindir até da necessidade de manter boa relação com o governo para irrigar suas bases com dinheiro público.

Davi Alcolumbre nunca deixou de exercer poder imenso no Senado, ditando o rumo dos recursos das emendas e decidindo pautas e destinos a partir da Comissão de Constituição e Justiça. Agora só volta a ocupar a cadeira a que se agarrou com unhas e dentes em sua primeira eleição.

O jovem Hugo Motta se viabilizou para o comando da Câmara na base do “resta um”, depois que candidatos se lançaram cedo demais a uma guerra fratricida pela sucessão de Arthur Lira. Só foi ungido porque beijou a mão do próprio Lira, antes mesmo de conseguir apoio do governo e da oposição bolsonarista. É de esperar, portanto, que o alagoano mantenha sobre ele certa ascendência, sobretudo na largada.

As incertezas globais - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

“O ambiente externo permanece desafiador”, advertiu o Copom no comunicado divulgado logo após a reunião de quarta-feira que aumentou os juros básicos em 1 ponto porcentual, para 13,25% ao ano. Que desafios são esses e que grau de incerteza trazem para a economia?

A mãe de todas as incertezas são as políticas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. São três focos: seu protecionismo comercial, que começou nesta quinta-feira com a imposição de tarifa de 25% sobre produtos do Canadá e do México; a agressiva política anti-imigração; e a política fiscal baseada no corte dos impostos.

A sobretaxação alfandegária deve interferir nos fluxos globais de produção. Não terá mão única. Os países prejudicados tenderão a revidar. Os setores mais vulneráveis são o de veículos e o dos eletrônicos.

Tanto a política comercial protecionista como a política de repulsa à imigração tendem a aumentar os preços das mercadorias e os custos da mão de obra. Mais inflação deverá obrigar o Fed (banco central) a puxar outra vez pelos juros, na direção oposta à das pressões feitas por Donald Trump.

A lei da selva nas relações internacionais - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Trump implode o multilateralismo e instaura um salve-se quem puder no mundo

Com a postura imperial e a determinação de usar o poder dos EUA para impor vontades, crenças e certezas pessoais, Donald Trump está criando fissuras drásticas não apenas na sociedade americana, mas nos organismos internacionais e nas alianças regionais. O multilateralismo, que favoreceu países do porte do Brasil, está em desuso, com instituições desacreditadas, inoperantes. O mundo não é mais o mesmo. Prevalece a lei da selva, o que equivale a dizer: salve-se quem puder!

Brasil e EUA em novo começo de conversa - Fernando Gabeira

O Estado de S. Paulo

A ascensão de Donald Trump mexeu com três pontos básicos da agenda comum: meio ambiente, democracia e direitos sociais

As relações Brasil EUA vivem um momento de transição, talvez um dos mais delicados nestes dois séculos de intercâmbio.

Os EUA não veem o Brasil como prioridade, mas são o segundo maior parceiro comercial do País. Ator decisivo no mundo, os Estados Unidos são vistos com um olhar mais favorável pela maioria da população brasileira, como mostram as pesquisas.

A ascensão de Donald Trump mexeu com os três pontos básicos da agenda comum: meio ambiente, democracia e direitos sociais. Mas os problemas começam a surgir com a política de deportação em massa.

O Brasil vive duas consequências da virada política. A primeira delas é a expulsão de brasileiros transportados em condições indignas de volta ao País. A outra é a suspensão da verba americana que mantinha o trabalho da OIM, a agência da ONU que participa do trabalho da Operação Acolhida aos refugiados venezuelanos que entram no País via Santa Elena de Uairén-Pacaraima.

Viva Chacrinha! - Orlando Thomé Cordeiro

Correio Braziliense

O maior problema enfrentado pelo governo reside na dificuldade do presidente em compreender a necessidade de se fazer um ajuste fiscal que permita colocar as contas públicas em reta de sustentabilidade

"Quem não se comunica se trumbica". Essa frase famosa é de autoria de um dos maiores comunicadores populares do Brasil, José Abelardo Barbosa de Medeiros — Chacrinha. Referência para publicitários e comunicadores em geral, o apresentador, falecido em 1988, revolucionou a linguagem radiofônica e televisiva em seus mais de 50 anos de carreira.

Quem, atualmente, tem menos de 37 anos de idade não pode conviver com ele, mas pode conhecer um pouco desse verdadeiro gênio vendo vídeos disponíveis na internet. Também vale muito a pena assistir ao belo filme de 2018 intitulado "Chacrinha: O Velho Guerreiro", estrelado por Eduardo Sterblitch, que interpreta o personagem na juventude, e pelo grande Stepan Nercessian.

Trump 'Deus, pátria e família' - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Ênfase é atacar república, fazer propaganda fundamentalista e apoiar extrema direita

Donald Trump vai impor imposto de importação extra sobre produtos de Canadá e México, a partir de sábado, como prometeu? "Talvez sim, talvez não", disse o presidente americano nesta quinta (30). O motivo da punição imperial seriam imigrantes e fentanil. Nada a ver estritamente com relações comerciais.

Trump ainda pode arruinar o que resta de ordem econômica mundial e dar tiros na própria testa dos EUA. Mas sua prioridade até agora tem sido a produção e exportação de ignorância escandalosa e apelos aos sentimentos mais baixos dos americanos e de hordas extremistas pelo mundo, como aqui no Brasil.

O sindicato parlamentar – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Congresso muda comando com o compromisso de manter as coisas como estão

escolha dos novos presidentes da Câmara e do Senado, neste sábado (1º), contraria a regra de que eleição não se ganha de véspera. Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) consolidaram suas vitórias muito antes disso. O deputado Motta esteve desde sempre no radar como reserva técnica de Arthur Lira (PP-AL) enquanto ele exercia o poder do jogo de cena da indecisão versus expectativa entre três ou quatro companheiros de centrão.

O senador Alcolumbre cedeu a cadeira para Rodrigo Pacheco (PSD-MG), há quatro anos, já na perspectiva de uma volta certa sem contestações significativas ao nome daquele que havia chegado à presidência como novato em 2019 já derrotando o veterano Renan Calheiros (MDB-AL).

Tarcísio de boné de Trump está fracassando na segurança - Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Além dos espetáculos de truculência, caso de Guarulhos expõe ligações de setores da polícia com o PCC

Enquanto comemorava a eleição de Donald Trump nos EUA com uma constrangedora aparição nas redes sociais vestindo o boné do movimento Maga (Make America Great Again), o governador de São PauloTarcísio de Freitas, já vinha acompanhando a deterioração de uma de suas bandeiras, também acenada pelo norte-americano: o combate ao crime na base do enfrentamento e da truculência. O que se tem visto no estado é uma sucessão de casos estridentes e condenáveis de violência por parte de agentes, que chamam a atenção da mídia e da população.

Desde o final do ano passado, pesquisas de opinião têm apontado o aumento da insatisfação dos paulistas com a segurança pública do governador Tarcísio. É o ramo mais reprovado de sua administração.

Vasto leque de indesejáveis - Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Trump não quer saber de gays, cegos e mutilados na Nasa. E isso pode ser só o começo

Adolf Hitler passou à história como responsável pela morte de seis milhões de judeus. Mas não só. Não sei se já se fez ou se será possível fazer uma contabilidade sobre outras minorias que ele perseguiu, supliciou e também matou: os comunistas e supostos comunistas, ciganos, eslavos, homossexuais, alcoólatras, toxicômanos, deficientes físicos e mentais. Hitler não admitia essas pessoas em suas fronteiras. Elas comprometiam a "pureza" e a "vitalidade" do povo alemão.

Lula e a maldição de Cassandra - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Ninguém acreditou quando presidente disse na semana passada que poderia não disputar a reeleição

Políticos padecem de uma espécie de maldição de Cassandra quando falam de seus projetos pessoais. Eles podem jurar de pés juntos que não se candidatarão a algum posto eleitoral e ninguém acreditará. A desconfiança do público não é sem motivos. Se políticos já não são exatamente uma categoria kantiana, tornam-se verdadeiros cínicos quando lidam com suas ambições pessoais.

Nos últimos 20 anos, dois tucanos que haviam conquistado a Prefeitura de São Paulo, José Serra e João Doria, largaram o mandato no meio para disputar o governo do estado. O primeiro chegou a assinar um documento dizendo que permaneceria prefeito até o último dia do mandato.

Presidente Lula conversa com jornalistas

 

Poesia | A tarde sobe, de Joaquim Cardozo

Ao rés da Terra o tempo é escuro
Mas a tarde sobe, se ergue no ar tranquilo e doce
A tarde sobe!
No alto se ilumina, se esclarece.
E paira na região iluminada.

Sobe, desfaz a trama de entrelaços
Superpostos na maneira dos esquadros
Sobre o chão aos poucos escurecendo.
Sobe: No meio da parte densa.

Sobe alva, serena para as estrelas
Que irão em breve aparecer,
Luzindo, no princípio da noite;
No espaço branco em que se completa
Preenchendo o centro e a esquerda
Branco que saiu limpo
De um fundo escuro de hachuras.

A tarde sobe!
Sobe até o zênite dando aos que passam
A paz e a serenidade do entardecer.

A tarde sobe pura e macia!
As linhas de baixo se inclinam
Se afastam e vão deixá-la subir.

Música | Zeca Pagodinho -A Voz do Morro (Zé Keti)