O Estado de S. Paulo
Lula precisa entender: não é hora de distribuir bonés, é de vestir a carapuça
Se é essa a estratégia do presidente Lula
para recuperar popularidade, a coisa não vai bem: viajar pelo País para lançar
programas, inaugurar obras e dar entrevistas para rádios locais é o arroz com
feijão do marketing – aliás, só em momentos de calmaria –, mas falar uma
bobagem atrás da outra anula eventuais ganhos e produz manchetes, análises
negativas e festa na oposição e na internet. Lula deveria estar careca de saber
disso.
Na primeira entrevista coletiva em meses, uma semana atrás, estava descontraído e bem-humorado, mas durou pouco. Ao falar ontem a rádios da Bahia, fechou a cara, endureceu o tom e foi buscar o “culpado” pelos erros da economia. Sim, ele, Roberto Campos Neto, que nem é mais presidente do Banco Central, mas é acusado por Lula de ter deixado “uma arapuca difícil de sair”.
E que tal a aula para conter a inflação?
Basta que as pessoas passem pelo supermercado, olhem as gôndolas e não comprem
o que está muito caro. Simples assim? O café está pela hora da morte? Não
compra o café. O azeite, arroz, feijão, carnes? Não compra nada disso, é tiro e
queda contra a inflação e para regime forçado. Muita gente que trabalha muito,
ganha pouco e precisa dar de comer aos filhos sabe muitíssimo bem disso.
As falas de Lula não fazem sentido, quando as
torcidas do Corinthians, do Flamengo, do Botafogo... sabem que o BC aumentou os
juros, e vai continuar aumentando com o amigão Gabriel Galípolo, por um motivo
óbvio, e nem precisa ser economista para saber: a inflação. E, além do ambiente
externo, porque o governo não demonstra disposição em realmente buscar o
equilíbrio fiscal, adotar o pragmatismo e prestigiar o ministro da Fazenda.
Assim, entra Campos Neto, sai Campos Neto,
entra Galípolo, sai Galípolo, e não tem jeito: os juros voltaram a subir, vão
continuar subindo e, logo, logo, o Brasil irá recuperar o “troféu” dos juros
estratosféricos. Detalhe: por decisão unânime do BC, que age, conforme tem de
agir, tecnicamente. Ai de Galípolo se tentar reverter isso e resolver entrar na
onda da Petrobras no governo Dilma Rousseff e conduzir o
Copom politicamente. Ai também do governo, ai
do Brasil!
É assim que, além da montanha de reclamações
sobre falta de marca, rumo, articulação e comunicação, o governo tem um outro
problemão: um presidente que fala o que vem à mente, com o fígado e mais
preocupado com 2026 e uma popularidade artificial do que com realidade e
responsabilidade. Tudo que Lula vem falando de Donald Trump, sobre tarifas,
Gaza, voos desumanos, faz sentido. Mas a hora não é de bonés, é de vestir a
carapuça.
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