sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Arapuca, que arapuca? - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Lula precisa entender: não é hora de distribuir bonés, é de vestir a carapuça

Se é essa a estratégia do presidente Lula para recuperar popularidade, a coisa não vai bem: viajar pelo País para lançar programas, inaugurar obras e dar entrevistas para rádios locais é o arroz com feijão do marketing – aliás, só em momentos de calmaria –, mas falar uma bobagem atrás da outra anula eventuais ganhos e produz manchetes, análises negativas e festa na oposição e na internet. Lula deveria estar careca de saber disso.

Na primeira entrevista coletiva em meses, uma semana atrás, estava descontraído e bem-humorado, mas durou pouco. Ao falar ontem a rádios da Bahia, fechou a cara, endureceu o tom e foi buscar o “culpado” pelos erros da economia. Sim, ele, Roberto Campos Neto, que nem é mais presidente do Banco Central, mas é acusado por Lula de ter deixado “uma arapuca difícil de sair”.

E que tal a aula para conter a inflação? Basta que as pessoas passem pelo supermercado, olhem as gôndolas e não comprem o que está muito caro. Simples assim? O café está pela hora da morte? Não compra o café. O azeite, arroz, feijão, carnes? Não compra nada disso, é tiro e queda contra a inflação e para regime forçado. Muita gente que trabalha muito, ganha pouco e precisa dar de comer aos filhos sabe muitíssimo bem disso.

As falas de Lula não fazem sentido, quando as torcidas do Corinthians, do Flamengo, do Botafogo... sabem que o BC aumentou os juros, e vai continuar aumentando com o amigão Gabriel Galípolo, por um motivo óbvio, e nem precisa ser economista para saber: a inflação. E, além do ambiente externo, porque o governo não demonstra disposição em realmente buscar o equilíbrio fiscal, adotar o pragmatismo e prestigiar o ministro da Fazenda.

Assim, entra Campos Neto, sai Campos Neto, entra Galípolo, sai Galípolo, e não tem jeito: os juros voltaram a subir, vão continuar subindo e, logo, logo, o Brasil irá recuperar o “troféu” dos juros estratosféricos. Detalhe: por decisão unânime do BC, que age, conforme tem de agir, tecnicamente. Ai de Galípolo se tentar reverter isso e resolver entrar na onda da Petrobras no governo Dilma Rousseff e conduzir o

Copom politicamente. Ai também do governo, ai do Brasil!

É assim que, além da montanha de reclamações sobre falta de marca, rumo, articulação e comunicação, o governo tem um outro problemão: um presidente que fala o que vem à mente, com o fígado e mais preocupado com 2026 e uma popularidade artificial do que com realidade e responsabilidade. Tudo que Lula vem falando de Donald Trump, sobre tarifas, Gaza, voos desumanos, faz sentido. Mas a hora não é de bonés, é de vestir a carapuça.

 

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