segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Mudança climática impõe às cidades maior preparação

O Globo

De 3 mil municípios que enfrentaram desastres nos últimos anos, 60% não têm planos de risco ou de contingência

A tragédia vivida pelos gaúchos no ano passado, quando chuvas torrenciais mataram mais de 180 moradores, deixaram milhares de desabrigados, levaram serviços ao colapso e comprometeram a infraestrutura, deveria ter surtido efeito pedagógico em políticos e gestores. Esperava-se que se preparassem melhor para eventos climáticos cada vez mais frequentes e devastadores. Pelo visto, pouco se aprendeu com as cenas dramáticas que comoveram o Brasil.

Dados da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) mostram que, de 2.977 cidades de estados que registraram desastres climáticos nos últimos anos, a maioria (60%) não tem planos de risco ou de contingência, como mostrou reportagem do GLOBO. O levantamento inclui municípios de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia e Espírito Santo. Na Bahia, de 417 prefeituras, apenas 25 (6%) produziram planos de riscos. Mesmo no Rio Grande do Sul, que guarda cicatrizes do dilúvio, de sete municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre atingidos pelas cheias, apenas dois se prepararam.

A única certeza de 2025: nova reforma eleitoral - Bruno Carazza

Valor Econômico

Por determinação constitucional e oportunismo, classe política já se movimenta para mudar as regras para a eleição do ano que vem

Começou a segunda metade do governo Lula 3 e são muitas as indefinições no horizonte. A começar pela batalha relativa às emendas orçamentárias, que mobiliza a cúpula dos Três Poderes, passando pelas dúvidas quanto à sustentabilidade do arcabouço fiscal e o teste da autonomia do Banco Central com uma diretoria alinhada ao presidente num cenário de juros em elevação, e finalmente chegando às movimentações para a corrida presidencial de 2026, o ano promete fortes emoções.

A única certeza que temos, porém, é que até o dia 4 de outubro o Congresso aprovará uma nova lei que mudará as regras do processo eleitoral brasileiro. Trata-se de um fenômeno tão certo quanto os ciclos lunares, uma vez que a nossa Constituição possui um dispositivo determinando que qualquer lei que altere as regras eleitorais só entra em vigor um ano após a sua publicação (CF, art. 16). O fato de ser uma norma constitucional não quer dizer nada - haja vista a quantidade de comandos de nossa Carta Magna que sequer foram regulamentados e aqueles que, mesmo o sendo, são simplesmente ignorados pelo poder público.

Virada de ano num país que não muda – Fernando Gabeira

O Globo

Projeto de reduzir custos do governo revelou como é difícil o gasto racional; estamos longe de um nível necessário de austeridade

A virada do ano mexe com todos. Creio, no entanto, que para os mais velhos não há grandes planos. Apenas a gratidão por sobreviver. Tendemos a cortar o tempo em fatias menores: as tardes de maio, manhãs de domingo, a hora do crepúsculo, algumas auroras, o momento do adeus.

Comprei um aplicativo de gravação que registra a voz, estampa o texto e ainda dá um título. Uso para mandar alguns roteiros de estudo para minha filha, que viaja muito e gosta de estar em dia com alguns temas, como a crise do Oriente Médio, presente em muitas conversas.

O título de uma gravação despretensiosa diz muito para mim: “A arte de adiar a morte, as histórias de Sherazade”. Personagem fascinante das Mil e Uma Noites, ela usava sua habilidade de contar histórias como um artifício para adiar sua execução.

Diante do Quarteto do Caos – Demétrio Magnoli

O Globo

Jimmy Carter, o melhor ex-presidente da História dos Estados Unidos, terá seu funeral de Estado na quinta-feira. Trump prometeu comparecer. Há, na desafortunada Presidência do democrata, uma lição preciosa para o chefe do Maga.

Carter, homem de convicções morais, escolheu o pragmatismo na hora de confrontar os grandes dilemas geopolíticos de sua época. Seguindo o rastro de seu antecessor republicano, o sombrio Nixon, consolidou a aproximação com a China, estabelecendo relações diplomáticas e reconhecendo o princípio de “uma China”. Por meio daquele gesto, os Estados Unidos enterraram a ideia de independência de Taiwan, em troca do compromisso tácito chinês de não invadir a ilha rebelde.

Sob a inspiração de Kissinger, Nixon aproveitou a oportunidade de aprofundar a cisão entre China e URSS. Carter concluiu o edifício da parceria, convencido de que o país pós-maoista ainda miserável estava destinado a restaurar sua grandeza de outrora.

Para evitar o custo alto do juro, governo precisa dar resposta fiscal - Sergio Lamucci

Valor Econômico

Para impedir que as taxas fiquem nas alturas, causando estragos na atividade e elevando a dívida pública, o governo precisa enfrentar a expansão dos gastos obrigatórios

A economia brasileira começa 2025 com juros elevadíssimos, que terão impacto sobre o ritmo de crescimento da economia, ao afetar a vida de empresas e consumidores, e sobre as contas públicas, ao elevar os gastos financeiros do setor público. Para evitar que as taxas fiquem nas alturas por muito tempo, segurando a atividade e elevando ainda mais a dívida pública, o governo precisa enfrentar com firmeza a expansão das despesas obrigatórias, algo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem se recusado a fazer. O custo da inação na área fiscal tem se traduzido num dólar na casa de R$ 6, em um mundo mais adverso para emergentes, e em juros de longo prazo na casa de 7,5%, descontada a inflação.

Céu de brigadeiro para a direita mundial - César Felício

Valor Econômico

Alemanha, Austrália, Canadá são alguns dos países onde a esquerda tende a perder espaço

A vitória de Donald Trump nas eleições americanas no ano passado pode ser a primeira de uma série mundial de guinadas conservadoras.

O ano de 2025 no mundo não será tão agitado eleitoralmente como 2024, mas poderá representar uma troca de guarda em nações cuja política doméstica tem o condão de mudar o equilíbrio de poder em blocos regionais inteiros. Trump e o quase futuro copresidente dos Estados Unidos Elon Musk arregaçaram as mangas, especialmente o último, para interferir em processos eleitorais alheios. Na maioria dos casos, contudo, a tendência conservadora precede a intromissão da dupla de extremistas que tomará conta da Casa Branca.

Consequências econômicas de Trump 2.0 - Simon Johnson*

Valor Econômico

Trump está herdando uma economia forte, mas suas políticas mais emblemáticas farão quase nada de positivo pelos trabalhadores menos escolarizados ou melhorarão significativamente a vida da maioria dos americanos

O segundo governo de Donald Trump começa ao meio-dia de 20 de janeiro. Sua campanha eleitoral ininterrupta desde que perdeu para Joe Biden em 2020 sugere uma reformulação mais bem organizada de seu primeiro mandato, com o mesmo foco nos cortes de impostos para estimular a economia, tarifas mais altas para reformular o comércio dos EUA com o mundo, e a deportação do maior número possível de imigrantes para gerar mais oportunidades para os trabalhadores americanos. Mas os tempos mudaram e é improvável que a realidade corresponda à retórica.

Em 2016, quando Trump conquistou a presidência pela primeira vez, os EUA experimentavam um período prolongado de inflação baixa. O Federal Reserve (Fed) manteve as taxas de juros próximas de zero ao longo de todo o seu governo. Mas desta vez, é bem diferente. A inflação disparou durante a pandemia, e o Fed ainda está em guarda contra um ressurgimento - daí as taxas de juros permanecerem relativamente altas. Os cortes de impostos propostos por Trump implicam um estímulo fiscal para uma economia com baixo nível de desemprego. Qualquer sinal de superaquecimento será enfrentado por uma política monetária ainda mais apertada.

Remédio ou veneno? - Carlos Pereira

O Estado de S. Paulo

Decisão do STF de ligar a execução de emendas às regras do arcabouço recria o poder do Executivo

Quando maiorias devem governar e quando elas devem ser controladas? Essa é a pergunta que os cientistas políticos Steven Levitsky e Daniel Ziblatt se propõem a responder no artigo When should the majority rule? que acaba de ser publicado no Journal of Democracy.

Contrariando a interpretação dominante, que assume que “o sucesso duradouro de democracias necessariamente requer limites significativos à própria democracia”, Levitsky e Ziblatt argumentam que a atuação de controles que limitam ações de governos majoritários pode tanto fortalecer a democracia liberal, como também minar o seu funcionamento.

Precisamos estimular as conciliações de conflitos - Maria Tereza Aina Sadek

Folha de S. Paulo

É uma ênfase na convivência, na pacificação e na possibilidade de harmonia

Ouvimos com frequência sobre o excesso de ações judiciais tramitando no sistema judiciário brasileiro (segundo o Conselho Nacional de Justiça, eram 84 milhões em 2023), o que pode justificar em parte a também propalada morosidade nas soluções dos conflitos. Faz parte dessa realidade o fato de o Brasil ter a maior quantidade de advogados por habitante do mundo (1 para cada 253 pessoas).

Esses números superlativos não significam o atendimento ao que assegura a Constituição de 1988 quanto ao acesso de todos à Justiça (parágrafo 4º, art. 153: "a lei não poderá excluir da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão de direito individual"). Sabe-se que um número restrito de litigantes concentra percentual expressivo dos casos em tramitação.

Mas há um ponto menos explorado nesse cenário complexo: o insuficiente estímulo à conciliação, que poderia não apenas reduzir a sobrecarga do Judiciário mas também atender melhor a população, a partir de soluções mais rápidas de litígios.

8 de janeiro precisa de contexto - Camila Rocha

Folha de S. Paulo

Imagens isoladas não são capazes de evocar a gravidade do ocorrido

Na próxima quarta, os ataques de 8 de janeiro completam dois anos. No entanto, ainda que a invasão à praça dos Três Poderes tenha se tornado simbólica da tentativa de golpe promovida por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, suas imagens isoladas não são capazes de evocar a gravidade do ocorrido para parte expressiva da população.

Para muitos, as fotos e vídeos de milhares de pessoas comuns vestidas com as cores nacionais invadindo a praça dos Três Poderes e quebrando vidros de prédios indicam um ato de vandalismo reprovável, porém sem conexão com uma tentativa de golpe.

Tapa na cara - Ana Cristina Rosa

Folha de S. Paulo

Prefeito eleito defender a ditadura militar evidencia que a estupidez não está disposta a fazer concessão à civilidade no Brasil

Começar o ano ouvindo um prefeito reeleito democraticamente fazer apologia da "liberdade de expressão em defesa da ditadura militar" (como ocorreu na capital do RS) é uma triste evidência de que a estupidez não está disposta a fazer concessão à civilidade no Brasil.

Não há "valor maior" que a vida, um direito fundamental ameaçado quando há emprego exacerbado da força e intimidação moral. Aplica-se ao traficante que executa um jovem com tiro na cabeça por uma pisada no pé, ao policial que xinga e defende a "aniquilação" de uma jornalista durante as compras no supermercado, e aos políticos que se esquecem dos horrores e dos mortos e desaparecidos na ditadura.

Com essa polícia, para que bandidos? – Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Suspeito é aquele que passa pela frente, e tome gás de pimenta, tiro pelas costas ou voar da ponte

Confira se essa descrição se aplica a alguma cidade que você conheça. Apesar do luxo de seus quarteirões abastados, ela abriga 2.000 favelas. Nelas, os moradores vivem em casas improvisadas, com puxadinho de tijolo aparente, alugadas do dono do pedaço. As ruas não têm calçamento, o correio não chega, e a luz é fornecida por "gatos". Não há rede de esgotos. Muita gente boa mora ali, mas suas visitas não lhe batem à porta com três dedos —já entram com o pé na porta. Cada favela é controlada por uma facção. Se às vezes a chapa esquenta, com tiros e granadas, é porque esse controle está sendo disputado por outra facção, pela milícia ou pela polícia.

Poesia | Pátria Minha - Vinicius de Moraes

 

Música | Coral Edgard Moraes e Getúlio Cavalcanti - Escuta Boêmio