quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Ano-Novo traz velhos problemas para o governo

O Globo

As dificuldades de 2025 na economia, na segurança, na infraestrutura, na educação e no meio ambiente

O ano de 2025 dará trabalho ao Brasil. Da economia à segurança, da infraestrutura à educação, há muito a fazer. O cenário externo mudou. A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos traz um misto de incerteza e adversidade, justamente quando o governo e o Congresso relutam em enfrentar a crise fiscal. A escalada do endividamento exige ações robustas de ajuste das contas públicas. A crise de confiança não foi debelada. Novos cortes de despesas serão necessários, e brigar com o Banco Central diante do inevitável aumento dos juros que se desenha só tornará a situação pior. Esse, sem dúvida, é o desafio mais urgente.

Brasil carrega crises para 2025 - Vera Magalhães

O Globo

O segundo ano do terceiro mandato de Lula mostrou que o presidente e seus principais ministros seguiram à deriva

O ano começa com crises velhas, cuja resolução ou foi empurrada com a barriga ou escapou à capacidade de articulação dos Três Poderes. O desajuste na relação entre Executivo, Legislativo e Judiciário, aliado à pressão de inflação e juros sobre a economia, são as heranças de 2024 que comprometem, desde a largada, o sucesso de 2025.

O governo Lula foi um espectador entre atônito e inerte de uma virada de ano em que as suas maiores fraquezas foram evidenciadas de forma alarmante e cara.

A disparada do dólar e o impasse das emendas mostraram que o Executivo está de mãos atadas tanto para vencer a falta de confiança dos agentes econômicos quanto para instituir uma governabilidade que não seja comprada caro à custa de transferência de dinheiro público para uma base que não morre de amores pelo projeto de Brasil do PT.

Esperanças de Ano-Novo – Roberto DaMatta

O Globo

As semanas, como os meses, 'voam', mas os anos 'passam' e indicam atraso, doença, guerra, mais do mesmo e, eventualmente, progresso

Um esperançoso e inédito 2025 começa numa recorrente quarta-feira. Logo pensamos nas cinzas terminais do símbolo maior de nossas ambiguidades: o carnaval que — entra e sai ano — não acaba porque nossos administradores públicos, instalados em seus palácios e gabinetes, “cuidam” para que o Brasil não mude.

Inventamos o tempo aprisionando-o em segundos, minutos, horas, semanas, meses, anos, séculos, milênios e eras. Uma gradação cuja fase mais significativa é a bíblica semana de sete dias, nos quais o Senhor Deus Todo-poderoso criou o mundo, reservando o domingo para seu descanso e louvação. A modernidade, sempre em busca dos infinitamente menores, inventou uma realidade individualizada — partida em pedaços. Desse modo, vamos das Eras aos dias da semana partidos em dias e horas que, por sua vez, repartem-se em minutos e segundos, e por aí vai, como os elefantes que seguram o mundo no mito indiano...

Lições para a defesa da democracia - Marcelo Godoy

O Estado de S. Paulo

José Carlos Dias faz advertências em livro que conta a sua trajetória dentro e fora dos governos

Em setembro de 2017, o Tribunal de Justiça de São Paulo resolveu homenagear o advogado José Carlos Dias. A cerimônia serviu para reconhecer as “relevantes contribuições à cultura jurídica e ao Poder Judiciário, em especial pela defesa dos direitos de presos políticos durante a ditadura e seu trabalho na Comissão Nacional da Verdade”.

Em seu discurso, Dias fez referência aos casos de corrupção de então: “Sinto que é meu dever dizer algumas palavras sobre nosso país, golpeado, esquartejado pela corrupção e pelos desmandos cometidos por agentes públicos dos três Poderes. O que se espera hoje do Judiciário, especialmente do STF? Como conciliar rigor absoluto no combate à corrupção, com absoluta intransigência no respeito ao devido processo legal e às garantias penais esculpidas na nossa Constituição?” A reflexão do criminalista permanece atual. Assim como outras reunidas no livro Democracia e liberdade: a trajetória de José Carlos Dias na defesa dos direitos humanos, de Ricardo Carvalho e Otávio Dias.

Jimmy Carter foi um grande presidente – Elio Gaspari

O Globo

Faltando poucas semanas para o retorno de Donald Trump à Casa Branca, lá se foi Jimmy Carter. Tinha 100 anos e governou os Estados Unidos de 1977 a 1981. Batido por Ronald Reagan, teve um só mandato. Assumiu empunhando a bandeira da democracia e dos direitos humanos, mas foi moído por uma inflação de 9,9% e por suas virtudes de homem simples.

O balanço de sua presidência acompanhou os necrológios que lhe deram os créditos negados na eleição de 1980. O Brasil deveu a Carter o corte do cordão umbilical que ligava a ditadura ao beneplácito de Washington.

Jimmy Carter a diplomacia da convicção - Bruno Boghossian

Folha de S. Paulo

Presidente americano perturbou ditaduras ao dizer que EUA não deveriam tolerar repressão 'em troca de vantagens temporárias'

Em fevereiro de 1976, o general Ernesto Geisel recebeu Henry Kissinger. O presidente brasileiro disse ao secretário de Estado americano que estava incomodado com o que era dito sobre o Brasil nos EUA: "Nossa imagem é uma imagem de ditadura e violência. Isso não corresponde à realidade do Brasil moderno".

A ditadura não tinha problemas com o governo do republicano Gerald Ford, que seguia uma doutrina que tratava o regime como aliado contra o comunismo. Na conversa, Kissinger disse a Geisel que questões domésticas eram uma preocupação do Brasil, num sinal de que os americanos não criariam tensões sobre a violação de direitos humanos.

Desarranjo político - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Flávio Dino está certo em cobrar transparência nas emendas parlamentares, mas problema não desaparecerá enquanto não vier maneira melhor de dividir o poder

Como já escrevi aqui algumas vezes, por mim não existiriam as famosas emendas parlamentares ao Orçamento. Elas são uma forma pouco democrática de perpetuar incumbentes em seus cargos, atomizam e tiram a eficácia dos gastos públicos e ainda relegam vastas áreas do país (aquelas que não são reduto eleitoral de nenhum congressista) à penúria. Vários países vivem bem sem elas.

Mas as emendas são também o modo de repartição do poder entre Executivo e Legislativo que acabou se impondo ao longo da última década. É um arranjo subótimo, mas não dá simplesmente para eliminá-lo sem colocar outra coisa no lugar.

Um acordão nacional para a dívida - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Conta de juros está perto dos níveis recordes; entenda como cresceu o endividamento

No último ano, o governo federal pagou o equivalente a 6,7% do PIB em juros da dívida. Em valores corrigidos pela inflação, são R$ 787,2 bilhões.

Essa conta jamais foi tão alta, desde 1997, a não ser em cinco meses de 2015 e 2016, quando o país passava pela Grande Recessão. De 1997 a 2014, a média foi de 4,1% do PIB. De 2015 a 2019, de 5,2%. A série de dados do Tesouro começa em 1997.

A conta de juros recente é uma aberração, mesmo para padrões brasileiros. Os motivos imediatos são dívida maior, com juros costumeiramente altos, e a perspectiva de crescimento sem limite da dívida pública, dados os grandes déficits primários.

A receita do governo é ora de 17,92% do PIB. A despesa primária, que não inclui a conta de juros, é de 19,81% do PIB. Mesmo sem a conta de juros, a receita, pois, não dá para cobrir a despesa primária (Previdência, servidores, saúde, educação, Bolsa Família etc.). A conta de juros é paga com mais dívida. A dívida que vence é também paga com dívida nova.

Paz e prosperidade - Fernando Haddad

Folha de S. Paulo

A tranquilidade é construída diariamente, com diálogo, atenção às necessidades do próximo e muito trabalho

O Brasil encerrou mais um ano de crescimento econômico expressivo, com avanços na condição de vida da nossa população, mais igualdade de renda e mais oportunidades. Uma agenda legislativa robusta permitiu reformas fundamentais, que melhoraram a competitividade do país, enquanto milhões de brasileiros encontraram novas oportunidades de trabalho, gerando renda e prosperidade.

Não há fórmula única para o crescimento econômico, mas a tranquilidade é um ingrediente essencial. É ela que permite às pessoas trabalharem em paz, dedicarem-se aos seus sonhos e prosperarem com o apoio da sociedade. Foi ela que ajudou o Brasil a fechar 2024 com o menor nível de desemprego da história, mais 3,5 milhões de empregos gerados, uma indústria de transformação em crescimento após anos de retração e exportações vigorosas, mesmo diante de desafios climáticos em diversas regiões. É um cenário em que os investimentos voltam a crescer, sinalizando aumento de produtividade e um futuro promissor.

Evangelizar ou pregar para convertidos - Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Lula ignora que o debate público é hoje uma guerra de guerrilhas, disputada trincheira a trincheira, a todo momento

Dentre as razões alegadas por Lula para mudar a comunicação governamental está a convicção de que, sendo o maior comunicador do seu partido, caberia a ele falar mais sobre as ações do governo, participar de programas e conversar com jornalistas em coletivas.

Não serei eu a subestimar o impacto de entrevistas, sonoras e citações de Lula na imprensa e na mídia em geral. Assim como nunca subestimei o corpo a corpo de Bolsonaro no "cercadinho do Alvorada", as lives das quintas-feiras, sua presença digital ou participações em podcasts, que pautaram o jornalismo e os "trending topics" da conversa social.

Ano de 2024 foi ruim para democracia e direitos humanos no mundo - Rui Tavares

Folha de S. Paulo

História explica como as nossas ações hoje podem ser decisivas para o futuro

Por estes dias há cem anos, Adolf Hitler foi libertado da prisão muito antes de cumprir a pena de cinco anos a que tinha sido condenado por uma tentativa fracassada de golpe de Estado. E mesmo nos parcos nove meses em que esteve preso, o líder nazista usufruiu de condições excepcionais: uma cela espaçosa e arejada, a possibilidade de receber visitas e o acesso ao secretário a quem ditou "Mein Kampf", o livro que faria dele um homem rico.

Depois de tanto mimo, a esperança das autoridades era que Hitler saísse grato e respeitoso, e foi isso que disseram à imprensa de então. Em 21 de dezembro de 1924, o jornal americano The New York Times publicava o título: "Hitler Domado pela Prisão". Prosseguia: "o seu comportamento durante a prisão convenceu as autoridades de que ele, como a sua organização […], já não devem ser temidos".

E terminava com uma profecia que só nos pode fazer sorrir —"Acredita-se que se retirará para a vida privada e que regressará à Áustria, o país do seu nascimento". Uma guerra mundial, um holocausto e milhões de mortos nos fazem mais sabedores do que os nossos antepassados de 1924.

Vocês vão entrar numa fria aqui - Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*

A desordem geral está  batendo às portas das instituições e tratados internacionais mediadores da convivência humana no planeta. A   criação do BRICS, propondo a desqualificação do sistema monetário, as taxações tributárias extras sobre o comércio, as guerras  entre Israel e  as guerrilhas financiadas pelo Iran,  o uso amplo de tecnologias destrutivas a invasão da Ucrânia, e as insolências nucleares de Vladimir Putin e de Kim Jong caminham, irresponsavelmente, nessa direção. 

Tudo isso remete às consequências dos acordos finais da capitulação alemã e, em particular,  do Império otomano, em 1918, guerra que  produziu a morte de milhões de civis, uma profunda reconfiguração geopolítica   e o reassentamento    de  centenas de populações  linguística e culturalmente diferenciadas,  sobretudo aquelas que perambulavam pelas terras desérticas e míticas do Levante,  região  dominada pelo  islamismo , esses mesmo  que busca ser hegemônico no mundo, e que se constitui  num espaço estratégico   para os negócios globais.
 
Ao revelar minorias indefesas  e   pluralidades humanas regionais  , o pós-guerra  fez surgir a Liga das Nações (1920) e,  com ela,  aqueles  15 países do Oriente Médio,  cuja divisão física  e a reorganização dos Estados  foram entregues  a França e a Inglaterra, por um prazo limitado  . As configurações ideológicas  definitivas de cada nação viria por meio dos movimentos nacionalistas árabes (República Árabe Unida), inspirados na liderança do presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser, e  marcadas ainda pela  disputa do  Canal de Suez , a criação de Israel em 1948 (uma pátria para os judeus), o assassinato do liberal Anwar Sadat (1981), e  o encerramento do "mandato" da ONU  ali.

Poesia | Procura-se um amigo, de Vinicius de Moraes

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Música | Chico Buarque e Mônica Salmaso - Maninha