Decreto sobre ação policial abre oportunidade
O Globo
Governadores devem entender necessidade de
diálogo com Brasília para enfrentar crise na segurança
Ao longo do ano passado, o governo federal
rompeu a inércia e começou enfim a tomar iniciativas no campo da segurança
pública, uma das maiores preocupações dos brasileiros. Primeiro, elaborou a PEC
da Segurança — que amplia as atribuições das polícias federais (PF e PRF) e
tenta suprir as lacunas que limitam o funcionamento do Sistema Único de
Segurança Pública (Susp). No fim do ano, o Ministério da Justiça e Segurança
Pública baixou normas para regular a ação policial. Ambas as medidas
encontraram resistência entre os governadores.
É compreensível que os governos estaduais critiquem o que consideram uma invasão de suas prerrogativas constitucionais. No caso específico das normas destinadas a coibir abusos da polícia, é legítima a preocupação com o risco de paralisia, num momento em que a população mais precisa das forças da lei. Mas as normas que constam do decreto federal são sensatas. Nada mais fazem além de estabelecer regras para o uso progressivo e racional da força pelos policiais, com base em princípios de “legalidade, precaução, necessidade, proporcionalidade, razoabilidade, responsabilização e não discriminação”. A profusão de cenas de abusos recentes da polícia justifica que o governo formalize o óbvio — a força só deve ser usada em último caso — e imponha condições para isso, como condicionar ao respeito às regras o acesso a recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP).