sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Departamento de Estado erra ao criticar Supremo

O Globo

Governo americano se manifestou em conta oficial sobre decisão da Justiça brasileira relativa às redes sociais

Foi correto o repúdio do Itamaraty à manifestação do Departamento de Estado americano sobre decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro. O Ministério das Relações Exteriores emitiu nota em que diz rejeitar “com firmeza” uma crítica da diplomacia americana à decisão do ministro Alexandre de Moraes ordenando a suspensão da rede social Rumble. Moraes depois reagiu afirmando que a relação entre os países deve ocorrer sem “coação” ou “hierarquia”. “Deixamos de ser colônia em 7 de setembro de 1822”, afirmou. Ele tem razão, mas não era preciso o rompante nacionalista para dizer o óbvio: no Brasil democrático mandam as leis brasileiras.

É a primeira vez que o Departamento de Estado se manifesta sobre decisões da Justiça brasileira a respeito da operação de redes sociais no Brasil. Moraes já determinara a suspensão das operações do Telegram e do X em território nacional, diante da recusa em suspender perfis ou bloquear conteúdos considerados criminosos pela lei brasileira, como a disseminação de desinformação eleitoral ou propaganda golpista. Nos dois casos, as redes puderam voltar ao ar assim que as plataformas cumpriram as ordens judiciais. E o Departamento de Estado nada disse.

A longa batalha dos democratas - Fernando Luiz Abrucio

Valor Econômico

Vários grupos que aceitam as soluções simplistas e autoritárias dos extremistas querem apenas sementes de esperança. É possível fornecê-las sem ser populista ou defender o extermínio do outro

Desde o final da Guerra Fria, nunca houve um momento tão difícil para a luta democrática. Em várias partes do mundo surgem fortes oponentes à democracia, como nos Estados Unidos, na Alemanha, na França, na Argentina e no Brasil. E mesmo quando extremistas perdem eleições ou não conseguem implementar suas propostas autocráticas, continuam como uma força política relevante e à espreita numa guerrilha contra o sistema político. Não é possível decretar, ainda, a derrota dos democratas, que têm vencido em muitos casos, embora não em todos. Mas também não se pode ignorar o fôlego e o enraizamento desse novo autoritarismo. Uma longa batalha pode ser nosso horizonte.

O novo cenário surgiu depois de uma longa onda de democratização de diversos países pelo mundo, para usar a definição célebre de Samuel Huntington, que se iniciou na segunda metade da década de 1970 e foi até os anos 1990. Chegou-se a acreditar numa vitória definitiva do modelo liberal-democrático. Mas mesmo nesta época havia críticas acadêmicas e de grupos políticos sobre as insuficiências da democracia, procurando construir propostas para reformá-la e melhorar seu desempenho.

O que se vive nos últimos anos é um clima de opinião completamente diferente. Muitos atores políticos e sociais relevantes não querem reformar a democracia. Ela é um empecilho às suas ambições antissistêmicas e autocráticas. Os adversários dos extremistas - ou inimigos, adequando mais o termo à sua lógica belicista - são, em geral, defensores da democracia.

José de Souza Martins - Anomalias dinásticas na política

Valor Econômico

Pais legam a filhos e parentes um suposto direito de sucessão na política por meio dos muitos mecanismos que contaminam e usurpam o protagonismo democrático do cidadão

Dos muitos subentendidos da estrutura do Estado brasileiro e da decorrente política que o caracteriza é possível destacar que o sujeito indireto do processo político não é aqui o cidadão. É cada família dos poderosos. Herdados do Império, a República perfilhou nosso familismo político e o oligarquismo interiorano e rural. Colocam nosso regime anômalo num permanente limiar do atraso.

Pais legam a filhos e parentes um suposto direito de sucessão na política através dos muitos mecanismos que entre nós contaminam e usurpam o protagonismo democrático do cidadão. Muitos candidatos são voz e vontade de parentelas, distribuídos por diferentes níveis da organização política. O eleitorado formalmente moderno manipulado para a farsa do poder do atraso.

Novos e emergentes protagonistas enfrentam de maneira desigual e desfavorável quem já está no poder, os que têm a seu favor o direito a recursos do Estado, que os demais não têm.

Em inflexão, Lula ajusta discurso às pesquisas - Andrea Jubé

Valor Econômico

Em entrevista, presidente constrói novo discurso sobre o combate à violência

“É importante colocar os bandidos na cadeia”, exortou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nessa quinta-feira, em entrevista ao programa “Balanço Geral Litoral”, da TV Record, especializado em casos policiais. Não parecia o mesmo presidente, que raramente aborda temas como violência e criminalidade em suas falas.

Era o mesmo mandatário petista, porém, envergando um novo figurino, mais apropriado ao choque de realidade causado pelas recentes pesquisas de opinião que identificaram uma queda expressiva e inédita na avaliação do governo.

No mesmo programa de TV, ao estilo “Cidade Alerta”, Lula afirmou que o governo quer fazer uma “revolução” na segurança pública, e criticou governadores - em um recado velado ao governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil) - que se opõem à proposta do governo federal de ampliar as atribuições da Polícia Federal (PF) e de modernizar a Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Rejeição de Lula alavanca candidatura de Tarcísio – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A avaliação do governo Lula contrasta fortemente com a dos governadores pesquisados pela Genial/Quaest, que estão com 60% de aprovação, em média

Engana-se quem vê o ex-presidente Jair Bolsonaro como a sombra que ofusca o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O maior concorrente do petista é o Lula do segundo mandato. Esse é o preço de uma campanha eleitoral para voltar ao poder sem um programa de metas de acordo com a nova realidade e calcado no resgate de sua gestão anterior. A "reconstrução" do slogan do governo, em tese, uma crítica ao desmonte das políticas sociais pelo governo Bolsonaro, tem como mensagem subliminar exatamente isso, a volta ao passado de 2010, o que é impossível 15 anos depois.

Lula está na situação do Príncipe que já não pode contar com a Fortuna, um contexto histórico favorável, e depende apenas de suas próprias virtudes para se manter no poder, como diria o velho e indispensável Nicolau Maquiavel. A conjuntura é completamente adversa, esgotou-se a possibilidade de navegar num ambiente econômico de expansão da globalização e de mudanças demográficas favoráveis (a ampliação do número de pessoas com renda própria nas famílias). Mas ainda há a soberba reinante na "jaula de cristal" do Palácio do Planalto: "Tem gente que só vem aqui para nos ensinar a governar".

Voo eleitoral depende de Bolsonaro - César Felício

Valor Econômico

Assim como governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), o de São Paulo tem sua avaliação de governo contaminada pela polarização nacional

Apenas o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), têm sua avaliação de governo contaminada pela polarização nacional, segundo pesquisas Genial/Quaest realizada nos oito maiores colégios eleitorais do país. Nos demais seis Estados, não há uma vinculação entre o lulismo ou o bolsonarismo em relação ao quadro local.

O indicativo é um sinal importante para calcular a estratégia de Tarcísio em relação às eleições de 2026. Seja em uma eventual disputa presidencial como em uma nova candidatura à reeleição, ele não tem como se desvencilhar do bolsonarismo.

Tarcísio e os golpistas - Bernardo Mello Franco

O Globo

Por apoio em 2026, governador briga com fatos e tenta desacreditar denúncia da PGR

A Procuradoria-Geral da República denunciou a quadrilha que tentou destruir a democracia brasileira para permanecer no poder sem votos. Questionado sobre o tema, Tarcísio de Freitas atacou os investigadores e saiu em defesa dos golpistas.

O governador de São Paulo seguiu a cartilha dos acusados. Em entrevista na terça-feira, desqualificou as conclusões do Ministério Público e descreveu a denúncia como “forçação de barra” e “revanchismo”.

Dias antes, ele já havia ido às redes para se solidarizar com o capitão. “Jair Bolsonaro jamais compactuou com qualquer movimento que visasse à desconstrução do estado democrático de direito. Estamos juntos, presidente”, derramou-se.

É muito cedo para subir no palanque - Vera Magalhães

O Globo

Lula e ministros usam evento institucional para polarização com Tarcísio em momento desfavorável para o petista nas pesquisas

Lula deveria ser o último a querer subir tão cedo no palanque de 2026, mas o vício do cachimbo entorta a boca, e parece que, quanto mais as pesquisas se deterioram, mais o presidente parece ansioso para mostrar que ainda é “o cara”. O resultado, no entanto, tem sido o oposto.

A transformação do evento de assinatura do edital de construção do túnel imerso que ligará Santos ao Guarujá — obra que a Baixada Santista espera há cem anos — poderia ser um ótimo exemplo de relação republicana entre União e governo de São Paulo, funcionando como saudável contraponto à absoluta falta de institucionalidade com que Jair Bolsonaro tratava governadores de oposição.

Essa, inclusive, foi a forma inteligente com que Lula agiu noutros eventos com Tarcísio. O presidente também acertou o tom ao denunciar ocasiões em que outros bolsonaristas, como Romeu Zema ou Cláudio Castro, deixaram de comparecer a eventos com o governo federal por questões político-partidárias.

Estrela e coadjuvantes na tentativa de golpe - Fernando Gabeira

O Estado de S. Paulo

A grande curiosidade é saber como se fará justiça a pessoas que tiveram papéis diferentes neste caso

O processo sobre a tentativa de golpe deve ser julgado em setembro. Até lá, o debate entre juristas pode esclarecer alguns pontos. No entanto, existem certos aspectos que permanecem um pouco nebulosos para mim.

Um deles é o elo entre os preparativos para a tentativa de golpe e as invasões de 8 de janeiro em Brasília. É possível depreender dos depoimentos, provas e gravações que a virada de mesa dependia basicamente de dois fatores.

O primeiro deles era a suspeição sobre as urnas eletrônicas. Bolsonaro investiu pesado nisso. Começou por duvidar de sua própria vitória nas eleições de 2018; fez reuniões com embaixadores para disseminar a suspeita; recebeu hacker no Palácio da Alvorada e, de uma certa forma, introduziu a ambiguidade num relatório da comissão das Forças Armadas que não encontrou indício de fraude.

Lula, cansado e impopular - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Impopularidade e inflação andam juntas e, quando disparam, ninguém segura

Impopularidade de presidentes é como inflação: ambas começam por motivos objetivos, passam a sofrer efeito psicológico, se retroalimentar e fugir do controle. Lula enfrenta impopularidade e inflação em alta ao mesmo tempo, até porque as duas têm tudo a ver e, juntas, foram decisivas, por exemplo, para Trump e Milei derrotarem os candidatos à reeleição nos EUA e na Argentina.

E não estavam sozinhas, pois foram e são embaladas pela crise e o descrédito do sistema político e instituições mundo afora e foram e são massificadas pela orquestração da oposição na internet, que se transformou no grande fator político, capaz de confundir líderes e opinião pública.

A pesquisa Quaest desta semana é devastadora para Lula, reprovado por mais de 60% em São Paulo, Minas e Rio, os maiores eleitorados do País, e em queda acentuada em Pernambuco, seu Estado natal, onde é campeão de votos faça chuva ou faça sol, e na Bahia, governada pelo PT há duas décadas. Aliás, por Rui Costa e Jaques Wagner. Lula venceu em 2022 por margem apertada. E sem o Nordeste?

Sim, nós podemos – Flávia Oliveira

O Globo

Desde o ano 2000, a proporção de crianças de 4 e 5 anos matriculadas saltou de 51,4% para 86,7%

O Brasil é capaz de feitos incríveis. Não perder de vista essa potência é, ao mesmo tempo, lanterna e sombreiro a nos iluminar e proteger em tempos de trevas. Depois de duas décadas de ditadura, foi capaz de reencontrar a democracia com instituições suficientemente firmes para impedir a tomada de poder por três dezenas de golpistas, entre eles o então presidente da República, seis generais, um almirante, ministro da Justiça, chefe da Abin, diretor da Polícia Rodoviária Federal. O roteiro está contido nas mais de 200 páginas da denúncia que o procurador-geral da República, Paulo Gonet, protocolou no Supremo Tribunal Federal na semana passada.

O horizonte da instantaneidade - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Impaciência característica da modernidade pode ser uma das causas da deterioração da popularidade de Lula

deterioração da popularidade de Lula impressiona, pelo alcance (ela dá as caras até em bastiões eleitorais do presidente) e pela intensidade (até dezembro, o problema dele era que as avaliações positivas do governo não subiam; agora elas despencam).

O movimento é tanto mais surpreendente porque ocorre num contexto em que normalmente não o esperaríamos. O crescimento do PIB dos últimos dois anos foi maior do que 3%, e o índice de desemprego corre perto dos mínimos históricos. Num passado não muito remoto, tais indicadores se faziam acompanhar de avaliação amplamente positiva do governo que com eles coincidisse.

Tudo pelo eleitoral – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Estética de campanha invade espaço reservado a pronunciamentos oficiais urgentes ou relevantes

O novo mago da propaganda oficial teve uma ideia: transformar em horário eleitoral o espaço reservado a comunicados urgentes e/ou relevantes em cadeia nacional de rádio e televisão.

O modelo já havia sido testado no ano passado, naquele anúncio do ministro Fernando Haddad (PT) em que os alhos do pacote fiscal se misturavam aos bugalhos da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000. Choveram críticas à forma e, sobretudo, ao contraditório conteúdo, mas Sidônio Palmeira pelo visto achou que valia a pena apostar na estética de campanha. O plano agora, ao que se diz, é o presidente da República se utilizar desse formato a cada 15 dias para divulgar maravilhas.

Violência, saúde Pix e Lula - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Desemprego e economia têm poucas citações como problema mais grave em pesquisa Quaest

Para quem se ocupa de curvas de juros, relação dívida/PIB, taxa de câmbio ou de condições financeiras em geral, a "economia" piorou bem no final de 2024.

A massa do eleitorado se ocupa disso? Por que, em pesquisas recentes, preocupações com segurança e saúde sejam muito mais citadas do que desemprego e "economia"? Por que a avaliação de Luiz Inácio Lula da Silva é tão pior que a de governadores dos estados mais populosos, de qualquer partido? Por que, faz apenas um ano, o governo Lula era melhor do que o de Jair Bolsonaro por 48% a 29% (pesquisa Quaest) e agora é pior por 36% a 45%? Qual miséria, epidemia ou promessa de golpe teria havido?

Não houve mudança na inflação, na virada do ano, bastante para explicar o desprestígio de Lula 3.

Trump, Putin e Xi Jinping são a nova ordem mundial - Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Com vitória do republicano, cenário internacional vai consagrando mundo antiliberal e autocrático

Quando entrou em cena para anunciar sua genuflexão ao governo de Donald TrumpMark Zuckerberg sabia bem em que alvos deveria mirar. Como comentou-se aqui ainda antes da posse do republicano, o dono da Meta, ao decidir levantar as checagens factuais de suas redes, dirigiu as baterias ao mundo ocidental.

Mais precisamente, Zuckerberg atacou a Europa reguladora, que tolheria a liberdade de expressão de seus negócios, e a América Latina, periferia do Ocidente onde funcionariam tribunais secretos, igualmente inimigos do free speech. O bilionário do Facebook sintomaticamente poupou a China de suas queixas, bem como a Índia.

Carnaval bom é o de todos os tempos - Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Desde 1600, o Carnaval carioca assiste ao sucessivo predomínio de uma atração sobre as outras

A historiadora Eneida de Moraes dizia que os três inimigos do Carnaval são a chuva, a polícia e os saudosistas. Os piores são os saudosistas, com o discurso de que Carnaval bom era o "do tempo deles". Mas qual seria esse tempo? Na longa história do Carnaval carioca, cada geração teve o seu. Eis exemplos.

1600: surge o entrudo, com os foliões se atirando baldes de água com limão uns nos outros, na atual rua 1º de Março. 1641: mascarados desfilam cantando. 1748: primeiros foliões negros, com a coroação do Rei Congo. 1786: primeiros desfiles com carros alegóricos, no Campo de Santana. 1825: os nobres promovem bailes em seus palácios em Botafogo. 1831: os jornais anunciam a venda de máscaras e fantasias na rua do Ouvidor.

Carnaval e Pero Vaz - José Sarney

Correio Braziliense

O carnaval brasileiro tem origem e cultura próprias. Sua certidão de nascimento é a Carta de Pero Vaz de Caminha, em 1500, quando descreve o descobrimento do Brasil

O carnaval passa ao largo do mercado, pois não depende dele. Se os bolsos ficarem vazios, é a Bolsa que fica ameaçada. Carnaval não influencia a taxa de juros, não a baixa nem a sobe. Assim, nada de preocupações; que seja a alegria.

As queixas procedentes vêm dos saudosistas — e eu talvez seja um deles —, todas na direção de que o carnaval se modernizou, perdeu a autenticidade do passado. Acabaram os pierrôs apaixonados e as colombinas para surgir o biquíni e o peladão. Maravilha das maravilhas! Isso é o progresso. O mesmo que tirou de moda a ceroula, o cabeção, o espartilho e colocou as liberdades das musas do carnaval: Isabelle Nogueira, Flávia Alessandra, Luciana Gimenez, Alane Dias…

Qual é a origem do carnaval? Uns, querendo colocar sabedoria, dizem que sua origem está nas saturnais romanas, festas bem moderninhas em que se celebrava a entrada da primavera de maneira bem exuberante. Falam que ele veio de um tal carro-naval, que nada mais era do que um navio de rodas, cheio de marinheiros que cantavam canções obscenas nas ruas da Grécia antiga nas mudanças de estação.

É a economia, estúpido! Será mesmo? - Orlando Thomé Cordeiro

Correio Braziliense

A frase "É a economia, estúpido" não consegue explicar plenamente o processo contemporâneo que comanda a escolha do eleitor

"É a economia, estúpido" é uma frase cunhada por James Carville, estrategista na campanha bem-sucedida de Bill Clinton na eleição presidencial dos EUA de 1992. Pode-se afirmar que, por décadas, se tornou um mantra utilizado em diversas campanhas eleitorais nos quatro cantos do mundo.

Porém, em 2016 foi possível observar uma mudança radical em dois momentos. O primeiro, quando da disputa em torno do plebiscito realizado em 23 de junho sobre a continuidade do Reino Unido na União Europeia; e o segundo, a campanha presidencial de Donald Trump. Nas duas ocasiões, analistas e assessores políticos experimentados foram surpreendidos pela utilização de maneira extremamente agressiva das redes sociais.

O liberalismo e a radicalidade democrática - Ivan Alves Filho*

O liberalismo político é um patrimônio da civilização. Não pertence a uma classe social nem a um país determinado. Ele resulta das lutas da sociedade civil para se afirmar diante do Estado, materializando ou encarnando os anseios da Cidadania e do indivíduo por liberdade de ação. O habeas corpus tem dois mil anos, data da Roma Antiga, e um teórico do liberalismo como Locke desenvolveu suas propostas um século antes da Revolução Industrial, do advento portanto da burguesia moderna. O liberalismo demonstra no que a sociedade é sempre maior que o Estado. 

As conquistas do liberalismo são conquistas populares, como o sufrágio universal, a liberdade de associação e a liberdade de imprensa ou opinião. A I Internacional tinha perfeita noção disso. Talvez seja o caso de retomarmos algumas de suas lições.  

Poesia | Um homem e o seu carnaval, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Alceu Valença - Madeira do Rosarinho

 

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Reprovação a Lula traduz deficiências de seu governo

O Globo

Saúde e segurança são as duas maiores angústias responsáveis pela insatisfação da população

A pesquisa Quaest divulgada nesta quarta-feira mostra que a reprovação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva supera 60% nos três maiores colégios eleitorais do país, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Nos oito estados pesquisados, violência e saúde são as maiores preocupações. A violência é o maior problema para moradores de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. A saúde é o que mais aflige cidadãos de Minas, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás. Trata-se de mais um recado para Lula. Em ambos os temas, o governo federal não tem conseguido dar respostas minimamente satisfatórias à angústia dos brasileiros.

Na segurança, os sinais de que a situação saiu de controle estão por toda parte. Porções significativas do território são dominadas por organizações criminosas que achacam moradores, cobram taxas por serviços essenciais, impõem leis marciais e têm a audácia de impedir a entrada do Estado em seus domínios, como mostram as barricadas na entrada de comunidades do Rio. Facções do Sudeste, como a paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) ou a fluminense Comando Vermelho (CV), atuam em diferentes regiões do país e até no exterior, disseminando a violência. O problema não é novo, mas precisa ser enfrentado.

Mito decaído - Merval Pereira

O Globo

Nos últimos meses, o governo Lula está em decadência notável, e muito rapidamente

O mito analógico está fragilizado diante dos problemas que a era digital trouxe para o palco político? As pesquisas de opinião divulgadas nos últimos dias, especialmente a Quaest/Genial de ontem, mostram uma percepção de que os dois primeiros anos do terceiro governo de Lula repetem programas e histrionismos que estão com data vencida. O público, que voltou ao teatro para ver uma peça nova de seu ídolo, não se contenta mais com o que é mostrado em cena, quer coisas e caras novas no proscênio.

Os oito estados escolhidos pela equipe de Felipe Nunes para a pesquisa resumem os centros que devem decidir a eleição de 2026, e a situação do governo é francamente decadente. Nos três maiores colégios eleitorais — Rio, São Paulo e Minas —, a desaprovação está na casa dos 60%, e em estados do Nordeste, que Lula dominava eleitoralmente, a ponto de se eleger em 2022 por causa da região, a aprovação já está abaixo da reprovação.

Não será de repente - Malu Gaspar

O Globo

Numa cena famosa do livro “O Sol também se levanta”, de Ernest Hemingway, um personagem pergunta a outro como foi que ele faliu. O sujeito responde: “De duas maneiras. Primeiro, gradualmente, e então de repente”. Para o governo Lula, os resultados da última pesquisa Quaest mostrando que a reprovação ao governo já superou a aprovação nos oito principais estados brasileiros é uma espécie de “gradualmente”.

Mês após mês, vários institutos de pesquisa vêm indicando que o mau humor com o governo só aumenta, apesar de o PIB ter crescido 3%, de o desemprego estar em queda e a massa salarial em alta. Esse estado de coisas se repete até em regiões onde Lula é forte eleitoralmente, e o governo está bastante presente com seus programas sociais, como o Nordeste.

Segurança como ponto central - Míriam Leitão

O Globo

Eduardo Paes afirma que não vai armar a guarda municipal, mas abrirá concurso com requisitos específicos para novos agentes

Na pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira, o Rio de Janeiro é o estado em que a segurança é vista como o problema mais grave, apontado por 71% dos entrevistados. É o único estado com um percentual tão alto. O prefeito Eduardo Paes, do Rio de Janeiro, está criando uma força municipal armada para combater os crimes de rua, que têm crescido muito. Paes afirma que tentará atrair quadros formados nas Forças Armadas, como o CPOR, que serão treinados especificamente para atuar nesse tipo de ação urbana.

“Ela não vai enfrentar o problema da milícia, da ocupação territorial, do crime organizado, nem substituir a Polícia Militar ou a Civil. O que a gente quer é criar um modelo de policiamento ostensivo, comunitário, preventivo, que parta da premissa do respeito aos direitos do cidadão, mas que combata a bandidagem que toma conta das ruas das cidades brasileiras”.

Motor da reforma ministerial é a luta interna - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Padilha pode se mostrar de reproduzir sucesso do Mais Médicos com o Mais Especialidades, mas sua saída do Palácio reproduz o que se vê no PT, a disputa pelo comando de 2026

Vencerá a eleição de 2026 quem for capaz de convencer o eleitor que é capaz de lhe oferecer futuro. A definição, dada por um colaborador de mais de uma década do presidente da República, impõe um desafio a mais para a reforma ministerial iniciada nesta terça por Luiz Inácio Lula da Silva: convencer o eleitor de que pretende lhe oferecer futuro devolvendo a Saúde para um ministro que já a ocupou ou, missão impossível, com o deputado José Guimarães (PT-CE) na Secretaria de Relações Institucionais.

Se Alexandre Padilha é o nome ideal para a Saúde por que não a ocupou desde janeiro de 2023? Porque Lula queria dar uma resposta ao negacionismo e conter o reinado do Centrão na Pasta com o currículo irrepreensível da então presidente da Fiocruz. Pela deselegância com a qual Nísia Trindade foi tirada do governo, o presidente sugere que a melhor maneira de encobrir um erro é cometendo outro.

Lula vive seus piores momentos no poder - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Com a volta de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos, a trajetória da direita no mundo é ascendente; aqui o governo de esquerda está em baixa

Quando o ex-ministro José Dirceu foi defenestrado da Casa Civil pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no auge da crise do Mensalão, em 16 de junho de 2005, parecia que o governo petista nem terminaria o mandato, tal a pressão que sofria no Congresso, na opinião pública e na mídia. No dia seguinte, José Dirceu voltou à Câmara, para a qual havia sido eleito deputado mais votado do país, num contexto em que sua cassação já parecia irreversível.

O petista estava resignado com a situação, disposto a lutar por seu mandato, mas sem muitas esperanças: “Eu sei que vão cassar meu mandato, mas vou lutar por ele”. Indagado sobre a situação do PT, delicadíssima, por causa do depoimento de Duda Mendonça, que admitiu ter recebido recursos para campanha no exterior, fez um comentário que a vida viria a comprovar algumas vezes: “O PT vai sobreviver, por causa do Lula e da sua militância”. Foi o que aconteceu, Lula foi reeleito e elegeu Dilma Rousseff, que foi reeleita depois da crise de 2013, mas não entendeu o recado das ruas e sofreu o impeachment. O petista voltou ao poder nas eleições de 2022, depois de condenado pela Lava-Jato, passar mais de 500 dias preso e ter a condenação anulada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Resultado mostra que efeitos da crise do Pix continuam - César Felício

Valor Econômico

Governo está em uma espiral de aprovação popular fortemente descendente, sobretudo no Nordeste

Não é sempre que um conjunto de pesquisas com 10.442 entrevistas é divulgado, o que dimensiona o significado dos levantamentos de avaliação do governo Lula feitos pela Genial/Quaest em oito Estados e tornados públicos hoje. Das situações específicas em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás, Pernambuco e Bahia se distingue um mosaico com desenho bastante claro: a situação é terrível para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Poderia ser ainda pior se a oposição tivesse um rumo já traçado para 2026.

A marca do governo é Lula - William Waack

O Estado de S. Paulo

Ele é a figura central e o principal símbolo na comunicação do governo

Os últimos resultados de pesquisas reiteram que o problema do governo não é de comunicação, mas de quem o chefia. Lula cobra de seus ministros e especialmente de seu marqueteiro uma marca ignorando que ela já existe: é ele mesmo.

A marca enfrenta uma tempestade perfeita. O presidente é maior que seu partido e o conjunto de forças de esquerda. Ocorre que, nesse lado do espectro político, conforme bem demonstrado nas eleições municipais, tudo encolheu, enquanto as forças adversárias sociais e políticas se expandiram.

Lula e a especulação fiscal - José Serra

O Estado de S. Paulo

Uma breve análise das palavras do presidente Lula é necessária, no mínimo para ajudar os cursos de Economia em sua árdua tarefa de ensinar uma ciência tão inexata

Os últimos dois meses presenciaram um quadro econômico nacional em deterioração e que tem afetado sobremaneira a situação política, incluindo a avaliação do presidente Lula. Vale notar, no entanto, que há dois movimentos em paralelo. Numa via, o descrédito fiscal já vinha minando as perspectivas de mercado há meses. Noutra, um descompasso nos preços tem tornado a inflação uma ameaça e impactado o orçamento familiar em aspectos bastante críticos.

Infelizmente, a teoria econômica é eivada de lacunas na compreensão de diversos dos elementos centrais de nossa vida econômica, como a renda, a produção e os preços, notadamente o preço do nosso dinheiro. Mesmo em relação às causalidades que ganham ares de verdade inelutável, as controvérsias teóricas e práticas são imensas.

Empobrecimento e efeito político - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Dureza maior não é a pobreza; é o empobrecimento. Quando a percepção de empobrecimento atinge em cheio as classes médias, como agora, o custo político é inevitável. É o que ajuda a explicar o disparo na reprovação do governo Lula, como mostram as pesquisas.

A cavalgada dos preços da alimentação, de 1,68% em apenas um mês e meio é o primeiro choque sobre o orçamento doméstico. Tão ou mais decepcionantes são as respostas das autoridades para o aumento da carestia: que o consumidor troque carne por ovo, cujos preços logo em seguida disparam; café, por chá; troque laranja por limão; cenoura por abobrinha ou pepino; alface, por chicória... Ou então, vêm as tentativas inúteis de importar o que ficou caro demais; e, mais decepcionante, a chamada de varejistas e de atacadistas para maneirar nos efeitos da lei da oferta e da procura, como se tivessem perdido o controle das maquininhas de etiquetar preços.

O seguro morreu de velho - Assis Moreira

Valor Econômico

O mundo está mais perigoso. E a questão de segurança econômica ganha ainda mais relevância com Donald Trump de volta à Casa Branca

Os ocidentais se referiam sobretudo à China quando falavam até recentemente do tema. Agora, os EUA são também uma ameaça. Parceiros se inquietam com a abrupta mudança em alianças americanas, intimidações no comércio com choques tarifários, ameaças de “tomar” o Canal do Panamá e tornar o Canadá o 51º Estado americano, reivindicar o controle da Groenlândia e abocanhar metade dos minerais críticos da combalida Ucrânia em nome de interesses estratégicos.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tirou uma rápida conclusão: “Sabemos que haverá um aumento no uso de ameaças e de ferramentas de coerção econômica, como sanções, controles de exportação e tarifas. Vimos isso novamente nos últimos dias e a rapidez com que as coisas podem se agravar”.

Nesse cenário, um bom número de países acelera a cartografia dos riscos, para adotar suas políticas de segurança econômica, uma área cada vez mais dinâmica. Em vários deles, incluindo os europeus, o grau de integração econômica com a China é levado em conta com cuidado. Existe inquietação com o excesso de capacidade industrial chinesa, mas também o reconhecimento de que custaria caro reforçar a resiliência das economias se desviando da segunda maior economia do mundo. Isso poderia reduzir a eficiência e aumentar os preços no mercado interno, como notam certos analistas.

PIB, 2025: está frio ou está quente? - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Apesar de quedas na confiança, criação de vagas formais veio bem acima do previsto

Comércio, indústria e serviços encolheram no final do ano passado, segundo dados do IBGE. A confiança de consumidor e de empresas de todos os setores cai desde o bimestre final de 2024, segundo dados da FGV; janeiro foi de ânimos bens ruins.

No entanto, há indícios de que a coisa não é bem assim, embora já houvesse discussões na praça financeira até sobre o efeito da suposta desaceleração na atitude do Banco Central. Os primeiros dados mais frios parecem ter tido algum efeito na cotação do dólar e em taxas de juros no atacadão do mercado de dinheiro (que caem desde fins de janeiro). O dólar baixou de R$ 5,70. Agora, com paniquitos a respeito do suposto programa de governo contra o esfriamento da economia (mais crédito) e dúvidas sobre a perda de ritmo do PIBvoltou para perto de R$ 5,80.

A democracia na mira sob Trump - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

Medidas são revolução sem precedentes nas democracias contemporâneas

A democracia representativa modera o conflito político. De um lado, a disputa eleitoral majoritária reduz as chances das posições extremadas, sempre minoritárias no eleitorado. A competição pelo voto favorece partidos e candidatos mais próximos do centro. De outro lado, o Estado de Direito e as diferentes formas de freios e contrapesos institucionais impedem o exercício arbitrário do poder pelo governante da vez.

Esse era o consenso entre especialistas e a pedra de toque das teorias que buscaram explicar o funcionamento dos regimes democráticos representativos. Até a recente eleição de Donald Trump.

Vitorioso com uma plataforma radical, o 47º presidente dos EUA vem tentando abolir direitos de há muito reconhecidos, além de tomar medidas que ultrapassam sua competência legal. Mais do que isso, investe pesado na destruição de órgãos estatais e instrumentos costumeiros de governo.

Adam Przeworski, cientista político da New York University, vem publicando no site Substack o Adam’s Diary. Trata-se de comentário ao que faz a nova administração. Ele observa que as medidas anunciadas ou adotadas para reduzir a máquina pública —e controlá-la por inteiro— representam transformação revolucionária nas relações entre Estado e sociedade, porque sem precedentes sob regime democrático. Pois, para processar os conflitos de forma pacífica, argumenta, o governo eleito tem de ser moderado e não pode impor derrotas que pareçam irreversíveis aos que venceu pelo voto.

Poesia | O trenzinho, de Ferreira Gullar

 

Música | Barracão - Elizeth Cardoso, Jacob do Bandolim e Época de Ouro

 

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Pronunciamento na TV não pode ser propaganda

O Globo

Lula não violou lei eleitoral ao repetir em rede nacional anúncios já feitos antes, mesmo assim está errado

O pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na noite de segunda-feira — o primeiro do ano — não trouxe nenhuma novidade, a não ser o tom informal adotado sob a orientação do marqueteiro Sidônio Palmeira, secretário de Comunicação que assumiu em janeiro. Em pouco mais de dois minutos, Lula anunciou, em meio a expressões coloquiais e metáforas, dois programas que já haviam sido anunciados: o Pé-de-Meia, que cria uma poupança para incentivar a permanência de jovens na escola, e o Farmácia Popular, que fornece medicamentos gratuitamente.

“Venho aqui para falar de dois assuntos muito importantes. Uma dupla que não é sertaneja, mas que está mexendo com o Brasil: O Pé-de-Meia e o novo Farmácia Popular”, disse Lula. “É para os jovens brasileiros que trago a primeira boa notícia. O pagamento da poupança de R$ 1 mil do programa Pé-de-Meia entra amanhã na conta e rendendo.” A iniciativa já havia sido anunciada, até porque o programa está em evidência desde que foi questionado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por não ter sido incluído no Orçamento (valores chegaram a ser bloqueados). Sobre o Farmácia Popular, Lula afirmou que os beneficiários poderão ter acesso gratuito a todos os 41 itens (antes eram 39), que agora incluem fraldas geriátricas. A “novidade” também já havia sido anunciada.

Lula precisa de seu próprio 'Desenrola' - Vera Magalhães

O Globo

Maneira tortuosa de conduzir o governo, que inclui demora em decisões e fritura desnecessária de auxiliares, só complica crise do governo

Num momento em que atira para vários lados em busca de uma bala de prata que lhe devolva a popularidade ainda em queda, o presidente Lula carece, neste terceiro mandato, de seu próprio Desenrola, pois vem se esmerando em dificultar ainda mais as coisas para si.

A demissão de Nísia Trindade da Saúde, que cravei no site do GLOBO ainda no início da tarde de sábado, só foi confirmada nesta terça-feira, mesmo assim de forma oblíqua, que expôs uma cientista respeitada no meio acadêmico a um desgaste desnecessário e imerecido. Sim, porque uma coisa é reconhecer que Nísia padecia de problemas de gestão, que venho apontando nesta coluna há pelo menos um ano e que nada tinham a ver com a cobiça do Centrão por sua cadeira, aqui repudiada. Outra, completamente diferente, é submeter uma auxiliar a humilhação pública.

Mudar ministros requer etiqueta – Elio Gaspari

O Globo

Lula troca alguns de seus ministros numa humilhante fritura pública que desqualifica o próprio governo. Em setembro de 2023, sem uma só palavra de agradecimento, ele demitiu a atleta Ana Moser do Ministério dos Esportes, colocando em seu lugar o deputado André Fufuca (PP-MA). Tratava-se de trocar competência na equipe por votos do Centrão na Câmara.

Numa operação semelhante, em 1996, o presidente Fernando Henrique Cardoso viu-se obrigado a dispensar a ministra Dorothea Werneck, da Indústria e Comércio. Visitou-a, comoveu-se e registrou em seu Diário:

— Fui ficando com raiva de mim mesmo.

O cavalheirismo foi uma das marcas da presidência de FH.