sábado, 18 de janeiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Acordo no Oriente Médio é esperança de fim da guerra

O Globo

Cessar-fogo negociado por Biden e Trump interromperá o conflito mais letal entre israelenses e palestinos

O acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas começará a valer a partir de domingo depois de ser aprovado pelo gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Não será o fim da guerra na Faixa de Gaza, mas deve ser saudado por ser o primeiro passo para encerrar o conflito mais letal entre israelenses e palestinos.

O documento prevê mais de uma fase. Na primeira, que deve durar seis semanas, tropas israelenses serão retiradas de áreas densamente ocupadas antes do início da guerra, palestinos poderão voltar para o norte da Faixa de Gaza, 600 caminhões com ajuda humanitária passarão a entrar na região diariamente e 33 reféns israelenses e mais de mil palestinos presos em Israel serão libertados.

Se não houver retrocesso no cumprimento de metas, em fevereiro começará a negociação da segunda fase, a mais difícil. Entre os pontos a ser tratados estão uma nova troca de reféns israelenses por palestinos presos, a retirada total das tropas e um cessar-fogo permanente.

Esquerda quer ganhar no tapetão – Pablo Ortellado

O Globo

A repercussão do ato normativo da Receita Federal que determinava o monitoramento das transações com o Pix foi uma vitória maiúscula da oposição sobre o governo Lula. A medida começou a se disseminar empacotada no rumor de que o Pix passaria a ser taxado. Quando parecia que o rumor estava sendo desmentido, num esforço conjunto do governo com a imprensa, um vídeo do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que atingiu a estonteante marca de 300 milhões de visualizações, deu o golpe fatal na medida. Inconformada com a derrota política, parte da esquerda passou a alegar que o vídeo do deputado era “fake news” e que ele deveria ser punido, até com a cassação. A reação da esquerda, deslocando o debate do âmbito da política para o âmbito jurídico, merece uma reflexão.

Falta confiança no governo – Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

Há uma crise econômica no país, como se percebe nos indicadores. Isso não será resolvido com a ‘comunicação

Não é só o presidente Lula. Todo o seu governo parte da premissa de que faz uma boa gestão, apresenta resultados positivos e melhora a vida dos brasileiros. E se é assim, todos aqueles que discordam e criticam só podem estar ou enganados ou agindo de má-fé.

Para aqueles do primeiro grupo, os equivocados, o governo contrata um marqueteiro para explicar tudo direitinho. Para o pessoal da segunda turma, os de má-fé, pede-se investigação da Polícia Federal.

Em resumo, ou é problema de comunicação ou ação de criminosos. Sem autocrítica, nem reconhecimento de erros.

O recente caso do Pix apresentou vários exemplos dessas vertentes. Mas há também, e seguramente mais importante, um outro tema que cai naquela premissa: o estado das contas públicas. Para o Ministério da Fazenda, está tudo em ordem. O arcabouço fiscal funciona, e a dívida pública está controlada.

Nem anistia nem clemência - Rodrigo Zeidan

Folha de S. Paulo

Trama golpista se decide na Justiça; e ponto final

Quando bolsonaristas pedem por anistia sobre a tentativa de golpe de Estado, qual a ameaça implícita? Não existe negociação por anistia sem a parte que a solicita tendo alguma carta na manga.

Vimos isso na anistia contra os crimes cometidos pelos governos militares brasileiros. Ela era requisito para acelerar a transferência de poder para instituições democráticas. A ameaça era clara: sem anistia, os militares não largariam o poder. Se era verdade ou não, preferimos não pagar para ver.

Essa é uma questão complexa. Quando ditadores negociam falta de responsabilização para deixar o poder, as vítimas se sentem desamparadas. Além disso, a mera possibilidade de um acordo posterior pode incentivar que golpistas e ditadores se comportem de forma mais extrema.

Existe uma longa lista de artigos científicos sobre condições para que impunidade retroativa gere a estabilidade esperada pelo processo.

Governo é uma mãe para oposição – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Por que a fala de Nikolas mereceu mais confiança que a palavra de Lula?

A mentira danosa, fruto da má-fé, existe desde sempre como bem soube o PT quando a aplicou contra a então candidata à Presidência Marina Silva (Rede) na campanha de 2014, acusando a hoje ministra do Meio Ambiente de se aliar a banqueiros para tirar comida do prato dos brasileiros.

Lula também estava consciente da força de um boato ao pespegar no governo do antecessor o dístico da "herança maldita".

Portanto, por mais condenável que seja o jogo sujo, não se pode dizer que a cigana o enganou sobre a contingência de se ver às voltas com uma oposição feroz e sem freio moral.

Com guarda armada, Paes vira o xerife Woody - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Candidato ao Palácio Guanabara, prefeito do Rio contradita planos de Lula para segurança

Eduardo Paes não esconde o orgulho de ter sido eleito quatro vezes prefeito do Rio, superando o padrinho Cesar Maia. Brincou no discurso de posse: "Primeiramente, tetra!". Mas indica que não ficará até o fim do mandato, desvinculando-se para concorrer ao governo estadual daqui a dois anos. É um sonho antigo, alimentado desde 2006, quando tentou o Palácio Guanabara e recebeu pouco mais de 5% dos votos. Em 2018 a derrota mais dolorosa: depois de liderar as pesquisas durante a campanha, perdeu a disputa para Wilson Witzel na reta final.

Paes deu uma lavada no candidato bolsonarista, Alexandre Ramagem. Elegeu-se no primeiro turno, atraiu lideranças evangélicas e soube jogar no terreno preferido da extrema direita, a segurança pública. Quer repetir a dose, impedindo que Cláudio Castro faça o seu sucessor.

Cessar-fogo em Gaza é boa notícia - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Trégua em território palestino tem valor humanitário, mas fica muito aquém de apontar uma saída sustentável para a região

acordo de cessar-fogo em Gaza é uma boa notícia. Dará algum respiro aos palestinos que vêm há mais de um ano sendo dizimados pelos bombardeios do Estado judeu e permitirá que os reféns israelenses voltem para casa. Mas o acerto não toca no ponto essencial. O que será feito de Gaza?

O governo do premiê Binyamin Netanyahu nunca teve um plano para o pós-guerra. Na verdade, Netanyahu poderia ter concordado com um cessar-fogo semelhante ao atual vários meses atrás, o que teria poupado a vida de dezenas de milhares de palestinos e de dezenas de reféns israelenses. Não o fez porque a suspensão da guerra então contrariava seus interesses.

Um acordo oficial, dois ocultos – Demétrio Magnoli

Folha de S. Paulo

Os três compromissos sobre o cessar-fogo em Gaza têm a marca de Trump

O acordo oficial de cessar-fogo em Gaza, que está nas manchetes, oculta os dois acordos ocultos sobre os quais se sustenta. Os três têm a marca de Trump.

O primeiro, formal, assinala derrotas para Israel e para o Hamas. Israel aceita retirar parcialmente suas forças sem destruir o Hamas, objetivo declarado pelo governo de Netanyahu, e paga um preço elevado com a libertação de centenas de valiosos presos palestinos. O Hamas, degradado à condição de insurgência guerrilheira, fica isolado regionalmente após a queda da ditadura síria, a derrota militar do Hezbollah e a humilhação do Irã.

Desse acordo, emergem dois vitoriosos. Os palestinos de Gaza ganham um respiro em meio à colossal tragédia humanitária que se estende por 15 meses. Trump surge como patrocinador da paz, antes ainda de sua posse. Mas a guerra está nas cartas dos acordos subterrâneos.

O segundo acordo é entre Netanyahu e os ministros supremacistas que mantêm seu governo à tona. Smotrich e Ben Gvir obtiveram do primeiro-ministro as promessas de expandir os assentamentos israelenses na Cisjordânia e, além disso, de retomar a ofensiva em Gaza após a fase 1 do cessar-fogo.

Um discurso para história - André Gustavo Stumpf

Correio Braziliense

Os tempos atuais cumpriram a profecia de Ulysses Guimarães. Ele previu que o próximo Congresso será sempre pior que o atual

O governo do presidente Lula não deu a menor importância ao 15 de janeiro, quando, 40 anos atrás, o Colégio Eleitoral elegeu Tancredo Neves para Presidência da República. Foi o último momento do governo militar. A partir daí vieram sucessivas modificações constitucionais, que terminaram por fazer nascer um novo país, no espaço onde antes havia a tristeza da ditadura e da ordem unida dos militares. Quem hoje propugna pelo retorno do Ato Institucional nº 5 e de todas as suas consequências deve fazer uma visita ao passado para perceber como era a vida do brasileiro sem direito à proteção do habeas corpus, sem liberdade e sem eleição. Qualquer um podia ser preso sem ordem judicial.

O silêncio do governo federal tem razão de ser. Durante a Constituinte, o líder do PT chamava-se Luiz Inácio da Silva. O partido tinha oito deputados federais. Três deles votaram a favor de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral. Foram expulsos da legenda por descumprir a orientação partidária. O sectarismo do partido trabalhista se manifestou tempos depois com relação ao Plano Real. O partido também votou contra. Perdeu nas duas ocasiões porque o avanço foi notável. Mas o PT não faz autocrítica, nem permite que o tempo reveja suas posições. O 15 de janeiro passou sem maiores comemorações. Ninguém subiu em uma tribuna para lembrar o notável discurso de Tancredo Neves naquele dia.

Do ano das matrioskas aos novos desafios à democracia - Ricardo Marinho

As matrioskas (bonecas russas) foram criadas em 1890 por um pintor de uma oficina de artesanato chamado Sergey Malyutin (1859-1937) e foram apresentadas na Exposição Universal de Paris em 1900, tendo um grande sucesso. Começou como um brinquedo e acabou como um objeto de estimação.

Sua particularidade é que por ser oca, dentro existem outras bonecas que podem atingir o número que você desejar. Além de sua bela coloração, elas têm muitas simbologias. Uma delas é que elas nos ajudam a aprender a nos conhecer por dentro, a trazer à tona o que temos dentro de nós.

Parte disso é o que aconteceu conosco, brasileiros, no ano da graça do Senhor de 2024 que deixamos a pouco. As bonecas interiores, aquelas que não aparecem, surgiram à luz do público na eleição. Elas são muito menos bonitas do que aquelas que escondiam. Seus rostos não são tão sorridentes, por sentirem as suas aspirações frustradas, sentem que se esforçaram muito, e acreditam não ter recebido o que mereciam e o sentimento de que os jovens cidadãos não se sairiam bem no futuro.

Esquerda, democracia e farsa - Marcus Pestana

A vinculação de democracia e socialismo sempre ocupou espaço central no pensamento marxista. Marx, Engels, Lenin, Trotsky, Rosa Luxemburgo, Bernstein, Kautsky, Enrico Berlinguer, Carlos Nelson Coutinho, entre tantos outros, meteram a colher no assunto.

O ponto essencial é se a democracia e suas instituições são valores universais e permanentes. A democracia teria sempre natureza classista? Existe “democracia pura”?

Marx e Engels, no início de sua trajetória, enxergavam as virtudes da democracia liberal e da política eleitoral. Imaginavam que a conquista do voto universal na Inglaterra poderia ser o caminho para a supremacia política das classes trabalhadoras. A partir do desenlace da Comuna de Paris, em 1971, há uma clara mudança de paradigma. Em “Crítica ao Programa de Gotha” e outros textos já aparece a menção ao termo “ditadura do proletariado”, construída a partir de uma revolução.

De Adolf a Donald - Luiz Gonzaga Belluzzo*

CartaCapital

Malgrado as diferenças históricas, são inequívocas as semelhanças entre os programas econômicos de Trump e do nazismo

As promessas e ameaças de ­Donald Trump reproduzem episódios já vividos nos labirintos da economia global. Digo reproduzem para exprimir a incompatibilidade do factual imediato com a concepção que advoga a dinâmica das estruturas nas trajetórias das economias de mercado monetário-financeiras capitalistas.

A mais conhecida e dolorosa reestruturação daquilo que, parodiando ­Schumpeter, poderíamos chamar de Ordem Capitalista começou a se desenvolver a partir dos anos 30 e encontrou seu apogeu nas duas primeiras décadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial. Essa reordenação foi uma resposta aos desastres provocados pelas “falhas” do mercado autorregulado, agravadas pelo apego dos governos a políticas fiscais e monetárias conservadoras. Essa miopia liberal-conservadora suscitou violentas reações de autoproteção da sociedade assolada por desgraças como o desemprego em massa, o desamparo, a falência e a bancarrota.

A primeira crise - André Barrocal

CartaCapital

Sidônio Palmeira assume a Secretaria de Comunicação em meio às mentiras sobre o Pix

Lula teve três marqueteiros diferentes nas eleições que venceu, todos baianos. Só o último deles se tornou ministro. Sidônio Palmeira, de 66 anos, assume a Secretaria de Comunicação Social da Presidência com o desafio de melhorar o ibope de Lula e do governo. Em suma, mostrar à população as realizações presidenciais desde 2023, e de modo convincente. “O objetivo primeiro é fazer que a comunicação chegue na ponta”, diz Palmeira, que se diz preocupado com o tamanho da expectativa depositada sobre seus ombros. No discurso de posse na terça-feira 14, citou outra missão: enfrentar o “faroeste digital”. “A mentira nos ambientes digitais, fomentada pela extrema-direita”, declarou, “cria uma cortina de fumaça da vida ­real, manipula pessoas inocentes e ameaça a humanidade.”

Poesia | Tenho tanto sentimento, de Fernando Pessoa

 

Música | As 10 Melhores de Chico Buarque