segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Chuvas revelam despreparo de SP para alagamentos

O Globo

A outrora terra da garoa virou cidade das enchentes. Obras preventivas e planejamento são urgentes

Outrora chamada terra da garoa, São Paulo se transformou numa cidade de alagamentos. A qualquer chuva mais forte, surgem inundações com vítimas e perdas materiais. Entre dezembro e janeiro, os temporais mataram 17 pessoas. A cidade é repleta de encostas e ocupações irregulares à margem de rios, córregos e represas, áreas mais atingidas nas enxurradas.

O perigo não está apenas na periferia. O temporal que desabou sobre São Paulo dias atrás matou o pintor Rodolpho Tamanini Netto em sua casa na Vila Madalena, bairro nobre, quando um carro levado pela enxurrada destruiu uma porta de contenção, e a água subiu 2 metros dentro da casa. Por uma trágica ironia, uma das obras de Tamanini é “A enchente”, quadro pintado com cenas que ele presenciava da janela. Além dele, morreram uma criança de 7 anos, arrastada quando brincava na rua noutro bairro, e o motociclista Bruno Anselmo Santana, ao cair num córrego.

O que dizem os ventos do Norte – Fernando Gabeira

O Globo

É muito provável que a visão dominante entre as big techs conte com uma futura impossibilidade da vida na Terra

A coalizão das big techs com o governo Trump é um tema inesgotável. Estava precisamente pensando nelas quando estourou o caso da DeepSeek, startup chinesa que fez as empresas de tecnologia dos Estados Unidos e da Europa perderem US$ 1 trilhão em valor de mercado porque demonstrou que pode fazer mais na inteligência artificial com menos dinheiro.

A empresa chinesa tem seus pontos vulneráveis, e um deles é não responder a questões políticas proibidas pelo Partido Comunista. Mas não deixa de ser um incentivo para os que têm condições de buscar um caminho autônomo.

Quando aconteceu esse pequeno terremoto no Vale do Silício, eu refletia sobre uma frase enigmática de Elon Musk na posse de Donald Trump. Ele disse que a conquista de Marte salvaria a civilização. Já mencionei o desejo de Trump pela Groenlândia e cheguei à conclusão de que talvez ele não seja tão negacionista assim. Musk, que produz carros elétricos, conta com a colonização do espaço como alternativa ao nosso planeta.

Trump, Pavlov – Demétrio Magnoli

O Globo

Decisão de abolir os programas federais de inclusão é armadilha pavloviana dirigida aos 'progressistas'

O russo Ivan Pavlov (1849-1936), pioneiro do condicionamento clássico, tornou-se célebre por suas experiências com a mudança comportamental de cães. Donald Trump aplica os mesmos princípios de estímulo e resposta na moldagem do debate público. Sua decisão de abolir os programas federais de DEI é uma armadilha pavloviana dirigida aos “progressistas”.

Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI), eufemismo cunhado nos Estados Unidos para designar a expansão universal de políticas identitárias, abrange uma coleção sempre crescente de “minorias”: negros, latinos, indígenas, mulheres, trans et alii. O amplo guarda-chuva recobre universidades, empregos públicos e privados, instituições sociais, eventos culturais e até Hollywood.

A tempestade perfeita – Preto Zezé

O Globo

As políticas comerciais que serão adotadas nos Estados Unidos em nada favorecem os mais pobres daqui

Muitos prefeitos estão se esforçando para ajustar a máquina que receberam de seus antecessores. A maioria alega caixa baixo e reclama da falta de recursos. O município é a ponta onde tudo acontece.

A onda Trump parece tomar conta do Brasil, como se tudo que ocorresse nos Estados Unidos ocorresse aqui também. Grupos extremistas ou da direita têm simpatia por ele, mesmo sendo eleitos e vivendo no Brasil.

Do ponto de vista econômico, o cerne da questão, os americanos pensam primeiro na América. As políticas comerciais que serão adotadas lá em nada favorecem os mais pobres daqui, embora pareça que tudo será uma maravilha para os políticos alinhados com Trump no Brasil.

Com uma única canetada, Trump saiu da Organização Mundial da Saúde, cortou programas, e sua próxima tacada é reduzir recursos e investimentos em organizações internacionais e programas sociais que poderiam beneficiar comunidades vulneráveis, incluindo as favelas.

O que o nacionalismo da extrema direita quer - Camila Rocha

Folha de S. Paulo

Apelo à ideologia política se fortaleceu nos últimos anos

O apelo ao nacionalismo se fortaleceu na extrema direita nos últimos anos. Em uma comparação dos discursos de posse de Donald Trump em 2017 e 2025, a pesquisadora Sofia Azevedo aponta a substituição da centralidade do uso da palavra "povo", em 2017, para a palavra "nação" em 2025.

A prática não foi diferente do discurso. Para além da taxação de parceiros comerciais dos Estados Unidos, e das deportações de imigrantes em aviões militares, mais caras do que voos de primeira classe para o mesmo destino, Trump decidiu comprar uma briga com a Constituição do país sobre quem tem direito de ser cidadão nos Estados Unidos.

Para o presidente recém-empossado, bebês nascidos em solo americano não devem mais ser considerados automaticamente cidadãos americanos. Em uma audiência que ocorreu três dias após a emissão da ordem executiva que acabaria com tal direito, o juiz federal John C. Coughenour, que bloqueou temporariamente o plano de Trump, disse que a ordem é "flagrantemente inconstitucional".

‘Se eles são famosos, sou napoleão’ - Marcus André Melo

Folha de S. Paulo

A teoria do louco e os novos líderes populistas que recolocam na agenda questões sobre racionalidade na política

O surgimento de novos líderes populistas recoloca na agenda questões sobre a racionalidade na política. Líderes como Trump, Chávez e AMLO apelam para a retórica grandiloquente e/ou tradições que se julgava sepultadas desde o pós-guerra: MAGA, bolivarianismo, quarta transformação. E fazem propostas tresloucadas. Mesmo quando derrotadas ou se mostram inexequíveis, elas sinalizam indignação com o statu quo e autenticidade. E assim geram ganhos políticos. Mas há mais em jogo, sobretudo no plano internacional.

Lula vai se submeter ao Centrão? - Carlos Pereira

O Estado de S. Paulo

Centrão dá o tom na eleição para as casas legislativas e deixa governo Lula em posição delicada

A eleição para os novos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado foi, por um lado, livre de surpresas. Todos sabiam que o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) e o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) seriam eleitos com grande folga. Mas, por outro lado, gerou um cenário cheio de incertezas para o governo Lula no Legislativo.

Lula foi “obrigado” a engolir as candidaturas de Motta e de Alcolumbre, e sua participação no processo foi meramente confirmatória da preferência dominante do Legislativo, incorporada pelos partidos do Centrão.

Por que o Executivo teve um papel tão marginal na eleição de peças-chave no Legislativo que pode interferir diretamente na sua própria governabilidade?

Os desafios para a atividade econômica em 2025 - Sergio Lamucci

Valor Econômico

PIB deve ter desaceleração mais forte a partir do segundo trimestre, num ambiente marcado pelo quadro externo adverso e incertezas fiscais que pressionam juros

A economia brasileira terminou 2024 num ritmo mais fraco do que nos três trimestres anteriores, e a desaceleração da atividade tende a continuar ao longo de 2025, embora a agropecuária deva levar o PIB a um crescimento expressivo no período de janeiro a março. Juros altíssimos e o esgotamento dos estímulos fiscais e de crédito afetarão especialmente os segmentos mais cíclicos da economia, como a indústria de bens de consumo duráveis e grande parte dos serviços, avalia a economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). Como pano de fundo, além do cenário externo mais adverso, as incertezas sobre as contas públicas tendem a manter o dólar e os juros de longo prazo em níveis ainda muito elevados, turvando o quadro econômico neste ano.

Coronelismo, trator e voto na nova República - Bruno Carazza

Valor Econômico

Davi Alcolumbre e Hugo Motta são a nova geração do velho coronelismo brasileiro

Às margens da rodovia Josmar Chaves Pinto, que liga a capital Macapá ao balneário de Fazendinha e ao movimentado porto de Santana, situa-se a sede da superintendência da Codevasf no Estado do Amapá.

Sim, a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco tem uma de suas “filiais” a mais de 3.100 km da nascente do rio, localizada na Serra da Canastra, em Minas Gerais, e 2.600 km distante da sua foz, na divisa entre Alagoas e Sergipe.

Um dos primeiros experimentos brasileiros de desenvolvimento regional, a Codevasf foi concebida na Constituição de 1946 tendo como inspiração a Tennessee Valley Authority, uma das prioridades do New Deal do presidente americano Franklin Delano Roosevelt para levar infraestrutura e fomentar a economia da região mais pobre dos Estados Unidos. A ideia era reproduzir no Nordeste brasileiro a estratégia de, a partir de uma hidrelétrica (a usina de Paulo Afonso, na Bahia), prover energia, irrigação e navegabilidade para uma das áreas mais atrasadas do país na época.

Entrevista | Maria Hermínia Tavares: ‘Problema do governo não é o Centrão, é que ele não tem foco’

César Felício / Valor Econômico

Para Maria Hermínia Tavares de Almeida, falta marca administrativa para a gestão Lula

As vitórias retumbantes de Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) para as presidências da Câmara e do Senado não representam ameaça à governabilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na etapa final de seu mandato, na visão da cientista política Maria Hermínia Tavares de Almeida.

“O Centrão é conservador. Sempre esteve no governo, qualquer governo, de Sarney até agora. Então não tem problema de governabilidade, tem problema de capacidade de negociação”, diz a professora emérita da USP e pesquisadora do Cebrap.

Maria Hermínia vê no próprio Palácio do Planalto o principal desafio político de Lula no momento. “O problema do governo, a meu juízo, é menos o fato de o Congresso ser majoritariamente de direita. O problema do governo é que eu acho que ele não tem foco”, afirma.

Maria Hermínia diz que a negociação com o Congresso Nacional seria mais fácil se o governo tivesse prioridades claras. A impositividade do Orçamento e o crescimento do peso das emendas parlamentares, por si só, não comprometem a ação do governo. “Eu acho que há sim espaço para negociar, desde que o governo tenha clareza em relação ao que quer”, comenta.

O Centrão sempre esteve no governo. Não tem problema de governabilidade, tem problema de capacidade de negociação”

Para a cientista política, falta uma marca administrativa para a gestão de Lula, que classificou como “morna”. “O governo é muito titubeante. Ele quer falar para uma faixa de brasileiros que está um pouco acima da pobreza extrema, mas o que ele está dizendo de fato?”, indagou.

A seguir, os principais trechos da entrevista ao Valor:

Lula lidera em todos os cenários de primeiro e segundo turnos, mostra pesquisa Genial/Quaest

Rafael Rosas / Valor Econômico

Desempenho do atual presidente supera o dos concorrentes num momento de queda em sua popularidade

O atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, venceria todos os candidatos da oposição em primeiro e segundo turnos caso a eleição fosse hoje. É o que mostra a pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta segunda-feira (3). A pesquisa faz parte do levantamento divulgado na semana passada, que mostrou que pela primeira vez a reprovação do governo Lula foi maior do que a aprovação.

Mesmo com a reprovação em alta, Lula sairia vitorioso em todos os cenários, inclusive de nomes acrescentados recentemente à pesquisa, casos do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) e do cantor sertanejo Gusttavo Lima (sem partido).

Foram traçados quatro cenários para o primeiro turno e seis para o segundo na pesquisa estimulada. No primeiro turno, a Quaest listou oito candidatos: Lula; o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); Gusttavo Lima; o influenciador Pablo Marçal (PRTB); Eduardo Bolsonaro (PL); o ex-ministro Ciro Gomes (PDT); o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo); e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União).

No primeiro turno, Lula venceu nos quatro cenários, com percentuais que variaram entre 28% e 33%.

Poesia | Homem comum – Ferreira Gullar

Sou um homem comum
de carne e de memória
de osso e esquecimento.
Ando a pé, de ônibus, de táxi, de avião
e a vida sopra dentro de mim
pânica
feito a chama de um maçarico
e pode
subitamente
cessar.

Sou como você
feito de coisas lembradas
e esquecidas
rostos e
mãos, o guarda-sol vermelho ao meio-dia
em Pastos-Bons,
defuntas alegrias flores passarinhos
facho de tarde luminosa
nomes que já nem sei

Música | Paulinho da Viola - Portela Feliz (Zé Kéti)