Folha de S. Paulo
Maior integração econômica ajudou a tirar da
miséria milhões de pessoas em países emergentes
A esquerda brasileira sempre bateu na
globalização. Fazia-o, creio, porque esse movimento era parte do chamado consenso
de Washington, o que vale dizer que era uma manifestação do imperialismo
ianque.
Na prática, porém, a globalização é um dos ingredientes da notável redução da desigualdade mundial. Entre 1990 e 2020, o coeficiente de Gini do planeta passou de 70 para 60,6. Quanto mais esse número se aproxima de 100, mais concentrada é a renda. A queda foi puxada pela diminuição da desigualdade entre países. O Gini que compara nações foi de 60 para 47,1 no mesmo período.
Não estamos aqui falando de abstrações
estatísticas. No mundo real, a transferência de postos de trabalho dos países
ricos para os emergentes tirou milhões de pessoas da miséria, especialmente
na China.
Outra faceta desse fenômeno aparece na
redução da proporção de terráqueos vivendo em pobreza extrema, que passou de
36,22% em 1990 para 9,18% em 2017. Historicamente, a pobreza extrema foi uma
fiel companheira da humanidade. O índice só passou a patamar inferior a 50% em
1970.
Não vejo como a esquerda, pelo menos a
esquerda internacionalista, poderia deixar de aplaudir esse movimento.
Daí não se segue, é claro, que a batalha
esteja ganha. A pobreza não extrema ainda é prevalente no mundo, e a própria
globalização, apesar de um resultado positivo, também produziu efeitos
colaterais adversos.
O mais notável deles é que o enriquecimento
de emergentes se deu principalmente à custa de setores da classe média de
países ricos, que viram seus bons empregos na indústria migrarem para outras
nações.
Essa população sentiu-se deixada para trás
(os ricos de muitos desses países ficaram ainda mais ricos), o que gerou o
ressentimento que hoje ajuda a eleger líderes de extrema direita como Donald Trump.
A globalização agora sai de cena para dar
lugar a um mundo de guerra
tarifária. É pena, porque quanto menos integradas são as economias dos
países menos riqueza é produzida e distribuída, ainda que imperfeitamente.
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