quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Supremo deveria suspender restrição à polícia em favelas

O Globo

Existem instrumentos eficazes para reduzir letalidade sem que policiais sejam impedidos de cumprir seu papel

Não é de hoje que o Rio de Janeiro enfrenta crise gravíssima na segurança pública. Diariamente a população fluminense é obrigada a conviver com guerras entre quadrilhas, tiroteios, balas perdidas, arrastões ou fechamento de vias. Não há solução para o problema que não seja o combate sem trégua às organizações criminosas dominantes em comunidades da Região Metropolitana. E não há como combatê-las sem que a polícia possa fazer seu trabalho. Impedi-la de agir significa piorar a situação.

Por isso o Supremo Tribunal Federal (STF) deveria alterar seu entendimento na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, a ADPF das Favelas, cujo julgamento começou ontem. A decisão, tomada em 2020, restringiu operações policiais em comunidades fluminenses. Embora bem-intencionada por tentar reduzir a letalidade policial, criou outro problema: ao impor limites às operações, engessou o trabalho da polícia. O relator, ministro Edson Fachin, defendeu as restrições: “Dados concretos refutam a tese de que a brutalidade do Estado possa produzir resultados efetivos para a segurança pública”.

Entrevista | Haddad sobre o ministério: 'Aqui tem fogo amigo, fogo inimigo, fogo para todo o gosto'

Míriam Leitão / O Globo

O ministro Fernando Haddad admite que tem dias difíceis no Ministério da Fazenda, mas promete ficar até o final do governo no cargo e brinca sobre o “fogo amigo”. Em entrevista longa, o ministro falou de dólar, juros, reformas, inflação. Veja abaixo a íntegra da entrevista.

O senhor hoje (quarta-feira) esteve com o presidente da Câmara dos Deputados, apresentando as prioridades do Ministério da Fazenda, da parte econômica. Uma questão foi a Reforma da Renda. O senhor disse que os parâmetros já foram conversados: isenção até R$ 5 mil de renda e tributação no topo. A minha pergunta é se incluirá outras questões do Imposto de Renda? Por exemplo, Imposto de Renda pessoa jurídica, imposto sobre dividendos, isso vai estar no pacote da reforma da renda?

Fernando Haddad: Existe hoje um comando constitucional do Congresso Nacional determinando que o governo encaminhe uma Reforma da Renda. Infelizmente, nós ainda figuramos entre os dez países mais desiguais do mundo.

A reforma (tributária) sobre o consumo, que entra em vigor em 2027, corrige boa parte dessas distorções. Uma delas é a cesta básica, que foi ampliada, e a segunda iniciativa é o mecanismo do cashback. A pessoa que está no Cadúnico e fez suas compras, aquilo que ela pagou de imposto sobre o consumo, tem o imposto devolvido automaticamente na sua conta.

Faroeste em Brasília - Malu Gaspar

O Globo

A levar em conta apenas a superfície dos discursos dos presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal (STF) na abertura dos trabalhos em Brasília, está tudo numa ótima. Diante dos microfones, os chefes dos três Poderes se mostraram cheios de boa vontade uns com os outros, pregando harmonia, pacificação e respeito à democracia. Por trás dos sorrisos e apertos de mão para fotos, porém, o cenário está mais para um filme de faroeste em que os caubóis fazem cara de paisagem enquanto engatilham as armas nos bolsos das calças.

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), eleito com apoio do governo e da oposição sem precisar fazer nenhuma promessa, começou o mandato empunhando a Constituição, dando vivas à democracia e lembrando “Ainda estou aqui”. Logo ficou claro que seu principal alvo não será o golpismo dos bolsonaristas ou dos militares, e sim o Supremo Tribunal Federal e a ação pelo aumento da transparência nas emendas parlamentares.

Emendas estressam a relação entre Congresso e Supremo – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Estava escrito nas estrelas que as emendas parlamentares, sem transparência e rastreabilidade, se tornariam caso de polícia. Mas são como pasta fora do tubo

A 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) marcou para 25 de fevereiro o julgamento da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra os deputados Josimar Maranhãozinho (PL-MA), Pastor Gil (PL-MA) e Bosco Costa (PL-SE), acusados de desviar recursos das emendas parlamentares. Os três pediram propina aos prefeitos dos municípios beneficiados pelas emendas. Dezenas de parlamentares estão sendo investigados em sigilo de Justiça por causa de suspeitas de irregularidades das chamadas emendas secretas.

Esse julgamento deve aumentar a tensão já latente no Congresso entre os caciques da Câmara e do Senado e o STF, em razão da suspensão da execução de emendas parlamentares pelo ministro Flávio Dino, por falta de transparência. Os presidentes de Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), pretendem se reunir com o presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, para buscar uma solução para o impasse envolvendo as emendas parlamentares.

É preciso reduzir a jornada de trabalho - Ricardo Patah

O Globo

Lucro pode crescer nas organizações que dão aos trabalhadores condições de equilibrar vida pessoal e profissional

Não dá mais. Temos que mudar. Os trabalhadores de comércio e serviços são massacrados por uma carga de mais de 12 horas diárias, entre atividades nas empresas e ida e volta para casa. Quase todos são enquadrados na escala 6x1 (trabalham seis dias e folgam um), esquema implantado por Getúlio Vargas em 1943, quando a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) foi publicada.

Eles quase não têm descanso, não encontram tempo para o lazer, não conseguem estudar e mal encontram a família. O único dia de folga na semana, quase sempre, é usado para preparar o retorno e reiniciar esse “inferno”. Na prática, a escala 6x1 oficializa um esquema de trabalho análogo à escravidão. E isso em pleno século XXI, quando a tecnologia invade todos os setores da economia, especialmente com o desenvolvimento da inteligência artificial (IA).

América de Trump, Estado fora da lei - Joel Birman

O Globo

Estados Unidos podem expulsar os imigrantes ilegais, sem documentação. Mas pela mediação de uma instância jurídica

Ao fazer o seu discurso de posse como novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump enunciou o início de uma “era de ouro” para o país, com o intuito de tornar a “América grande novamente”, se contrapondo assim à “decadência” promovida no país pela administração Biden. Além de humilhar publicamente este, presente à cerimônia, com desprezo e crueldade incomuns, Trump começou a delinear sua política contra a imigração, marcada por virulência e fúria inéditas.

Logo em seguida iniciou-se a caça implacável a imigrantes em todo o país. Os agentes do governo passaram a bater de porta em porta em busca deles em suas casas, além de persegui-los em escolas, igrejas e possíveis locais de trabalho. Ao lado disso, imigrantes evitavam falar em suas línguas de origem para não ser denunciados, presos e enviados imediatamente ao país de nascimento. Portanto uma atmosfera pestilenta de caça às bruxas foi instituída em larga escala, para expulsá-los violentamente do território americano.

Disrupção de Trump ameaça lançar EUA e o mundo no caos - Humberto Saccomandi

Valor Econômico

Em apenas duas semanas, presidente dos EUA possivelmente causou mais do que no primeiro ano inteiro de seu governo anterior

Quase todo mundo esperava que o governo de Donald Trump nos EUA fosse disruptivo. Mas poucos esperam o nível atual de disrupção. Em apenas duas semanas, Trump possivelmente causou mais do que no primeiro ano inteiro de seu governo anterior. Muitas medidas serão questionadas na Justiça americana. Outras talvez sejam irrealizáveis. Mas tudo isso acaba criando expectativas, que movem os mercados e influenciam as decisões e ações de indivíduos, empresas e governos.

A disrupção, isto é, a ruptura de uma atividade, uma prática, um modo de pensar, não é negativa em si. Pode trazer novas abordagens para velhos problemas, permitir avançar em questões que estavam paralisadas devido a posições endurecidas, pode gerar inovação e tirar pessoas, grupos, empresas ou países de suas zonas de conforto.

Bancos centrais operam no escuro - Maria Clara R. M. do Prado

Valor Econômico

A depender do que for efetivamente implementado por Trump, o nível da taxa de juros de curto prazo definido hoje poderá estar totalmente fora do esquadro da realidade econômica

O vai e vem do governo dos Estados Unidos quanto à imposição de tarifas sobre as importações, com ameaças, decisões e recuos, continua a mexer com o mercado de câmbio. O dólar perdeu valor face às demais moedas nos últimos dias com dúvidas sobre a dimensão das tarifas que Donald Trump pretende impor aos produtos estrangeiros. Essa tem sido a causa dos ganhos recentes do real. A expectativa de que um “tarifaço” norte-americano não seja de fato implementado fez a taxa de câmbio cair de R$ 6,07 por dólar em 20 de janeiro (dia da posse) a R$ 5,79 no fechamento de ontem.

Em um mesmo dia, 3 de fevereiro, o dólar atingiu R$ 5,90 antes de recuar para R$ 5,81 no fechamento, com o anúncio de postergação por 30 dias da taxação dos produtos importados do México e do Canadá pelos EUA.

Gaza, Embraer, deportados e as regras do jogo - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Brasil tem buscado se equilibrar frente à atuação Trump pelas “regras do jogo”. A dúvida é se será possível segurar a peteca com um presidente que nem jogo quer

Depois da ameaça sobre a Groenlândia, Canadá, Golfo do México e Canal do Panamá, Donald Trump chegou ao píncaro com a ideia de que pretende remover os palestinos da Faixa de Gaza para transformá-la numa “Riviera do Oriente Médio”. Por estapafúrdia, a proposta mereceu amplo e irrestrito rechaço da comunidade internacional, aí incluído o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que classificou-a de “bravata sem sentido”.

No mesmo dia da declaração de Trump, a Embraer fechou a maior venda da história para a empresa americana líder da aviação executiva nos EUA, Flexjet. Serão 182 jatos num contrato estimado em US$ 7 bilhões. Foi a maior encomenda da Flexjet e a maior venda de jatos executivos da Embraer na história de ambas as empresas. Há anos a Embraer tenta fechar um contrato para a aviação regional chinesa, sem sucesso.

Governo sem foco nem luz - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

As dificuldades são de três tipos: institucionais, políticas e de clareza de objetivos

O presidente Lula chega à metade de seu mandato carente do entusiasmo que despertou no passado.

Recente pesquisa Genial/Quaest mostra queda da aprovação do seu trabalho; pela primeira vez, desde 2023, mais entrevistados o desaprovam. A perda de apoio é significativa por também ocorrer entre seus eleitores fiéis.

Os bons indicadores econômicos —crescimento do PIB e do emprego— não amainaram as críticas dos formadores de opinião que duvidam de sua sobrevida a médio prazo. O aumento do preço dos alimentos parece impedir que aqueles resultados se traduzam em sensação de melhoria para os muitíssimos que vivem com dinheiro contado.

Nenhuma iniciativa do governo tem conseguido erguer o ânimo popular. Muito menos o das elites que desconfiam do mandatário e de seu partido.

Confiança na economia cai – Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Ânimo de consumidores e empresários baixa em janeiro, apesar de bom resultado de 2024

A confiança na economia caiu de modo disseminado em janeiro, a julgar pelos indicadores das pesquisas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre). Foi assim com a confiança do consumidor e também com os ânimos das empresas do comércio, da construção, da indústria e dos serviços. Também baixou o indicador antecedente de emprego.

A confiança baixou para níveis de 2023 e, no caso de serviços, para 2021. Não quer dizer que estejam definidas as cartas da economia neste ano. Pode haver flutuações temporárias de ânimos. Não há relação direta entre o tamanho da baixa do humor e o do ritmo da atividade econômica. Ainda assim.

Preces atendidas - William Waack

O Estado de S. Paulo

A desordem internacional explicitada por Trump é perigosa para o Brasil

É bem provável que o próprio Donald Trump não compreenda o que significa a “lei da selva”, o “novo” sistema de relações internacionais. Esse tipo de situação nada tem de novo, mas é a primeira vez que a desordem mundial é incentivada por uma superpotência num ambiente de arsenais nucleares em clara expansão.

O fato de que os fortões estão passando a se comportar como bem entendem apanha o Brasil num momento particularmente delicado. Também isso nada tem de novo: o País é uma potência regional média com escassa capacidade de projeção de poder, e perdendo influência no seu próprio entorno.

Sua principal vulnerabilidade é o fato de que as elites políticas brasileiras nunca se preocuparam em estabelecer um projeto de país que levasse a sério questões de segurança e defesa nacionais. Preocupações estratégicas de longo prazo se restringem ao âmbito acadêmico civil e militar. Chegaram ao segmento industrial privado em raras situações (a Embraer é o destaque).

Cesarismo - Eugênio Bucci

O Estado de S. Paulo

Donald Trump quer ser não apenas o rei da América, mas o seu César. Reduzirá a América a um nome de golfo. Isolado.

Em sua coluna dominical em O Globo, a jornalista Dorrit Harazim vem ajudando a gente a escrutinar o inconcebível. Os artigos que ela escreveu sobre a pulverização de Gaza compõem uma antologia definitiva. Logo mais, alguém se lembrará de publicá-la em livro. Agora, Dorrit tem decifrado a vulgar esfinge de Donald Trump. No domingo passado, num texto intitulado Com método, ela demonstrou que, por trás do caos performático do presidente dos Estados Unidos, com mentiras intercontinentais e factoides histriônicos, há uma lógica ferina e fria. Nas palavras da colunista do Globo, o “objetivo maior e final de Trump” é “assumir controle pleno, sistemático e duradouro da máquina federal”. E mais: “o conjunto de ordens executivas e medidas adotadas nesse sentido nada tem de caótico – são eficazes, precisas e reveladoras de um planejamento de anos para o desmonte da burocracia qualificada”.

Entrevista | Marcello Faulhaber: 'Economia e direita esfacelada tornam Lula favorito para 2026'

Por Thiago Prado / O Globo

A temporada de projeções sobre a eleição de 2026 continua e chegamos à segunda entrevista da nossa série com estrategistas políticos e donos de institutos de pesquisas para avaliar as chances de Lula conseguir seu quarto mandato.

Desta vez, falamos com Marcello Faulhaber, o coordenador das últimas campanhas de Eduardo Paes no Rio, que vai contra a corrente das falas dos últimos sete dias. Economista, Faulhaber também esteve no núcleo de estratégia da campanha de Lula contra Jair Bolsonaro em 2022, ao lado do atual Secretário de Comunicação do Planalto, Sidônio Palmeira.

Na semana passada, Renato Pereira, o novo marqueteiro do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), cravou para o Jogo Político que a próxima corrida ao Planalto será de mudança. Foi o mesmo espírito da fala do presidente do PSD, Gilberto Kassab, que disse que Lula perderia a disputa se ela ocorresse hoje.

Faulhaber está mais alinhado a outra linha de pensamento, que se fortaleceu nesta semana, após a divulgação da pesquisa Quaest colocando o petista na frente dos adversários de direita em todos os cenários analisados.

Destaco dois artigos na imprensa que também enxergam Lula como favorito. Nesta terça-feira, no GLOBO, o editor-executivo Paulo Celso Pereira escreveu que será difícil derrotar o PT em 2026: "Lula tem a máquina pública a seu favor, o maior partido do país, o segundo maior fundo eleitoral e controla o tempo". Na "Veja", Thomas Traumann foi pelo mesmo caminho em texto da última segunda-feira: "Lula terá a máquina federal nas mãos. Apenas o ex-presidente Jair Bolsonaro conseguiu perder uma eleição estando no cargo. Do lado da oposição, há muita vaidade e pouca organização".

Abaixo, os principais trechos da conversa com Faulhauber.

Poesia | 10 poemas brasileiros famosos

 

Música | Casuarina e Teresa Cristina - Dia de Graça (Candeia)