Infiltração do crime na polícia impõe reação coordenada
O Globo
Prisão de policiais em São
Paulo demonstra que governos precisam agir unidos contra facções criminosas
O assassinato do corretor de
imóveis Antônio Vinícius Gritzbach em novembro, quando desembarcava no
Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo,
foi um aviso. Na última semana, uma operação da Polícia Federal (PF) e do
Ministério Público (MP) prendeu quatro policiais civis (entre eles um delegado)
que Gritzbach mencionara em delação premiada, por suspeitas de extorsão e
envolvimento com o crime organizado. “Caso os elementos colhidos até o momento
sejam confirmados na investigação em curso, pode-se afirmar que o Brasil
tornou-se um narcoestado”, afirmou o juiz Paulo Fernando Deroma de Mello ao
determinar as prisões.
As suspeitas justificam a preocupação. Gritzbach se especializara em lavar dinheiro para a organização criminosa PCC por meio de negócios imobiliários. No acordo de delação premiada assinado em março com os promotores do Grupo de Atuação Especial do Combate ao Crime Organizado (Gaeco), ele se comprometeu, em troca de redução nas penas, a contar o que sabia sobre o PCC e a conivência de autoridades com o crime. Acusou os quatro policiais presos na última semana de envolvimento num esquema para cobrar propina para não prender integrantes do PCC. Mostrou documentos comprovando a apropriação de um sítio de origem criminosa por dois deles. Gritzbach também acusou um quinto policial — ainda foragido — de se apropriar de bens de luxo. Os suspeitos negam as acusações.