sábado, 21 de dezembro de 2024

Feliz Natal!





O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Congresso é sócio do Executivo na piora da economia

O Globo

Ao aliviar pacote de controle de gastos, parlamentares ignoram a gravidade da crise e ampliam seu custo no futuro

Para estabilizar a dívida pública, o Brasil precisaria de um ajuste fiscal da ordem de R$ 300 bilhões no Orçamento. No primeiro ano do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o valor ficou em R$ 30 bilhões e, no segundo, em R$ 40 bilhões. O pacote fiscal enviado ao Congresso em novembro, se tivesse sido aprovado sem modificações, promoveria um corte médio anual da ordem de R$ 35 bilhões. Depois de votações na Câmara e no Senado, o que já era ruim ficou pior. Demonstrando tibieza, os congressistas desidrataram várias medidas propostas. Tiraram força do corte de despesas sem aprovar alternativas. Fingiram desconhecer a gravidade do momento e só adiaram para 2025 o enfrentamento da grave crise fiscal. Se até agora o descaso com as contas públicas poderia ser atribuído sobretudo ao Executivo, ele passa a ter um sócio de peso: o Congresso Nacional.

É certo que ajustes fiscais costumam ser feitos em etapas, mas o gradualismo imposto pelo Parlamento é irreal. No texto enviado ao Congresso, o governo solicitava poder para bloquear ou contingenciar até 15% das emendas parlamentares em caso de necessidade. Nada mais lógico. Por que manter o Parlamento fora do esforço para buscar o equilíbrio? Sem apresentar nenhum argumento convincente, os congressistas enfraqueceram a proposta: somente as emendas de comissão poderão ser bloqueadas.

Da contracultura à nova direita - Pablo Ortellado

O Globo

Um dos desenvolvimentos mais surpreendentes da política americana nos últimos meses foi a inesperada aliança entre o movimento de bem-estar e o trumpismo. Esse alinhamento se evidenciou com o apoio de Robert Kennedy Jr., candidato independente e crítico das vacinas, a Donald Trump, culminando com sua nomeação como secretário de Saúde do novo governo.

Bem-estar (wellness) é um termo coringa para identificar um conjunto de práticas e preocupações com a saúde e o bem-estar que podem incluir a medicina alternativa, a alimentação natural, práticas espirituais e o uso terapêutico de psicotrópicos. No passado, esse tipo de atividade era um componente importante da contracultura de esquerda, mas as reviravoltas da política têm empurrado essa subcultura para a direita.

Lula já superou uma crise fiscal – Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

Quadro atual é parecido com o de 2002. A diferença é a falta de vontade do presidente de aceitar e topar um ajuste mais forte

Em setembro de 2002, quando estava claro que Lula venceria as eleições, o dólar foi a R$ 4 — o equivalente a mais de R$ 8,50 de hoje. Os títulos da dívida do governo brasileiro eram negociados a 40% do valor de face. Estavam no cardápio dos títulos podres. Mesmo pagando caro, o Tesouro não conseguia colocar papéis novos no mercado em quantidade suficiente para rolar a dívida.

Era o governo FH, mas havia medo do futuro governo Lula. A retórica de campanha havia sido explosiva. Falava em moratória da dívida pública externa e interna. Com os tradicionais ataques ao Banco Central e aos especuladores da Avenida Paulista, a Faria Lima da época.

Lula já havia lançado a Carta ao Povo Brasileiro, em junho, documento em que prometia não romper contratos e assegurava que faria um governo responsável. Mas o documento era visto com desconfiança, como uma espécie de truque para enganar os eleitores do centro e, claro, o mercado.

É a lucidez, desatino – Eduardo Affonso

O Globo

Que o presidente abandone a ideia de empurrar com a barriga o ajuste e abjure a crença de que uma inflaçãozinha não dói

A melhor notícia do ano, até agora, veio num boletim médico do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, em 14/12. Nele, dois diretores garantiam que o presidente Lula estava “lúcido e orientado, alimentando-se e caminhando”, depois de passar por uma cirurgia de emergência.

Se Lula estava lúcido, acabariam os ataques ao Banco Central — algo como quebrar o termômetro para baixar a febre. Mas, no dia seguinte, em entrevista ao Fantástico, o presidente declarou que “a única coisa errada neste país é a taxa de juros”. Era uma recaída — a gente sabe que a lucidez não vem assim, de chofre, e podem sobrevir pequenos desatinos.

Cegueira deliberada - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Câmaras corporais de PMs deveriam ser do tipo que faz gravação ininterrupta, mas STF avança o sinal ao criar obrigação não prevista em lei

Não é preciso mais do que dois neurônios operacionais para perceber que as câmeras corporais da polícia devem ser do tipo que faz a gravação contínua.

Aparelhos que só filmam após acionamento pelo agente da lei talvez funcionem bem em países com boas polícias, mas este não é o nosso caso. Por aqui, precisamos é de mecanismos que evitem que maus PMs se valham de estratagemas, como deixar acabar a bateria, para impedir gravações que poderiam complicá-los.

A política de segurança pública de Tarcísio de Freitas é nada menos do que desastrosa. Sob comando do coronel Guilherme "a Rota é Muito Mole" Derrite, a secretaria da Segurança Pública parece ter emitido uma licença para matar, que parte dos PMs utiliza com alegria.

Nuvens turvas no horizonte – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Se Lula não mudar, 2025 será um ano difícil para seus planos eleitorais de 2026

Duas pesquisas divulgadas nos últimos dias, Datafolha e Ipec, trouxeram para o presidente Luiz Inácio da Silva (PT) a péssima notícia de que há um empate entre as avaliações positiva e negativa do governo: 35% a 34% em uma, 34% a 34% na outra.

Isso significa a metade do índice de 70% de popularidade medido em meados do segundo mandato, há 16 anos.

Para piorar, os índices são semelhantes aos marcados para Jair Bolsonaro (PL) na altura do mesmo período, em plena pandemia cheia de desacertos.

A réplica imaginária de Roberto Campos Neto - Demétrio Magnoli

Folha de S. Paulo

'Escrevo-lhe para externar a esperança que um dia o PT afaste-se do seu dogma econômico'

Prezada Gleisi Hoffmann,

Recebi sua carta com surpresa e alegria (shorturl.at/YEAQ1). Escrevo-lhe, também em caráter privado, para externar uma esperança e uma confissão.

A esperança: que um dia, finalmente, o PT afaste-se do seu dogma econômico. Nunca duvidei de sua inteligência, nem na de Lula ou dos demais dirigentes petistas. Não sou político, mas imagino que seja muito difícil rever artigos de fé. Contudo, o Brasil precisa disso.

Há tempos, o PT não é socialista –quanto mais comunista! De fato, talvez jamais tenha sido. Sou um conservador, mas reconheço no teu partido uma das mais relevantes correntes políticas nacionais. Já passa da hora de vocês atualizarem seu pensamento econômico, sem renunciar à alma de esquerda.

Do mau humor - Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

O governo comunica que é condescendente com a inflação. Mais: que a inflação faz parte dos planos. É o que informa Lula ao declarar que “a inflação está totalmente controlada”. Não se trata de delírio; antes de projeto. Projeto político eleitoral. Repetido.

O presidente informa que essa inflação que ganha corpo, estoura o limite máximo de tolerância da meta e mostra os dentes é aceitável, se a contrapartida for bancar até 2026 o voo de galinha do PIB.

Insegurança pública e suas consequências letais - Antonio Cláudio Mariz de Oliveira

O Estado de S. Paulo

A Polícia Militar de São Paulo não pode ter sua gloriosa trajetória maculada pelo estigma de ser uma corporação que mata inocentes

As forças que seriam de proteção social estão provocando eventos letais. São crianças, jovens, negros e pardos em sua maioria, velhos, trabalhadores, mulheres mães e avós que perdem a vida mesmo estando distantes do crime e sem terem participado de confrontos policiais. As mortes de uma criança em Santos e de um estudante desarmado em São Paulo, de um homem morto pelas costas e o abominável lançamento de alguém de uma ponte são as mais recentes tragédias. Segundo noticiou O Estado de S. Paulo, a Polícia Militar (PM) vitimou 496 pessoas no corrente ano.

Por que as forças de segurança, em nome do combate ao crime, estão matando? Os defensores das ações violentas dirão que são contingências inevitáveis desse combate. Será? Claro que não.

A sociedade e Rubens Paiva - André Gustavo Stumpf

Correio Braziliense

O governo Bolsonaro resgatou a turma dos serviços de inteligência que, na verdade, nunca se dissolveu. Continuou a existir de maneira mais ou menos clandestina dentro das organizações militares

A prisão do general Braga Netto é o mais visível sinal de que os militares no Brasil se envolveram profundamente na política nacional. A profusão de golpes e contragolpes ocorridos ao longo do século 20 no país é um claro indicativo de que a República, criada por militares, não convive bem com civis. Os paisanos terminam sendo atropelados pelas convicções ideológicas dos fardados. Foi assim em 1964, para ficar em apenas um exemplo, e radicalizado em 1968, quando o regime mostrou sua face autoritária com a decretação do Ato Institucional nº 5, que censurou a imprensa, suspendeu o habeas corpus, acabou com o direito de reunião, fechou o Congresso, cassou parlamentares e abriu as portas da repressão política. Centenas de brasileiros foram presos, torturados e mortos pelas forças de segurança.

O otimista é um ingênuo, o pessimista, um amargo - Marcus Pestana

Como diria Ariano Suassuna: “...prefiro ser um realista esperançoso”. Tarefa difícil no Brasil de nossos dias. O período que antecede o Natal gera um ambiente mais desanuviado e desperta nas pessoas esperança e desejo de renovação.  Mas 2024 foi um ano contraditório, repleto de boas e más notícias.

Vejamos o lado bom! Exorcizamos o fantasma do retrocesso político e consolidamos um pouco mais a nossa democracia, com o avanço das investigações sobre a tentativa de um golpe de Estado. As estimativas de crescimento econômico apontavam para uma variação do PIB de 1,5%, vamos fechar 2024 com 3,5%. Não é um ritmo como o da Índia ou Indonésia, mas é um crescimento para lá de bom, acima da estimativa do FMI para o crescimento mundial de 3,2%. Certamente a política fiscal expansionista que injetou renda na economia a partir das transferências governamentais teve um papel, apesar dos efeitos colaterais preocupantes.

Punição simbólica - Aldo Fornazieri

No caso de Braga Netto e outros líderes da tentativa de golpe, as penas precisam superar aquelas aplicadas aos invasores do 8 de Janeiro

Ao longo da história, os atos punitivos de grandes personagens do Estado quase sempre tiveram um caráter mais simbólico do que a simples aplicação da justiça, embora nas punições simbólicas a questão da justiça esteja presente, mas subsumida àquela primeira dimensão.

Na Atenas antiga, Péricles fez aprovar o ostracismo de Címon, herói da batalha de Salamina contra os persas. Foi também o principal dirigente da Liga de Delos, que garantia a hegemonia de Atenas sobre 150 cidades. A punição de ­Címon teve menos o sentido de justiçá-lo – foi acusado de ter traído a cidade em favor de uma aliança com Esparta – e mais o de conter a aristocracia que se opunha às políticas populares e sociais de Péricles. Como exemplo, puniu-se o maior líder da aristocracia. Parte importante das crucificações romanas também tinha objetivos simbólicos, assim como foram as execuções pela guilhotina na Revolução Francesa e a eliminação da família Romanov pelos bolcheviques da Revolução Russa.

Dólar vs. Real - Luiz Gonzaga Belluzzo

O centro do furacão é a estrutura financeira global monetariamente hierarquizada sob o poder do dólar

A continuada desvalorização do real nas últimas semanas deflagrou uma avalanche de opiniões a respeito do fenômeno monetário-financeiro internacional. Peço licença ao eventual leitor para sublinhar monetário-financeiro e internacional.

O pedido ao leitor deita raízes na sobrecarga de opiniões que se derramam em queixas que atribuem à irresponsabilidade fiscal os sucessivos e intensos declínios de valor do nosso real diante do patrono do sistema monetário internacional, Mister Dólar.

Incursões na história:

Poesia | Nada é impossível de mudar, de Bertolt Brecht

 

Nara Leão - Odeon