quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

A coreografia de Motta para se estabelecer ao centro - Fernando Exman

Valor Econômico

Centrão mostra para petistas e bolsonaristas que 2025 é visto como um ano de contenção, sem passos arrojados para a esquerda ou direita

Muitos convidados já estavam na festa oferecida por Hugo Motta após sua vitória na eleição para a presidência da Câmara, quando começou a circular a informação, à boca pequena, que o anfitrião ainda iria demorar um pouco a chegar. Um correligionário confidenciou: o deputado e alguns de seus aliados mais próximos estavam na casa de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

Soube-se depois que ocorrera o mesmo com o presidente recém-eleito do Congresso, Davi Alcolumbre, que organizara uma outra comemoração na residência oficial do Senado.

Mas nada que tenha incomodado os presentes em ambos os eventos. O forró rolava solto. Nos bastidores, contudo, a movimentação era mais sutil. Nas rodas de conversa, a reunião era vista como um primeiro gesto da nova cúpula do Congresso em direção ao Judiciário, o Poder que tem buscado dar mais transparência à execução das emendas parlamentares ao Orçamento, com o apoio envergonhado do Executivo, a despeito da resistência de deputados e senadores.

Nitroglicerina pura no caminho do Congresso - Lu Aiko Otta

Valor Econômico

Parlamentares terão de retomar este ano uma discussão sobre os critérios de repartição dos recursos do Fundo de Participação dos Estados, que se arrasta sem solução desde pelo menos desde a Constituição de 1988

Neste ano, o Congresso Nacional precisará retomar uma discussão que se arrasta sem solução desde pelo menos desde a Constituição de 1988: os critérios de repartição dos recursos do Fundo de Participação dos Estados (FPE). Decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2023 diz que as regras atualmente aplicadas só valem até 31 de dezembro de 2025.

O FPE é formado com parte das receitas do Imposto de Renda e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), dois tributos federais, e repartido entre os Estados para reduzir desigualdades. No ano passado, foi um bolo de R$ 149,8 bilhões que, para as unidades menos desenvolvidas da Federação, representou parcela importante das receitas.

Von der Leyen vê o mundo mais perigoso e 'tudo transacional' - Assis Moreira

Valor Econômico

Aponta tentativa concertada para construção de esferas de influência, e emergentes prontos a trabalhar com quem oferecer mais

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, o braço executivo da União Europeia (27 países), fez ontem o discurso anual para os embaixadores europeus, em Bruxelas. Dessa vez, ela disse que procurou refletir a necessidade urgente de entender o estado de mudança do mundo.

Aos diplomatas europeus por todos os cantos do planeta, ela destacou como ficou ultrapassada a imagem de um mundo indo na direção de mais cooperação e hiperglobalizado. O que se vê agora é que ‘os grandes medos estão de volta, desde o medo suscitado pelas mudanças climáticas, passando pela Inteligência Artificial, até o medo da migração ou simplesmente de ser deixado para trás. E isso também permeia os assuntos globais’, afirmou.

Dólar ainda mais forte? – Zeina Latif

O Globo

O cenário internacional, que muito preocupa, inclusive o Banco Central, talvez não seja tão ruim quanto se teme

É comum entre analistas a visão de que o dólar tende a se valorizar globalmente com a política econômica isolacionista de Donald Trump. A menor oferta de mão de obra, por conta da deportação em massa de imigrantes ilegais, e as tarifas sobre os importados produziriam uma inflação mais alta, ainda que temporariamente.

Para contê-la, o Fed manteria os juros em patamares elevados. O resultado seria o fortalecimento do dólar, por conta do diferencial de juros a favor da atração de capitais para os EUA.

Essa equação, porém, é bem mais complexa.

Quem ganhou a batalha dos bonés? - Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

É triste ver que a política se transformou em disputa de quem tem mais cliques, e não programas, nas redes

O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT), estava ao lado do presidente Lula, na manhã de ontem, quando a equipe do ministro da Comunicação Social, Sidônio Palmeira, entrou animada no gabinete do Palácio do Planalto. Nos oito segundos de gravação, com um mapa-múndi ao fundo, Lula não diz uma palavra, mas aparece, em efeito Boomerang, com um boné azul na cabeça.

Não era qualquer boné. Era o acessório que ganhou fama na disputa com bolsonaristas pelo conceito de patriotismo, na esteira da posse do presidente dos EUA, Donald Trump. Desta vez, no entanto, o bordão não foi importado como o Make America Great Again. “O Brasil é dos brasileiros”, destaca a inscrição.

A luta pelo Orçamento - Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

A queda de braço para comandar o maior quinhão dos recursos só deve se acentuar nos próximos anos

Na volta do recesso parlamentar, a votação do Orçamento de 2025 é o foco de curto prazo do Congresso e também de uma disputa que vem se acirrando nos últimos anos: o controle pela redistribuição das receitas tributárias entre o Legislativo e o Executivo. A luta pelo Orçamento está na origem de diversos momentos decisivos na história do Brasil, e, se o passado servir de referência, a queda de braço para comandar o maior quinhão dos recursos só deve se acentuar nos próximos anos.

“A disputa pelo Orçamento é praticamente perene na nossa história e, mesmo quando não é tão visível, ela existe, como em períodos autoritários, a exemplo da era Vargas”, diz o professor em história do Brasil na USP e autor do livro Entre oligarquias: as origens da república brasileira (1870-1920), Rodrigo Goyena. O Orçamento não foi só fonte de conflitos, mas também solução pacificadora para se evitar crises desestabilizadoras.

O circo político e Lula 4 - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Inflação, centrão no governo, emendas e julgamento do golpe pesarão no cenário eleitoral

A política politiqueira do Brasil volta devagar das férias, além do mais ofuscada pela reestreia do circo sinistro de Donald Trump. A propaganda de Lula 3 está sob nova administração. O acontecimento mais importante se deu na política virtual ou memeológica, a revolta do Pix.

As redes sociais de Lula agora são mais animadinhas e gente do governo usa a cabeça para vestir uma versão do bonezinho trumpista. O presidente tenta não criar caso com o Banco Central. Diz que a Petrobras faz o que quiser com os preços. Fala de "responsabilidade fiscal". Não é bem assim, mas é melhor do que causar sururu contraproducente gritando o contrário. Afinal, como diz o próprio Lula, 2026, a campanha eleitoral, já começou. Tem até pesquisa.

A promessa de Lula a Mucio – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Presidente assegurou ao ministro apoio à PEC que afasta militares da política

Em meio ao ambiente de incertezas sobre quem fica ou quem sai da equipe do presidente Luiz Inácio da Silva (PT), o ministro José Mucio Monteiro (Defesa) é o único que pediu para sair e, como resposta, ouviu um apelo para ficar.

Não exigiu contrapartidas, mas obteve como bônus o compromisso do presidente de emprestar apoio firme do governo à proposta de emenda constitucional (PEC) que exige a passagem para a reserva de militares que concorram a cargos eletivos, mesmo que percam as disputas.

Trump desmonta o soft power americano - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Estratégia de enfrentamento do presidente americano pode render frutos imediatos, mas traz prejuízos no longo prazo

Donald Trump já mostrou que não hesitará em impor tarifas, tanto a países aliados como a adversários. Também mostrou, pela rapidez com que "se entendeu" com México e Canadá, que está mais interessado em arrancar concessões de seus parceiros do que em erguer barreiras alfandegárias.

Há uma explicação psicológica para isso. Trump gosta de se vender ao mundo como um gênio dos negócios. Introjetou tanto essa imagem que os centros de prazer de seu cérebro fervilham cada vez que ele acha que fez uma boa negociação.

A extrema direita sequestrou a rebeldia - Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Esquerda resiste à ideia de que contribuiu para a manutenção de Trump e de seus aliados

Há, evidentemente, muitas razões pelas quais pelo menos metade dos eleitores norte-americanos tem preferido Trump nas últimas três eleições. E essas razões provavelmente são muito parecidas com aquelas que levam pelo menos metade dos eleitores brasileiros a continuar optando por candidaturas presidenciais da extrema direita desde 2018.

O que me preocupa, no entanto, é a resistência da esquerda e dos progressistas em se implicar nessa virada eleitoral para a extrema direita, que tem se repetido ao longo desta última década.

"Implicar-se" significa reconhecer que a própria esquerda está errando e que seus erros são parte das razões que alimentam o vertiginoso crescimento do apoio a extremistas, desta vez em conformidade com as regras do jogo da democracia eleitoral.

O que tem sido constante nas promessas de campanha de Trump, no seu discurso de posse, nas suas primeiras ordens executivas e em suas declarações? Duas coisas. Um etnocentrismo sem limites, expresso na retórica radical de colocar os interesses americanos acima de tudo, proteger a segurança nacional, romper com compromissos multilaterais e restaurar o orgulho e a prosperidade do país. E uma promessa direta e sem concessões de desmontar a agenda e a cultura progressista e de esquerda, especialmente no que diz respeito à ideologia e às práticas identitárias.

Em busca do propósito da vida - Cláudio Carraly

A busca pelo propósito é uma jornada que ecoa através dos tempos e culturas, uma odisseia intrínseca à condição humana, desde o alvorecer mais remoto da história, contemplamos a razão de existir, procurando significado em um universo aparentemente vasto e indiferente, o chamado “propósito” é como uma estrela distante, uma luz guia que cintila no horizonte do desconhecido, convidando-nos a explorar as profundezas do nosso ser e a desvendar os mistérios da vida.

Encontrar o propósito é uma jornada repleta de desafios e questionamentos, muitos de nós nos encontramos perdidos em um labirinto de possibilidades, em busca de um fio condutor que dê sentido às nossas vidas repletas de imensos vazios, sim, estamos cheios de nos sentir vazios. Nossa psique é um oceano de emoções, pensamentos e impulsos, navegar por suas profundezas requer autoconhecimento e coragem para enfrentar nossos medos e inseguranças, e por muitas vezes o que buscamos se esconde nas camadas mais profundas da nossa alma, aguardando para ser descoberto através da introspecção, reflexão e da autoaceitação.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Déficit recorde das estatais mostra que privatizar é urgente

O Globo

Estado não pode manter controle sobre empresas que só não fecham porque têm acesso a cofres públicos

Como previsto, as estatais federais, excluindo bancos públicos e Petrobras, fecharam 2024 com déficit recorde de R$ 6,7 bilhões, o maior em 23 anos, de acordo com o Banco Central. A ministra de Gestão e Inovação, Esther Dweck, se saiu com uma explicação insólita. “Não chamem de rombo”, disse ela. “O que foi divulgado pelo Banco Central é o resultado fiscal das empresas, que pensa só as receitas do ano e as despesas do ano. Muitas despesas são feitas pelas estatais com dinheiro que estava em caixa, portanto ele acaba gerando resultado deficitário, ainda que as empresas tenham lucro.” Independentemente do jargão contábil ou eufemismo que o governo escolha para descrever o desequilíbrio financeiro, é evidente que em algum momento ele terá de ser coberto pelo Tesouro, como foi no passado.

Poesia | João Cabral de Melo Neto - O engenheiro

 

Música | Yamandu Costa - Ilhas Concertantes (China 2024)