sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Crédito vai a nível recorde no Brasil - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Em caravana de propaganda na metade do mandato, presidente se esforça para refazer imagem

O presidente da República disse nesta quinta-feira que virão novidades dos bancos públicos. Em um país escaldado pelo estrago que se fez com o crédito estatal sob Dilma 1 e mesmo no final de Lula 2, o observador prudente levanta as sobrancelhas e abre os olhos.

Por enquanto, a atuação dos bancos públicos tem sido moderada, ao menos no atacado. O total de crédito em relação ao tamanho da economia jamais foi tão grande. O saldo do estoque de crédito (total de dinheiro ora emprestado) como proporção do PIB chegou a 54,4% em dezembro passado.

Do total desse dinheiro, bem menos da metade, 42,4%, vem dos bancos públicos, nível inferior ao que se viu em 2023 e no restante de 2024.

Ou seja, os bancos privados vinham emprestando bastante, em ritmo maior do que o dos bancos públicos. Não estão perdendo dinheiro com a safra de crédito recente, vide os lucros enormes divulgados por Itaú e Santander. Talvez ponham o pé no freio neste 2025.

Segundo pesquisa da Febraban de final de 2024, o total de crédito aumentaria 9% neste ano (ante 10,5% no ano passado), ritmo ainda bom. Mas a previsão do Itaú para a expansão de sua carteira para 2025 é de algo entre 4,5% e 8,5%, como o banco anunciou ao publicar o balanço de 2024, na quarta-feira.

Luiz Inácio Lula da Silva quereria dizer que vai segurar a peteca dos empréstimos com expansão maior de crédito dos bancos públicos?

A suspeita sobre a frase de Lula pode ser reação estereotipada, se por mais não fosse porque não se tem ideia do que o presidente quis dizer. Tratou do assunto neste recomeço de suas caravanas de propaganda, em que também reafirma inanidades sobre preço de alimentos, por exemplo.

Essa conversa já dura semanas, mas até agora não resultou em ideia de jerico. Note-se que este governo já quis comprar arroz quando houve a desgraça no Rio Grande do Sul. Era tolice e, pior, com "coisa errada", como disse Lula (sabe-se o que teve de errado, aliás?).

Até agora, Fernando Haddad tem conseguido desarmar várias jogadas ruins na economia. É acusado por amigos da onça de ser "fraco". No entanto, escalado para ser o atacante na área econômica, tem sido obrigado a recuar para jogar como zagueiro ou goleiro, a fim de defender a economia e o próprio governo de ataques de burrice daninha. De resto, não tem como hipnotizar Lula ou a esquerda retrógrada.

Lula se esforça para dizer que algo acontece quando cruza a esquina da metade do mandato. Vai correr o grande risco de tentar aprovar a isenção do IR para quem ganha até R$ 5.000 por mês. Risco econômico: a compensação da perda de receita pode ser insuficiente; pode sobrevir tumulto fiscal por esse e outros motivos. Risco político: enfrentar nova revolta contra impostos, desta vez uma coalizão decidida de ricos.

Há planos como expandir o crédito consignado para trabalhadores do setor privado. É sempre boa ideia baratear o crédito com medidas sensatas, como parece ser o projeto de Haddad. O restante do governo quer incrementar o consignado tabelando juros, o que é contraproducente e mancha a imagem do governo, pois é burrice.

O governo está inquieto, incomodado com a baixa de popularidade, abalada pelo problema da inflação de alimentos, insolúvel no curto prazo, e com a imagem aliás injusta de cobrador voraz de impostos.

Espera-se que o sono intranquilo não produza monstros.

 

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