Folha de S. Paulo
Em caravana de propaganda na metade do
mandato, presidente se esforça para refazer imagem
O presidente da República disse
nesta quinta-feira que virão novidades dos bancos públicos. Em um país
escaldado pelo estrago que se fez com o crédito estatal sob Dilma 1 e mesmo no
final de Lula 2,
o observador prudente levanta as sobrancelhas e abre os olhos.
Por enquanto, a atuação dos bancos públicos tem sido moderada, ao menos no atacado. O total de crédito em relação ao tamanho da economia jamais foi tão grande. O saldo do estoque de crédito (total de dinheiro ora emprestado) como proporção do PIB chegou a 54,4% em dezembro passado.
Do total desse dinheiro, bem menos da metade,
42,4%, vem dos bancos públicos, nível inferior ao que se viu em 2023 e no
restante de 2024.
Ou seja, os bancos privados vinham
emprestando bastante, em ritmo maior do que o dos bancos públicos. Não estão
perdendo dinheiro com a safra de crédito recente, vide os lucros enormes
divulgados por Itaú e Santander.
Talvez ponham o pé no freio neste 2025.
Segundo pesquisa da Febraban de
final de 2024, o total de crédito aumentaria 9% neste ano (ante 10,5% no ano
passado), ritmo ainda bom. Mas a previsão do Itaú para a expansão de sua
carteira para 2025 é de algo entre 4,5% e 8,5%, como o banco anunciou ao
publicar o balanço de 2024, na quarta-feira.
Luiz Inácio Lula da Silva quereria dizer que
vai segurar a peteca dos empréstimos com expansão maior de crédito dos bancos
públicos?
A suspeita sobre a frase de Lula pode ser
reação estereotipada, se por mais não fosse porque não se tem ideia do que o
presidente quis dizer. Tratou do assunto neste recomeço de suas caravanas de
propaganda, em que também reafirma
inanidades sobre preço de alimentos, por exemplo.
Essa conversa já dura semanas, mas até agora
não resultou em ideia de jerico. Note-se que este governo já quis comprar arroz
quando houve a desgraça no Rio Grande do Sul. Era tolice e, pior, com
"coisa errada", como disse Lula (sabe-se o que teve de errado,
aliás?).
Até agora, Fernando
Haddad tem conseguido desarmar várias jogadas ruins na economia. É
acusado por amigos da onça de ser "fraco".
No entanto, escalado para ser o atacante na área econômica, tem sido obrigado a
recuar para jogar como zagueiro ou goleiro, a fim de defender a economia e o
próprio governo de ataques de burrice daninha. De resto, não tem como
hipnotizar Lula ou a esquerda retrógrada.
Lula se esforça para dizer que algo acontece
quando cruza a esquina da metade do mandato. Vai correr o grande risco de
tentar aprovar a isenção do IR para quem ganha até R$ 5.000 por mês. Risco
econômico: a compensação da perda de receita pode ser insuficiente; pode
sobrevir tumulto fiscal por esse e outros motivos. Risco político: enfrentar
nova revolta contra impostos, desta vez uma coalizão decidida de ricos.
Há planos como expandir o crédito consignado
para trabalhadores do setor privado. É sempre boa ideia baratear o crédito com
medidas sensatas, como parece ser o projeto de Haddad. O restante do governo
quer incrementar o consignado tabelando juros, o que é
contraproducente e mancha a imagem do governo, pois é burrice.
O governo está inquieto, incomodado
com a baixa de popularidade, abalada pelo problema da inflação de
alimentos, insolúvel no curto prazo, e com a imagem aliás injusta de cobrador
voraz de impostos.
Espera-se que o sono intranquilo não produza
monstros.
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