quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Na visão sobre o BC, Lula e Trump são almas gêmeas

O Globo

Ambos atrapalham combate à inflação ao dar declarações criticando política de juros

Por motivos distintos, o mercado aguardou com ansiedade o anúncio da taxa de juros no Brasil e nos Estados Unidos. Aqui, Gabriel Galípolo comandou a primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) como presidente do Banco Central (BC) desde que foi indicado para o cargo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ela confirmou o que era esperado desde dezembro: a Selic subiu 1 ponto, para 13,25% ao ano. Nos Estados Unidos, o Fed fez o primeiro anúncio depois da posse de Donald Trump. Também como esperado, interrompeu a série de cortes consecutivos que promovera desde setembro – e manteve os juros em 4,5%.

Outro aumento da Selic da mesma magnitude está previsto para março. É uma medida indesejada, mas necessária diante da escalada da inflação. Com a maioria dos diretores do BC escolhidos pelo PT, Lula não deverá mais abusar da demagogia, como fazia com o ex-chefe do BC, Roberto Campos Neto, transformado pelos petistas em bode expiatório para as mazelas econômicas. Mas o governo precisa fazer muito mais para ajudar no controle da inflação.

Cafezinho frio - Merval Pereira

O Globo

Lula descobre que nem mesmo dando ministérios importantes a partidos supostamente aliados garantirá apoio

Uma tempestade perfeita sobrevoa o Palácio do Planalto, prenunciando anos difíceis para o governo Lula, que aparentemente errou o timing e entra no terceiro ano de seu terceiro mandato fustigado pela inflação crescente e pelo desequilíbrio nas contas públicas, ameaçando uma crise econômica semelhante à vivida por Dilma Rousseff.

Lula reassumiu a Presidência como se fosse a sequência de seus dois mandatos anteriores e se esqueceu de organizar as contas públicas antes de partir para o desenvolvimentismo. Obteve crescimento de cerca de 7% nos dois primeiros anos à custa de aumento da taxação e do descontrole das contas. Tudo indica, porém, que o ritmo não será mantido, e a reação política já sugere que Lula chegou ao limite antes do que se pensava.

Não é à toa que uma das petistas mais ativas, a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, avisou em entrevista ao GLOBO que o apoio do Nordeste a Lula não está garantido. As pesquisas de opinião mais recentes mostram que a popularidade dele já está mais negativa que positiva, e, embora continue liderando as preferências no Nordeste, única região em que ganhou de Bolsonaro na eleição de 2022, esse apoio vem diminuindo. Mesmo no Nordeste, Lula já não reina como anteriormente, e sua popularidade, embora forte, está decadente.

Kassab mira em Haddad e acerta no presidente Lula - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Na avaliação do presidente do PSD, qualquer candidato de centro que chegar ao segundo turno tem chances de derrotar Lula. Eduardo Bolsonaro (PL-SP) é o único que perderia

Nem só a oposição bolsonarista sentiu o cheiro de animal ferido na floresta, os aliados de conveniência também. E se aproveitam da queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a começar por Gilberto Kassab, presidente do PSD, que até agora manteve um pé em cada canoa, mas nesta quarta-feira subiu o tom contra o governo, para aplausos da oposição. Em evento com empresários e executivos do banco de investimento UBS BB, em São Paulo, disse que Fernando Haddad é fraco na condução do Ministério da Fazenda: “Um ministro da economia fraco é sempre um péssimo indicativo”.

Cenário é preocupante - William Waack

O Estado de S. Paulo

Diversos componentes estão se combinando para formar uma só crise

É até com certa fleuma que Lula parece caminhar para um cenário dominado por componentes preocupantes. Ou então é a calma dos que ignoram o que pode acontecer, pois até aqui nada é galopante.

A tendência da inflação – o pior inimigo da popularidade de qualquer governo – é de subida. Os gráficos apontando para cima já vêm desde a metade do ano passado. Não causaram pânico, mas seu efeito corrosivo é palpável.

O mesmo ocorre com as taxas de crescimento de um PIB muito dependente do expansionismo fiscal e, portanto, do consumo das famílias. As previsões de que a economia vai esfriar são unânimes, o que parece se confirmar diante do sufoco causado por juros elevadíssimos.

O maior risco para IBGE - Malu Gaspar

O Globo

Quem reclama que o governo Lula não produziu grandes novidades se esquece de olhar para as crises. Nesse quesito, Lula 3.0 tem inovado. Depois da crise do Pix, que machucou seriamente a popularidade do presidente da República, o foco é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo Censo populacional e pelos dados de inflação e PIB, entre outras estatísticas relevantes.

O caso ainda não viralizou como o anterior, mas a semente está plantada. Já começaram a surgir fake news sugerindo que esteja havendo manipulação de dados de inflação ou de emprego, e até um pedido de CPI já foi anunciado pelo deputado Nikolas Ferreira (PL-MG).

Não se conhece nenhum indício de manipulação, mas isso não quer dizer que a crise no IBGE não seja grave. Seu presidente, o economista Marcio Pochmann, conseguiu a proeza de unir contra si 289 coordenadores e gerentes do instituto — gente que nunca se manifestou publicamente contra nenhum outro dirigente da instituição, nem no governo Bolsonaro. Eles subscreveram uma carta em solidariedade a duas diretoras que pediram demissão por divergências e falta de interlocução com o chefe.

Fim de ciclo de corte na taxa americana indica juros mais altos em todo o mundo - Míriam Leitão

O Globo

O encerramento do ciclo de corte de juros nos Estados Unidoscom a manutenção da taxa básica entre 4,25% e 4,5%, tem um efeito sobre os juros mundo afora. Isso porque os juros americanos são uma espécie de patamar mínimo de juros global, explica o economista Thiago Moraes Moreira, professor do Ibmec-RJ. Como o dólar e os títulos públicos americanos (os Treasures) são considerados os investimentos mais seguros do planeta, quando a taxa básica da economia americana se estabiliza em patamar considerado alto para o padrão local, indica que os juros tendem a ficar mais altos nos demais países para poderem atrair capital para seus respectivos mercados. No Brasil, a estimativa de consenso é que a Selic chegue a 15% ao fim do ano, mas já há quem fale até em 17%, diz Moreira.

- Os juros mais altos são perigosos para a economia global, inflação com juros altos levam à desaceleração da economia, seja por redução de investimentos ou do consumo das famílias, ou pelos dois. Se ultrapassarmos os 15% aqui no Brasil haverá uma desaceleração grande da economia, que pode levar o PIB a crescer 0,5% ou até zero, depois de uma alta que deve ultrapassar 3,5% em 2024, e o desemprego pode voltar à casa de pelo menos 8%. É difícil competir com juros reais de 10% e os investimentos serão reduzidos, assim como o crédito ao consumidor ficará mais caro. Fica difícil convencer alguém a investir, quando sem risco nenhum um título público lhe garante 10% - diz o economista.

Geoeconomia e bens de produção no Brasil - Assis Moreira

Valor Econômico

Estrutura produtiva brasileira passa ser mais sensível a decisões de China, Ìndia e Rússia, e não só de EUA e UE

Praticamente coincidindo com a volta de Donald Trump à Casa Branca, o Ipea (Instituto de Pesquisa Economica Aplicada), vinculado ao Ministério do Planejamento, acaba de publicar um texto para discussão sobre a origem geográfica dos bens de produção na economia brasileira assinado pelo economista Renato Baumann.

Normalmente, como lembra Baumann, as análises de relações econômicas entre dois países ou grupo de países concentra o foco no comércio (superávit ou composição da pauta de exportações e importações) e nos fluxos de recursos (magnitude e ritmo de investimentos diretos e de fluxos financeiros bilaterais).

O convívio social ficou de recuperação - Rudá Ricci*

Correio Braziliense

Muito além das notas do Ideb ou do Enem, a educação também se aufere pelo desenvolvimento humano, como bem nos lembra a ONU neste dia 24 de janeiro, o Dia Internacional da Educação

Em 24 de janeiro, o mundo celebrou o Dia Internacional da Educação. Instituída pela ONU, a efeméride deste ano foi dedicada à discussão sobre a inteligência artificial (IA) e seu impacto em sala de aula. Mais do que o uso adequado desse recurso, a discussão sobre esse ou qualquer outro tema ligado à educação precisa estar alinhada à missão civilizatória do ensino. Esse direito universal transcende não apenas a tecnologia, mas também as gerações e os territórios, na busca do desenvolvimento humano, com equidade e paz.

Brasil: um enredo de governabilidade e reinvenção - Eduardo Galvão*

Correio Braziliense

Lula enfrenta um desafio que poderia ser tema de um épico político: governar um país dividido, em que alianças frágeis e interesses conflitantes tornam cada decisão um ato de coragem

Se a política brasileira fosse uma novela, estaríamos em um daqueles episódios de reviravolta — o tipo em que os personagens enfrentam dilemas impossíveis, mas, ainda assim, deixam os espectadores ansiosos pelo próximo capítulo. Só que, ao contrário da ficção, aqui não há roteirista. O Brasil está no centro de uma trama que envolve governabilidade, reformas e um povo que, apesar de tudo, ainda acredita em mudanças.

Parece simples? Não é. A política brasileira tem o dom de transformar cada avanço em um campo de batalha. Como pensa Steven Levitsky, autor de Como as democracias morrem, a democracia morre na sombra da polarização. E o Brasil, como muitos países, atravessa um momento em que as disputas vão além do campo ideológico. Elas se tornam pessoais, agressivas e paralisantes, transformando verdades em trincheiras e desacordos em conflitos permanentes.

O que era ruim, ficou um pouco pior, diz BC - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Festa do risco não tem hora para acabar, cenário indica Selic bem maior, bola está com governo

Não houve grande novidade no comunicado em que o Banco Central informou ao público sua decisão de elevar a Selic de 12,25% para 13,25%. Mas houve alguma novidade:

1) menção enfática ao risco de danos da política econômica de Donald Trump; 2) menção explícita do risco de o desemprego baixo no Brasil acabar em mais inflação; 3) a projeção de inflação do BC para o "horizonte relevante" de sua atuação continuou em 4%. Quer dizer, nem a promessa de arrocho refrescou o IPCA anual previsto para o terceiro trimestre de 2026.

Isolamento da extrema direita cai na Alemanha em votação histórica -José Henrique Mariante

Folha de S. Paulo

Moção sobre imigração para constranger governo Scholz é aprovada com apoio da AfD, marco do país no pós-guerra

Uma moção que pede fronteiras fechadas na Alemanha foi aprovada nesta quarta-feira (29) no Parlamento Alemão, em Berlim. A sessão ganhou contornos históricos, já que a oposição ao governo Olaf Scholz contou com votos da extrema direita para aprovar a resolução, proposta após novo episódio de violência ligado a imigrantes irregulares.

O ato não tem força de lei, é apenas uma orientação a ser seguida. A votação, porém, mobilizou o debate público no país. De um lado, os que veem a necessidade de medidas urgentes para coibir a crise imigratória; do outro, os que temem a naturalização da AfD, uma legenda populista, nacionalista, que defende a saída da União Europeia, a volta do marco alemão e tem integrantes investigados por discurso de ódio e neonazismo.

A garota do Arpoador - Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Marina Colasanti não reprovava as mulheres atreladas ao fogão. Só exigia que lutassem por orgasmos

Marina Colasanti morreu nesta terça (28), aos 87 anos. Muita coisa deve estar saindo sobre ela como a mulher que, em veículos de grande circulação, revirou a cabeça das leitoras nos anos 1970 e 1980. Eu próprio escrevi um dia sobre a enorme influência de Marina sobre elas: "Não se tratava de arrancar as mulheres do fogão e plantá-las em escritórios. Mas, as que preferissem ficar no fogão deveriam exigir, pelo menos, grandes e regulares orgasmos —e, se não os tivessem, que tomassem providências". De onde tirei isso? De uma conversa com a própria Marina, com aquele seu misto de doçura e autoridade.

A Joaquim Cardozo, de João Cabral de Melo Neto

Com teus sapatos de borracha
seguramente
é que os seres pisam
no fundo das águas.

Encontraste algum dia
sobre a terra
o fundo do mar,
o tempo marinho e calmo?

Tuas refeições de peixe;
teus nomes
femininos: Mariana; teu verso
medido pelas ondas;

a cidade que não consegues
esquecer
aflorada no mar: Recife,
arrecifes, marés, maresias;

e marinha ainda a qrquitetura
que calculaste:
tantos sinais da marítima nostalgia
que te fez lento e longo

Música | Zé Keti- Diz que fui por ai