Lei mais dura não bastará para conter
roubo de célula
O Globo
É positivo punir receptadores com mais rigor, mas o essencial é a polícia ser eficiente na investigação
No tempo necessário para ler este texto,
três celulares terão sido roubados ou furtados no Brasil. É um problema
endêmico: 107 aparelhos por hora, quase 1 milhão ao longo de um ano, segundo
dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Dada a quantidade de
informações sensíveis ou vitais que os dispositivos hoje armazenam, é
incalculável o prejuízo causado às vítimas — isso quando não acabam mortas ou
feridas. Roubos acontecem nos bairros nobres e nas periferias, de dia e à
noite, do verão à primavera. Diante desse descalabro, o Ministério da Justiça
planeja enviar ao Congresso um Projeto de Lei que aumenta a pena para
receptadores de aparelhos. A proposta altera o tempo máximo de prisão de seis
para 12 anos, a pena mínima de três anos para quatro anos e facilita os
flagrantes.
As mudanças são bem-vindas. O endurecimento das penas sem dúvida pode funcionar como fator de dissuasão para os criminosos. Mas seria uma ilusão acreditar que apenas mudar a lei resolverá o maior incentivo aos roubos: a impunidade. Sem a polícia investigar e prender as redes de receptadores, de nada adiantará a pena mais dura. Para conter os roubos, policiais civis precisam ser equipados, treinados e cobrados, com base em estatísticas confiáveis e públicas. A taxa de solução de crimes no Brasil é vergonhosa. Menos de 10% dos roubos são esclarecidos, segundo pesquisadores do FBSP. Nos Estados Unidos, a polícia é no mínimo três vezes mais eficiente. Por aqui, o problema maior não é a legislação permissiva que atrapalha o trabalho de uma força policial eficiente. Os dados e fatos disponíveis sugerem o contrário.