sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Penas contra réus do 8 de Janeiro despertam dúvida

O Globo

Nos recursos, STF deverá esclarecer se pode haver condenação simultânea por golpe e abolição do Estado de Direito

É um acinte à democracia a proposta de anistiar os 898 réus acusados pela violência contra as sedes dos três Poderes no fatídico 8 de janeiro de 2023. Passados dois anos, 371 foram condenados à prisão e 527 a penas alternativas. Outros tantos esperam o fim do julgamento. A todos foi garantido amplo direito de defesa, como prevê a Constituição. Quem defende a anistia sustenta um raciocínio absurdo, segundo o qual tudo não passou de vandalismo espontâneo. É como se, sem objetivo nem organização, os criminosos tivessem trocado um passeio no zoológico na Asa Sul pela invasão do Congresso, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Palácio do Planalto. Como se não estivessem acampados em quartéis do Exército clamando por golpe de Estado, com base em teorias estapafúrdias sobre fraude eleitoral. A intenção golpista ficou evidente desde o primeiro vidro estilhaçado.

Fernando Abrucio - Hugo Motta só terá força se tiver uma agenda

Valor Econômico

Presidente da Câmara precisa garantir o equilíbrio entre os grupos políticos, mas não pode deixar de lado uma proposta que o torne não só o chefe de um Poder

O novo presidente da Câmara federal, Hugo Motta, terá um desafio enorme pela frente. Sempre é muito complexo comandar essa casa congressual, e a maioria dos seus comandantes desde a Nova República enfrentou muitas dificuldades políticas posteriores, quase como uma maldição relacionada ao cargo. Mas há três fatores contextuais que tornam essa tarefa ainda mais complicada: a substituição de uma liderança muito forte, o desequilíbrio institucional vigente e o fortalecimento do discurso e de práticas antissistêmicas. Para fugir do pior, Motta dependerá da escolha de suas agendas.

Na verdade, Motta só se sairá bem se tiver uma dupla agenda: uma voltada para dentro, baseada no que é consensual entre os deputados e que possa fortalecer o projeto de reeleição da maioria deles; e outra orientada para fora, capaz de lhe dar autonomia e estatura frente à sociedade e à classe política. Em outras palavras, ele precisa garantir o equilíbrio entre os grupos políticos parlamentares, mas não poderá deixar de lado a construção de uma proposta que o torne não só o chefe formal de um Poder, mas uma liderança política efetiva.

Encontro marcado com o litígio – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Motta e Alcolumbre terão de gastar saliva para convencer Dino a liberar emendas

Os presidentes da Câmara e do Senado têm encontro marcado para o próximo dia 27 com o ministro Flávio Dino, no Supremo Tribunal Federal. Ainda não sabemos se haverá representante do Executivo, como ocorrido em agosto do ano passado, quando celebrou-se um acordo entre os três Poderes para resolver o enrosco das emendas parlamentares.

Sabemos, contudo, que o festejo da ocasião resultou em pouco ou quase nada. O Congresso Nacional aprovou uma lei incompleta em relação à exigência constitucional de transparência e se aferra a ela para argumentar que fez a sua parte. Não fez.

Governo na reta final - Fernando Gabeira

O Estado de S. Paulo

Não dá para empurrar o governo com a barriga, sem perceber as grandes tempestades que se formam no horizonte

No começo da segunda etapa do governo, a imprensa, aqui e ali, comenta sobre uma reforma ministerial. O tema é apresentado, às vezes, como uma troca de cadeiras, na verdade elas são o sujeito em movimento, as pessoas apenas se sentam e levantam.

Em outros momentos, o termo usado para a reforma ministerial é acomodação. Ela seria destinada a acomodar os ex-presidentes do Senado e da Câmara que, agora, ficaram no sereno.

De qualquer maneira, a reforma seria apenas um movimento burocrático, destinado a acomodar os aliados e, no máximo, melhorar ligeiramente as relações com o Congresso.

Sinal amarelo – Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Alerta amarelo para o governo: os estrategistas do bolsonarismo descobriram como competir com o julgamento do golpe e do próprio ex-presidente Jair Bolsonaro e já estão em ação, começando a criar uma falsa onda na internet a favor do impeachment do presidente Lula. O objetivo não é tirar Lula da Presidência, até porque sabem que não têm a menor chance, mas sim tumultuar, dividir o noticiário e principalmente ocupar as redes sociais.

De repente, do nada, gente que acreditava nos horrores que Jair Bolsonaro dizia na pandemia e que votou em Pablo Marçal passou a perguntar: “Vai ter impeachment do Lula?” Você reage: “Nunca ouvi falar nisso. Por que motivo?” E o coitado: “Ué! Por todas essas coisas aí”. Que “coisas”? Ele não tem a menor ideia. Foi um, dois, três... Aí passou a soar estranho.

Negacionistas são só os outros – Vera Magalhães

O Globo

Lula prometeu gestão técnica no meio ambiente, mas disputa pela Margem Equatorial evidencia predomínio da política sobre a ciência

Um dos memes que bombam entre os que exibem seu estilo de vida nas redes sociais é aquele em que o sujeito aparece tomando todas numa noite e malhando na seguinte, com a legenda: “Um pouco de droga, um pouco de salada”. A viagem de Lula à Região Norte — com Davi Alcolumbre na Margem Equatorial num dia e as obras da COP-30 no outro — se encaixa perfeitamente nessa maneira de dividir a agenda.

O exercício de analisar as declarações dos governantes à luz do que prometeram e, sobretudo, do contraponto que fizeram a seus opositores é sempre necessário. Sob essa lente, não há outra classificação para a investida de Lula contra o Ibama — órgão que acusou de “lenga-lenga”, expressão que, no dicionário, pode ser sinônimo de “mimimi”, uma das favoritas da extrema direita para desqualificar a ciência — que não seja de negacionista.

Quem disputa redes com o PL é o Psol e o PSB, não o PT - César Felício

Valor Econômico

Um balanço da plataforma de monitoramento Datatora, da consultoria Torabit, indica o tamanho do problema do PT nas redes sociais. Os parlamentares da sigla se esforçaram para competir com os bolsonaristas do PL nas redes sociais em relação a dois temas: a anistia aos envolvidos em atos golpistas no 8 de janeiro e o afrouxamento das regras da lei da Ficha Limpa. Tramitam dois projetos na Câmara, ambos com potencial para beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro. Ao contrário do que ocorreu em outras polêmicas, a direita não ganha por W.O nas métricas sobre estes temas, mas não por causa do PT.

José de Souza Martins - São Paulo e a revolução urbana

Valor Econômico

A capital deixará de ser anômala periferia central e a facilidade dos deslocamentos poderá revitalizar a administração estadual e devolver ao centro a função cultural

O exame do traçado da rede de transportes de passageiros sobre trilhos em funcionamento e em projeto na cidade de São Paulo e nas regiões adjacentes, em diferentes níveis de extensão em direção ao interior e ao litoral, revela que estamos a caminho de grandes transformações na função da capital.

Será fácil notar que está em acelerado desenvolvimento um novo desenho situacional da capital com implícita reformulação de suas funções. Está em andamento a possibilidade da revolução urbana como tem acontecido em outros países, tendo por referência cidades de grande porte.

Marcada para viver'- Bernardo Mello Franco

O Globo

Na cena final do documentário “Cabra Marcado para Morrer”, Elizabeth Teixeira engrena um discurso de improviso contra as desigualdades brasileiras. “Democracia sem liberdade? Democracia com salário de miséria e de fome? Democracia com o filho do operário sem direito de estudar?”.

Gravada em 1981, a fala resume o espírito combativo da paraibana. Ela já havia amargado o assassinato do marido, a prisão na ditadura e o afastamento forçado dos filhos. Nunca perdeu a capacidade de se indignar.

O filme nasceu por acaso. Eduardo Coutinho viajava pelo Nordeste quando esbarrou num protesto contra a morte de João Pedro Teixeira, líder das Ligas Camponesas. O cineasta filmou o ato, que reuniu três mil trabalhadores rurais. Dois anos depois, voltou ao local para contar a história do lavrador, recrutando a viúva e o povo da roça como atores amadores.

Desigualdade degradante – Flávia Oliveira

O Globo

O povo do samba sabe quanto é raro contar com amparo, cuidado, assistência do poder público, de empregadores, das agremiações

Faz quatro décadas, Martinho da Vila compôs para a escola de samba que o batiza o conjunto de versos em exaltação à gente que faz o espetáculo mais importante da cultura brasileira. O artista invocava glória aos que, no ano inteiro, trabalham em mutirão para materializar a festa. São escultores, pintores, bordadeiras; carpinteiros, vidraceiros, costureiras; figurinista, desenhista e artesão. Essa “gente empenhada em construir a ilusão” — como nos versos de “Pra tudo se acabar na quarta-feira” da Unidos de Vila Isabel — segue explorada numa cadeia produtiva que, em 2024, rendeu R$ 5 bilhões em movimento financeiro e R$ 200 milhões em arrecadação de ISS pelos serviços relacionados à folia, segundo estimou a própria Secretaria municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico. Neste ano, com o calendário alongado do feriado em março, deverá render ainda mais.

Furor tarifário faz de Trump passageiro do passado - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Trump também ameaçou taxar em 100% os países do Brics — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul —, se quiserem “brincar com o dólar”

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, determinou tarifas recíprocas a países que cobram taxas de importação de produtos americanos. Os memorandos assinados nesta quinta-feira, porém, são menos formais do que o “tarifaço” contra parceiros comerciais, entre os quais o Canadá, o México e o Brasil, cujo aço e alumínio passarão a pagar 25% de imposto para entrar no mercado norte-americano. Os principais alvos são países com os quais os EUA têm deficit na balança comercial — ou seja, gastam mais com importações do que recebem com exportações. Mas esse não é o caso do Brasil, que importa mais do que exporta.

O homem que inventou Trump - Simon Schwartzman

O Estado de S. Paulo

Diagnóstico de Bannon sobre a debilidade e a vulnerabilidade da democracia dos EUA, e de outras que tentam emulá-la, continua a valer e deve preocupar

Em uma longa entrevista ao jornalista Ross Douthat no The New York Times de 31/1/2025, Steve Bannon, a quem se atribui ter levado Donald Trump à sua primeira vitória em 2016, mostra-se articulado, culto, divertido, e quase convence. De família pobre, democrata dos tempos de John F. Kennedy, formado pela Harvard Business School, Bannon se define como populista e nacionalista. A pax americana, segundo ele, que se impôs ao mundo ocidental após a 2.ª Guerra, é uma construção que tem no topo uma elite bilionária, sustentada por uma grande burocracia de pessoas com títulos universitários – a “classe dos diplomados”, incluindo generais, professores universitários e jornalistas da grande imprensa –, e na base grupos de interesse formados por sindicatos e organizações que se articulam em nome de direitos sociais para receber partes do bolo. Tudo à custa do little guy, o homem do povo que é enviado para matar e morrer em guerras longínquas, cujos valores e estilos de vida são corroídos pelas políticas identitárias financiadas com recursos públicos e cujos empregos e salários são aviltados pelos imigrantes e a concorrência de investimentos em outros países.

Trump, livre-comércio na pancada - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Em vez de elevar impostos de importação, EUA querem que países se abram para produtos americanos

Até agora, Donald Trump estava entretido com promessas de barrar importações por meio de impostos maiores. Isto é, com protecionismo, não se sabia quanto e por quanto tempo, com objetivos incertos ou variáveis. Chegou a dizer que cobriria parte do grande déficit do governo com o dinheiro de tributos sobre importados.

Nesta quinta, Trump disse que quer fazer o contrário. Vai exigir que outros países derrubem restrições aos produtos americanos, impostos de importação ("tarifas") ou outras. Trump deu mais ênfase a abertura comercial, na negociação ou na pancada.

Nova ordem trumpiana - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Presidente americano busca gerar um ambiente caótico que o beneficia; governança global e equilíbrio dos Poderes preocupam

A estratégia de Donald Trump é entupir os EUA e o mundo de declarações, decretos e ações concretas altamente controversos, criando o ambiente caótico no qual ele tende a prosperar.

Como ninguém sabe distinguir direito o que é factoide, tática de negociação e o que é para valer, a resultante é a incerteza. Na confusão, Trump vai testando interlocutores e os limites de seu próprio poder.

Trump vs. Trans - Ruy Castro

Folha de S. Paulo

O que ele diria ao saber que Mickey, Minnie, Donald, Chita, Rin-Tin-Tin e Lassie pertencem ao grupo LGBTQIA+?

O déspota americano Donald Trump proibiu as atletas trans de competirem nas categorias femininas dentro dos EUA. As entidades de direitos civis já protestaram e os órgãos internacionais do esporte também. Se cada país tiver regras próprias não será possível haver eventos como a Copa do Mundo ou os Jogos Olímpicos —que, não por acaso, terão suas próximas versões sediadas nos EUA. Trump não quer saber da possibilidade de elas serem transferidas ou de os EUA serem banidos das competições. Confia em seu bullying à base de murros e ofensas.

Os feitos de "Ainda estou aqui" vão muito além do Oscar - Roberto Fonseca

Correio Braziliense

Se "Ainda estou aqui" será premiado ou não com o Oscar, saberemos apenas no domingo de carnaval. O filme, no entanto, já fez história e os feitos precisam ser lembrados

A votação para escolha dos ganhadores do Oscar está em andamento. Daqui até terça-feira, as 9,9 mil pessoas habilitadas vão entregar à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas os escolhidos nas categorias. Se Ainda estou aqui será premiado ou não, saberemos apenas na noite do domingo de carnaval (e quem sabe avançando pela madrugada de segunda-feira). O filme, no entanto, já fez história e os feitos precisam ser lembrados.

O primeiro deles é que serviu para reaproximar o brasileiro do Oscar. Depois de mais de duas décadas sem participar das categorias principais, o cinema nacional ocupa local de protagonismo com as indicações para melhor atriz, melhor filme internacional e melhor filme. Com isso, detalhes sobre o processo de votação (com conclusão duas semanas antes da cerimônia), o colégio eleitoral (52 brasileiros estão na lista) e as regras para evitar empates (na categoria principal, por exemplo, os votantes precisam elencar os 10 longas indicados em ordem de preferência, do melhor ao pior) passaram a fazer parte do nosso dia a dia.

Como a alta dos juros impacta o acesso à educação? - Nivio Lewis Delgado*

Correio Braziliense

Em 2023, 24% dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos de idade não estudavam nem trabalhavam. A situação é pior do que em boa parte dos países desenvolvidos, conforme levantamento divulgado neste ano pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)

O acesso ao ensino superior no Brasil registrou o maior crescimento dos últimos dez anos em 2023. Nesse período, o número de matrículas nas redes pública e privada subiu 5,64% — avanço impulsionado pelo incremento do volume de estudantes nos cursos de ensino a distância (EAD). Os dados fazem parte do Censo da Educação Superior.

Embora positivo, o resultado ainda é insuficiente, frente ao potencial de aumento de ingressantes. A mesma pesquisa, realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), aponta que apenas 21% dos alunos que concluem o ensino médio na rede estadual entram para a universidade no ano subsequente. Mas, afinal, por que isso acontece?

O valor da incerteza e o desvalor de Trump - Elimar Nascimento*

Este é um artigo inspirado no belo livro de Eugênio Bucci – Incerteza, um ensaio. Como pensamos a ideia que nos desorienta (e orienta o mundo digital), publicado pela Editora Autêntica em 2023. Mas também na obra magnífica de Edgar Morin, conhecido como o filósofo da complexidade, que poderia muito bem ser chamado de o filósofo da incerteza, pois é ao perscrutar essa noção que o pensador francês navega em grande parte de sua obra. Não para eliminá-la, mas para dela cuidar. Não se pode ter o objetivo (impossível) de eliminar a incerteza, mas sim de com ela conviver e aprender a viver.

Normalmente, não vemos com bons olhos a incerteza. Preferimos sempre a zona de conforto. No senso comum, incerteza está associada a risco, perigo, ameaça e medo. No entanto, a incerteza tem um lado positivo, ou seja, há uma incerteza produtiva. Nela se sustenta o progresso do conhecimento, pois a incerteza gera dúvidas, que geram perguntas que, por sua vez, nos obrigam a produzir informações. E, com estas, produz-se o conhecimento, seja o científico, seja o do bom senso. Incerteza e conhecimento são os dois elos extremos da cadeia do saber. Quanto maior a incerteza, maior a produção de informações.

Morre Cacá Diegues, diretor de ‘Bye bye Brasil’, ‘Deus é brasileiro’ e ‘Tieta do Agreste’

Por Leda Rielli, g1 Rio e TV Globo

Um dos cineastas mais conhecidos do país, ele foi um dos fundadores do Cinema Novo. Ele era ocupante da cadeira 7 da ABL e foi enredo da escola de samba Inocentes de Belford Roxo.

O cineasta Cacá Diegues morreu na madrugada desta sexta-feira (14). Ele tinha 84 anos e morreu após complicações em uma cirurgia.

Carlos José Fontes Diegues nasceu em Maceió no dia 19 de maio de 1940. Ele se mudou para o Rio de Janeiro com 6 anos de idade.

Na capital fluminense, passou a infância e adolescência no bairro de Botafogo, na Zona Sul.

Cacá Diegues foi um dos fundadores do Cinema Novo ao lado de Glauber Rocha, Leon Hirszman, Paulo Cesar Saraceni, Joaquim Pedro de Andrade e outros cineastas.

Poesia | Tecendo a manhã, de João Cabral de Melo Neto

 

Música | Fagner, Zé Ramalho - Chão de Giz