segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Opinião do dia – Pedro Simon

Votar na presidente Dilma é uma interrogação cruel. Como ela vai governar se todos os nomes do seu partido estão envolvidos em corrupção? O Aécio representa a última esperança de paz neste país.

Senador Pedro Simon (PMDB-RS), em discurso sábado em Porto Alegre

No penúltimo debate, nada de ataque pessoal

• Na Record, Dilma e Aécio evitam citar familiares, tentam priorizar propostas, mas denúncias envolvendo governos petistas e tucanos não ficam de fora

Pedro Venceslau, Ricardo Galhardo, Isadora Peron, Carla Araújo, Elizabeth Lopes - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - No penúltimo debate do 2.º turno da eleição presidencial, promovido neste domingo pela TV Record, os candidatos Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) tentaram ser mais propositivos e evitaram os ataques pessoais que marcaram o confronto anterior da dupla, na semana passada. Mais uma vez, porém, o tema corrupção, principalmente as denúncias envolvendo a Petrobrás, dominou boa parte do evento.

Coube a Aécio, no fim do primeiro bloco, provocar Dilma a respeito do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, citado pelo ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, em depoimento na Justiça Federal, como elo do partido com o esquema na petrolífera. O tucano perguntou mais de uma vez se Dilma confiava no tesoureiro petista. Também citou o fato de Costa na delação premiada ter dito que repassou R$ 1 milhão para a campanha ao Senado da ex-ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, em 2010. Gleisi e Vaccari negam irregularidades.

Dilma reagiu repetindo a tática de acusar gestões tucanas de não investigar denúncias de corrupção. Entre outros casos, voltou a citar suspeitas de pagamento de propina para a implantação do sistema de vigilância no espaço aéreo da Amazônia durante o governo Fernando Henrique Cardoso e o cartel dos trens em São Paulo. A petista também lembrou que Costa disse na delação que o ex-presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE) - que morreu no início do ano -, recebeu R$ 10 milhões em propina para esvaziar a CPI da Petrobrás no Senado, em 2009.

“Fico estarrecida (de ver) o senhor falar de governança com aquela lista imensa, nunca investigada, sempre engavetada (...) o senhor outro dia me chamou, falou que eu tinha prevaricado. Quem prevaricou foi o seu partido e o seu governo”, disse Dilma, que não respondeu aos questionamentos sobre Vaccari.

“Esse País tem instituições...Triste de um país onde um presidente manda investigar, isso funcionaria em ditaduras amigas de seu governo’’, respondeu Aécio, aplaudido.

O terceiro debate da segunda etapa da campanha pelo Palácio do Planalto, contudo, transcorreu em um clima de desconforto com o nível de agressividade registrado no encontro anterior. No evento promovido pelo SBT, UOL e Jovem Pan, na quinta-feira passada, Aécio e Dilma estabeleceram uma discussão intensa, que envolveu familiares - os irmãos dos presidenciáveis Andréa Neves e Igor Rousseff foram citados - e temas pessoais em clima de forte tensão.

No domingo, os candidatos chegaram à sede da emissora, na região oeste da capital paulista, prometendo um debate propositivo. Logo na primeira pergunta, Dilma perguntou a Aécio o que ele acha da universalização da Lei do Simples, um regime de tributação simplificado para micro e pequenas empresas do País. O tucano destacou que a legislação foi criada no governo Fernando Henrique Cardoso e que sua intenção, se eleito, é ampliá-la. Dilma citou números, afirmou que o Simples cresceu em sua gestão. Na tréplica, Aécio concluiu: “É isso mesmo. Governar é aprimorar boas ideias”.

Economia. Já na pergunta de Aécio, embora o tucano tenha questionado a presidente sobre os gastos do governo federal com segurança pública, o debate evoluiu para uma discussão sobre o desempenho da economia nacional. Enquanto o candidato do PSDB reiterou críticas aos baixos crescimentos do Produto Interno Bruto e ao que chamou de sucateamento da indústria nacional, a petista insistiu nas comparações das taxas de desemprego, afirmando que o País tem um dos menores índices da história.

Aécio falou em “crescimento nulo” em 2014 e Dilma ironizou, classificando o adversário como “muito pessimista” em relação ao desempenho do Brasil. O candidato do PSDB apontou “recessão técnica” e criticou declarações de Dilma de que a inflação está sob controle. Em resposta, a petista disse que a inflação não está descontrolada como “querem” os adversários. “Vocês sempre gostaram de plantar inflação para colher juros.”

A plateia, formada por assessores dos dois candidatos, ignorou em alguns momentos a proibição de se manifestar. Após as considerações finais de Dilma, houve vaias e aplausos. Quando Aécio concluiu seu discurso de encerramento, a claque do tucano o aplaudiu de forma ruidosa, a ponto de abafar o áudio dos apresentadores do evento.

As mais recentes pesquisas Ibope e Datafolha mostraram que os candidatos se mantêm em situação de empate técnico, com o tucano numericamente à frente da petista - 51% ante 49% dos votos válidos.

Candidatos deixam ataques pessoais de lado, mas mantêm críticas à corrupção

• Amparados em pesquisas que mostraram rejeição à agressividade do debate anterior, Dilma e Aécio adotam tom propositivo

• Petista fala em 'indícios de desvios' na Petrobras e tucano ironiza, apontando suposto recuo de rival

Catia Seabra, Daniela Lima, Marina Dias, Natuza Nery, José Marques, Gustavo Patu e Ranier Bragon – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, BRASÍLIA - Amparados em pesquisas internas que mostraram certa rejeição à agressividade que predominou no último debate, os dois candidatos à Presidência da República adotaram um tom mais propositivo no confronto deste domingo (19), na TV Record, o penúltimo antes do segundo turno.

Em vez das trocas de acusações pessoais de nepotismo e desvios éticos, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) discutiram nos primeiros 30 minutos do evento temas como inflação, desemprego e segurança pública.

Apesar disso, focaram na crítica mútua à atuação de uma ou outra gestão, sem a apresentação detalhada do que pretendem de fato fazer.

O escândalo da Petrobras não deixou de ser tema do debate. Desta vez, porém, a petista e o tucano trocaram termos como "mentira" e "leviandade" -repetidos várias vezes no debate de quinta-feira (16), no evento do SBT/UOL/Jovem Pan- por palavras como "estarrecedor".

Depois do virulento debate da quinta, o PT passou a divulgar a versão de que Aécio foi excessivamente agressivo com Dilma -ela chegou a passar mal momentos após o evento-, o que levou os marqueteiros do tucano a aconselhá-lo a colocar o pé no freio.

Já o PT detectou em suas pesquisas rejeição ao tom belicoso praticado por Dilma, que chegou a insinuar que o adversário dirigiu sob efeito de álcool e drogas quando foi pego em uma blitz em 2011 e se recusou a assoprar o bafômetro.

A inflexão dos candidatos também ocorre depois que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) decidiu vetar a veiculação de propagandas com ataques recíprocos.

No confronto de ontem, coube a Aécio abordar o escândalo da Petrobras, já no final do primeiro bloco, citando declaração da Dilma da véspera em que ela reconhecera desvios na estatal.

Ele então perguntou se a petista confiava no tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, apontado como integrante do esquema pelo ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef. Os dois afirmaram à Justiça que Vaccari era o elo do partido com o esquema. Na ocasião, Vaccari e o PT negaram.

Dilma respondeu lembrando que Costa também acusou o ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra, morto neste ano, de receber propina para abafar uma CPI. "Eu acredito no seguinte, eu sei que há indícios de desvio de dinheiro. Agora, o que ninguém sabe, nem o senhor nem eu, é quanto foi e quem foi", disse Dilma.

Aécio ironizou, registrando que a declaração de sábado, de que "houve desvio", virou "indícios de desvio".

E atacou a adversária. "Mais uma vez a senhora não mandou investigar, que triste um país onde o presidente da República é quem determina quem seja investigado. Isso pode funcionar em algumas ditaduras amigas do seu governo, mas não no Brasil."

Ao discutirem a melhor forma de gerir a estatal, Dilma soltou um "candidato, você é engraçado", acusando o PSDB de ter pretendido privatizar a Petrobras.

Intenção essa que, segundo Dilma, os tucanos teriam em maior grau: "Se eu fosse funcionário do Banco do Brasil, da Caixa ou do BNDES ficaria com três pulgas atrás da orelha." Alvo de campanha similar em 2006 e 2010, o PSDB sempre negou intenção de privatizar as principais estatais.

Um dos temas mais debatidos foi a economia, com Dilma repisando a estratégia de sua campanha de tachar o adversário como representante de um grupo político que, uma vez no poder, irá levar o Brasil ao desemprego.

"Vocês sempre gostaram de plantar inflação para colher juros, esta sempre foi a sua política e vocês governaram sim o Brasil. O Fernando Henrique, o senhor foi líder e foi liderança daquele governo naquela época. Então, candidato, não lave suas mãos, o senhor tem responsabilidade no Brasil", afirmou Dilma.

Menos agressivo, debate entre presidenciáveis centra polêmica em escândalo da Petrobras

• Sem ataques pessoais, Dilma e Aécio abordaram questões propositivas no primeiro bloco, e compararam as gestões tucana e petista

Maiá Menezes, Alessandra Duarte, Letícia Fernandes e Fábio Vasconcellos – O Globo

RIO — Em tom mais ameno do que no último confronto e sem ataques pessoais, os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PMDB) se enfrentaram neste domingo pela terceira vez no segundo turno, em debate da Rede Record. O primeiro bloco, com oito perguntas diretas, foi tomado por questões propositivas. A corrupção só veio à tona na referência ao escândalo da Petrobras. Aécio trouxe para a pauta o reconhecimento de Dilma, feito na véspera, de que houve, de fato, desvios na estatal. O tucano cobrou da presidente uma posição em relação ao tesoureiro do PT, João Vaccari, que é também conselheiro de Itaipu. Perguntou três vezes à presidente se ela não o puniria, visto que ele fora citado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, na delação premiada. Aécio deu a entender que Vaccari ocupou o cargo quando Dilma era ministra das Minas e Energia.

— Cobrei nestes últimos debates uma posição em relação à Petrobras e não obtive. Quero fazer um reconhecimento de público: ontem, a senhora reconheceu que houve desvios. Quando apresentamos a proposta da CPI, fomos tachados de aproveitadores eleitorais. A senhora confia no seu tesoureiro, João Vaccari Neto, que é conselheiro de Itaipu? A senhora confia nele? — perguntou Aécio.

Dilma devolveu a pergunta com outra, deixando clara uma estratégia de associar o escândalo também a aliados de Aécio:

— O senhor confia em todos aqueles que, segundo as mesmas fontes que acusam Vaccari, dizem que o ex-presidente do seu partido, lamentavelmente morto, recebeu recursos para acabar com a CPI? — disse Dilma, citando a referência feita por Paulo Roberto Costa ao ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra. — Porque, da última vez que um delator denunciou pessoas do seu partido, no caso do metrô e dos trens, o senhor disse que não ia confiar na palavra de delator.

Dilma, então, disse que sabe que “há indícios de desvio de dinheiro” na Petrobras, e que ela deveria ser cumprimentada porque disse que iria investigar assim que o Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal (STF) divulgassem informações e punissem os que cometeram delitos. A petista voltou a lembrar casos de corrupção nos governos tucanos:

— No caso específico do seu governo (gestões tucanas), não podem responder onde estão os corruptos da pasta rosa, da compra de votos para a reeleição, do processo Sivam, dos trens e metrôs. Todos inteiramente soltos. Sou a favor da punição, doa a quem doer. E contra engavetamentos.

Ao comentar as declarações da petista, Aécio disse que teria havido “um recuo'” de Dilma em relação à declaração dada na véspera, de que houve desvios na estatal. Lembrou ainda que o delator citou o nome da senadora Gleisi Hoffman, ex-ministra chefe da Casa Civil, e seu marido, Paulo Bernardo, ministro das Comunicações. E defendeu a profissionalização da Petrobras.

— A senhora não acha mais que houve desvio, mas indícios de desvios — disse o tucano, voltando a perguntar se ela confiava no tesoureiro Vaccari, e a lembrar da presença dele no conselho de Itaipu. — Na Petrobras, onde ele (Vaccari) não tinha acesso formal, dois terços (da propina) eram para ele. E em Itaipu, onde ele tem um crachá, assina documentos? (A corrupção) Está acontecendo também em outras empresas? Governança foi o que faltou.

Aécio: comparação com 'ditaduras amigas'
Ao ouvir de Dilma que foi o governo petista que investigou, Aécio reagiu:

— As instituições é que investigam. Que triste é o país em que o presidente manda investigar. Isso pode funcionar em algumas ditaduras amigas do seu governo — disse Aécio.

Ao defender o Bolsa Família, Dilma se referiu aos projetos sociais da gestão Fernando Henrique como “o seu Bolsa Família”. E, ao comparar com o programa em sua gestão, chamou de “meu Bolsa Família”.

— Não faça isso com os brasileiros. O seu Bolsa Família? Não é seu — retrucou o tucano, citando o “terrorismo eleitoral’’ que a campanha adversária estaria fazendo ao afirmar que ele, caso eleito, acabaria com o programa— (O Bolsa Família) É do povo brasileiro. É uma marca perversa do PT achar que os programas sociais lhe pertencem — disse Aécio, que, ao falar do Mais Médicos, afirmou não querer “um programa para chamar de meu”.

A despeito da discussão em torno da Petrobras, o debate não se aproximou de questões pessoais. Mais suave, vestida de branco e batom roxo, Dilma foi a primeira a perguntar. Quis saber de Aécio se ele se comprometeria com a continuação do Simples, que beneficia os pequenos empreendedores. Na resposta, o tucano afirmou que a posição é “a mesma que tivemos quando criamos o imposto, no governo Fernando Henrique”.

— A minha preocupação, candidata, é que estamos tendo um decréscimo na geração desse emprego — disse Aécio.

Dilma afirmou que universalizou o Simples. O clima estava tão ameno que Aécio chegou a agradecer a qualidade da primeira pergunta feita por Dilma. Afirmou que não é preciso brigar pela paternidade dos projetos. Em seguida, disse que o crescimento do país será “praticamente nulo”, de 0,3%. A partir daí, os candidatos começaram a debater a veracidade dos dados que cada um apresentava.

— Não sei por que o senhor é tão pessimista em relação ao crescimento do país. É melhor rever suas contas. O senhor também está errando nas contas da Segurança. Gasto R$ 4,4 bilhões ao ano. O governo FH gastou R$ 1,2 bilhão ao ano.

Dilma voltou a associar a gestão tucana à privatização de bancos públicos:

—Escutei várias falas do seu candidato a ministro da Fazenda (Arminio Fraga) de que ele iria reduzir o papel dos bancos públicos, e no fim não sabia o que ia ficar. Acho lamentável esse terrorismo em relação aos bancos públicos — disse Dilma.

A gestão em Minas foi usada por Dilma para tentar atacar o tucano. Que reagiu, dizendo que concorria à Presidência. Dilma afirmou que, no Mapa da Violência, o Sudeste registrou queda de 37% nos homicídios — em MG houve um aumento de 52%.

Aos questionamentos sobre sua atuação como governador, Aécio afirmou que “gostaria de repetir no país o que fez em Minas”. Ao lembrar que o MP acionou o governo de Minas porque, na gestão de Aécio, ele não cumpriu o investimento mínimo constitucional em Saúde, Dilma leu o que disse ser uma frase de um conselheiro do Tribunal de Contas de Minas: “É duro engolir que vacina para cavalo seja contabilizada como despesa para Saúde”.

A atuação de Aécio Neves como presidente da Câmara também foi questionada por Dilma. Ela perguntou sobre projeto posto em pauta em 2001 que flexibilizava as leis trabalhistas e “significava perdas históricas para os trabalhadores”. Aécio respondeu lembrando que fora “deputado constituinte” e que sempre garantiu o direito dos trabalhadores. Ao reagir à pergunta sobre a inflação, que estaria fora do controle, Dilma afirmou que “vocês sempre gostaram de plantar inflação para colher juros”.

No terceiro bloco, Aécio se dirigiu aos nordestinos e acusou Dilma de ter deixado obras inacabadas no Nordeste, citando a transposição do Rio São Francisco e a Transnordestina. Segundo ele, os nordestinos não foram beneficiados com sequer “uma gota d’água da transposição”. Dilma respondeu que as obras estão andando e acusou o tucano de ter como obra-modelo de sua gestão em Minas Gerais um centro administrativo superfaturado.

Tom mais baixo para não perder eleitor

Marcelo de Moraes – O Estado de S. Paulo

Depois do vale-tudo, repleto de ataques pessoais nos debates da semana passada, Dilma e Aécio fizeram ontem um confronto diferente e muito mais ameno. As críticas pelo baixo nível do debate passado fizeram com que petista e tucano mudassem suas estratégias e optassem por trocar perguntas e respostas sobre propostas para seus eventuais governos.

Obviamente, não faltaram críticas e acusações, mas as formulações foram feitas de forma muito mais suave. Sumiram expressões como “leviana”, por exemplo. No lugar, surgiram palavras muito mais leves como “o senhor é engraçado” ou “é estarrecedor”. Também não apareceram tópicos como as do debate passado, como agressão à mulheres, álcool, família, entre outros.

As críticas foram feitas de forma diferente. Aécio bateu na tecla das denúncias de irregularidades na Petrobrás, insistindo, por três vezes, se a presidente confiava no tesoureiro do PT, João Vaccari, justamente um dos acusados de receber propina pelo ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa.

Dilma desviou do assunto e não respondeu. Mas ninguém perdeu a calma.

Pior: a presidente deu a impressão de ter recuado da declaração feita no sábado, quando reconheceu que houve desvio de recursos na Petrobrás. Ontem, no debate da TV Record, falou apenas de indícios de irregularidades, o que gerou a cobrança de explicações pelo adversário.

Já Dilma mirou mais uma vez os indicadores do governo de Minas Gerais, especialmente na administração de Aécio. Mas não aproveitou direito o que poderia ser uma ótima estocada no tucano, quando acusou a administração de Aécio em Minas de ter contabilizado vacinas em cavalos como gastos para a Saúde. Feita na última intervenção da presidente num dos blocos, a afirmação acabou caindo no vazio.

A presidente também aproveitou para martelar as críticas ao economista Arminio Fraga, anunciado por Aécio como seu ministro da Fazenda, insinuando que ele poderia mexer com os bancos públicos.

Sem a troca de acusações pesadas, o debate mostrou equilíbrio entre os candidatos e exibiu a clara preocupação de não aumentar a rejeição dos eleitores, aborrecidos com as baixarias na campanha. 

Além disso, ambos puderam começar a discutir temas que pareciam esquecidos como Saúde e Educação, ainda que abordados ainda de forma superficial. Assuntos como Cultura, Esporte, Turismo, Relações Internacionais seguiram sendo ignorados. E pontos polêmicos do primeiro turno, como as questões LGBT, sumiram completamente do mapa. A prioridade ontem era não correr riscos.

Aécio cobra de Dilma punição a tesoureiro do PT

• No Rio, tucano diz que presidente deveria ter cobrado punição de tesoureiro do PT no caso Petrobras

Cássio Bruno – O Globo

A uma semana para a eleição presidencial, no próximo domingo, o candidato do PSDB ao Planalto, Aécio Neves, mobilizou ontem, na orla de Copacabana, na Zona Sul do Rio, pelo menos cinco mil pessoas, segundo a Polícia Militar. Entre elas, políticos de vários partidos, artistas, esportistas, cabos eleitorais e simpatizantes à campanha. Em uma carreata de cerca de uma hora e 20 minutos, pela Avenida Atlântica, o tucano, atraiu a atenção de banhistas e moradores do bairro, onde, no primeiro turno, venceu com 60.587 votos.

Aécio percorreu a orla na caçamba de uma caminhonete. Ao lado dele, estavam a mulher, Letícia, o ex-jogador Ronaldo Nazário, o senador Francisco Dornelles (PP-RJ), o senador eleito José Serra (PSDB-SP) e o presidente nacional do PPS, Roberto Freire. Moradores dos prédios de frente à praia acenavam para o candidato pelas janelas.

Antes da carreata, Aécio Neves adotou um tom menos agressivo do que aquele que marcou os últimos dias de campanha ao dar uma entrevista coletiva no Clube dos Marimbás. Porém, o tucano cobrou da presidente Dilma Rousseff, candidata do PT à reeleição, uma atitude em relação às denúncias envolvendo o tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, feitas pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e pelo doleiro Alberto Youssef, presos pela Operação Lava-a-Jato, da Polícia Federal. No sábado, Dilma admitiu, pela primeira vez, ter havido desvios de recursos na estatal.

- Não vi nenhuma atitude da presidente em relação àquele que é denunciado pelo delator como receptor da parcela (de dinheiro) que pertencia ao PT, que é o tesoureiro do partido - disse Aécio Neves.

O tucano disse achar uma "evolução" e um "avanço" o reconhecimento de Dilma sobre supostos casos de corrupção na Petrobras:

- É uma evolução, um avanço. Foi isso que eu cobrei dela em todos os debates. Quando pedi uma CPI no Senado, o PT disse que era factoide. Quantas vezes eu ouvi que o "Aécio Neves queria denegrir a imagem da nossa maior empresa". Pois bem: as investigações avançaram. A delação premiada mostra a extensão desta rede. Mas é um avanço a presidente pelo menos admitir que isso aconteceu. Talvez um pouco tarde, mas essa admissão é algo positivo.

E completou:

- Quero nessa última semana fazer aqui um convite a nossa adversária para que nós possamos debater propostas e falar do futuro do Brasil para que os brasileiros conheçam de forma mais clara e profunda aquilo que nos separa - disse Aécio - Sou de uma escola política do meu avô (Tancredo Neves) que diz que quem deve brigar são as ideias, e não as pessoas

Pelo menos 50 policiais militares e 16 homens do Batalhão de Choque acompanharam, além da Guarda Municipal. A carreata saiu do Forte de Copacabana e terminou na altura da Rua Miguel Lemos, em frente ao prédio em construção do Museu da Imagem e do Som. Não houve incidentes durante o trajeto, segundo informou a PM, mas a caminhada provocou engarrafamentos.

Reação de Andréa Neves
Alvo da presidente Dilma Rousseff nos últimos debates, a jornalista Andréa Neves, irmã de Aécio Neves, se emocionou ontem ao falar sobre o caso. A petista acusou o tucano de nepotismo quando era governador de Minas Gerais. Segundo Dilma, Aécio empregou Andréa na área de ações sociais em sua gestão. Segundo a irmã do candidato, a versão é produto das "mentiras do PT" e é pautada por uma "luta covarde e desleal".

- O que impressiona a cada um de nós e a milhões de brasileiros é o absoluto descompromisso com a verdade. Como é que dados são falseados, números são alterados, informações são dadas sem nenhum compromisso com a verdade? Cabe a nós, que estamos próximos ao Aécio agora, manter o coração mais firme e confiar no bom senso das pessoas - disse Andréa.

A jornalista ponderou, entretanto, que confia na população brasileira.

- Essa campanha, com tanta mentira, com tanta calúnia, com tanta infâmia patrocinada pelo PT, vai acabar servindo para alertar a população brasileira a respeito do que está por trás de tudo isso. O que fazemos hoje na reta final é confiar no bom senso dos brasileiros - completou Andrea.

Andréa comentou a atitude de Aécio Neves de acusar o irmão de Dilma, Igor Rousseff, de ter sido, segundo o tucano, funcionário fantasma na prefeitura de Belo Horizonte, na gestão do petista Fernando Pimentel:

- O que ele fez foi reagir a um tipo de calúnia e de massacre. Nossa família foi trazida para o debate político com base em mentiras. Não há nenhum caso de nepotismo em Minas Gerais. Quem disse foi o Ministério Público. Não é questão de opinião. É fato.

Após denúncias, oposição quer convocar Gleisi Hoffmann para depor na CPI da Petrobras

• Senadora teria recebido R$ 1 milhão do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa

André de Souza – O Globo

BRASÍLIA - Líderes da oposição partiram para o ataque contra a senadora e ex-ministra Gleisi Hoffmann (PT-PR), após as denúncias publicadas neste domingo que envolvem seu nome nos depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. O líder do Solidariedade na Câmara, o deputado paranaense Fernando Francischin informou hoje que vai apresentar um requerimento com o objetivo de convocar a senadora para que ela deponha na CPI mista da Petrobras no Congresso.

Outros nomes da oposição, como o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), e o deputado Rubens Bueno (PPS-PR), também avaliam chamar a senadora para depor.

Fernando Francischin quer que Gleisi dê explicações sobre a denúncia de que teria recebido R$ 1 milhão do ex-diretor da estatal. Segundo o jornal "O Estado de S.Paulo", a informação partiu do próprio Paulo Roberto Costa, que participa de um processo de delação premiada. O dinheiro teria sido desviado da Petrobras para financiar a campanha de Gleisi, que tentava uma vaga ao Senado em 2010.

Segundo Francischini, está claro agora por que Gleisi tentou retardar a instalação da CPI que investiga irregularidades na estatal.

“No dia em que Renan Calheiros (presidente do Senado), outro citado pelo Paulo Roberto Costa, ia instalar a comissão a Senadora Gleisi fez uma questão de ordem alegando ‘fatos desconexos’, o que atrasou ainda mais a instalação. Escalaram ainda Gleisi para apresentar ações judiciais no STF contra a instalação da CPMI da Petrobras. Agora está explicado o motivo pelo qual a presidente Dilma Roussef e a senadora Gleisi Hoffmann, ex-ministra da Casa Civil da Presidência da República, lutaram tanto para impedir a abertura da CPMI da Petrobras", informou Francischini por meio da assessoria de imprensa.

Já Antonio Imbassahy (PSDB-BA), também avaliam chamar Gleisi para depor na CPI. Ele disse já ter conversado com o líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PPS-PR), sobre o assunto. Mas Imbassahy mostra dúvidas sobre a viabilidade de conseguir convocá-la.

— É um fato grave, porque ela exerceu um cargo importante. A função era da mais íntima relação e confiança, na antessala da presidente da República. O que ela está dizendo não é suficiente para isentá-la. Estamos pensando, vamos discutir na segunda-feira com mais líderes de oposição, convocá-la para que deponha na CPI — disse Imbassahy, acrescentando: — Eu acho que conseguir uma aprovação é difícil, porque a maioria dos governistas (na CPI) é esmagadora, e está mais que claro que operam sob orientação do Palácio do Planalto para não deixar investigar.

A reportagem diz que o ex-diretor da Petrobras recebeu um pedido do doleiro Alberto Youssef para “ajudar na candidatura de Gleisi”. Ele ainda afirmou que Paulo Bernardo, ministro das Comunicações e marido da senadora, teria recebido o dinheiro. Segundo o depoimento de Costa, o repasse de R$ 1 milhão para a campanha seria comprovado através das anotações que ele mesmo fez em sua agenda pessoal, apreendida pela Polícia Federal no dia 20 de março, três dias depois de deflagrada a operação Lava Jato.

Petistas atacam para tentar aumentar a rejeição de rival

• Dilma afirma que Aécio 'precisa aprender a respeitar as mulheres';comitê diz que partido só reage a 'ódio eleitoral'

Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo

A campanha pela reeleição da presidente Dilma Rousseff chegou à conclusão de que há poucas chances de obter mais apoiadores daqui até o dia da votação, no domingo que vem, razão pela qual não pretende abandonar os ataques ao adversário Aécio Neves. Com isso, o comitê petista espera aumentar a rejeição do adversário, reduzindo suas chances. A tática da vitimização, já ensaiada no final da semana passada com discursos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também será explorada.

A própria Dilma entrou no assunto ontem, antes do debate da TV Record. Disse que Aécio precisa "aprender a respeitar as mulheres". "Com mulher não pode ser assim", disse.
Na internet, o comitê de Dilma lançou a campanha "Mais Dilma, Mais Amor", na qual combate o "ódio eleitoral" e usa como exemplos casos de petistas agredidos nas ruas por tucanos nas últimas semanas.

Os petistas tem uma preocupação especial com o debate da TV Globo, nesta sexta-feira, que classificam como decisivo. "Sempre tem aquele impacto", diz o presidente do PT, Rui Falcão.

Enquanto isso as propagandas na TV e principalmente no rádio e na internet continuam divulgando denúncias contra Aécio. Ontem, um texto sobre a "dificuldade de Aécio em respeitar as mulheres" teve destaque especial na página da campanha da petista na internet.

Os integrantes do comitê da campanha à reeleição estão guardando munição contra o tucano.

Afirmam que Dilma "não vai apanhar calada" caso seja agredida pelo adversário.

Em outra frente, o PT vai tentar atrair o eleitorado que votou em Marina Silva (PSB) no 1.º turno. O principal alvo é a classe média que historicamente votava no PT e hoje rejeita o partido.

Para isso a campanha de Dilma convocou artistas e intelectuais para um ato hoje no Tuca - histórico teatro na PUC de São Paulo -, com a presença de intelectuais petistas, além de reforços de última hora, como o economista Luiz Carlos Bresser Pereira, fundador do PSDB, e o antigo desafeto Francisco Oliveira, cientista político que estava afastado do PT desde o início do governo Lula, em 2003.

Nas viagens, o foco da campanha será o Sudeste, com destaque para São Paulo, onde o PT sofreu uma derrota acachapante no 1.º turno - obteve apenas 26% dos votos. A estratégia é explorar a crise de abastecimento de água, como fez na propaganda eleitoral na TV ontem. "Mostraremos propostas para saúde e emprego, mas em São Paulo é água, água e água", diz o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante.

Para consolidar a liderança no Nordeste, Dilma vai colar sua imagem à de Lula. Ambos participarão de ato no centro do Recife amanhã. A ministra da Cultura, Marta Suplicy, finalmente foi convencida a se integrar à campanha. Ela vai ao evento no Tuca e deve participar de atividades na periferia da capital paulista. /Colaborou Isadora Peron

Na TV, Aécio lembra que Dilma já o elogiou por gestão em Minas Gerais

• Presidente atribui a crise de água em São Paulo ao "modelo de gestão tucano"

• Elogios. Reprodução do programa de TV de Aécio mostra fala de Dilma de 2009, quando ela era ministra de Lula

- O Globo

BRASÍLIA - Em meio aos ataques das duas candidaturas, que permanecem nas peças de rádio e TV apesar das restrições impostas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) à propaganda eleitoral, a campanha do presidenciável Aécio Neves (PSDB) exibiu ontem uma declaração de Dilma Rousseff (PT) elogiando a gestão do tucano à frente do governo de Minas Gerais. A fala é de 2009, quando a presidente ocupava o cargo de ministra da Casa Civil da Presidência da República, no governo Lula. Em entrevista a uma rádio de Minas, Dilma afirmou, na ocasião, que Aécio era um dos melhores governadores do país.

Texto e áudio foram reproduzidos na propaganda de Aécio no rádio e com inserções na TV. Antes da exibição do áudio com a fala da candidata petista, o locutor anuncia: "Preste atenção no que Dilma fala de Aécio". Na sequência, aparece a declaração dela: "O governador Aécio Neves é um dos melhores governadores do país" e informa que a declaração de Dilma foi feita à Rádio Itatiaia, em 17 de abril de 2009. Após a exibição desse trecho da entrevista, volta o locutor do programa tucano: "Aécio é aprovado até pela Dilma".

Ataques aos adversários continuam
Mesmo com as vedações impostas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de que a propaganda no horário eleitoral se restrinja à apresentação de propostas, os programas na TV de ontem dos dois candidatos atacaram os adversários. Boa parte do programa do PT que foi ao ar criticou a crise no abastecimento de água que atinge São Paulo, destacando que o problema seria decorrente do "modelo de gestão tucano".

Entre falas de atores, de um narrador e da própria presidente Dilma, o vídeo sustenta o discurso de que o governo federal teria alertado para o problema e tentado ajudar o governo de São Paulo, mas que o tucano teria preferido o lucro de investidores da empresa de abastecimento à realização das obras necessárias. "Quero fazer chegar até você eleitor, mais um exemplo do modelo de gestão tucano, que meu adversário defende (&) Aécio representa bem esse jeitinho tucano de governar", afirma Dilma em um trecho.

O programa petista exibiu um depoimento de Marcelo Freixo, deputado estadual pelo PSOL, no Rio, reeleito com maior votação, com pouco mais de 350 mil votos. Ele declara seu "veto em Aécio" e seu "voto em Dilma". No programa, um dos locutores ressalta que o "jeito tucano de governar" seria "sem transparência, fugindo da realidade e pouco se importando com as pessoas". O ex-presidente Lula voltou a aparecer na TV, comparando os governos do PT com o do PSDB.

Mais cedo, no programa da tarde de Dilma, focado em segurança pública, um ator se refere a taxas de violência em Minas Gerais para dizer que o estado governador por Aécio Neves durante duas gestões teria índices piores que o restante da região Sudeste. "Minas, que Aécio e seu grupo governaram por 12 anos, também vive uma grave crise na segurança", diz o ator.

Parentes de Aécio vão para a TV
No seu programa de tevê, Aécio apresentou os familiares, que gravaram depoimento. Andréa (irmã), Leticia (esposa), Gabriela (filha) e Inês Maria (mãe) apareceram no programa. Aécio anunciou que esta é a última semana antes da votação, dia 26, e enalteceu o papel da família. O senador citou programas que teria desenvolvido durante em seu governo de Minas, como Mães de Minas. O tucano anunciou que, se eleito, trará vinte milhões de adultos para as salas de aula. Esses antigos alunos receberão um salário mínimo de estímulo por mês. Ele chamou a iniciativa de "mutirão escolar".

O candidato tucano fez duras críticas ao governo Dilma. Os locutores atacaram os seguintes pontos: menor crescimento; maiores juros do mundo; maior carga de impostos; maior déficit da história da indústria; apenas 12% das obras do PAC concluídas; o Brasil registrou 181 apagões; a inflação voltou; promoveu a Copa do Mundo mais cara da história.

“PT está no rumo de derrota acachapante”

• Entrevista Aloysio Nunes - Candidato a vice na chapa de Aécio Neves

- Zero Hora (RS)

Como o senhor avalia a campanha no segundo turno?
Participo da política há mais de 30 anos e nunca vi tamanha agressividade como essa do PT. Não apenas as mentiras, calúnias, difamações veiculadas na internet, aquela enxurrada de sujeira, mas também o que a Dilma faz na TV. Primeiro, foi a Marina. Antes, o Eduardo Campos e, agora, o Aécio. Nosso interesse é discutir o futuro. Mas ela não tem outra atitude a não ser colocar a faca entre os dentes nos debates. É uma coisa sórdida. Basta você frequentar as redes sociais para ver o quão criminosa é a campanha do PT.

O instituto da reeleição, aprovada no governo FH, tem sido debatido. O senhor é a favor?
Um sistema político é tanto mais democrático quanto mais amplas forem as opções oferecidas ao eleitor. Não vejo por que negar a ele o direito de reconduzir um governador, um prefeito, um presidente que ao seu juízo esteja tendo um bom desempenho. A reeleição não significa a vitória de quem está no cargo. Veja o que está acontecendo com o Tarso, que está no rumo de sofrer uma derrota acachapante. É o que vai acontecer com Dilma.

A reeleição não faz com que os políticos trabalhem pensando no próximo mandato?
Depende do político. Você pode fazer políticas populares, ou seja, que interessem, que promovam a maioria sem ser populista. Agora, este meu ponto de vista é absolutamente minoritário dentro do meu partido e creio que também dentro do Congresso. Hoje, existe ampla maioria pela revisão do instituto, e é essa a posição do Aécio Neves e também da Marina Silva.

O senhor definiu as ciclovias paulistas como um "delírio autoritário" do prefeito. O senhor é contra o uso de bicicletas como meio de transporte?
Sou plenamente a favor. O problema é que, quando as ciclovias são mal planejadas, podem aumentar, agravar o caos das cidades, provocando congestionamentos. As ciclovias são opção de transporte excelente, saudável, não poluidora, mas, se provocam congestionamento, agravam a poluição. Por isso, elas têm de ser bem planejadas. Não é o caso daquelas que são feitas na cidade de São Paulo.

Por que o senhor é favorável à descriminalização do aborto?
Não sou a favor do aborto. O aborto é um trauma. A mulher que é levada, por qualquer que seja a razão, a interromper a gravidez já passa por um sofrimento intenso. Além disso, submetê-la a uma pena de prisão é desumano. Temos de tratar isso de outra forma, prevenindo a gravidez na adolescência e dando às mulheres que não têm condições de criar os filhos políticas públicas adequadas.

Como o PSDB pretende construir maioria para governar?
O PT saiu diminuído da eleição. Os escândalos da Petrobras e outros, revelados depois do mensalão, abalaram o prestígio, diminuíram o voto de legenda e, em consequência, a bancada. Teremos um ponto de partida para a formação de maioria parlamentar que são os deputados e senadores eleitos pela nossa coligação. Agora, penso que o presidente da República, tendo um programa legislativo claro, coisa que o governo atual não tem, tendo uma pauta bem definida, de temas que sejam pertinentes à solução dos problemas do Brasil, pode formar maioria sem prostituir a política como o PT fez.

Caso o PSDB vença, o senhor teme a retomada de protestos de movimentos sociais?
Teremos diálogo com todos os movimentos sociais. Mas não é possível o que aconteceu recentemente em Brasília. Um badernaço organizado pelo MST, com tentativa de invasão do Palácio do Planalto e, no dia seguinte, os seus dirigentes são recebidos como chefes de Estado pela presidente. Isso é inadmissível. E vamos voltar à regra de que terra invadida não pode ser desapropriada. A lei que existe tem de ser respeitada.

Na ditadura, o senhor foi guerrilheiro. Qual sua relação hoje com o seu passado?
Não tenho arrependimento, apenas uma visão crítica da opção que fiz naquele momento, que me parecia o caminho mais eficaz para combater o regime. A revisão sobre a luta armada se deu ainda naquele período, no início dos anos 1970, diante do evidente fracasso desta tática e da percepção crítica em relação à própria ideologia que nos orientava. Porque, se éramos contra a ditadura, tínhamos também uma visão autoritária do que poderia ser a forma de Estado que sucederia a ditadura. Éramos muito próximos do pensamento autoritário de partidos como o comunista cubano. Quem venceu a ditadura foi o movimento de massas, a resistência dos intelectuais, dos artistas e dos sindicatos. O povo brasileiro, na sua maioria, jamais poderia optar pela forma de luta pela qual optamos. Representávamos uma elite com grau profundo de ilusão sobre a própria capacidade de transformar as coisas.

Como o senhor explica a sua mudança de espectro político ao longo das décadas?
Continuo sendo um homem de esquerda, um socialdemocrata, radicalmente democrático, defensor dos direitos humanos, das liberdades, das minorias. Acredito que não podemos nos conformar em viver em um país com tamanho grau de injustiça como o nosso.

"Desconstrução pode ser remédio ou veneno"

• Entrevista Fernando Abrucio - Cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP)

Diante das pesquisas que apontam empate técnico entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) a seis dias da eleição, o cientista político Fernando Abrucio afirma que a decisão virá "na última curva", em alusão à ultrapassagem que deu o título mundial de Fórmula 1, em 2008, ao inglês Lewis Hamilton, quando Felipe Massa já havia cruzado a linha de chegada. "Os candidatos terão que dirigir com as pontas dos dedos, como se diz nas pistas". Ele adverte que a estratégia de desconstrução depende da dose certa. "Pode ser um remédio, mas pode-se tornar um veneno". Na opinião de Abrucio, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP), o desafio de Dilma é desconstruir a candidatura do Aécio, enquanto o tucano tem de confirmar a imagem que ele construiu ao fim do primeiro turno. Abrucio assegura que o resultado do pleito terá uma diferença mínima de votos. "Se houver equilíbrio entre os dois nos debates de TV, o vencedor ganhará com um nariz de distância sobre o outro", aposta.

Eduardo Miranda, Octávio Costa – Brasil Econômico

O sr. consegue fazer um prognóstico para esta eleição?
Será a eleição mais disputada desde 1989. Isso vai se expressar, provavelmente, na diferença entre os dois candidatos em termos de votos válidos, que deve ficar entre 2 e 6 pontos percentuais. Significa que estamos nos diferenciando das últimas cinco eleições, nas quais duas foram vencidas no primeiro turno, e outras três no segundo, com mais de 10 pontos de diferença entre os dois candidatos. Hoje, o prognóstico é muito difícil. Eu diria que Aécio teria 51% de probabilidade de vencer a eleição, e Dilma, 49%.

Essas pesquisas, então, seriam confiáveis?
Acho que sim. Agora, tem que dizer que isso é hoje. Temos que lembrar que de 15% a 20% dos eleitores totais podem mudar de voto, sejam aqueles que estão se colocando como indecisos, com votos brancos e nulos, ou aqueles que, por enquanto, estão optando por Dilma ou Aécio. Ou seja, um quinto dos eleitores pode se mexer, e isso nos dois últimos dias da eleição.

Que fatores poderiam influenciar a decisão dos eleitores na última semana?
O sentimento do eleitor é um desejo de mudança com estabilidade. Quando a gente olha as qualitativas e quantitativas e faz uma síntese delas, vê que os eleitores querem mudança, mas temem perder as conquistas. É um eleitor difícil de avaliar. Quando o eleitor é de continuidade — como foi em 1994, 2006 e 2010 —sabe-se mais claramente para onde ele vai. Quando é de completa mudança, como foi em 2002, você também sabe. O grande problema, hoje, de entender qual será o resultado final, não se restringe às pesquisas de opinião, é o sentimento geral do eleitorado, que é uma busca por mudanças com estabilidade. Esse sentimento é difícil de traduzir e é mais claro não nos extremos do eleitorado, mas nesses 20% que estão entre brancos, nulos e indecisos.

Não por acaso, Aécio tem dito que é o candidato da mudança, mas que continuará fazendo as políticas públicas que dão certo. Qual é o limite da mudança que ele propõe, então?
Se Aécio chegar e falar que vai mudar tudo que tem aí, porque o governo é, simplesmente, um fracasso, ele perde a eleição. Do mesmo modo, Dilma, que é a continuidade, tem, também, que falar da mudança. É uma eleição de difícil interpretação, sobretudo para esses 20% do eleitorado, que são mais voláteis do que os outros 80%, e que decidirão a eleição. Geralmente, é um eleitorado feminino, de dois a cinco salários mínimos, de média escolaridade — ou seja, não tem tão pouca escolaridade, mas não tem nem ensino superior nem ensino médio completos. Por isso, os candidatos têm que dirigir com as pontas dos dedos, como se diz na Fórmula 1.

E torcer como se estivesse na última curva.
Só que a última curva é diferente para os dois. Para Dilma, nesse momento, a última curva é, no fundo, desconstruir a candidatura do Aécio. E a do Aécio é confirmar a imagem com que ele chegou no fim do primeiro turno. É uma última curva diferente, na qual ambos têm que dirigir no limite. Não por acaso, ambos não aceitaram ser entrevistados pelo "Jornal Nacional", temendo que, na última curva, algum assunto menos importante aparecesse, e eles não soubessem lidar com isso.

Os debates que serão realizados nos próximos dias terão muito peso? Fala-se muito que o da TV Globo será crucial.
O debate da Globo é o que tem mais peso, por duas razões. Uma é pela audiência; outra, pela proximidade da eleição. O Datafolha mostrou que, no primeiro turno, uma quantidade enorme de eleitores, cerca de 15%, mudou seu voto nos dois últimos dias. Quando a gente olha para os 6% de indecisos, eles respondem que vão decidir na última hora. Eles estão dizendo, em sua maioria, que vão continuar indecisos até a última hora, o que é um avanço democrático. No debate, mais importante do que ter um bom desempenho é não ter um mal desempenho. O que aconteceu no final do primeiro turno não foi só Aécio ter ido bem no debate, mas, principalmente, Marina ter ido muito mal. Na quinta-feira, se houver equilíbrio entre os dois, o vencedor ganhará com um nariz de distância sobre o outro.

Diante dessa análise, a visão deque é uma eleição plebiscitária, em que há uma decisão entre PT ou não-PT, não se aplicaria aos indecisos?
Não. Existe uma parte grande do eleitorado que é dividida. Uma parte mais voltada ao lulismo, ao petismo, e uma parte muito grande antipetista. Só que quem vai decidir a eleição são os que não estão nesses dois blocos. Esses dois blocos se consolidaram, na verdade. São eles que fazem com que PT e PSDB cheguem ao segundo turno. Eles dão vantagem a esses partidos. Se a gente olhar os dados do Ibope do primeiro turno, há algo em torno de 37% de eleitores lulistas de carteirinha e 33% de eleitores antipetistas de carteirinha. Somando esses dois números, dá 70%. Um terço fica flutuando. Nessa eleição, talvez seja um pouco menos que um terço, talvez um quinto. Os outros 10% já foram conquistados ou por Aécio ou por Dilma. Esses 20% não querem, necessariamente, a polarização. Eles querem, na verdade, mudança com estabilidade. No fundo, o trabalho de Dilma em tentar desconstruir Aécio não se dá da mesma forma que a desconstrução de Marina. Desta vez, é desconstruir Aécio para conseguir mostrar, de algum modo, que ele é o retrocesso. Do lado de Aécio, é tentar mostrar que isso não é verdadeiro.

A estratégia de desconstrução aplicada nessa eleição pelos marqueteiros é algo novo?
Não, ela já existiu em outras eleições. No segundo turno de 1998 em São Paulo, Mário Covas fez a campanha inteira dizendo que Paulo Maluf era ladrão e corrupto. A questão é que algumas eleições dependem mais desse tipo de arma eleitoral. Em outras, não tem tanto efeito. Além disso, o mecanismo de desconstrução depende da medida. Na medida certa, é remédio; na medida errada, é veneno. Acho, até, que o PT abusou da medida no primeiro turno, e uma parte virou veneno. No fundo, para o PT, teria sido muito mais inteligente usar pouco esse elemento contra Marina, e deixar que Aécio usasse mais, porque ele precisava ultrapassá-la. Se isso tivesse acontecido, hoje, Dilma seria a favorita para o segundo turno. O dado mais importante do Datafolha não é a manutenção da pontuação de ambos, mas o aumento do índice de rejeição de Aécio, que está se aproximando de Dilma, o que mostra que a desconstrução, por enquanto, não perdeu a medida.

Não havia a expectativa na campanha de Aécio de que ele fizesse mais uso dessa desconstrução?
No fundo, Aécio está acreditando que o cenário atual é o mesmo do fim do primeiro turno. Ele acredita que Dilma já perdeu a medida na desconstrução. Mas, neste momento, não dá para dizer que Dilma perdeu a mão na desconstrução. Pelo contrário, a rejeição de Aécio está aumentando. Se isso aparecer na próxima pesquisa eleitoral, eu, se fosse ele, tentaria desconstruir mais fortemente Dilma no próximo debate.

O que explica a dificuldade da presidenta Dilma nesta eleição?
É preciso olhar a taxa de aprovação do seu governo. A taxa de aprovação da Dilma, que aumentou ao longo da campanha — por isso que ela conseguiu chegar ao segundo turno e respirar—hoje é de 40%. A taxa de aprovação do governo Lula próximo a esse período era de 83%. A taxa de aprovação é o que melhor explica. No atual momento, Dilma está no limite da possibilidade de ganhar a eleição. Se ela ganhar, vai ser por um triz, nesse limite. Se, até o dia da eleição, a taxa de aprovação dela baixar, ela perde. Se ela crescer um pouco mais, 4, 5 pontos, crescem muito as chances de ela ganhara eleição, embora eu ache que isso seja difícil de acontecer.

Fala-se da divisão regional entre Norte/Nordeste e Sul/Sudeste e de uma divisão social e de renda, em que a maioria dos mais pobres votaria em Dilma e os ricos e a classe média mais alta, no Aécio. O sr. concorda?
Em parte. Sem dúvida alguma, o Nordeste é fortemente lulista. E o Centro-Sul é mais tucano. Mas não é só isso que explica. Se fosse só isso, Dilma estaria bem mais atrás. É que ela tem no Sudeste, sobretudo no Rio, em São Paulo e em Minas, a votação daqueles que tem até dois salários mínimos. Nesta eleição, entre aqueles que têm entre dois e cinco salários mínimos, Aécio lidera. Mas ele lidera onde? Fundamentalmente, em São Paulo, que é o estado maior e onde ele conseguiu chegar aos mais pobres nesse segundo turno. Isso garante a maior possibilidade de Aécio ganhar a eleição. É um paradoxo lógico. Os mais pobres vão votar na Dilma, mas uma parcela dos mais pobres,em particular, em São Paulo, pode garantir a eleição do Aécio.Portanto, existe uma certa polarização, mas que não é verdadeira por completo, nem do ponto de vista regional, nem da renda. No entanto, se o Aécio perder a liderança nesse eleitorado entre dois e cinco salários mínimos — o que pode acontecer, uma vez que é um eleitorado volátil, com grande participação feminina e menor escolaridade, que tem um número grande de pessoas indecisas, não só de brancos e nulos, mas daqueles que são mais voláteis no momento —, Dilma ganha a eleição. É esse eleitorado que vai decidir a eleição.

Qual é o impacto do apoio de Marina para Aécio?
O impacto não veio como se esperava, porque o eleitor fez suas escolhas antes da Marina. Ela só tinha duas opções: apoiar Aécio no dia seguinte à eleição, ou fazer uma lista enorme de temas vinculados à sua história, que se Aécio não aceitasse, ela diria "olha, não estou ficando neutra, é o Aécio que não segue uma linha mais progressista". Ao não fazer nenhuma dessas duas coisas, ela perdeu eleitores. De um lado, aqueles que queriam uma decisão mais rápida, pularam para Aécio antes de Marina e não precisam mais dela. De outro, aqueles que queriam um compromisso maior de Aécio com o programa da Rede (que Marina simboliza) ou estão indecisos, ou vão votar branco/nulo, ou já optaram pela Dilma. Creio que ela saiu menor da campanha do que quando entrou. Em certo momento, Marina era favorita para ganhar no segundo turno. Hoje, ela tem menos capacidade de influenciar o voto do que há15 dias. Houve uma redução do poder de Marina. Isso quer dizer que ela acabou politicamente? Claro que não. Mas ela terá que reconstruir sua carreira política, sua inserção na vida política brasileira. E os caminhos ficaram mais difíceis para ela.

Há uma tendência dos indecisos pró-Dilma?
Eu diria que sim. Mas não é que os indecisos todos vão para Dilma, porque indeciso ainda é indeciso. Eles não têm um voto ainda. Se fosse hoje, Aécio ainda ganharia, porque eles ainda estão indecisos. Mas, se, na próxima semana, Aécio perder votos nessa faixa de dois a cinco salários mínimos, em particular no Sudeste, e aumentar sua rejeição, a gente inverte: Dilma vira favorita.

A garantia dele seria o voto desse eleitorado em São Paulo?
Em São Paulo, Minas e Rio.

Por que essa faixa de renda pendeu para o PSDB?
Há uma situação que gera um certo paradoxo. Essas pessoas melhoraram de vida ao longo dos últimos 12 anos, principalmente durante os oito anos em que Lula foi presidente. Nos últimos quatro anos, a vida delas não melhorou tanto. Quando elas melhoraram, começaram a se tornar mais demandantes de coisas que antes não tinham, como a qualidade dos serviços públicos. Essas pessoas estão com uma enorme estabilidade no emprego. Portanto, não tem mais aquela situação de insegurança no emprego, que era muito forte no segundo governo FHC e destruiu o seu governo. Mas elas querem mais serviços públicos. Muitos vão dizer que elas se tornaram mais conservadoras, mas não são conservadoras no sentido ideológico. Elas começam a temer que possam perder posição. Essas pessoas eram mais favoráveis ao Bolsa Família há dois, três anos, do que hoje.

Há a perspectiva de uma presença maior de Lula nesse final de campanha. O sr. acha que isso influencia?
Ainda não está claro qual vai ser o envolvimento do Lula na campanha. Por enquanto, tem sido muito menor do que vem sendo alardeado pelos petistas. A primeira tarefa da campanha da Dilma é conseguir, efetivamente, envolver o presidente Lula. Se eles conseguirem isso, Lula tem um possível impacto, sobretudo no eleitorado do Nordeste, mas também no Sudeste, como no Rio, entre o eleitorado mais pobre. No Nordeste, ele pode aumentar a diferença da Dilma para o Aécio, o que já seria algo importante, embora não completamente decisivo do ponto de vista do resultado eleitoral. Mas não está claro para mim qual vai ser o envolvimento dele. Afinal, o que ele tem dito é que vai fazer campanha nos lugares em que o PT ou algum aliado está concorrendo ao segundo turno. É verdade que uma parte deles está no Nordeste, como no Ceará ou na Paraíba, o que vai favorecer, por tabela, a presidente Dilma. Mas ele pode fazer algo mais forte ainda indo para Ceará, Paraíba, Bahia, Pernambuco, pode ir a alguns lugares da região Norte e tentar fazer uma campanha mais forte em São Paulo e Rio. Por enquanto, isso não aconteceu. Tem ali um jogo mais oculto, por enquanto, de qual vai ser o grau de envolvimento do Lula nesse final de campanha da Dilma no segundo turno. Se ela conseguir envolvê-lo, ganha uma arma importante.

Como o sr. vê a questão do mercado financeiro contra Dilma?
Acho que tem a ver com uma sensação de que a política está errada, ao menos para aquilo que o mercado financeiro acredita ser a política econômica certa. Eles apontam a queda do superávit primário, o aumento da taxa de inflação, a redução do crescimento econômico. Em segundo lugar, o mercado financeiro tinha um maior entrosamento com o governo Lula e como governo Fernando Henrique. O corte não é o governo Lula, é o governo Dilma. Quando o governo Lula adotou políticas anticíclicas, o mercado financeiro não ficou bravo com isso. A grande maioria queria a manutenção do lulismo, até porque viu no Serra algo diferente do que viram no Fernando Henrique. No governo Dilma, há um corte, em parte por erro da avaliação das políticas econômicas, mas também por essa falta de entrosamento. Bateram de frente várias vezes, há a história de como houve a redução da taxa de juros. Nesse processo, houve o predomínio de um cabo de guerra entre o governo e o mercado financeiro. A presidente não foi capaz de reconstruir as pontes com o mercado financeiro.

Ela devia já anunciar a nova equipe econômica?
Ela devia ter anunciado a equipe econômica, se fosse o caso de querer mudar, há seis meses. Não o fez, embora já tenha demitido e mantido em atividade o ministro. Agora, no meio da campanha do segundo turno, creio que criaria mais ruídos do que pontos a favor. Acho que Dilma perdeu o timing disso.

O sr. acha que se o presidente Lula tivesse sido candidato,a situação seria diferente?
Para Lula ser candidato, Dilma teria que, de alguma forma, obedecer a ele. Lula pediu no final do ano passado a mudança do ministro da Fazenda. Se ele tivesse sido candidato, ele poderia dizer que a presidente Dilma governa, mas ele está ajudando a consertar algumas coisas, porque ele é o candidato. Se isso ocorresse, acho que ele teria sido o franco favorito para essa eleição. Mas não ocorreu. Dilma acreditou até o final que ela teria chances, embora tenha chances muito apertadas. E, por outro, Lula não quis comprar essa briga, já que ele não tinha a convicção de Dilma de que ele deveria ser o candidato. Seria um desgaste muito grande e que poderia gerar mais problemas do que soluções ao próprio PT.

Parece que ele está se preservando para 2018.
Em parte, sim. Ele não brigou para ser o candidato, e não ajudou tanto ao longo da campanha de Dilma até agora porque não foi chamado para tal. Alguém só vai participar de uma campanha mais fortemente se você coloca o cara no pedestal. Aécio fez isso com Fernando Henrique. Ele fala mais do Fernando Henrique nos debates do que Dilma fala do Lula. Obviamente, Lula está apoiando Dilma, mas com menor intensidade. Creio que, se ele fosse chamado, colocaria alguns poréns, e ela teria que aceitar pelo menos uma parte desses poréns, e ele estaria hoje com maior participação. Mas os petistas não podem exigir maior participação do Lula sem dar o papel central que ele quer ter. Por isso, ele prefere ter uma participação mais low profile ao longo da campanha. A opção dele não é apenas um cálculo em relação a 2018, é resultado da forma com que a campanha da Dilma o tratou — num certo momento, em agosto, se aproximou do Lula, e, no momento em que a Marina começou a cair, se afastou dele. É uma situação de incerteza também para ele.

O sr. disse no ano passado que o PT precisava construir uma relação bem azeitada com o PMDB para ter êxito nas eleições. Isso deu certo?
Não deu muito certo. Em alguns estados, como Minas e Piauí, houve esse acordo, uma articulação capaz de agradar aos dois lados. Mas houve um número enorme de lugares em que a aliança não deu certo. O resultado é duplo: o governo perdeu apoio na própria campanha, vide Rio Grande do Sul, e se, porventura Dilma ganhar a eleição, ela terá um cenário difícil, terá que reconstruir essa relação,que hoje é muito ruim. Metade da Câmara está com Dilma e a outra metade, contra. No Senado, está um pouco melhor, ela tem apoio da maioria.

O deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) disse que metade do partido está com Aécio. Se Dilma vencer, ela terá um PMDB mais rebelde?
A frase do Eduardo Cunha tem a ver também com o passado, quando eles acreditavam que teriam maior entrosamento com o governo. Além disso, tem a ver com o cheiro da possibilidade deAécio ganhar a eleição. Há ainda outro elemento que está fora dessa discussão: ele está com medo do combate à corrupção, porque existe um número enorme de deputados, senadores e governadores com temor de que toda essa história da Petrobras traga mais histórias. Acho que, de certa maneira, Cunha aposta que um governo de Aécio Neves seria melhor porque, de alguma forma, não precisariam da incômoda aliança com o PT e com Dilma, que maltrataram o PMDB nos últimos anos. E, também, porque eles acham que com Aécio seria mais fácil segurar essa avalanche que pode vir dos escândalos. É uma aposta.

O sr. acha que temas como corrupção, Petrobras e nepotismo vão pesar na reta final?
Pesou até agora. Ajudou a oposição a trazer para um empate técnico. Claro que ajudou muito mais dessa vez do que nas outras porque o cenário econômico não é bom. Nessa reta final, se for encontrado algo novo sobre a Petrobras para a presidente ou contra Aécio, é claro que pode atrapalhar. De resto, o que foi denunciado já teve efeito forte. Temos, no mínimo, um empate técnico e, no máximo, ligeiríssima vitória de Aécio.

A chegada, então, vai ser no photochart, como no turfe?
Vão dirigir como na última voltada Fórmula 1, mas a chegada estará mais próxima do "cruza a reta final" do turfe.

O sr. acha que essa polarização entre PT e PSDB continuará?
Ainda não dá para chegar a essa conclusão, porque vai depender de quem for eleito em 2014 e de seu governo. Em 2018, já começa um cenário na política brasileira no qual quem foi a elite do sistema político nos últimos 20 anos — particularmente os grandes líderes do PT e do PSDB — estará deixando a política. Entre 2018 e 2022, ocorrerá uma transição geracional na elite política brasileira que não é só uma questão de idade, mas de pessoas. Para 2018, não dá para garantir que acaba a polarização. Mas, para 2022, fica cada vez mais difícil manter a polarização, pelo menos nos termos em que ela se colocou nos últimos 20 anos.

Tucano aposta em 'ilha azul' no NE

Fernando Taquari – Valor Econômico

CAMPINA GRANDE (PB) - Avaci Ribeiro da Silva bate no peito e com orgulho de quem anuncia seu time de futebol prega o voto no senador Cássio Cunha Lima (PSDB) para o governo da Paraíba. "Também vou votar nesta cabra aí. Qual o nome dele?", indaga o comerciante, de 66 anos, apontando para a foto do candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, que aparece ao lado do correligionário paraibano. "Cássio disse que ele é bom. Então, eu acredito", justifica Silva, nascido e criado em Campina Grande (PB), segunda maior cidade do Estado e reduto eleitoral da família Cunha Lima.

Filho do ex-governador Ronaldo Cunha Lima, Cássio já foi prefeito do município três vezes e também governou o Estado entre 2003 e 2009, quando foi cassado por abuso de poder político. O processo, porém, não abalou sua popularidade e ele acabou eleito ao Senado em 2010 com mais de um milhão de votos. Nas eleições de 2014, além de trabalhar para voltar ao comando da Paraíba, Lima empregou o prestígio junto ao eleitorado, sobretudo de Campina Grande, para fazer do 'desconhecido' Aécio o vencedor no primeiro turno da eleição presidencial no município de 630 mil habitantes.

Trata-se da única cidade de grande porte no Nordeste a dar a vitória ao tucano, que ficou com 39% dos votos válidos, contra 32% da presidente Dilma Rousseff (PT). A votação no município ajudou a impulsionar o desempenho do presidenciável no Estado, cuja votação (23,3%) lhe garantiu seu melhor desempenho nesta região do país. No fim o resultado acabou por conferir a Campina Grande o apelido de "Ilha Azul" em uma referência à cor do PSDB na divisão do mapa eleitoral em contraponto ao vermelho dos petistas.

Em uma pesquisa do Ipespe, divulgada na semana passada, o tucano aparece com 52% dos votos válidos na cidade, ante 36% da presidente. "Não voto em Aécio porque Cássio manda. São 12 anos de governo do PT. Acho que tem mudar", afirma Demilton dos Anjos, 19, que estuda Educação Física na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). O estudante reconhece, no entanto, que o apoio de Cunha Lima foi determinante para a votação do presidenciável tucano em Campina Grande. Mais do que isso, acredita que a eleição dos dois possibilitará ao Estado dar um salto de desenvolvimento.

Cita como exemplo o vizinho Pernambuco durante o período em que coincidiram as gestões de Eduardo Campos no Estado e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no governo federal. "Cássio e Aécio podem fazer uma aliança forte entre a Paraíba e a União para trazer investimentos e empregos", diz. A amizade entre os dois tucanos e a perspectiva de parcerias, explorada de forma exaustiva nos programas de TV e nos discursos, influenciou o voto da psicóloga Jacira Rita da Silva, de 26 anos. "Aécio pode ajudar o governador a trazer as obras que precisamos. Lula trouxe água a Pernambuco, mas não até a Paraíba", ressalta.

A conclusão das obras de transposição do Rio São Francisco foi justamente umas das promessas feitas pelo presidenciável ao fazer uma visita relâmpago por Campina Grande na semana passada. O tucano teve uma recepção calorosa ao participar de um comício. Durante o ato, fez um discurso sob medida ao afirmar que o Brasil tem uma dívida histórica com a Paraíba pela falta de investimentos em governos anteriores.

Governo atrasa 9 de 11 obras prioritárias do PAC

• Além do estouro dos cronogramas, custos subiram 46% desde 2011, quando foram prometidas para o final de 2014 por Dilma

André Borges - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Os compromissos do governo para este último trimestre de mandato deveriam incluir a inauguração de 11 obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Essa foi a meta estabelecida pela presidente Dilma Rousseff no início de 2011, quando assumiu o governo e apresentou seu primeiro balanço do PAC.

Quase quatro anos depois, apenas dois empreendimentos previstos para ser concluídos entre outubro e dezembro de 2014 terão, de fato, obras entregues dentro do prazo: as hidrelétricas Santo Antônio do Jari e Ferreira Gomes, ambas construídas no Amapá. A primeira iniciou suas operações neste mês e a segunda deve ligar suas turbinas até dezembro.

Entre as nove obras que tiveram suas conclusões adiadas estão alguns dos mais caros e emblemáticos projetos do governo, como a transposição do rio São Francisco e a refinaria Abreu e Lima, da Petrobrás, em construção em Pernambuco. Esses empreendimentos já sofriam, na realidade, com frustrações de prazos acumuladas durante a gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Custos. Além do atraso, o estouro nos prazos dos cronogramas veio acompanhada de um aumento de 46% nos custos. As 11 obras, que no início de 2011 somavam investimentos de R$ 37,6 bilhões, chegam agora a R$ 54,9 bilhões - um gasto adicional de R$ 17,3 bilhões.

Os projetos de saneamento básico tocados na região Nordeste do País lideram a lista dos empreendimentos problemáticos. O eixo leste da transposição do São Francisco, canal de 220 km que corta a região de Pernambuco e Paraíba, teve as suas obras iniciadas em 2007. Lula pretendia inaugurá-lo no último semestre do seu governo, em 2010. Mas foi obrigado a deixar a missão para Dilma. Quando assumiu o governo, a presidente reprogramou a data para 19 de dezembro deste ano. Agora, a previsão mais otimista para o São Francisco é verter água no agreste pernambucano em 31 de dezembro de 2015.

Rescisões. O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão argumenta que o projeto foi alvo de rescisões e renegociações de contratos, o que exigiu a realização de novas licitações para tocar a construção. "No segundo semestre de 2013, o Ministério da Integração Nacional concluiu os procedimentos licitatórios para a contratação dos saldos remanescentes de obra. Com isto, garantiu a mobilização de mão de obra e equipamentos para execução da totalidade do eixo leste. Atualmente, todos os eixos estão em obras e em ritmo normal, com 65,3% realizados", informou.

Outros dois projetos ligados às bacias do São Francisco e do Parnaíba enfrentam dificuldades. As obras de esgotamento sanitário das bacias de ambos os rios, ações que se espalham por sete Estados do Nordeste, deveriam ser concluídas neste mês, mas acabaram prorrogadas para o fim de 2015. O mesmo destino foi dado para as ações de recuperação de solo e controle de processos erosivos nos dois rios, além das obras da adutora do Agreste, em Pernambuco, e da Vertente Litorânea (PB), sistema adutor de 94,8 km em construção na Paraíba.

Custo. Na área de transporte, o arco rodoviário do Rio de Janeiro (RJ), que estava orçado em R$ 400 milhões, em 2011, e estaria pronto neste fim de ano, viu seu custo saltar para R$ 1,083 bilhão no balanço mais recente do PAC, divulgado em junho. A entrega da obra ficou para o réveillon de 2016.

Na área de transporte, a BR-101, em um trecho de 199 km que envolve o contorno de Recife (PE), de 41 km de extensão, também corre atrás do prejuízo. Uma nova licitação para tocar a obra foi realizada, após determinações feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

No setor elétrico, a hidrelétrica de Colíder, em construção no rio Teles Pires, em Mato Grosso, tinha previsão de ligar sua primeira turbina na última semana deste ano, mas a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já esticou o cronograma para dezembro de 2015.

Um rico debate sobre a pobreza

• Polêmica simplista sobre fim ou não do Bolsa Família oculta diferentes visões do PT e do PSDB sobre problema

Roldão Arruda – O Estado de S. Paulo

O debate sobre políticas e programas sociais do governo subiu para um patamar mais elevado nesta eleição. Debaixo da poeira da velha polêmica sobre a manutenção ou não do Programa Bolsa Família - tema de compreensível interesse de parcelas mais pobres do eleitorado e que obriga o candidato do PSDB, Aécio Neves, a repetir até quatro vezes em cada confronto na TV que vai mantê-lo -, corre outro debate, mais elaborado. Envolve formas de melhorar e dar sustentabilidade ao que já foi conquistado.

Segundo os tucanos, após retirar milhões de famílias das situações de pobreza e extrema pobreza, o que é elogiável, os governos petistas não teriam elaborado ainda políticas claras para dar sustentabilidade à mobilidade social. Em outras palavras, se a transferência direta de renda acabasse amanhã, as famílias voltariam à extrema pobreza, segundo os assessores de Aécio.

O governo, por seu lado, sustenta que a transferência de renda por meio de programas como o Bolsa Família é apenas parte de uma política social muito mais ampla, que já garante a sustentabilidade das mudanças ocorridas. Essa política, segundo o governo, vai do esforço de valorização do salário mínimo a programas de qualificação profissional voltados especificamente para famílias mais vulneráveis.

Em entrevista ao Estado, um dos principais assessores da campanha de Aécio na questão dos programas sociais, o assistente social Marcelo Reis Garcia, disse que o principal erro do governo é basear suas ações sobretudo na ausência de renda das famílias. Isso o levaria a privilegiar os programas de transferência de renda. Ainda segundo o técnico, que chefiou a Secretaria Nacional de Assistência Social no governo de Fernando Henrique Cardoso e assessorou Aécio no governo de Minas, seria melhor se fosse adotado o conceito de pobreza multidimensional, que, além da renda, leva em conta fatores como educação e saúde.

"Propomos que a discussão sobre a pobreza saia da simplificação monetária e passe a considerar um conjunto de privações. Seriam incluídos na análise qualidade da casa, escolaridade, saúde, capacidade para trabalhar e renda", disse Garcia. "A gestão da pobreza apenas pela renda não tem sustentabilidade. O que aconteceria se, por acaso, a transferência de renda para as 36 milhões de famílias que saíram da extrema miséria acabasse hoje? Elas voltariam para a extrema pobreza? Provavelmente sim. Para evitar isso é preciso levar em conta outras privações que as famílias precisam superar."

Ensino. Outro argumento apontado por Garcia para a revisão do atual modelo é a existência de 11 milhões de brasileiros na faixa de 18 a 29 anos que não concluíram o ensino fundamental e outros 9 milhões sem o ensino médio. "São 20 milhões de brasileiro que sempre terão dificuldade para conseguir emprego. O que eu vou fazer com essas pessoas? Aposentá-las aos 20 anos? Mantê-las como beneficiárias dos programas de transferência de renda até a morte? O que estamos propondo é uma metodologia que permita acompanhar cada família, isoladamente, para que superem suas dificuldades."

Critérios de análise multidimensional da pobreza já são utilizados por instituições como o Banco Mundial e a Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo Garcia, o que se propõe para o Brasil é algo semelhante ao usado pela ONU na elaboração do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

A ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, diz que a crítica contida no programa de Aécio é falha, porque tem foco apenas nos programas de transferência e ignora que foram combinados com outras políticas de curto e de longo prazo, destinados a dar sustentabilidade à superação da pobreza. "Não entendo por que insistem em localizar a discussão no Bolsa Família", disse ela ao Estado. "Já se sabe que o Bolsa Família teve até agora um peso de 30% na redução da pobreza no País. Outros fatores, entre eles a valorização do salário mínimo, a redução da informalidade no trabalho, o acesso a crédito e à assistência técnica rural, o acesso a bens, a expansão da rede de creches, os cursos de qualificação profissional, são responsáveis pelos outros 70%."

A ministra também lembrou estudos recentes do Banco Mundial e da ONU, que, ao analisar a questão da pobreza no País do ponto de vista multidimensional, apontaram avanços significativos. O Banco Mundial, que trabalha com sete fatores, além da renda, considerados estratégicos para definir mobilidade das famílias, apontando sua capacidade para superar a pobreza e os riscos de voltar a estágios anteriores, apontou avanço em todos os grupos observados - dos que vivem em estado de pobreza crônica aos que são pobres transitórios. Entre 1999 e 2011, a porcentagem de pobres na população brasileira passou de 35% para 17%, segundo a instituição.

"De lá para cá os resultados melhoraram ainda mais. Se considerarmos apenas as famílias que vivem em estado de pobreza crônica, no núcleo duro da pobreza, onde a chance de evoluir é menor, entre 2003 e 2013 houve uma redução de 8% para 1%, segundo informações obtidas da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, do IBGE)", afirmou.

No fundo, o que se observa é que a discussão tende a superar o Fla-Flu entre os que são a favor e contra o Bolsa Família.

Tucanos gravam vídeo em resposta a apoio de Chico Buarque à campanha de Dilma Rousseff

• Turma do Chapéu fez versão de “Cotidiano”, clássico da MPB

Maria Lima – O Globo

BRASÍLIA - Para responder ao apoio de Chico Buarque, os integrantes do grupo Turma do Chapéu distribuíram hoje na internet e em grupos de Whatsapp um clipe com a paródia de um dos sucessos do compositor “Cotidiano”. Na versão tucana, a letra da música trata dos quatro anos da administração da presidente Dilma Rousseff e do embate com seu adversário Aécio Neves, do PSDB.

Citando a letra do clássico da MPB, os músicos dizem que todo dia Dilma faz tudo sempre igual. “Como pode errar tanto a cidadã? Presidir dando perda total, essa dona não pode estar sã”. Fala também que a presidente tem 39 ministros pra governar, mas não conhece nenhum. Ainda ironiza a declaração do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, que sugeriu a troca de carne e ovos na dieta do brasileiro.

O clipe foi gravado com o criador do grupo Gabriel Azevedo nos vocais e por os outros integrantes, Marcel Beghni, Sam Joavana, Alberto Lage e Guilherme Henrique nos instrumentos. O coordenador de web da campanha, Xico Graziano faz participação especial na banda.

O cantor e compositor Guarabyra, da dupla Sá e Guarabyra, também fez um clipe para “pacificar” a guerra entre petistas e tucanos. A música se chama “O Brasil te chama”. O clipe foi postado pelo compositor e é encerrado com discurso de Aécio no dia do lançamento de sua candidatura, em São Paulo, dizendo que vai governar para todos os brasileiros.


Cotidiano Petista - Turma do Chapéu from Turma do Chapéu on Vimeo.

Ricardo Noblat - Molecagem!

- O Globo

"Se houve desvio de dinheiro público [na Petrobras], nós queremos ele de volta. Se houve, não; houve, viu?Dilma

Qual Lula é o verdadeiro? O bem-educado que aparece no programa de propaganda eleitoral de Dilma na televisão, defende os 12 anos de governos do PT e, ao cabo, sorridente, pede votos para reeleger sua sucessora? Ou o moleque de rua que pontifica em comícios país afora, sugerindo, sem ter coragem de afirmar diretamente, que Aécio é capaz, sim, de dirigir embriagado, agredir mulheres e se drogar?

O SEGUNDO É O mais próximo do verdadeiro Lula. Digo porque o conheço desde quando era líder sindical. Lula é uma metamorfose ambulante . Não foi ninguém quem o disse, foi ele quem se rotulou assim. A esquerda tudo perdoaria a Lula desde que chegasse ao poder. Chegou, cavalgando-o. Uma vez lá, corrompeu-se. Quanto a ele ... Não sabia de nada. Nunca soube .

JUSTIÇA SEJA FEITA a Lula : por desconhecimento de causa e preguiça, ele jamais compartilhou as ideias da esquerda. Assim como ela se aproveitou dele, Lula se aproveitou dela. Um casamento não por amor, mas por interesse. Na primeira reunião ministerial do seu governo em 2003, Lula se irritou com um ministro e desabafou: "Toda vez que me guiei pela esquerda me dei mal".

RETIFICO: ELE NÃO disse que se deu mal. Usou um palavrão. Nada de mais para o sujeito desbocado que nunca pesou o que diz. Grossura nada tem a ver com infância pobre. Lula é um sucesso do jeito que é. Mudar, por quê? Todos admiram sua astúcia. Muitos se curvam à sua sabedoria. E outros tantos temem ser apontados como desafetos do retirante nordestino que se deu bem.

UMA DAS CHAVES do sucesso de Lula é a coragem de dizer o que lhe apetece — às favas a verdade. No último sábado, em comício em Belo Horizonte, Lula disse que nunca foi grosseiro com adversários. Textualmente: "Não tive coragem de ser grosseiro contra Collor, Serra, Alckmin, Fernando Henrique. Pega uma palavra minha chamando candidato de mentiroso e leviano". É fácil.

LULA CHAMOU SARNEY de ladrão. E Itamar Franco de filho da puta. Resposta de Itamar em maio de 2003: "Gostaria de saber o que aconteceria se a situação fosse inversa, ou seja, se esse indivíduo arrogante e elitista fosse o presidente da República, e alguém lhe chamasse disso. (...) Minha mãe se chamava Itália Franco. Mas, fosse um filho da p., certamente teria por ela o mesmo amor filial".

VOCÊ PENSA QUE Lula ficou constrangido com a resposta de Itamar? Foi ao velório dele. Assim como foi ao velório de Ruth Cardoso, mulher de Fernando Henrique. Chorando, lançou-se aos braços do ex-presidente. Pouco antes da morte de Ruth, a Casa Civil da então ministra Dilma montara um dossiê sobre despesas com cartão de crédito do casal FH. Depois, a ministra se desculpou.

LULA NÃO É HOMEM de se desculpar . Nem mesmo quando trata um assessor a pontapés. Como governador de Minas Gerais, no auge do escândalo do mensalão, Aécio lutou para que o PSDB não pedisse o impeachment de Lula. Conseguiu. Mais tarde, Lula tentou convencê-lo a aderir ao PMDB para disputar a Presidência com o seu apoio. Aécio não quis.

DE VOLTA AO COMÍCIO de Belo Horizonte. Antes de Lula falar , foi lida a carta de uma psicóloga acusando Aécio de espancar mulheres e de ser megalomaníaco. Ele ainda foi chamado de "coisa ruim", "cafajeste" e "playboy mimado". Por fim, a plateia foi ao delírio ao ouvir Lula dizer sobre o comportamento de Aécio em debates : "A tática dele é a seguinte: vou partir para a agressão. Meu negócio com mulher é partir para cima agredindo".