quinta-feira, 13 de março de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Vaivém de Trump nas tarifas é péssimo para a economia

O Globo

Nenhuma empresa consegue planejar nem investir nada sem saber as regras que valerão nos próximos meses

Os dois passos para lá, dois para cá encetados por Donald Trump na política comercial poderiam ser apenas reflexo de sua desorientação ou inépcia para essa dança — não fossem, antes disso, uma tragédia para a economia. Em fevereiro, Trump anunciou que elevaria alíquotas sobre produtos importados de Canadá, México e China. Dois dias depois, voltou atrás em relação aos vizinhos e suspendeu a medida por um mês. Passados 30 dias, começou a valer a nova tarifa de 25%. Em 48 horas, nova reviravolta. Produtos que fazem parte do acordo de livre-comércio da América do Norte ficaram isentos por mais 30 dias (prazo que poderá ser estendido). Nas tarifas baixadas sobre aço e alumínio, também abriu exceção para o setor automotivo. Para alguém que se considera um exímio negociador, esse tipo de vaivém pode fazer sentido. Para o mundo — em particular as empresas afetadas —, a reação tem variado da perplexidade ao desespero.

Mulheres e as transformações - Míriam Leitão

O Globo

Ministra Elizabeth Rocha no STM defende igualdade, a ministra Simone defende igualdade salarial. Mulheres sonhando`juntas e realizando

A ministra Simone Tebet disse que a ministra Gleisi Hoffmann tem a capacidade de “vestir e desvestir a camisa de acordo com o cargo que ocupa” e, por isso, acredita que ela “vai dar o suporte necessário para aprovar as medidas que a equipe econômica e o ministro Fernando Haddad têm”. Explicou que, na vida política, ela e Gleisi estiveram em lados opostos, “mas sempre tivemos gentileza no trato”. Em outro momento, Tebet disse que o ministro Fernando Haddad tem sido “um verdadeiro herói de enfrentar a resistência em seu próprio partido”.

Nessa entrevista que ela me concedeu na GloboNews, Tebet passou por vários assuntos, defendendo inclusive a redução da jornada de trabalho. Sobre inflação, ela disse que “há um conjunto de fatores que vão mostrar que nos próximos 30 dias muitos produtos vão começar a baixar de preço”.

Ontem foi um dia em que, para reportar às leitoras e aos leitores tudo o que vi, eu precisava de duas colunas. Então tenham paciência comigo nesse espaço, em que irei de uma coisa a outra, mas em tudo estará presente a mulher e a busca de mudanças. De manhã, entrevistei Simone Tebet, de tarde fui ver a posse da ministra Elizabeth Rocha.

Conversa de botequim - Merval Pereira

O Globo

‘E o Lula, hein?’

— O que é que tem?

— Voltou a dar mancada com as mulheres.

— O que que ele disse desta vez?

— Que tinha colocado a Gleisi para negociar com o Congresso porque era uma mulher bonita.

— É mesmo? Pensei que tivesse sido por outras qualidades.

— É por isso que a popularidade dele caiu entre as mulheres.

— Também é implicância, tudo o que ele fala levam para o lado mau. Foi só uma piada.

— É, mas a própria ministra das Mulheres disse que ia conversar com ele. Piada, nem o presidente pode, disse ela. Não sei se teve coragem de falar pessoalmente.

O risco Trump e as eleições de 2026 - Malu Gaspar

O Globo

‘Não adianta o Trump ficar gritando de lá. Aprendi a não ter medo de cara feia. Fale manso comigo. Fale com respeito comigo que eu aprendi a respeitar as pessoas e quero ser respeitado”, disse Lula na última terça-feira. Ele estava em Minas Gerais para inaugurar a ampliação de uma unidade da Gerdau, na véspera da entrada em vigor da taxação do aço e do alumínio brasileiros pelos Estados Unidos.

Enquanto o presidente falava, seus negociadores quebravam a cabeça em busca de uma estratégia para tentar derrubar as restrições sem partir para o conflito direto com o governo americano.

As idas e vindas nas negociações sobre tarifas com CanadáMéxico e Colômbia não apontam um caminho óbvio a seguir. Por ora, não há mesmo outra saída para a diplomacia brasileira a não ser optar pela cautela e pelo diálogo, e não retaliar de imediato.

Entrevista | Tebet chama Haddad de ‘herói ’e diz que acredita que Gleisi vai dar apoio às medidas econômicas necessárias

Míriam Leitão

A ministra Simone Tebet disse que a equipe econômica está incluindo no Orçamento programas como o Auxílio- Gás e o Pé-de-Meia, e que a meta de déficit zero será cumprida. “Se não agora, no tempo determinado pelo Tribunal de Contas”. Ela disse que a equipe econômica, muita vezes, é voz dissidente no governo ao dizer que não existe “almoço grátis” e não querer recriar fórmulas passadas que não deram certo. Para ela, o ministro Fernando Haddad é um verdadeiro herói nesse sentido, ao enfrentar uma resistência do seu próprio partido.

Ainda sobre o PT, Simone considera que Gleisi Hoffmann sabe do projeto em andamento no país e vai dar suporte para aprovar as medidas econômicas necessárias.

- Ela sabe vestir e desvestir a camisa de acordo com o cargo que tem, que é este o papel dela. Ela exercia o papel de presidente de um partido, que era um partido que tinha uma posição ideológica e econômica muito clara. Ela não podia fazer outra coisa enquanto presidente do partido – defende Tebet.

Abaixo a íntegra da entrevista:

Sem freio, Lula exibe data vencida de validade - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Se Lula quer estender seu prazo de validade, tem que olhar para Claudia Sheinbaum, que freia reações não por boniteza, mas por precisão

Gleisi Hoffmann pode ter sido escolhida para a Secretaria de Relações Institucionais por ter a confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela experiência adquirida na Casa Civil no governo Dilma Rousseff. Pode ainda ter sido pinçada para a função porque Lula queria promover mudanças no PT ou, ainda, por ter trânsito com lideranças do Centrão. Gleisi Hoffmann é uma mulher bonita, mas, como Lula sabe, esta não foi a razão de sua escolha.

A única maneira de o presidente escapar da pecha de machista depois de ter dito o contrário ontem é aceitar que o ex-presidente José Sarney estava certo quando disse que “é melhor sair muito bem do que já velho”. A frase de Lula aos presidentes da Câmara e do Senado (“por isso coloquei essa mulher bonita para ser ministra das Relações Institucionais, é que não quero mais ter distância de vocês”) não é um lapso. Virou rotina.

As discussões sobre uso de moedas locais no Brics - Assis Moreira

Valor Econômico

Bloco dos emergentes deve examinar também revisão de seu Arranjo Contingente de Reservas

A brutalidade de medidas que continuam sendo anunciadas por Donald Trump e a confusão que elas provocam globalmente ameaçam interromper abruptamente a frágil tendência de crescimento da economia mundial.

A expectativa até agora de “aterrissagem suave”, caracterizada por uma inflação que desacelera à medida que o crescimento se acalma suavemente e sem uma recessão dolorosa, começa a dar lugar ao risco de “recessão Trump”.

A poderosa confederação das indústrias Alemãs (BDI), inquieta com nova recessão na maior economia da Europa, reclama que o maior risco para a economia dos EUA e para as outras a esta altura são o próprio governo Trump e a forma como suas políticas vêm sendo adotadas. Medidas trumpianas terão consequências particularmente graves não apenas sobre o crescimento e a inflação nos EUA, mas também na Europa, no Leste Asiático e em vários países emergentes (ver quadro). As novas tarifas, se implementadas como a Casa Branca ameaça, representariam um aumento das taxas atuais de cerca de 3% para 19% nos EUA, como na década de 1930, com os desastres conhecidos.

Por que os EUA se desindustrializaram - Jorge Arbache

Valor Econômico

Para a política do reshoring se sustentar, serão necessárias medidas mais agressivas de subsídios, discriminação e proteção, o que poderá empurrar a economia americana para um círculo vicioso de baixa inovação e baixa competitividade

Parte da narrativa dos recentes governos dos Estados Unidos para justificar políticas protecionistas, discriminatórias e de subsídios que afrontam regras do comércio internacional é que o país estaria se desindustrializando em razão do modelo econômico implantado pelo governo chinês.

O presidente Donald Trump tem sido particularmente enfático: “Perdemos milhões de empregos no setor de manufatura por causa da China”; “Eles tomaram nossas fábricas, tomaram nosso dinheiro”; “Não podemos continuar a permitir que a China estupre nosso país, e é isso que eles estão fazendo. É o maior roubo da história do mundo”.

As estatísticas parecem dar suporte aos políticos. Em 1980, a participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) americano foi de 21,2% e no emprego de 20,1%. Em 2023, os números tinham caído para 10,1% e 8,4%, respectivamente.

Nova presidente promete mais transparência na Justiça Militar – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Feminista assumida, Maria Elizabeth Rocha defendeu com veemência o Estado democrático de direito, a igualdade de gênero e a inclusão social

A nova presidente do Superior Tribunal Militar (STM), ministra Maria Elizabeth Rocha, tomou posse ontem em cerimônia das mais concorridas, num ambiente civil, a Sala Villas-Lobo do Teatro Nacional, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do presidente do Supremo Tribunal Federal( STF), Luís Roberto Barroso, e dos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara, Hugo Motta, entre outras autoridades. Advogada, é a primeira mulher a ser eleita para presidir a Corte; da outra vez que exerceu o cargo, era vice-presidente.

A posse de Maria Elizabeth Rocha é uma mudança de paradigma no Tribunal, o mais antigo do Brasil, criado por Dom João VI, quando a Corte portuguesa se transferiu para o Rio de Janeiro, em 1808. Progressista, sempre foi um contraponto ao conservadorismo da maioria dos pares, oficiais generais de quatro estrelas. Seu discurso de posse foi poético e pluralista, mas aliou o rigor constitucionalista à defesa da justiça castrense para a manutenção do papel constitucional das Forças Armadas, sua hierarquia e disciplina.

O câmbio e a inflação de alimentos - Benito Salomão

Correio Braziliense

Ainda é prematuro prever os impactos das medidas anunciadas pelo governo. Mas vale o alerta: quando produz pressões sobre a taxa de câmbio, o estímulo à importação para reduzir preços domésticos pode gerar efeitos opostos

Desde a saída da pandemia, o Brasil vem apresentando um desempenho insatisfatório em termos de inflação. Com exceção de 2023, quando houve uma curta convergência do IPCA para o centro da meta, todos os anos que sucederam desde 2021 performaram com o estouro do limite superior. A depender dos dados em dezembro de 2025, o país terá estourado a meta de inflação por cinco anos, algo inédito nestes 25 anos de Regime de Metas de Inflação (RMI).

Aquela desinflação de 2023 esteve associada a dois episódios correlacionados entre si: i) um choque reputacional positivo após a antecipação do Arcabouço Fiscal (NAF), inicialmente esperada para o segundo semestre de 2023, sendo antecipado para abril daquele ano. À primeira vista, esse pode parecer um detalhe sem importância, mas não é, serviu para sinalizar aos agentes econômicos a disposição do governo, já nos seus primeiros meses, em preservar os fundamentos macroeconômicos. ii) uma aguda apreciação nominal do câmbio que operou em 2023 abaixo dos R$ 5.

Adversários ajudam a diminuir riscos de Lula - William Waack

O Estado de S. Paulo

Lula abandonou qualquer pretensão de mudança de rota política e econômica já há algum tempo. Refugiou-se nas poucas ideias velhas, nas táticas conhecidas e surradas e nos rostos de sempre. A questão é saber se funcionam para 2026.

O que parece surgir para Lula como “caminho seguro” na verdade é uma aposta política de risco altíssimo. Causado por sensíveis mudanças sociais que alteraram a percepção dos benefícios fornecidos pelo Estado, e também pela sensível deterioração do poder do Executivo frente ao Legislativo. Diminuiu, em termos relativos, o peso do voto ligado ao assistencialismo.

Tarifas de Lula e Trump: a história no avesso - José Serra

O Estado de S. Paulo

Estruturas logísticas e nexos comerciais não brotam do dia para a noite, mas necessitam de um horizonte temporal sólido para serem construídos

Uma coisa muito distante do cotidiano das pessoas ganhou um vedetismo inédito nos palcos da política e nos noticiários: as tarifas. Na segunda metade do século passado, o governo brasileiro usava tarifas e barreiras comerciais para proteger a produção nacional nascente da concorrência externa. Há décadas, o liberalismo econômico prega tarifas baixas para que cada país produza o que sabe fazer com mais eficiência. Mas, nos últimos dias, as coisas viraram do avesso.

De início, vejamos as tarifas reduzidas no Brasil. A alta de preços dos alimentos vem assombrando o presidente Lula, por duas vias. Na primeira, o IPCA chegando próximo dos 5% ao ano vai detonando o regime de metas de inflação. Como o Banco Central não sabe fazer outra coisa contra a inflação além de elevar a taxa básica de juros, o custo do dinheiro vai seguir sua trajetória de alta.

Feliz ano novo, Brasília! - Felipe Salto

O Estado de S. Paulo

Quanto às agendas mais estruturais, sou pessimista. Entendo que, daqui em diante, o governo só conseguirá fazer o ‘minimum minimorum’

O ano acaba de começar para o mundo de Brasília. Passadas as festividades do Carnaval, o Orçamento será debatido no Congresso Nacional. As pressões por medidas populistas chegam de todos os lados: mudança na faixa de isenção do Imposto de Renda, programas sociais e despesas em geral.

Já estamos em março e o País segue sem lei orçamentária. Para estes casos, as regras vigentes permitem ao governo executar um porcentual da proposta enviada ao Legislativo. São muitos os problemas a equacionar, como sempre, e falta a compreensão de que o dinheiro acabou e o tacho já foi raspado.

A tarefa mínima é cumprira meta estipulada para o resultado primário (receitas menos despesas, exceto juros da dívida). A meta é zero, com banda inferior, menos R$ 31 bilhões. Além disso, parte relevante dos precatórios, no valor de R$ 44,1 bilhões, pode ser excluída do resultado para fins de verificação da meta.

Peste, guerra, secas e a comida e Lula 3 - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Carestia vem de longe, pouco é desta gestão, vai demorar a passar e piora com populismos

O preço da comida que se leva para casa, "alimentação no domicílio", aumentou em média 7,1% em 12 meses até fevereiro. Em novembro do ano passado, havia aumentado 8,4% em um ano. O consumidor teria notado a melhoria?

Improvável, não só por causa da variação pequena. Não apenas também porque o preço de alimentos essenciais, como ovos, acaba de aumentar 15,4% em um mês. O nível dos preços da comida e de produtos essenciais é que está alto, tendo subido muito mesmo antes de Lula 3, como se observa nestas colunas faz tempo.

Para que esse problema fique menor, é preciso que os salários ganhem a corrida do preço dos alimentos, com inflação geral mais comportada —demora. É difícil esperar queda grande do preço da comida, em tumulto global faz anos, por epidemia, guerra e desastre climático.

Populismo à brasileira - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

Explicações adequadas aos EUA e democracias europeias não ajudam a entender o populismo aqui

O que explica a ascensão do populismo de extrema direita nas democracias ocidentais? As respostas vão desde as que destacam dimensões socioeconômicas até a fatores culturais e morais. Mas todas parecem concordar que líderes e movimentos populistas exploram os sentimentos de abandono, humilhação e ressentimento antielite nutridos por pessoas e grupos perdedores nas mudanças trazidas pela globalização.

Eis por que os pobres brancos das regiões dos EUA onde o emprego evaporou quando as indústrias migraram para outros países são os mais fiéis eleitores de Donald Trump. O mesmo se dá na França, onde a Frente Nacional (FN) colhe os votos tanto dos operários de áreas economicamente decadentes como da pequena burguesia, uns e outros atemorizados pelos imigrantes de pele escura. Isso ocorre também na antiga Alemanha Oriental, onde robusta maioria crê que a reunificação do país teria sido imposta pelos ricos conterrâneos do oeste. Na antiga República Democrática Alemã (a RDA) vicejam as bases mais sólidas da extremista da Alternativa para a Alemanha (AfD).

Tarifas de Trump enferrujam patriotismo de bolsonaristas -Josias de Souza

Uol

O patriotismo de Bolsonaro e seus devotos, já bem carcomido pela radioatividade do golpismo, passou a ser corroído também pela ferrugem trumpista. Formou-se na direita brasileira uma militância pró-Trump. O silêncio diante das tarifas que o imperialista laranja impôs aos metais importados do Brasil submete os membros dessa tribo ao risco de atrair uma antiga maledicência do ensaísta inglês Samuel Johnson (1709-1784): "O patriotismo é o último refúgio do canalha".

Em breve, um ilustre presidiário - Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Resta ver se Bolsonaro reagirá como um homem quando lhe baterem à porta ou se sairá pedalando o ar

Os bolsonaristas gostam de se referir a Lula como "condenado", "descondenado" e "ex-presidiário". De fato, Lula é ou já foi tudo isso. Sergio Moro, futuro ministro de Bolsonaro, condenou-o a 12 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro referente a um apartamento no Guarujá e um sítio em Atibaia. No dia 5 de abril de 2018, Lula se entregou à Polícia Federal no Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo. O país testemunhou pela TV sua serena e digna caminhada até a aeronave que o levaria à carceragem da PF em Curitiba, onde passou 580 dias preso. Em 2021, o STF anulou suas condenações, considerando que tinham sido decididas por um tribunal sem competência jurisdicional.

Poesia | Um Boi vê os Homens, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | O velho e a flor – Toquinho e Vinícius de Moraes