Valor Econômico
A manufatura contemporânea é conduzida pelo aumento do volume de dados, ampliação do poder computacional e conectividade e a emergência de capacidades analíticas aplicada aos negócios
Paul Krugman disparou um post no Substack a respeito das
políticas de Donald Trump. “Este post é sobre como as políticas de Donald
Trump não poderiam ‘nos tornar uma nação manufatureira novamente’, mesmo que
conseguissem reduzir muito os déficits comerciais... As pessoas devem entender
que seremos uma economia de serviços, não importa o que aconteça, a fixação na
manufatura como a única fonte de bons empregos está desatualizada”. Esta
consideração de Krugman está ancorada na concepção que privilegia as relações
entre três setores: agricultura, indústria (manufatura) e serviços. Primário,
secundário e terciário.
Para cuidar do tema dos três setores, seria oportuno tratar da Revolução Industrial. O historiador Carlo Cipolla escreveu: “A Revolução Industrial transformou o homem agricultor e pastor no manipulador de máquinas movidas por energia inanimada”. A ruptura radical no modo de produzir introduziu profundas alterações no sistema econômico e social.
Aí nascem, de fato, novas forma de
sociabilidade, a urbe moderna e seus padrões culturais. A diferença entre a
vida moderna e as anteriores decorre do surgimento do sistema industrial, que
não só cria bens de consumo e os bens instrumentais para produzi-los, como
suscita novos modos de convivência entre agricultura, indústria e serviços.
Novas formas de “estar no mundo”.
A ocorrência da Revolução Industrial no
fim do século XVIII despertou os devaneios de Alexander Hamilton, nos Estados
Unidos, com seu Relatório sobre as Manufaturas ou as truculências de Otto von
Bismarck, encantado com os maquinismos e a ferrovia.
A indústria não pode ser concebida como
mais um setor ao lado da agricultura e dos serviços. A ideia da revolução
industrial trata da constituição histórica de um sistema de produção e de
relações sociais que subordinam o desempenho da economia à sua capacidade de
gerar renda, empregos e criar novas atividades. O surgimento da indústria como
sistema de produção apoiado na maquinaria endogeniza o progresso técnico e
impulsiona a divisão social do trabalho, engendrando diferenciações na
estrutura produtiva e promovendo encadeamentos intra e intersetoriais.
Em seu movimento revolucionário, o sistema
industrial deflagrou mudanças na agricultura e nos serviços.
A agricultura contemporânea não é mais uma
atividade “natural”, e os serviços já não correspondem ao papel que cumpriam
nas sociedades pré-industriais. O avanço da produtividade geral da economia não
é imaginável sem a dominância do sistema industrial no desenvolvimento
transformador dos demais setores.
Os autores do século XIX anteciparam a
industrialização do campo e perceberam a importância dos novos serviços
gestados nas entranhas da expansão da indústria. Não há como ignorar, por
exemplo, as relações umbilicais entre a Revolução Industrial, a revolução nos
Transportes e as transformações dos sistemas financeiros no século XIX. São
reconhecidas as interações entre a expansão da ferrovia, do navio a vapor e o
desenvolvimento do setor de bens de capital apoiado no avanço da indústria
metalúrgica e da metalomecânica e na concentração da capacidade de mobilização
de recursos líquidos nos bancos.
A introdução dos métodos “industriais” na
agricultura e nos serviços vem promovendo o que convencionamos qualificar de
hiperindustrialização. Em seu desenvolvimento, a indústria suscitou o avanço do
tecnológico nos demais setores. As técnicas e equipamentos modernos - os
métodos industriais - atenuaram a subordinação da agricultura aos caprichos da
natureza.
Os serviços, apresentados por Krugman como
a vanguarda das economias de hoje, sofrem os benefícios do avanço tecnológico.
Aí estão a internet e suas as redes de comunicação que permitem o comércio
eletrônico e o ensino à distância.
A introdução de métodos ‘industriais’ em
serviços e na agricultura promove a hiperindustrialização
Ademais, a manufatura contemporânea é
conduzida pelo aumento do volume de dados, ampliação do poder computacional e
conectividade, a emergência de capacidades analíticas aplicada aos negócios,
novas formas de interação entre homem e máquina, e melhorias na transferência
de instruções digitais para o “mundo físico”, como a robótica avançada.
É intenso o movimento de automação baseado
na utilização de redes de “máquinas inteligentes”. Nanotecnologia,
neurociência, biotecnologia e agora a inteligência artificial formam um bloco
de inovações com enorme potencial de revolucionar as bases técnicas das
economias contemporâneas.
Os avanços da estrutura técnica supõem a
aplicação continuada e sistêmica da pesquisa científica. Um arguto pensador do
século XIX criou a figura do General Intellect para designar a relação entre o
avanço do conhecimento “socializado” nas universidades e instituições de
pesquisa.
O General Intellect se institui em uma
forma de apropriação dos significados do conhecimento humano, em particular dos
códigos da ciência. Para a consecução de seus propósitos, a nova economia toma
a educação, cujos métodos e objetivos são ajustados aos requerimentos da
aceleração do avanço dos ganhos de produtividade, no mesmo movimento em que
impõe critérios de qualificação dos trabalhadores - cada vez mais exclusivos e
“excludentes”.
Todos os métodos que nascem dessa base
técnica não podem senão confirmar sua razão interna: são métodos de produção
destinados a aumentar a produtividade social do trabalho em escala crescente.
Isso suscitou a intensificação da introdução dos métodos “industriais” na
agricultura e nos serviços, promovendo o que convencionamos qualificar de
hiperindustrialização.
Essa expressão - hiperindustrialização -
cuida de sublinhar a radical transformação das relações entre os setores
mencionados acima. Voltamos a Carlo Cipolla: “A Revolução Industrial,
transformou o homem agricultor e pastor no manipulador de máquinas movidas por
energia inanimada”.
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