quinta-feira, 6 de março de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Trump faz renascer riscos que todos julgavam superados

O Globo

No mundo da fantasia de seu discurso, ele assume papel de salvador. Na realidade, é a maior fonte de tensão

No primeiro pronunciamento ao Congresso desde a posse em janeiro, Donald Trump demonstrou estar disposto a cumprir suas piores ameaças de campanha. Em discurso de cem minutos, pintou um mundo de fantasia em que se apresenta como salvador de um país em apuros. Na realidade, seu governo se tornou a maior fonte de incerteza e tensão do planeta. Trump fez renascer riscos que todos acreditavam superados. Não bastasse o alinhamento à Rússia (em detrimento da Ucrânia) que já lançou os países europeus numa nova era de rearmamento, não bastasse o caos imposto ao setor público com cortes inconsequentes ou ilegais, ele deflagrou uma guerra comercial cujos desdobramentos serão nocivos para a economia global e para seu próprio país.

Em fevereiro, anunciou tarifas sobre aço e alumínio. Nesta semana, os produtos importados de Canadá e México começaram a pagar 25% de alíquota na alfândega. A taxa sobre produtos chineses subiu 20 pontos percentuais. Em resposta, China e Canadá retaliaram. Depois do naufrágio do mercado acionário, autoridades americanas afirmaram ser viável um acordo para reduzir as tarifas (as montadoras obtiveram um adiamento). Trump, contudo, se mostra irredutível — e citou o Brasil entre os alvos. Na primeira semana de abril serão impostas barreiras a produtos agrícolas. É dado como certo que o etanol brasileiro estará na lista.

Lula começa reforma pela ‘cozinha’ e dá prioridade à isenção do IR

Por Valor Econômico

Petista deve fazer mais mexidas na Esplanada e prepara envio de projetos ao Congresso

Passado o Carnaval, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve concluir nas próximas semanas a reforma ministerial. As trocas começaram na cozinha do Palácio do Planalto, com Sidônio Palmeira na Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social) e Gleisi Hoffmann na Secretaria de Relações Institucionais (SRI) no lugar de Alexandre Padilha, que vai para a Saúde. Nas últimas horas, aumentaram os rumores da nomeação de Guilherme Boulos (Psol-SP) para substituir de Márcio Macêdo, na Secretaria-Geral, outro ministério palaciano.

Em meio à lentidão de Lula para fazer as mexidas, há apenas uma certeza entre os auxiliares do presidente: o PSD da Câmara deve ganhar um ministério. A sigla já sinalizou ao presidente que não se interessa por Ciência e Tecnologia, atualmente com Luciana Santos (PCdoB). O partido de Gilberto Kassab pode ser contemplado com o Turismo, hoje ocupado por Celso Sabino (União Brasil). A legenda de Sabino e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, pode ir para Ciência e Tecnologia.

Hollywood, o altar que nos define - Eugênio Bucci

O Estado de S. Paulo

Um longa-metragem veio nos devolver um sentimento de nação, a lembrança dos direitos humanos e a sede de justiça

É claro que eu vi a cerimônia do Oscar. Noite de domingo, carnaval longínquo e eu no sofá, de frente para a televisão. É claro que me entediei com a torrente de breguices, mas nem foram tantas. É claro que explodi em vibração futebolística quando Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, ganhou como melhor filme internacional. É claro que desliguei de raiva quando não deram o prêmio de melhor atriz a Fernanda Torres. Achei aquilo uma ignomínia, mesmo sem nunca ter visto o filme da outra lá, que foi chamada ao palco. Nem sei o nome. É claro que liguei de novo a TV. Ainda peguei a moça agradecendo. É claro que não gostei.

O que não é claro é o resto. Vale um artigo. Walter Salles não se engalanou com um smoking. Preferiu um terno preto sumário. Fina estampa sem cores. Na segunda-feira, seu sorriso tropical encimado pelos olhos apertados carimbou a capa dos jornais. Aplaudi outra vez. Ele merece as mais altas condecorações da República. É um herói da cultura.

Trump contra o mundo inteiro - Míriam Leitão

O Globo

Donald Trump atirou contra Canadá, México e China e colocou outros países na alça de mira, entre eles, o Brasil

A guerra aberta de Donald Trump contra o comércio internacional fará ainda muito estrago na economia americana e global. Na terça, os tambores rufaram de lado a lado, com CanadáMéxico e China anunciando retaliações ao aumento generalizado de tarifas disparado por Trump. No discurso no Congresso, no fim do dia, ele disse que outros países também estão na alça de mira, entre eles, o Brasil. Ontem, o recuo em relação às montadoras foi um alívio. Temporário.

Canadá, México e China juntos representam US$ 1,4 trilhão das importações americanas. Os importadores terão que pagar mais pelos seus produtos e isso vai para o preço final, mesmo que possa ser em parte absorvido dentro da cadeia produtiva americana. O resultado é mais inflação e menos crescimento.

O Brasil e seu umbigo - William Waack

O Estado de S. Paulo

A ferocidade primitiva de Trump expõe vulnerabilidades brasileiras

Donald Trump ouviu as preces, vindas também do Brasil, e está empenhado em destruir a pax americana (“pax”, nesse contexto, significa “ordem”). Azar nosso, pois ironicamente o mundo que está indo embora servia melhor a uma potência média e vulnerável como o Brasil se comparado à situação que está se desenhando rapidamente.

O problema que se apresenta já não é mais manter a necessária equidistância entre China e Estados Unidos, sendo bastante conhecida nossa dependência de mercados na Ásia e de insumos vindos de países ocidentais. Uma das lições centrais deixadas por Trump no tratamento da questão da Ucrânia é a de que ele considera que as potências “menores” não têm opções – só as que ele determina.

A mentira como verdade – Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Os que hoje gritam cinicamente por liberdade de expressão querem usá-la justamente para suprimi-la

O principal canal de Donald Trump para disseminar mentiras chama-se Truth Social —Confederação da Verdade ou algo assim. É a rede social fundada por ele em 2021, destinada a disparar textos, posts e arquivos para os lorpas americanos. Mas, se a extrema direita acha que essa tática de fazer da mentira a verdade é de sua invenção, engana-se. Foi usada com grande sucesso pela União Soviética de 1917 a 1991, através de seu jornal oficial, Pravda, editado pelo Partido Comunista com a função de encobrir os crimes do Estado. Pravda, em português, quer dizer verdade.

A revolução do ‘senso comum’ de Trump - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Elite do mundo trata de guerra comercial; americano elogia sua 'revolução do bom senso'

A "opinião pública" convencional passou a terça-feira (4) a discutir "tarifas" e escaramuças da guerra comercial. No fim do dia, Donald Trump foi ao Congresso falar de sua "revolução do bom senso".
Tratou de "tarifas" também, palavra que apareceu depois de transcorrido um terço de um discurso de 100 minutos.

Antes e por quase o tempo todo, Trump falou de preocupações compreensíveis e comuns e dos objetivos de um governo que começa como o "melhor da história" (o segundo é o de George Washington).

Começou por enumerar feitos e, assim, a listar inimigos do povo: imigrantes, tecnocracia, "wokes", verdes, instituições multilaterais, países que barram produtos americanos.

O eloquente silêncio de Tarcísio ante Trump - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Responsável por 1/3 de tudo que o Brasil vende aos EUA, São Paulo seria o Estado mais prejudicado por um tarifaço

Dois terços das exportações do Brasil para os Estados Unidos têm origem em Estados de governadores que, em 2022, se alinharam ao bolsonarismo. São Paulo sozinho é responsável por 33,6% do que o Brasil vendeu aos EUA em 2024.

A ameaça de sobretaxa sobre produtos brasileiros, agora nominada pelo presidente americano, não moveu nenhum desses governadores em defesa da economia de seus Estados. O produto de exportação que mais preocupa o bolsonarismo hoje é o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), cujo passaporte está ameaçado de apreensão pela denúncia de crime de lesa-pátria.

Neste ano, o filho do ex-presidente já esteve três vezes nos EUA. É um dos articuladores da proposta que avança no Congresso americano para barrar o ingresso no país de autoridades estrangeiras que infrinjam a “liberdade de expressão” dos EUA. Foi uma medida talhada para atingir o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, pela contenda em torno da queda de braço com as gigantes de tecnologia daquele país.

Estratégias pessoais - Merval Pereira

O Globo

Tanto Lula quanto Bolsonaro estão convencidos de que só eles podem levar adiante os planos grandiosos que têm para o país

A insistência do ex-presidente Bolsonaro em manter-se candidato à Presidência da República em 2026, mesmo já julgado inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), tem o objetivo de manter seu lugar intocado como líder da direita, mesmo que para isso precise abrir caminho à reeleição do presidente Lula.

Foi o que o próprio Lula fez em 2018, colocando o hoje ministro da Fazenda Fernando Haddad em seu lugar na chapa presidencial pouco menos de um mês antes da eleição, sem chances de vencer. Lula conseguiu se desvencilhar das condenações graças ao Supremo Tribunal Federal (STF) e voltou a ser o único nome da esquerda capaz de impedir a reeleição de Bolsonaro.

A geringonça de Lula - Malu Gaspar

O Globo

Circulam em Brasília diferentes teorias para explicar a escolha de Gleisi Hoffmann para a Secretaria das Relações Institucionais (SRI) de Lula. Para os articuladores do Centrão, ao nomear uma petista puro-sangue, o presidente desistiu de fazer articulação política com o Congresso. A premissa é que, se Alexandre Padilha, com perfil mais conciliador, não conseguia cumprir acordos de liberação de verba e cargos, com Gleisi a relação pode até não piorar, mas melhorar é que não vai.

Aliados bem próximos do presidente avaliam que Lula pôs Gleisi na SRI não para negociar emendas, mas para que comece já a trabalhar na composição da aliança para disputar a reeleição em 2026. Lembram que, em 2022, ela exerceu exatamente o mesmo papel no comando do PT e deu certo. É mais ou menos isso o que a própria Gleisi tem dito sobre a missão que recebeu, tanto em público quanto nos bastidores.

Embora pareçam divergentes, as duas visões partem do mesmo diagnóstico: Lula se rendeu aos fatos e aceitou que a SRI não tem poder para negociar votações com o Congresso em troca de emendas ou cargos.

Faltam novos sonhos ao PT - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

Não basta que as forças ora no poder cumpram o compromisso de reparar os danos feitos pela extrema direita

Ao se despedir da vida pública em 2024, o octagenário Ricardo Lagos, político socialista que presidiu o Chile entre 2000 e 2006, conclamou seus conterrâneos a perseguir novos sonhos. Àquela altura, já se desfizera a Concertação de Partidos pela Democracia, frente que liderara a consolidação do sistema representativo, depois de 17 anos de ditadura, e alçara Lagos ao La Moneda. Da mesma forma, seu PPD (Partido pela Democracia), que desempenhara papel essencial na transição, caminhava para a irrelevância.

Mais de uma vez, com certo fatalismo, ele explicou a mudança política que o atingia —e aos seus companheiros— como o resultado natural da vida política democrática: conquistas sociais geravam novas demandas —"novos sonhos", dizia— que as lideranças estabelecidas, por progressistas que fossem, nem sempre conseguiam discernir ou encarnar.

O tempo complica a vida do governo Lula - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O governo precisa fazer um corte de despesas da ordem de R$ 30,9 bilhões para ajustar seus gastos à receita em 2025 e permitir que o Banco Central (BC) reduza a taxa de juros

O governo Lula dá a impressão de que ficou prisioneiro do tempo, e os dias se repetem, com pequenas variações, como no Dia da Marmota, um velho filme xarope de Hollywood. Na história, o repórter Phil Connors vai à pequena Punxsutawney fazer a cobertura do evento e fica preso no tempo. É um nonsense. A indicação da deputada Gleisi Hoffman (PT-PR) para a Secretaria de Relações Institucionais do Palácio do Planalto é vista, nos bastidores do Congresso, como exemplo de que as coisas se repetem nos governos do PT: a nova ministra foi chefe da Casa Civil do governo Dilma Rousseff.

Gleisi tem boas relações com os presidentes da Câmara, Hugo Motta (PR-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). O problema é outro. Dona de um estilo “bateu, levou”, a nova ministra é porta-voz da ala do PT que critica a condução da economia pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que já sofre oposição do ministro da Casa Civil, Rui Costa; com Gleisi, ficará vendido na relação com o Congresso.

Ministros de Lula são esperados em evento de filiação de Raquel Lyra ao PSD

Luísa Marzullo / O Globo

Governadora de Pernambuco entrará no partido de Gilberto Kassab no próximo dia 10; André de Paula (Pesca) e Alexandre Silveira (Minas e Energia) são esperados na solenidade

A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, já acertou os detalhes de sua filiação ao PSD, marcada para a próxima segunda-feira (10). A cerimônia de ingresso no partido, comandado por Gilberto Kassab, ocorrerá no Recife Expocenter, a partir das 18h55 – horário escolhido em referência ao número de urna da sigla. O local tem capacidade para 1.500 pessoas, e a expectativa é de casa cheia com a presença de importantes lideranças políticas.

Entre os convidados estão os ministros do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), André de Paula (Pesca) e Alexandre Silveira (Minas e Energia). Há uma expectativa de que Raquel Lyra assuma a presidência estadual do PSD, atualmente ocupada por André de Paula, que, por sua vez, busca ser promovido ao cargo de ministro do Turismo.

Além de Gilberto Kassab e lideranças do partido no Nordeste, outras autoridades devem comparecer ao evento, como o governador do Paraná, Ratinho Júnior, e o ex-governador do Rio Grande do Sul, Antônio Britto.

A presença de aliados do governo federal na cerimônia reforça a intenção da governadora de estreitar laços com o presidente Lula. Nos últimos meses, Lyra tem intensificado a articulação em Brasília, fortalecendo sua relação com o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), a quem considera um amigo. Em Pernambuco, o PT está dividido: enquanto a ala estadual apoia Raquel Lyra, o diretório municipal mantém aliança com o prefeito do Recife, João Campos (PSB).

Dirigente do PT defende Eduardo Paes como vice de Lula em 2026

Johanns Eller / O Globo

Vice-presidente do partido, Washington Quaquá tem discutido cenário no Rio e em Brasília; prefeito carioca é favorito para concorrer ao governo fluminense

O vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá, tem defendido em Brasília e nos círculos da política fluminense que Luiz Inácio Lula da Silva convide o prefeito Eduardo Paes (PSD), para a vice em sua chapa à reeleição em 2026. Quaquá acredita que esse movimento, que jogaria Geraldo Alckmin (PSB) para escanteio traria o PSD de Gilberto Kassab para a coligação petista, e teria o potencial de atrair também o MDB.

As siglas estão entre as maiores do Brasil e controlam três ministérios cada, mas têm hesitado em sinalizar apoio a um quarto mandato de Lula. Ambas estão rachadas entre alas do Sudeste e Sul, mais à direita, e setores lulistas no Nordeste e Norte. Para contornar as divergências, o MDB tem sinalizado interesse em ocupar a vice do presidente com os atuais ministros Renan Filho (Transportes) e Simone Tebet (Planejamento) ou o governador do Pará, Helder Barbalho.

Entrevista | Otto Alencar, novo presidente da CCJ do Senado: 'Nem sempre a prioridade do Haddad é a do Congresso'

Lauriberto Pompeu e Camila Turtelli / O Globo

Senador baiano diz que ministro da Fazenda não terá caminho fácil em propostas como limite dos supersalários do Judiciário e reclama de bloqueio de emendas

O senador Otto Alencar (PSD-BA), novo presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), diz ao GLOBO que o colegiado não vai aderir de forma automática à agenda do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O senador também reclamou do bloqueio das emendas, considera elevadas as penas de alguns dos condenados pelos ataques do 8/1 e é contra mudar a Ficha Limpa para beneficiar Jair Bolsonaro.

Quais vão ser as prioridades da CCJ nos próximos dois anos?

Depois do carnaval uma das as coisa que eu vou conversar com o Marcelo Castro (relator da reforma eleitoral) é a reforma eleitoral. Muitos senadores estão defendendo acabar com a eleição de dois em dois anos. Vai ser bom para todo mundo, para o Brasil. Tem algumas coisas que estão paradas, marco temporal. A questão dos supersalários (do Judiciário), eu estou esperando o (Rodrigo) Pacheco chegar para conversar. Vem dele aquela aquela iniciativa da PEC do quinquênio (que ampliaria a remuneração do Judiciário e compensaria a limitação). Não considero urgente para botar na sala e operar, tem que examinar bem, tem muita versão, muita narrativa nisso.

Pós-carnaval, Senado debate mudanças nas regras eleitorias

Lauriberto Pompeu e Camila Turtelle / O Globo

Parlamentares querem avançar com projetos sobre reeleição, mulheres e inelegibilidade pelo Ficha Limpa

Parlamentares da cúpula do Senado querem avançar com propostas sobre mudanças no processo eleitoral na volta dos trabalhos após o recesso de carnaval. Há pressa em aprovar e sancionar alterações até o início de outubro para que novas regras possam valer já para as eleições de 2026. Ao mesmo tempo, cresce entre os senadores do centro e de direita um consenso sobre a necessidade de se discutir o fim da reeleição e a unificação do período de mandatos de presidente da República, governadores, prefeitos, deputados e vereadores.

Os projetos que tratam sobre esses temas estão concentrados na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que passa a ser presidida este ano pelo senador Otto Alencar (PSD-BA), e sob a relatoria do senador Marcelo Castro (MDB-PI). Ambos afirmam que as discussões devem ser iniciadas já neste mês. Crítico das eleições de dois em dois anos, Alencar já se mostrou favorável a mudança no calendário. 

Poesia | O Relógio, de João Cabral de Melo Neto

 

Música | João Gilberto e Ney Matogrosso - Curare (1982)