Trump faz renascer riscos que todos julgavam superados
O Globo
No mundo da fantasia de seu discurso, ele
assume papel de salvador. Na realidade, é a maior fonte de tensão
No primeiro pronunciamento ao Congresso desde
a posse em janeiro, Donald Trump demonstrou
estar disposto a cumprir suas piores ameaças de campanha. Em discurso de cem
minutos, pintou um mundo de fantasia em que se apresenta como salvador de um
país em apuros. Na realidade, seu governo se tornou a maior fonte de incerteza
e tensão do planeta. Trump fez renascer riscos que todos acreditavam superados.
Não bastasse o alinhamento à Rússia (em detrimento da Ucrânia) que já lançou os
países europeus numa nova era de rearmamento, não bastasse o caos imposto ao
setor público com cortes inconsequentes ou ilegais, ele deflagrou uma guerra
comercial cujos desdobramentos serão nocivos para a economia global e para seu
próprio país.
Em fevereiro, anunciou tarifas sobre aço e alumínio. Nesta semana, os produtos importados de Canadá e México começaram a pagar 25% de alíquota na alfândega. A taxa sobre produtos chineses subiu 20 pontos percentuais. Em resposta, China e Canadá retaliaram. Depois do naufrágio do mercado acionário, autoridades americanas afirmaram ser viável um acordo para reduzir as tarifas (as montadoras obtiveram um adiamento). Trump, contudo, se mostra irredutível — e citou o Brasil entre os alvos. Na primeira semana de abril serão impostas barreiras a produtos agrícolas. É dado como certo que o etanol brasileiro estará na lista.