quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Reprovação a Lula traduz deficiências de seu governo

O Globo

Saúde e segurança são as duas maiores angústias responsáveis pela insatisfação da população

A pesquisa Quaest divulgada nesta quarta-feira mostra que a reprovação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva supera 60% nos três maiores colégios eleitorais do país, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Nos oito estados pesquisados, violência e saúde são as maiores preocupações. A violência é o maior problema para moradores de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. A saúde é o que mais aflige cidadãos de Minas, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás. Trata-se de mais um recado para Lula. Em ambos os temas, o governo federal não tem conseguido dar respostas minimamente satisfatórias à angústia dos brasileiros.

Na segurança, os sinais de que a situação saiu de controle estão por toda parte. Porções significativas do território são dominadas por organizações criminosas que achacam moradores, cobram taxas por serviços essenciais, impõem leis marciais e têm a audácia de impedir a entrada do Estado em seus domínios, como mostram as barricadas na entrada de comunidades do Rio. Facções do Sudeste, como a paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) ou a fluminense Comando Vermelho (CV), atuam em diferentes regiões do país e até no exterior, disseminando a violência. O problema não é novo, mas precisa ser enfrentado.

Mito decaído - Merval Pereira

O Globo

Nos últimos meses, o governo Lula está em decadência notável, e muito rapidamente

O mito analógico está fragilizado diante dos problemas que a era digital trouxe para o palco político? As pesquisas de opinião divulgadas nos últimos dias, especialmente a Quaest/Genial de ontem, mostram uma percepção de que os dois primeiros anos do terceiro governo de Lula repetem programas e histrionismos que estão com data vencida. O público, que voltou ao teatro para ver uma peça nova de seu ídolo, não se contenta mais com o que é mostrado em cena, quer coisas e caras novas no proscênio.

Os oito estados escolhidos pela equipe de Felipe Nunes para a pesquisa resumem os centros que devem decidir a eleição de 2026, e a situação do governo é francamente decadente. Nos três maiores colégios eleitorais — Rio, São Paulo e Minas —, a desaprovação está na casa dos 60%, e em estados do Nordeste, que Lula dominava eleitoralmente, a ponto de se eleger em 2022 por causa da região, a aprovação já está abaixo da reprovação.

Não será de repente - Malu Gaspar

O Globo

Numa cena famosa do livro “O Sol também se levanta”, de Ernest Hemingway, um personagem pergunta a outro como foi que ele faliu. O sujeito responde: “De duas maneiras. Primeiro, gradualmente, e então de repente”. Para o governo Lula, os resultados da última pesquisa Quaest mostrando que a reprovação ao governo já superou a aprovação nos oito principais estados brasileiros é uma espécie de “gradualmente”.

Mês após mês, vários institutos de pesquisa vêm indicando que o mau humor com o governo só aumenta, apesar de o PIB ter crescido 3%, de o desemprego estar em queda e a massa salarial em alta. Esse estado de coisas se repete até em regiões onde Lula é forte eleitoralmente, e o governo está bastante presente com seus programas sociais, como o Nordeste.

Segurança como ponto central - Míriam Leitão

O Globo

Eduardo Paes afirma que não vai armar a guarda municipal, mas abrirá concurso com requisitos específicos para novos agentes

Na pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira, o Rio de Janeiro é o estado em que a segurança é vista como o problema mais grave, apontado por 71% dos entrevistados. É o único estado com um percentual tão alto. O prefeito Eduardo Paes, do Rio de Janeiro, está criando uma força municipal armada para combater os crimes de rua, que têm crescido muito. Paes afirma que tentará atrair quadros formados nas Forças Armadas, como o CPOR, que serão treinados especificamente para atuar nesse tipo de ação urbana.

“Ela não vai enfrentar o problema da milícia, da ocupação territorial, do crime organizado, nem substituir a Polícia Militar ou a Civil. O que a gente quer é criar um modelo de policiamento ostensivo, comunitário, preventivo, que parta da premissa do respeito aos direitos do cidadão, mas que combata a bandidagem que toma conta das ruas das cidades brasileiras”.

Motor da reforma ministerial é a luta interna - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Padilha pode se mostrar de reproduzir sucesso do Mais Médicos com o Mais Especialidades, mas sua saída do Palácio reproduz o que se vê no PT, a disputa pelo comando de 2026

Vencerá a eleição de 2026 quem for capaz de convencer o eleitor que é capaz de lhe oferecer futuro. A definição, dada por um colaborador de mais de uma década do presidente da República, impõe um desafio a mais para a reforma ministerial iniciada nesta terça por Luiz Inácio Lula da Silva: convencer o eleitor de que pretende lhe oferecer futuro devolvendo a Saúde para um ministro que já a ocupou ou, missão impossível, com o deputado José Guimarães (PT-CE) na Secretaria de Relações Institucionais.

Se Alexandre Padilha é o nome ideal para a Saúde por que não a ocupou desde janeiro de 2023? Porque Lula queria dar uma resposta ao negacionismo e conter o reinado do Centrão na Pasta com o currículo irrepreensível da então presidente da Fiocruz. Pela deselegância com a qual Nísia Trindade foi tirada do governo, o presidente sugere que a melhor maneira de encobrir um erro é cometendo outro.

Lula vive seus piores momentos no poder - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Com a volta de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos, a trajetória da direita no mundo é ascendente; aqui o governo de esquerda está em baixa

Quando o ex-ministro José Dirceu foi defenestrado da Casa Civil pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no auge da crise do Mensalão, em 16 de junho de 2005, parecia que o governo petista nem terminaria o mandato, tal a pressão que sofria no Congresso, na opinião pública e na mídia. No dia seguinte, José Dirceu voltou à Câmara, para a qual havia sido eleito deputado mais votado do país, num contexto em que sua cassação já parecia irreversível.

O petista estava resignado com a situação, disposto a lutar por seu mandato, mas sem muitas esperanças: “Eu sei que vão cassar meu mandato, mas vou lutar por ele”. Indagado sobre a situação do PT, delicadíssima, por causa do depoimento de Duda Mendonça, que admitiu ter recebido recursos para campanha no exterior, fez um comentário que a vida viria a comprovar algumas vezes: “O PT vai sobreviver, por causa do Lula e da sua militância”. Foi o que aconteceu, Lula foi reeleito e elegeu Dilma Rousseff, que foi reeleita depois da crise de 2013, mas não entendeu o recado das ruas e sofreu o impeachment. O petista voltou ao poder nas eleições de 2022, depois de condenado pela Lava-Jato, passar mais de 500 dias preso e ter a condenação anulada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Resultado mostra que efeitos da crise do Pix continuam - César Felício

Valor Econômico

Governo está em uma espiral de aprovação popular fortemente descendente, sobretudo no Nordeste

Não é sempre que um conjunto de pesquisas com 10.442 entrevistas é divulgado, o que dimensiona o significado dos levantamentos de avaliação do governo Lula feitos pela Genial/Quaest em oito Estados e tornados públicos hoje. Das situações específicas em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás, Pernambuco e Bahia se distingue um mosaico com desenho bastante claro: a situação é terrível para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Poderia ser ainda pior se a oposição tivesse um rumo já traçado para 2026.

A marca do governo é Lula - William Waack

O Estado de S. Paulo

Ele é a figura central e o principal símbolo na comunicação do governo

Os últimos resultados de pesquisas reiteram que o problema do governo não é de comunicação, mas de quem o chefia. Lula cobra de seus ministros e especialmente de seu marqueteiro uma marca ignorando que ela já existe: é ele mesmo.

A marca enfrenta uma tempestade perfeita. O presidente é maior que seu partido e o conjunto de forças de esquerda. Ocorre que, nesse lado do espectro político, conforme bem demonstrado nas eleições municipais, tudo encolheu, enquanto as forças adversárias sociais e políticas se expandiram.

Lula e a especulação fiscal - José Serra

O Estado de S. Paulo

Uma breve análise das palavras do presidente Lula é necessária, no mínimo para ajudar os cursos de Economia em sua árdua tarefa de ensinar uma ciência tão inexata

Os últimos dois meses presenciaram um quadro econômico nacional em deterioração e que tem afetado sobremaneira a situação política, incluindo a avaliação do presidente Lula. Vale notar, no entanto, que há dois movimentos em paralelo. Numa via, o descrédito fiscal já vinha minando as perspectivas de mercado há meses. Noutra, um descompasso nos preços tem tornado a inflação uma ameaça e impactado o orçamento familiar em aspectos bastante críticos.

Infelizmente, a teoria econômica é eivada de lacunas na compreensão de diversos dos elementos centrais de nossa vida econômica, como a renda, a produção e os preços, notadamente o preço do nosso dinheiro. Mesmo em relação às causalidades que ganham ares de verdade inelutável, as controvérsias teóricas e práticas são imensas.

Empobrecimento e efeito político - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Dureza maior não é a pobreza; é o empobrecimento. Quando a percepção de empobrecimento atinge em cheio as classes médias, como agora, o custo político é inevitável. É o que ajuda a explicar o disparo na reprovação do governo Lula, como mostram as pesquisas.

A cavalgada dos preços da alimentação, de 1,68% em apenas um mês e meio é o primeiro choque sobre o orçamento doméstico. Tão ou mais decepcionantes são as respostas das autoridades para o aumento da carestia: que o consumidor troque carne por ovo, cujos preços logo em seguida disparam; café, por chá; troque laranja por limão; cenoura por abobrinha ou pepino; alface, por chicória... Ou então, vêm as tentativas inúteis de importar o que ficou caro demais; e, mais decepcionante, a chamada de varejistas e de atacadistas para maneirar nos efeitos da lei da oferta e da procura, como se tivessem perdido o controle das maquininhas de etiquetar preços.

O seguro morreu de velho - Assis Moreira

Valor Econômico

O mundo está mais perigoso. E a questão de segurança econômica ganha ainda mais relevância com Donald Trump de volta à Casa Branca

Os ocidentais se referiam sobretudo à China quando falavam até recentemente do tema. Agora, os EUA são também uma ameaça. Parceiros se inquietam com a abrupta mudança em alianças americanas, intimidações no comércio com choques tarifários, ameaças de “tomar” o Canal do Panamá e tornar o Canadá o 51º Estado americano, reivindicar o controle da Groenlândia e abocanhar metade dos minerais críticos da combalida Ucrânia em nome de interesses estratégicos.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tirou uma rápida conclusão: “Sabemos que haverá um aumento no uso de ameaças e de ferramentas de coerção econômica, como sanções, controles de exportação e tarifas. Vimos isso novamente nos últimos dias e a rapidez com que as coisas podem se agravar”.

Nesse cenário, um bom número de países acelera a cartografia dos riscos, para adotar suas políticas de segurança econômica, uma área cada vez mais dinâmica. Em vários deles, incluindo os europeus, o grau de integração econômica com a China é levado em conta com cuidado. Existe inquietação com o excesso de capacidade industrial chinesa, mas também o reconhecimento de que custaria caro reforçar a resiliência das economias se desviando da segunda maior economia do mundo. Isso poderia reduzir a eficiência e aumentar os preços no mercado interno, como notam certos analistas.

PIB, 2025: está frio ou está quente? - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Apesar de quedas na confiança, criação de vagas formais veio bem acima do previsto

Comércio, indústria e serviços encolheram no final do ano passado, segundo dados do IBGE. A confiança de consumidor e de empresas de todos os setores cai desde o bimestre final de 2024, segundo dados da FGV; janeiro foi de ânimos bens ruins.

No entanto, há indícios de que a coisa não é bem assim, embora já houvesse discussões na praça financeira até sobre o efeito da suposta desaceleração na atitude do Banco Central. Os primeiros dados mais frios parecem ter tido algum efeito na cotação do dólar e em taxas de juros no atacadão do mercado de dinheiro (que caem desde fins de janeiro). O dólar baixou de R$ 5,70. Agora, com paniquitos a respeito do suposto programa de governo contra o esfriamento da economia (mais crédito) e dúvidas sobre a perda de ritmo do PIBvoltou para perto de R$ 5,80.

A democracia na mira sob Trump - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

Medidas são revolução sem precedentes nas democracias contemporâneas

A democracia representativa modera o conflito político. De um lado, a disputa eleitoral majoritária reduz as chances das posições extremadas, sempre minoritárias no eleitorado. A competição pelo voto favorece partidos e candidatos mais próximos do centro. De outro lado, o Estado de Direito e as diferentes formas de freios e contrapesos institucionais impedem o exercício arbitrário do poder pelo governante da vez.

Esse era o consenso entre especialistas e a pedra de toque das teorias que buscaram explicar o funcionamento dos regimes democráticos representativos. Até a recente eleição de Donald Trump.

Vitorioso com uma plataforma radical, o 47º presidente dos EUA vem tentando abolir direitos de há muito reconhecidos, além de tomar medidas que ultrapassam sua competência legal. Mais do que isso, investe pesado na destruição de órgãos estatais e instrumentos costumeiros de governo.

Adam Przeworski, cientista político da New York University, vem publicando no site Substack o Adam’s Diary. Trata-se de comentário ao que faz a nova administração. Ele observa que as medidas anunciadas ou adotadas para reduzir a máquina pública —e controlá-la por inteiro— representam transformação revolucionária nas relações entre Estado e sociedade, porque sem precedentes sob regime democrático. Pois, para processar os conflitos de forma pacífica, argumenta, o governo eleito tem de ser moderado e não pode impor derrotas que pareçam irreversíveis aos que venceu pelo voto.

Poesia | O trenzinho, de Ferreira Gullar

 

Música | Barracão - Elizeth Cardoso, Jacob do Bandolim e Época de Ouro