sábado, 15 de fevereiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Persistem erros na gestão de vacinas contra Covid

O Globo

Na pandemia, petistas criticavam atraso na vacinação. Agora, quem vai ao posto não encontra versão atual

Cinco anos depois do início da pandemia, felizmente a Covid-19 é hoje uma doença sob controle, graças à vacinação maciça da população. Mas não vivemos num cenário de risco zero. O vírus ainda circula — e ainda mata. No ano passado, 5.960 brasileiros perderam a vida em consequência da doença. Ela foi estabilizada, por isso não deveria haver espaço para vacilos que ampliem os riscos. É fundamental manter a população vacinada, especialmente os grupos mais vulneráveis, como idosos, gestantes, crianças ou imunossuprimidos. O Ministério da Saúde, responsável por comprar as vacinas e distribuí-las, tem a obrigação de oferecê-las na versão atualizada para as novas cepas, uma vez que o vírus está em constante mutação. Infelizmente, não é o que tem ocorrido.

Reação ao populismo deve ser contraintuitiva – Pablo Ortellado

O Globo

O segundo governo Trump começou como avalanche, com uma sucessão avassaladora de medidas drásticas, muitas delas tensionando os limites constitucionais. Esse começo ambicioso e acelerado tem sido lido pelo establishment progressista como a antessala do fascismo.

Onde quer que olhemos na grande imprensa americana, o tom é apocalíptico. Num influente artigo na revista Foreign Affairs, publicado na terça-feira, Steven Levitsky e Lucan Way argumentaram que “a democracia dos Estados Unidos provavelmente entrará em colapso durante o segundo governo Trump, uma vez que deixará de atender aos critérios-padrão de uma democracia liberal: sufrágio universal adulto, eleições livres e justas e ampla proteção das liberdades civis”. Na revista The Atlantic, no sábado passado, o historiador Timothy Ryback, em tom de alerta, lembrou em detalhes como “Hitler desativou e depois desmantelou sistematicamente as estruturas e processos democráticos de seu país em menos de dois meses”. Em artigo no jornal The New York Times, também na terça-feira, Thomas Edsall argumentou que “Trump e seus aliados têm uma grande estratégia: primeiro, estabelecer um controle sem precedentes sobre o Poder Executivo; segundo, forçar o Judiciário à submissão e ignorar suas decisões; por fim, recompensar aliados, punir adversários e governar sem restrições”.

Sim, nós temos petróleo – Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

Não há país que, tendo o óleo à disposição, deixe de explorá-lo, mesmo que esteja engajado em compromissos climáticos

Vamos falar francamente: é muito difícil, se não impossível, que o presidente Lula desista da exploração do petróleo na Margem Equatorial, a ampla área que vai do litoral do Amapá ao Rio Grande do Norte. Não se trata de simples política paroquial para agradar ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que é do Amapá, onde se conta com o dinheiro do óleo.

Claro que Lula precisa de Alcolumbre para aprovar seus projetos no Congresso. Mas a questão do petróleo é anterior e muito mais profunda. Embora menos ostensiva que a opinião ambientalista, há uma ampla coalizão favorável à exploração do óleo. Inclui membros do governo Lula, lideranças políticas, sociais e dos meios econômicos (empresários, trabalhadores), além de um grupo importante de gente ligada à área de energia.

O golfo é do México ou da América? - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Nacionalismo onomástico não é novidade e tende a gerar fake news e situações ridículas como a desta guerra de topônimos

Esqueça a guerra tarifária e a sudetização da Ucrânia, o contencioso trumpiano mais legal de acompanhar no momento é aquele em torno do golfo do México, que o presidente americano rebatizou de golfo da América.

Solícitos, Google e Apple atenderam ao capricho presidencial, exibindo o novo nome em seus aplicativos de mapas quando acionados a partir do território americano. A Associated Press não aquiesceu e teve um de seus repórteres barrado em evento da Casa Branca.

Farra das emendas no salão da corrupção - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Presença do crime organizado nas instituições também influi na piora do desempenho

O Brasil está empatado com Argélia, Nepal, Tailândia, Maláui e Níger no Índice de Percepção da Corrupção (IPC) da Transparência Internacional. Exibe a pontuação 34, sua pior posição e nota desde 2012, o começo da série histórica. Está nove pontos abaixo da média global e oito abaixo da média das Américas. Mesmo assim, espanta que o país não tenha caído ainda mais quando se sabe que a Polícia Federal investiga uma empresa suspeita de fraude em licitações contratada pela própria Polícia Federal.

Golpe em andamento - Luís Francisco Carvalho Filho

Folha de S. Paulo

Mais um Carnaval se aproxima e Bolsonaro não está preso

A fala do ministro da Defesa, tolerante à tentativa de golpe, não é aleatória.

Múcio é mamulengo e bolsonarista. Defendia os acampamentos patrocinados pelo Exército golpista do Brasil. Mais do que isso, tinha "parentes" acampados. Lula escolheu Múcio porque, quando trata de militares, é pelego e inseguro.

Há uma operação política e jurídica para repaginar a figura repugnante e mesquinha de Jair Bolsonaro.

O presidente insensível e criminoso que em 2021 reclamava de "frescura", "mimimi" e "choradeira" do país diante de centenas de milhares de mortes causadas pela pandemia, derrama lágrimas ao se declarar perseguido por Alexandre de Moraes e de se revelar vítima de terríveis nulidades.

Inflação de presidentes: como evitá-la - Fabio Gallo

O Estado de S. Paulo

Se os presidentes evitarem declarações e tomarem decisões técnicas, é possível ter estabilidade

Esta semana tivemos a feliz surpresa com a inflação de janeiro. O IPCA foi de 0,16%, a menor taxa para o mês desde o início do Plano Real, em 1994. O índice caiu principalmente devido à redução de tarifas de energia elétrica resultante do bônus de Itaipu. Mas não podemos nos enganar, acreditando que a fera foi dominada – o IPCA de janeiro está escondendo problemas estruturais, que irão manter a inflação alta nos próximos meses.

Por seu lado, o presidente Lula e outras autoridades culpam os supermercados pela alta dos alimentos e dão dicas de como reutilizar pó de café e de outras mudanças de hábitos alimentares. Noutra frente, culpam o Banco Central pela alta de juros. Dizem que o governo está ajudando no controle da inflação com medidas sociais e incentivo ao crescimento econômico. Esquecem de falar nos gastos elevados do governo e desconsideram a inflação de serviços.

O fim do PSDB - André Gustavo Stumpf*

Correio Braziliense

No futuro, alguém vai estudar como o grupo de políticos qualificados, que ousaram romper com o poderoso PMDB de Orestes Quércia, colocaram o país no rumo da social-democracia europeia, mas não conseguiram fazer sua mensagem chegar a maioria dos brasileiros

O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) governou o Brasil por dois mandatos consecutivos, nos governos Fernando Henrique Cardoso. Governou o estado de São Paulo por mais de 28 anos e, nos dois longos momentos, teve influência direta sobre a história do país. Ao longo do mandato presidencial tucano, o crescimento da economia brasileira foi de 2,3% ao ano. Ocorreram inúmeras privatizações que precederam a modernização de diversos setores antes controlados pelo Estado, como as telecomunicações. Ninguém imagina que o PT tivesse a capacidade de privatizar o imenso e rico setor de telecomunicações e colocar o sistema de telefones celulares em pleno funcionamento no país.

No governo, FHC terminou com a hiperinflação (que, antes de seu governo, chegou a alcançar de 1.000% ao ano). Acabou a loucura de os preços aumentarem todos os dias. Houve a criação de programas sociais pioneiros, como o Bolsa-Escola, o Auxílio-Gás e o Bolsa-Alimentação (posteriormente unidos em um só programa, o Bolsa Família, pelo governo Lula), além do início da reforma do Estado, com a implantação de Agências Reguladoras, do Ministério da Defesa, da Advocacia-Geral da União (AGU) e da Controladoria Geral da União (CGU). A implantação da Lei de Responsabilidade Fiscal foi um marco na regulação do uso de verbas públicas em todos os níveis administrativos do país.

Cacá Diegues, cinemanovista até o fim - Lilia Lustosa*

Correio Braziliense

Mestre, ídolo e nosso grande cineasta e pensador, vá em paz e leve seu brado de liberdade para onde você for.

É uma sensação muito estranha a de perceber que os personagens que nos acompanharam por tantos anos vão aos poucos desaparecendo de nossas vidas. Hoje, o grande mestre do cinema Cacá Diegues nos deixou. Ficou um vazio no cinema brasileiro, ficou um vazio em mim.

Ele, que não só foi o responsável por colocar no mundo filmes extraordinários, como Xica da Silva, Dias melhores virão, Orfeu e tantos outros, mas que acabou se tornando peça importantíssima na minha vida, uma vez que foi um dos protagonistas da minha tese de doutorado. Nela, tentei explicar (e acho que consegui) como se deu o surgimento do Cinema Novo, maior movimento cinematográfico da história do nosso cinema, a partir de um viés intelectual e político. E para abrir meu longo texto, escolhi uma frase escrita justamente por Cacá Diegues, que me pareceu a mais precisa, criativa e divertida: "Não ocorre a ninguém pensar que, certa noite, Leonardo, Rafael e Michelangelo tenham se encontrado numa taverna da Toscana e decidido lançar um movimento artístico, a que alguém de passagem sugeriu chamar de Renascimento. Mas foi assim que nasceu o Cinema Novo".

Que papo é esse de semipresidencialismo? - Marcus Pestana

Há muito, os presidentes da República, no presidencialismo brasileiro, não dispõem de maioria parlamentar sólida e fiel para governar. Isso se deve à excessiva pulverização partidária da representação política da sociedade no Congresso Nacional, com uma grande quantidade de partidos, sem que haja duas colunas vertebrais - uma de situação, outra de oposição - com número suficiente de parlamentares para dar consistência aos dois blocos: maioria e minoria, conceitos presentes na maior parte dos parlamentos mundo afora, mas ausentes aqui nas últimas décadas.

Outro causa importante foi o grande alargamento da autonomia dos parlamentares em relação ao Executivo com o crescimento exponencial do valor das emendas orçamentárias de execução obrigatória e o financiamento público de partidos e campanhas.

Ímpeto protecionista - Luiz Gonzaga Belluzzo*

A história dos EUA é marcada pela persistente tradição de acudir a produção interna

Diante da ofensiva de Donald Trump destinada a tornar a “América Grande Novamente”, recorri à releitura de O Vermelho e o Negro, de Henri-Marie Beyle, conhecido como Stendhal. O personagem central do livro é o jovem Julien Sorel. Nascido na pequena Verrières, o jovem sofria as agressões de seu pai, um camponês de maus-bofes. Protegido pelo prefeito Rênal, Julien tornou-se uma celebridade.

Nas primeiras páginas de O Vermelho e o Negro, Stendhal dedica-se a considerar as cicatrizes sociais que definiam o ambiente de Verrières: “…Essas pessoas sensatas exercem aqui o mais aborrecido despotismo; é por causa desse nome feio que a estada nas cidadezinhas é insuportável para quem viveu na grande república chamada Paris. A tirania da opinião, e que opinião!, é tão burra nas cidadezinhas da França quanto nos Estados Unidos da América”.

Os insensatos que hoje estão no comando do Estado norte-americano dedicam seu “aborrecido (e burro) despotismo” para reafirmar a história econômica da América do Norte.

A ‘Rodada Trump’ está lançada - Assis Moreira

Valor Econômico

Trump detona o sistema multilateral e impõe uma reciprocidade com critérios definidos por Washington

Ao mandar sua administração preparar a adoção de ‘tarifas justas e recíprocas’ com todos os principais parceiros comerciais dos EUA, Donald Trump zerou o jogo para na prática recomeçar uma rodada global de reduções tarifárias em favor dos produtores americanos.

Estão lançadas as bases da ‘Rodada Trump’, que ignora as regras internacionais. A maior potência do mundo decide bilateralizar todas as relações, num jogo que é assimétrico. Quem tentar resistir vai sofrer a truculência com alta de tarifa para seus produtos ao entrar nos EUA.

Poesia | O Sertanejo falando, de João Cabral de Melo Neto

 

Música | Clube da Esquina - Seu Jorge e Milton Nascimento