Folha de S. Paulo
[Resumo] Cientistas políticos americanos
argumentam que a democracia nos EUA está à beira da ruína em seus principais
pilares neste segundo mandato de Donald Trump. A isso se seguirá, dizem, não
uma ditadura clássica, mas um modelo de autoritarismo competitivo. Embora
nesses casos a ordem liberal pareça preservada, autocratas no poder usam
sistematicamente a máquina do Estado para reprimir a oposição, usar brechas da
lei a seu favor e fortalecer seu poder.
A primeira
eleição de Donald Trump à Presidência em 2016 desencadeou uma
defesa enérgica da democracia por parte do establishment americano, mas seu
retorno ao cargo foi recebido com uma indiferença marcante.
Muitos políticos, comentaristas, figuras da
mídia e líderes empresariais que viam Trump como uma ameaça agora tratam essas
preocupações como exageradas —afinal, a
democracia sobreviveu ao seu primeiro mandato. Em 2025, preocupar-se
com o destino da democracia americana tornou-se quase banal.
O momento dessa mudança de humor não poderia
ser pior, pois a democracia está em maior perigo hoje do que em qualquer outro
momento da história moderna dos EUA. A América tem regredido por uma década:
entre 2014 e 2021, o índice anual de liberdade
global da Freedom House, que avalia todos os países em uma escala de
0 a 100, rebaixou os Estados Unidos de 92 (empatado com a França) para 83
(abaixo da Argentina e empatado com o Panamá e a Romênia), onde permanece.
Os aclamados controles constitucionais do
país estão falhando. Trump violou a regra cardinal da democracia quando tentou
reverter os resultados de uma eleição e bloquear uma transferência pacífica de
poder.
No entanto, nem o Congresso nem o Judiciário
o responsabilizaram, e o Partido Republicano, tentativa de golpe à parte,
escolheu-o novamente para disputar a eleição.
Trump
conduziu uma campanha abertamente autoritária em 2024, prometendo
processar seus rivais, punir a mídia crítica e mobilizar o Exército para
reprimir protestos. Ele venceu, e graças a uma decisão extraordinária da
Suprema Corte, desfrutará de ampla imunidade presidencial em seu segundo
mandato.
A democracia sobreviveu ao primeiro mandato
de Trump porque ele não tinha experiência, plano ou equipe. Ele não controlava
o Partido Republicano quando assumiu o cargo em 2017, e a maioria dos líderes
partidários ainda estava comprometida com as regras democráticas do jogo.