segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Reforma com mais respeito

Correio Braziliense

Durante toda a semana, veículos de imprensa se apressaram em noticiar, com alarde, movimentos de bastidores de uma eventual reforma ministerial

Em entrevista à Rádio Tupi, do grupo Diários Associados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro que cabe a ele, e tão somente a ele, decidir as mudanças em seu ministério. Seria recomendável, então, o chefe do Executivo definir logo o processo, a fim de evitar mais desgastes em um governo que enfrenta problemas de popularidade.

Durante toda a semana, veículos de imprensa se apressaram em noticiar, com alarde, movimentos de bastidores de uma eventual reforma ministerial. Novamente, a titular da pasta da Saúde, Nísia Trindade, tornou-se alvo de violenta especulação. Nem o presidente Lula, nem a própria citada, nem qualquer integrante graduado do governo se manifestou oficialmente. Por dois dias seguidos, a ministra divulgou, por meio de assessoria, informações sobre sua atuação à frente da pasta, em uma espécie de prestação de contas aos críticos e à opinião pública. Tudo muito dissimulado, sem transparência.

A realidade dos memes e a fumaça em Brasília – Fernando Gabeira

O Globo

Lula está isolado, capturado dizem alguns. Surgem inúmeros debates sobre quem o capturou e para quê

Na semana passada, fiquei mais velho ainda e pensei em dedicar um tempo aos meus livros. Eles andam dispersos e desafiam a paciência doméstica.

Tenho mais livros do que posso ler. Comprei o que pude, principalmente na Livraria Leonardo da Vinci. Era uma livraria francesa, mas Dona Vanna, quando viajava, trazia muita coisa em inglês. Separava em pequenos pacotes para mim. Carlos Drummond de Andrade e o romancista maranhense Josué Montello também tinham seus pacotes. O que me dava uma sensação de importância, como se os pacotes abrissem, por si, o caminho da importância cultural.

O acaso do passado – Miguel de Almeida

O Globo

Logo mais saberemos se Deus voltou a ser brasileiro. Com Bolsonaro inelegível, as eleições de 2026 podem não contar com Lula da Silva. Sem um nome competitivo, o PT parece vislumbrar o final de sua dinastia.

Imagine: 2027 sem Lula, Bolsonaro ou o PT. Não é torcida. São os fatos trazidos pelas pesquisas reveladoras de um novo Brasil — e também pela Justiça. Ao que tudo indica, quando a primavera vier, o pai de Jair Renan poderá encontrar as bem merecidas grades.

Nesse provável cenário, a corrida presidencial do próximo ano deverá ser a primeira desde a redemocratização sem os personagens fundamentais que capitanearam a luta contra a ditadura. Sejam Haddad, Ciro, Tarcísio, Caiado, Ratinho ou Zema, todos são políticos do período democrático. Com pé na direita ou esquerda, ganhando ou perdendo, passaram por eleições. À direita, a distinção se dá entre quem mata mais ou diz que mata menos. À esquerda, é o ritmo de modernização do Estado que marca o passo.

Por que a AfD não deve ir para o novo governo - Jim Tankersley*

O Globo

A rejeição coletiva das demais siglas ao partido AfD é parte de um esforço de décadas para impedir a entrada dos radicais no tabuleiro político do país que viveu o nazismo

O próximo governo da Alemanha quase certamente será uma coalizão de vários partidos políticos para então formar uma maioria no Parlamento. Mas uma legenda quase certamente será excluída dessa coalizão, independentemente do seu desempenho final: a Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema direita.

Embora as primeiras pesquisas de boca de urna no domingo tenham mostrado o AfD em segundo lugar, impulsionado principalmente por sua oposição à migração em massa e sua promessa de deportar imigrantes, todos os outros partidos tradicionais da Alemanha se recusam a convidá-lo para o governo. Esse bloqueio é conhecido na Alemanha como o “firewall” (cordão sanitário) e é resultado direto dos esforços do país no pós-Segunda Guerra Mundial para suprimir partidos e vozes rotuladas como extremistas.

O que Lula deseja com a reforma ministerial? - Bruno Carazza

Valor Econômico

A política mudou e trocas no comando das pastas não trazem mais os mesmos resultados de antigamente

A novela se arrasta por meses e muita tinta e saliva já foram gastas para analisar as possíveis trocas que Lula pretende fazer na Esplanada dos Ministérios. Com mais da metade do seu terceiro mandato transcorrida, popularidade em queda e diante de uma mudança nos postos de liderança da Câmara e do Senado, o presidente tenta montar um quebra-cabeça que prepare seu governo para uma disputa eleitoral cada vez mais próxima.

São três os principais motivos pelos quais os presidentes da República realizam amplas reformas nos seus ministérios.

Mercado dá primeiro sinal positivo para o Copom - Alex Ribeiro

Valor Econômico

Descompressão da inflação implícita é um sinal de que o mercado está um pouco mais confiante de que a dose cavalar de juros injetada pelo Banco Central vai fazer efeito

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central vai levar os juros básicos a 14,25% ao ano em março e deixou em aberto a possibilidade de ir além. O aperto vai funcionar para trazer a inflação para a meta?

Os economistas do mercado consultados na pesquisa Focus acham que não, por isso as expectativas de inflação pioram semana a semana. Mas os preços de mercado, definidos pelas mesas de operação das instituições financeiras, dão os primeiros sinais positivos.

O que Trump significa para o Sul Global - Oliver Stuenkel

O Estado de S. Paulo

Em um mundo caótico, a resiliência geopolítica se torna essencial para garantir a soberania e a estabilidade do Brasil

Em vários sentidos, a volta de Donald Trump é uma péssima notícia para países em desenvolvimento. A retórica agressiva e o desprezo pelo Sul Global, evidenciado por declarações como a infame “shithole countries” (algo como “países de m…), indicam um período de relações diplomáticas tensas. O desmantelamento da agência dos EUA para o desenvolvimento (USAID) já coloca em risco a vida de milhões de pessoas em países extremamente pobres. O descompromisso com pautas ambientais e a saída de organismos como a Organização Mundial da Saúde (OMS) têm o potencial de produzir efeitos devastadores, prejudicando a cooperação internacional em áreas críticas, como a saúde pública. A suspensão temporária da ajuda militar dos EUA à Colômbia, por exemplo, compromete operações do país contra guerrilheiros e narcotraficantes, com possíveis consequências para a segurança de fronteira do Brasil. Uma política migratória mais restritiva pode negativamente impactar mercados de trabalho na América Latina e reduzir remessas. Os ataques de Tump ao Brics e à África do Sul reforçam a percepção de que seu governo será hostil ao Sul Global.

Fim da cautela - Diogo Schelp

O Estado de S. Paulo

Após comedimento inicial, as críticas de Lula a Trump servem a propósitos da política doméstica

O governo Lula reagiu inicialmente com comedimento aos primeiros pontos de tensão com Donald Trump. Após as deportações com imigrantes algemados e os anúncios de novas tarifas de importação nos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, as respostas foram calibradas para não doer nos calos do presidente americano, conhecido por se fazer de ofendido para usar a vingança como instrumento de geopolítica.

Trump e a Europa - Denis Lerrer Rosenfield

O Estado de S. Paulo

A mensagem do presidente dos Estados Unidos é clara. Os europeus devem arcar com suas próprias despesas de defesa

Se as relações humanas, mesmo em momentos de tranquilidade, estão submetidas às mais diversas formas de perversidade e abjeção, isso é ainda mais válido em estados de guerra ou naqueles em que a geopolítica adquire as formas de um conflito aberto. Nelas, a “lei do mais forte” passa a valer – se é que se possa utilizar a palavra lei para caracterizar o que Hobbes denominava de estado de natureza, de combate desregrado e arbitrário.

Estamos entrando numa era em que passam a valer principalmente o poderio militar e o econômico, os Estados Unidos possuindo ambos. A diferença, agora, consiste em que Trump decidiu escancarar o seu projeto de poder, não medindo meios para tal fim. Algo não diferente do que a Rússia faz na Ucrânia ou o Irã no Oriente Médio. Cabe ressaltar, ainda, que o mundo das relações internacionais não é o terreno de anjos. Aqueles que se apegam a um mundo ideal estão destinados a viver na bolha da utopia, alheios à realidade. Parafraseando Nelson Rodrigues, trata-se de ver a realidade tal como ela é, goste-se dela ou não. Ou seja, confrontemo-nos com a geopolítica tal como ela é.

Levitsky e o colapso da democracia americana - Marcus André Melo

Folha de S. Paulo

O diagnóstico do analista está em franco desacordo com as conclusões de seu último livro que alerta contra os perigos das instituições contramajoritárias

Em entrevista recenteSteven Levitsky afirmou ao UOL que não está certo que os tribunais irão conter Trump. "É muito difícil prever. As cortes vão provavelmente frear ou bloquear algumas dessas decisões. Mas nem todas. E outro aspecto é que as cortes se movem lentamente. Mesmo que nem todas as decisões de Trump eventualmente sobrevivam, ele pode quebrar o Estado. Além da lentidão das cortes, outra dúvida é se Trump irá cumprir as decisões das cortes".

Mas esta conclusão está em franco desacordo com o seu diagnóstico em livro recente com Daniel Ziblatt de que a democracia americana está ameaçada por instituições contramajoritárias (que analisei aqui). Dentre elas estão o Colégio Eleitoral, uma Suprema Corte poderosa, o bicameralismo forte, quóruns qualificados no Senado, e um federalismo muito robusto. Estas instituições permitiriam, alega, que a elite branca possa manter o status quo ante a perspectiva de ser minoritária no futuro.

O caminho para o autoritarismo - Steven Levitsky e Lucan A. Way*

Folha de S. Paulo

[Resumo] Cientistas políticos americanos argumentam que a democracia nos EUA está à beira da ruína em seus principais pilares neste segundo mandato de Donald Trump. A isso se seguirá, dizem, não uma ditadura clássica, mas um modelo de autoritarismo competitivo. Embora nesses casos a ordem liberal pareça preservada, autocratas no poder usam sistematicamente a máquina do Estado para reprimir a oposição, usar brechas da lei a seu favor e fortalecer seu poder.

A primeira eleição de Donald Trump à Presidência em 2016 desencadeou uma defesa enérgica da democracia por parte do establishment americano, mas seu retorno ao cargo foi recebido com uma indiferença marcante.

Muitos políticos, comentaristas, figuras da mídia e líderes empresariais que viam Trump como uma ameaça agora tratam essas preocupações como exageradas —afinal, a democracia sobreviveu ao seu primeiro mandato. Em 2025, preocupar-se com o destino da democracia americana tornou-se quase banal.

O momento dessa mudança de humor não poderia ser pior, pois a democracia está em maior perigo hoje do que em qualquer outro momento da história moderna dos EUA. A América tem regredido por uma década: entre 2014 e 2021, o índice anual de liberdade global da Freedom House, que avalia todos os países em uma escala de 0 a 100, rebaixou os Estados Unidos de 92 (empatado com a França) para 83 (abaixo da Argentina e empatado com o Panamá e a Romênia), onde permanece.

Os aclamados controles constitucionais do país estão falhando. Trump violou a regra cardinal da democracia quando tentou reverter os resultados de uma eleição e bloquear uma transferência pacífica de poder.

No entanto, nem o Congresso nem o Judiciário o responsabilizaram, e o Partido Republicano, tentativa de golpe à parte, escolheu-o novamente para disputar a eleição.

Trump conduziu uma campanha abertamente autoritária em 2024, prometendo processar seus rivais, punir a mídia crítica e mobilizar o Exército para reprimir protestos. Ele venceu, e graças a uma decisão extraordinária da Suprema Corte, desfrutará de ampla imunidade presidencial em seu segundo mandato.

A democracia sobreviveu ao primeiro mandato de Trump porque ele não tinha experiência, plano ou equipe. Ele não controlava o Partido Republicano quando assumiu o cargo em 2017, e a maioria dos líderes partidários ainda estava comprometida com as regras democráticas do jogo.

Poesia | Tenho em mim todos os sonhos do mundo - Fernando Pessoa

 

Música | Pérola negra - Agnes Nunes e Seu Jorge