sexta-feira, 14 de março de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Abandonar política de biocombustíveis seria retrocesso

O Globo

Projeto de Lei para deixar de acrescentar etanol à gasolina e biodiesel ao diesel não pode prosperar

Não tem cabimento o Projeto de Lei do deputado Marcos Pollon (PL-MS) para permitir a venda de gasolina sem adição de etanol e de diesel sem acréscimo de biodiesel. É também descabido o pedido do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom) à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para suspender por 90 dias a adição obrigatória de biodiesel ao diesel. A inserção de biocombustíveis na matriz de transportes foi um êxito raro do Brasil, com enormes reflexos positivos em índices de saúde pública e redução na emissão dos gases que provocam o aquecimento global. Dificuldades conjunturais não podem servir de pretexto para retrocesso em avanços duramente conquistados.

As causas da ofensiva aos biocombustíveis são econômicas. O custo do biodiesel está atrelado ao da soja, usada em sua produção. Embora a fração misturada no diesel seja pequena (14%), a alta na cotação da soja pressiona o preço do diesel nos postos. Há, portanto, preocupação legítima com o impacto inflacionário. Por isso, no mês passado, o Ministério de Minas e Energia decidiu manter inalterado o percentual de biodiesel no diesel, enquanto, pela Lei do Combustível do Futuro, ele deveria crescer 1 ponto percentual ao ano até chegar a 20% em 2030. A justificativa foi o temor de que a demanda por soja elevasse os preços e tivesse impacto negativo na inflação.

Em busca de parceiros e resultados - Fernando Abrucio

Valor Econômico

A maior lição de casa do governo Lula III é arranjar agora mais parceiros; é provável, sabendo do estilo do bolsonarismo, que a oposição jogue contra si mesma

O governo Lula III entrou no seu biênio final com uma queda inédita de popularidade. A notícia levou toda a cúpula governamental a se perguntar como reverter essa tendência. Não vai adiantar nem a técnica do desespero, tampouco centrar agora o foco na guerra com os adversários, que mal se sabe quem serão em 2026.

O melhor é ter paciência com o que exige tempo, como o combate à inflação, e, sobretudo, ampliar os parceiros e buscar resultados que possam fortalecer o presidente junto à sociedade. Encontrar caminhos colaborativos e produtivos deveria ser a principal tarefa nos próximos meses.

Hoje, a governabilidade e a popularidade são bem diferentes do período áureo do lulismo. Internamente, esse fenômeno envolve razões institucionais e eleitorais. O Congresso Nacional se tornou muito mais poderoso, autônomo e fragmentado. Conseguir apoio exige negociações e acordos cotidianos. Mesmo assim, o Executivo federal tem de ceder mais em seus projetos do que no período do domínio da dupla PSDB-PT.

Lula pode reverter mau momento - Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Queda de popularidade aferida pelas pesquisas pode ser dissipada; falta de candidaturas claras da direita o favorece

O mau momento do presidente Lulaaferido por pesquisas de opinião, tem animado a direita, seja a moderada ou a populista radical. Em alguns círculos, já se elucubra sobre a suposta evidência de que a esquerda não teria mesmo mais discurso e projeto para a sociedade brasileira contemporânea. Esta, finalmente, teria em seus segmentos populares se rendido ao culto da prosperidade e ao empreendedorismo —alguém falou autoengano? —, num sinal de aprovação de concepções liberais.

Compreende-se a aflição dos antipetistas, uma vez que, no primeiro quarto deste século, o Partido dos Trabalhadores venceu cinco das seis disputas presidenciais. Nesse período, a direita dita civilizada surfou na derrubada de Dilma Rousseff e no governo protogolpista de Temer, o mais impopular da história; a seguir, com o fiasco das terceiras vias, associou-se à aventura bolsonarista, que prometia com o pinochetista neoliberal Paulo Guedes uma espécie de nova revolução americana nos trópicos; por fim, restou a abstenção ou engolir a contragosto a "frente ampla" lulista.

2026, o ano que já começou - Fernando Gabeira

O Estado de S. Paulo

Lula será pressionado a avançar no ajuste fiscal, mas isso é tudo o que ele não deverá fazer, daqui até as eleições

Tecnicamente ainda é cedo para falar delas. Mas políticos e candidatos que são os senhores do timing já deram a largada: o futuro chegou para colonizar o presente. De agora em diante, muita coisa será analisada sob a ótica das eleições.

Se pudermos dividir o espectro entre esquerda, centro e direita, podemos começar por esta última. O fato mais relevante na direita é a ausência de Jair Bolsonaro na disputa presidencial. Além de ter sido condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro deve enfrentar outro osso duro, um julgamento em setembro. As chances de que possa disputar são mínimas. Seus aliados mais próximos consideram um desrespeito admitir isso publicamente. Bolsonaro ainda alimenta esperanças. Mas contar com a realidade não significa desrespeito, e sim algum nível de sensatez.

Presidente Lula dá sinais trocados e aflige aliados - Andrea Jubé

Valor Econômico

Dúvida sobre a reeleição tem permeado algumas manifestações do presidente

Não bastasse a queda de popularidade e a pressão de líderes do Centrão por mais cargos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a dar sinais trocados aos aliados, para aflição de quem deseja estar no palanque do petista em 2026. Ora decide substituir um ministro ora recua. Ora empenha-se na reeleição, depois fala em voltar para casa ao fim do mandato.

Foi nesse contexto que Lula deixou em sobressalto alguns aliados ao discursar em evento com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) no município de Campo do Meio, em Minas Gerais, na sexta-feira (7). “Todo mundo sabe que quando eu terminar o meu mandato eu vou voltar para a minha casa”, disse o petista, surpreendendo parte dos presentes. “Não vou para Paris, não vou para Londres, não vou para os Estados Unidos”, completou, em crítica velada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que voou para Miami sem transmitir a faixa para o sucessor.

Congresso dobra a aposta - Vera Magalhães

O Globo

O negócio das emendas é, hoje, condição de vida e morte para os congressistas, da esquerda à direita

A relação entre Poderes da República não deveria comportar molecagem, mas é difícil encontrar outro nome para classificar a resolução costurada na surdina e aprovada a toque de caixa pelo Congresso que tenta, pela terceira ou quarta vez, driblar as determinações do Supremo Tribunal Federal quanto à necessidade de dar transparência e rastreabilidade às emendas orçamentárias.

O grau de apego e a insistência bizarra de deputados e senadores em manter algum grau de sigilo sobre a liberação de dinheiro público só escancara quanto esta se tornou, antes de tudo, uma maneira de políticos se perpetuarem em mandatos e expandirem seu poder sobre prefeitos, empresas e eleitorado, num ciclo perverso que eles não querem ver quebrado.

Basta lembrar que a tentativa de moralizar as emendas começou (já tarde) com a ministra Rosa Weber, lá atrás, em 2022. Desde então, houve seguidas idas e vindas para algo que não é um capricho do Supremo Tribunal Federal, mas apenas e tão somente o Judiciário cumprindo aquilo que manda a Constituição em relação ao Orçamento da União.

Frente ampla pela farra - Bernardo Mello Franco

O Globo

O Congresso encontrou uma bandeira capaz de unir petistas e bolsonaristas: a volta do orçamento secreto, em versão maquiada para enrolar o Supremo.

Ontem deputados e senadores aprovaram uma resolução que muda as regras para a destinação de emendas. A promessa era garantir transparência no uso de verbas públicas. O resultado foi a abertura de novas brechas para ocultar os padrinhos dos repasses.

A manobra foi comandada pelos novos presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre. Eles costuraram uma frente ampla pela manutenção da farra das emendas. Apenas PSOL e Novo encaminharam voto contrário.

A revolução de Júlio Medaglia - José de Souza Martins

Valor Econômico

O maestro, que lança sua autobiografia, é filho e protagonista de um momento historicamente revolucionário da cultura brasileira

As memórias do maestro Júlio Medaglia, “Vim, vi e regi” (Global Editora), constituem uma dessas exceções nas autobiografias, em que o autor não narra propriamente como protagonista, mas como personagem testemunhal do campo cultural. No caso, o da música, em que se destaca como maestro, compositor, arranjador e intérprete. E, também, como escritor, ensaísta e teórico das rupturas e inovações em sua área de conhecimento. Ele viu o inaparente, o apenas indicial do novo que estava nascendo.

Sem lugar seguro – Flávia Oliveira

O Globo

A estimativa é que 21,4 milhões de brasileiras enfrentaram algum episódio violento

É março, mês da mulher, e as notícias são as piores possíveis. Ainda ontem, a Rede de Observatórios de Segurança informou que, por dia, 13 brasileiras sofreram algum tipo de violência no ano passado num dos nove estados pesquisados (RJ, SP, AM, BA, CE, MA, PA, PE e PI). A cada 17 horas, uma perdeu a vida em razão do gênero — ao todo, 531 feminicídios. Trata-se do desfecho mais dramático, por irreversível, numa sociedade em que a violência contra mulheres não arrefece. Pelo contrário, agrava-se.

Datafolha, por encomenda do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), foi às ruas, entre os dias 10 e 14 de fevereiro, investigar a vitimização feminina. É a expressão que intitula a pesquisa que entrevistou 2.007 mulheres e homens com 16 anos ou mais de idade sobre uma gama de atos de violência de gênero, da importunação sexual no transporte público a ofensas verbais, de perseguição a agressão física, de abuso a divulgação de fotos ou vídeos íntimos. Em 2024, quinta edição da pesquisa, não houve nenhuma modalidade sem aumento de incidência.

Calçando as meias - Simon Schwartzman

O Estado de S. Paulo

No médio e longo prazos, para atrair talentos para o ensino, será necessário oferecer melhores salários e mais oportunidades de progressão

Além da meia-entrada, somos também o País das bolsas e, agora, do Pé-de-Meia. 54 milhões recebem o Bolsa Família, o programa Pé-deMeia para o ensino médio distribuiu, em 2024, cerca de 4 milhões de benefícios, a um custo aproximado de R$ 12 bilhões, e, recentemente, o Ministério da Educação lançou programa similar para alunos dos cursos de licenciatura, de formação de professores. A novidade é que parte do dinheiro fica acumulada para só ser entregue a quem termina o curso. Postas as duas meias, quem sabe a educação brasileira agora andará melhor?

Medo de recessão - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

As bolsas dos Estados Unidos despencam, um efeito que se espalha, embora não nas mesmas proporções, nas bolsas do resto do mundo.

Assim como nuvens cor de chumbo prenunciam o aguaceiro, o mergulho das bolsas é o primeiro sinal de que vem paradeira. Ou seja, as bolsas antecipam. Caem porque as previsões são de que os lucros das empresas tendem a despencar pelo jogo duro imposto pelo presidente Trump. Nos últimos 30 dias, o índice S&P500 caiu 9,7%; o Nasdaq mergulhou em 13,2%.

A imposição de altas tarifas aduaneiras sobre os parceiros comerciais tem, supostamente, o objetivo de aumentar a competitividade do produtor dos Estados Unidos e, assim, recriar empregos e capitais exportados há décadas para a China, União Europeia, México e Canadá.

Machismo não tem ideologia - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Obsoletos e misóginos, Lula e Bolsonaro se igualam na visão sobre o lugar das mulheres

A vida do ministro Sidônio Palmeira está cada vez mais difícil. O interminável repertório de gafes e comentários impróprios do presidente Luiz Inácio da Silva (PT) a todo momento cria obstáculos à tarefa de dar um jeito na comunicação do governo.

E pior: dada a situação hierárquica, Sidônio precisa fazer de conta que o problema não é o chefe. Assim, vai tomando uma providência aqui, outra ali, orienta para um reforço na comparação com Jair Bolsonaro (PL), vem o presidente e faz parceria no machismo com o antecessor.

Se Lula pensou ter feito um elogio à ministra Gleisi Hoffmann (PT) ao dizer aos presidentes da Câmara e do Senado que nomeou uma "mulher bonita" para a articulação política a fim de facilitar a aproximação com o Congresso, pensou errado.

Presidentes podem fazer piada? - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Tentativa de Lula de fazer graça com nomeação de Gleisi Hoffmann não dá muito certo; humor é um recurso que políticos deveriam usar com cuidado

Lula disse que estava colocando uma "mulher bonita" na articulação política de seu governo para melhorar as relações com o Congresso. Foi atacado por bolsonaristas, como era de esperar, mas também por aliados e por jornalistas independentes, que viram a colocação como machista.

Sem prejuízo de hermenêuticas mais totalizantes, acho que o episódio pode ser descrito como uma tentativa de fazer humor que não deu muito certo. Um pouco de contexto: na véspera, bolsonaristas divulgaram um vídeo do ex-presidente em que ele dizia que as mulheres de esquerda eram todas "feias" e "incomíveis" —o que também pode ser visto como uma tentativa canhestra de fazer graça.

Historiador analisa trajetória dos partidos em 40 anos de democracia – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Os partidos políticos, organismos centrais da vida democrática, são incapazes de se abrirem para a dinâmica de transformações que ocorrem na vida social e econômica

O livro A Construção da Democracia no Brasil, 1985-2025: mudanças, metamorfoses, transformismos (Annablume/Fundação Astrojildo Pereira), do historiador Alberto Aggio, será lançado hoje, às 19h, na Osteria Vicenza, no Complexo Brasil XXI, em Brasília. Trata-se de uma síntese sobre o processo político brasileiro, que busca uma explicação para o atual momento em que estamos vivendo, no qual o autor registra uma situação de mal-estar e desorientação da sociedade em relação à política, no contexto de grandes mudanças globais.

Aggio é doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP), livre-docente e titular pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Também tem pós-doutorado pela Universidade de Valencia, na Espanha, e pela Universidade Roma Tre, na Itália. "É reconhecível, quase que consensualmente, que há uma crise de legitimação democrática, que se vem impondo às democracias", constata. O historiador analisa a trajetória dos principais partidos, entre os quais o PSDB e o PT, ao longo desses 40 anos.

40 anos de liberdade - José Sarney*

Correio Braziliense

Saudemos os 40 anos que comemoramos, da volta da democracia, da liberdade, que não morreu em minhas mãos; ao contrário, floresceu e consolidou-se

A memória não retém o momento, o clima, a emoção. Amanhã, 15 de março de 2025, é apenas uma data, fonte de tantos julgamentos e versões. O tempo é uma invenção do homem, e as datas redondas nos seduzem a construir o passado. Esta representa 40 anos de democracia, que se inicia com a minha posse no cargo de presidente da República, encerrando o regime militar. 

Na história do Brasil tivemos momentos de grandes inflexões. Mas aquela data será julgada no futuro como um instante em que a história se contorcia. Ela é o fim de um período marcado por revoluções, golpes de Estado, militarismo — que é agregação de poder político ao poder militar —, e agora a data da continuidade de uma democracia de massa, que o país jamais conhecera. Um Estado Social de Direito, o exercício pleno da cidadania, das liberdades individuais e dos direitos sociais.

Poesia | Muitas fugiam ao me ver...de Carolina Maria de Jesus

 

Música | Zé Renato & Trinadus - Navegante (Sidney Miller)