Abandonar política de biocombustíveis seria retrocesso
O Globo
Projeto de Lei para deixar de acrescentar
etanol à gasolina e biodiesel ao diesel não pode prosperar
Não tem cabimento o Projeto de Lei do
deputado Marcos Pollon (PL-MS) para permitir a venda de gasolina sem adição de
etanol e de diesel sem acréscimo de biodiesel. É também descabido o pedido do
Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e
de Lubrificantes (Sindicom) à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis (ANP) para suspender por 90 dias a adição obrigatória de
biodiesel ao diesel. A inserção de biocombustíveis na matriz de transportes foi
um êxito raro do Brasil, com enormes reflexos positivos em índices de saúde
pública e redução na emissão dos gases que provocam o aquecimento global.
Dificuldades conjunturais não podem servir de pretexto para retrocesso em
avanços duramente conquistados.
As causas da ofensiva aos biocombustíveis são econômicas. O custo do biodiesel está atrelado ao da soja, usada em sua produção. Embora a fração misturada no diesel seja pequena (14%), a alta na cotação da soja pressiona o preço do diesel nos postos. Há, portanto, preocupação legítima com o impacto inflacionário. Por isso, no mês passado, o Ministério de Minas e Energia decidiu manter inalterado o percentual de biodiesel no diesel, enquanto, pela Lei do Combustível do Futuro, ele deveria crescer 1 ponto percentual ao ano até chegar a 20% em 2030. A justificativa foi o temor de que a demanda por soja elevasse os preços e tivesse impacto negativo na inflação.