sexta-feira, 21 de março de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Operação da PF contra tráfico de armas é exemplar

O Globo

Em vez de disparar tiros a esmo, com risco à população, investigação cercou o flanco financeiro dos criminosos

Foi oportuna e exemplar a operação da Polícia Federal (PF) deflagrada nesta quinta-feira para combater o tráfico internacional de armas, responsável por abastecer organizações criminosas que infernizam a vida dos brasileiros. Em vez de disparar tiros a esmo que, além de pouco resultado prático, trazem riscos à população de áreas conflagradas, a PF desmantelou a quadrilha por meio de inteligência, longa investigação e cooperação entre diferentes órgãos. A operação cercou o flanco financeiro da organização criminosa, mirando no bolso dos traficantes.

A PF desbaratou uma quadrilha acusada de ter enviado, ao longo dos últimos anos, 2 mil fuzis de Miami, nos Estados Unidos, para comunidades do Rio dominadas pelo Comando Vermelho. As investigações começaram em 2017, quando foram apreendidos 60 fuzis no Aeroporto Internacional Tom Jobim/Galeão. As armas, de uso restrito, estavam escondidas numa carga de aquecedores de piscina.

Um dos alvos da ação, batizada Cash Courier, foi o policial federal aposentado Josias João do Nascimento, conhecido como “Senhor do senhor das armas”, segundo reportagem do Bom Dia Rio, da TV Globo. Era ele quem chefiava o bando que, durante anos, foi comandado por Frederik Barbieri, considerado o maior traficante de armas do Brasil. Desde 2018, o brasileiro Barbieri está preso nos Estados Unidos, onde cumpre pena de 12 anos e oito meses de prisão por tráfico internacional de armas.

O potencial da isenção de IR - Vera Magalhães

O Globo

O projeto do IR será o primeiro teste para valer da possibilidade de haver uma dobradinha entre Haddad e Gleisi

Agora que o projeto que isenta do pagamento de Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil veio à luz, ficará mais claro seu potencial de gerar a aprovação por que Lula anseia para chegar mais competitivo à disputa pela reeleição, no ano que vem. Uma coisa é certa: de todos os tiros dados até aqui, esse é o que tem mais chance de atingir o alvo, se o projeto for bem explicado e calibrado.

Um acerto do relançamento da medida — que havia sido confusa e equivocadamente anunciada com as medidas de ajuste fiscal do ano passado — foi fazer uma contraposição clara e poderosa do ponto de vista do convencimento: serão beneficiados 10 milhões de contribuintes com isenção ou redução do IR para quem ganha até R$ 7 mil, ante apenas 141 mil que recebem mais de R$ 50 mil por mês e pagarão mais imposto para compensar a perda de arrecadação.

Números assim tão contrastantes tornam cristalino e de difícil contestação o conceito de justiça tributária, contra o qual nem a extrema direita consegue erguer a voz. Basta ver que, por enquanto, as críticas ao projeto foram tímidas e não repetiram o 7 x 1 que os bolsonaristas impõem normalmente ao governo no campo da comunicação digital. Isso, por si só, é uma evidência forte de que a medida pode ter o condão de mexer, sim, no ponteiro da popularidade perdida de Lula.

Sobre a mesa justiça tributária – Flávia Oliveira

O Globo

São 141,4 mil contribuintes capazes de oferecer alívio a 10 milhões

Mais que cumprir promessa da campanha de 2022 ou anabolizar a popularidade enfraquecida do presidente da República, o Projeto de Lei que isenta de Imposto de Renda os brasileiros que ganham até R$ 5 mil tem a missão de pôr fim a um tabu quase secular do país: os privilégios tributários dos muito, muito ricos. Quando tomou posse no Ministério da Fazenda, Fernando Haddad prometeu apresentar — e aprovar — a reforma dos impostos sobre o consumo e sobre a renda. A primeira passou pelo crivo do Congresso Nacional em 2023; foi regulamentada no ano passado; entra em vigor a partir de 2026 — não sem benesses concedidas a setores eficientes no lobby. A outra pôs a cabeça para fora, de verdade, nesta semana; e já começa a apanhar.

Orçamento da União consolida o nosso “semipresidencialismo caboclo” - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

As emendas representam R$ 50 bilhões do Orçamento, que os parlamentares podem destinar às suas bases eleitorais, sem compromisso como sucesso das políticas públicas

O Congresso Nacional aprovou a toque de caixa o Orçamento da União de 2025, que estava engavetado desde o ano passado, por causa do impasse com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino, que exigiu dos congressistas mais transparência na execução das emendas parlamentares.

Três meses após o prazo, o Orçamento aprovado traz um teto de despesas sujeitas ao arcabouço fiscal de R$ 2,2 trilhões e uma folga de recursos (superávit) estimada em R$ 15 bilhões. O projeto havia sido aprovado no início da tarde pela Comissão Mista de Orçamento (CMO), ou seja, foi a voto sem que houvesse tempo para ser analisado pela maioria dos senadores e deputados.

Lembo, o liberal que incomodou a ‘elite branca’ - Bernardo Mello Franco

O Globo

Ex-governador de São Paulo surpreendeu seus pares ao criticar a classe dominante

Cláudio Lembo havia acabado de assumir o governo de São Paulo quando o PCC deixou o estado de joelhos. A facção promoveu uma onda de atentados e matou mais de 50 policiais e bombeiros. Num revide sangrento, encapuzados executaram cinco centenas de civis.

O massacre de maio de 2006 jogou luz sobre o ex-vice de Geraldo Alckmin, que renunciara para concorrer ao Planalto. Com longa trajetória em partidos de direita, Lembo surpreendeu ao cobrar a responsabilidade das elites. “Temos uma burguesia muito má, uma minoria branca muito perversa”, afirmou, em entrevista à Folha de S.Paulo.

Roubo de celular afeta Lula, e governo reage - Andrea Jubé

Valor Econômico

Oposição vai liderar na próxima semana um amplo debate sobre segurança pública

A oposição vai liderar na próxima semana um amplo debate sobre segurança pública, em evento promovido pela Fundação Francisco Dornelles, ligada ao Partido Progressistas (PP). O “Fórum de Segurança Pública pelo Brasil” reunirá alguns dos principais quadros do campo adversário ao governo, como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), o senador Sergio Moro (União-PR) e o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite.

Ao tomarem conhecimento da programação, alguns aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentaram a dificuldade do governo de explorar a pauta, que é prioritária para os brasileiros, e na qual a oposição trafega com desenvoltura. A percepção desses aliados é de que, em um momento de clamor da sociedade com a escalada da violência e da sensação de insegurança, o PT deveria puxar esse debate. Porém, no momento, lideranças petistas estão dedicadas a se autodevorar na disputa interna pelo controle das finanças do partido.

IR irá mover eleitor? - César Felício

Valor Econômico

Em 2022, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou atrás do ex-presidente Jair Bolsonaro em todos os nove Estados brasileiros com a maior base de declarantes de Imposto de Renda da Pessoa Física em relação à População Economicamente Ativa (PEA).

Entre os nove Estados com menos declarações de IR sobre a PEA, venceu no segundo turno em oito (a exceção é o Amapá).

O dado é um sinal eloquente sobre qual é o público que Lula pretende sensibilizar ao propor o aumento da isenção do Imposto de Renda para o limite até R$ 5 mil e a diminuição do desconto para quem recebe até R$ 7 mil. O efeito político da aprovação do projeto, caso se concretize, será sentido com mais força na classe média dos Estados do Sudeste e do Sul, segmentos em que a aprovação do governo claudica nas pesquisas.

Recessão não é saída para baixar inflação, diz Haddad

Valor Econômico - 

Por Gabriel ShinoharaEstevão TaiarJéssica Sant'Ana

Guilherme Pimenta

Ministro afirma que estratégia do governo na guerra comercial de Trump é esperar “plano de voo” do governo dos EUA

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse não acreditar que uma recessão seja necessária para baixar a inflação no país. “Não acredito nisso, acho que você consegue administrar a economia de maneira a crescer de forma sustentável sem que a inflação saia do controle”, disse em entrevista para o programa “Bom dia, ministro”.

“Acredito que temos uma tarefa que é debelar esse aumento de preços que houve, isso tem que ser feito pelo Executivo e pelo Banco Central e vamos buscar esse resultado. Tudo o que a gente quer é crescer com sustentabilidade. O Brasil não cresceu durante muitos e muitos anos. Eu não acredito que você precisa de uma recessão para baixar a inflação no Brasil. Não acredito nisso.”

Gleisi sacode Haddad e governo – Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

O governo, enfim, conseguiu unidade e rumo claro: o rumo pró-popularidade

Gleisi Hoffmann mostra serviço e Fernando Haddad força a porta para voltar ao palco e à cena principal, depois de derrotas consecutivas e de ver seu prestígio interno balançar e a confiança na opinião pública desabar. De “alternativa natural” ao presidente Lula como candidato da esquerda, acaba de se defrontar com 58% de avaliação negativa na pesquisa Genial Quaest no mercado financeiro.

Por mais que Haddad tente desqualificar o resultado, alegando que a pesquisa nem pode ser chamada de pesquisa, vamos combinar que 106 economistas, gestores e analistas de fundos de investimento de São Paulo e Rio são, sim, uma amostra significativa do mercado.

Cidadão, razão de ser do Judiciário - Antônio Cláudio Mariz de Oliveira

O Estado de S. Paulo

Solução para os órgãos de Justiça assoberbados não está no sacrifício do direito de bater às suas portas. Não enterrem o direito de petição, um direito constitucional da cidadania

O Estado atribuiu as suas funções essenciais aos chamados Poderes da União, cada qual com objetivos e regramentos específicos, dando-lhes independência e harmonia entre si, com o escopo comum de atender às necessidades da sociedade, mantendo-a pacífica e harmônica.

O relacionamento interpessoal pode conduzir a conflitos na medida em que interesses opostos são colocados em disputa por seus respectivos titulares. Nesse momento, deverá prevalecer a lei a ser declarada pelo Poder Judiciário, que tem no advogado um partícipe indispensável, para elidir o conflito surgido.

Uma característica desse Poder é a inércia. A sua atuação só se dá quando ele for acionado pelo cidadão detentor de um dos interesses contrariados. Por outro lado, o acesso à Justiça não é concedido ao jurisdicionado de forma direta. Necessariamente, ele deverá recorrer a um advogado, que se tornará o seu porta-voz, o seu canal de ligação com o Judiciário.

Um presidente emotivo - José Sarney*

Correio Braziliense

A democracia, de que hoje desfrutamos, foi construída com muitas dificuldades

Fiquei profundamente emocionado no Senado e na Câmara dos Deputados quando comemoramos os 40 anos de democracia no Brasil. Recordei que, aos 25 anos, no Rio de Janeiro, no Palácio Tiradentes, onde funcionava a Câmara dos Deputados, eu jurava, pela primeira vez na vida, cumprir os deveres do mandato, de defender a Constituição e as leis do país. Depois, por mais uma vez no Rio, em 1959, novamente cumpria essa solenidade. Em 1960, quando Juscelino Kubitschek transferiu a capital para Brasília, transferia-me para esta cidade, de malas e bagagens, e aqui estou há 65 anos. Nesse período estão incluídos os 40 anos que passei no Senado, sendo hoje o político mais longevo do país.

Tudo isso se passava em minha cabeça, chegando aos momentos trágicos da doença de Tancredo Neves e, depois, com sua morte, indo à Câmara dos Deputados, onde jurei cumprir a Constituição, que seria revogada, uma vez que convoquei a Constituinte que iria elaborar a Constituição de 1988, a Constituição Cidadã, como a chamou Ulysses Guimarães.

Uma calmaria estranha no país- Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Na política politiqueira, nos mercados e até em redes e ruas há uma pausa no ruído

Em dezembro, houve o pânico de dólar e juros. Em janeiro, a revolta das mentiras do Pix. A popularidade de Luiz Inácio Lula da Silva caiu para perto da zona de rebaixamento.

Desde fevereiro, não mais do que de repente, do vento fez-se a calma, ao menos calmaria sob céus suspeitos. Há pouco ruído na política politiqueira —Congresso e cercanias. A gritaria contra o governo nas redes anda menor. Ainda caro, o dólar baixou do exagero de R$ 6,27 de dezembro para a casa dos R$ 5,60. Os motivos são díspares, mas o clima está mais ameno.

O Orçamento foi aprovado de modo suave, embora com custos. Entre emendas e penduricalhos assemelhados, o governo se comprometeu a colocar R$ 61 bilhões nas mãos de deputados e senadores. Equivale a 70% do investimento federal em 2024 (boa parte das emendas é investimento, mas se trata aqui de ordem de grandeza); o Bolsa Família levou quase R$ 171 bilhões no ano passado.

Trabuco faz alerta a fiscalismo do mercado - Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Banqueiro do Bradesco mostra equilíbrio ao falar do papel das expectativas e da demonização do crescimento

Em entrevista à Folha, Luiz Carlos Trabuco, presidente do Conselho de Administração do Bradesco, mostrou cautela e equilíbrio ao comentar a atual situação da economia brasileira. Reiterou a necessidade de que o crescimento tenha bases sustentáveis e destacou a importância do famoso tripé macroeconômico, dólar flutuante, meta de inflação e responsabilidade fiscal.

Ao mesmo tempo mandou seu recado para o que parece considerar exageros do discurso de setores ligados ao mundo financeiro, obcecados pelo ajuste fiscal e com tendências a "demonizar o crescimento".

Em sua análise, chamou a atenção para a emergência em cena, junto ao tripé, de um novo parâmetro a pressionar a formulação e condução da política econômica: "A questão é que existe hoje um quarto componente que são as expectativas do mercado", disse.

Tais expectativas fazem parte do processo de hegemonia do capital financeiro. No Brasil, departamentos de consultorias, bancos e outras instituições que atuam no ou para o mercado de papéis, juroscâmbio, crédito etc. desenvolvem modelos, fazem suas previsões e projeções e manifestam, sob esse aparato técnico, interesses do setor —com abundante espuma em veículos de comunicação.

Direita dá um tempo no esperneio - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Os adultos na sala da oposição avaliam que é hora de aguardar o tom e o rumo do julgamento no STF

Com o julgamento das ações por tentativa de golpe de Estado e atos correlatos prestes a começar, tudo que os adultos sentados na sala da direita não querem é criar confusão com o Supremo Tribunal Federal nem conturbar ainda mais o ambiente político.

Daí que o deputado Eduardo Bolsonaro (PL) foi aconselhado a se afastar da cena e desistir de presidir a Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Daí decorre também o certo alívio naquele campo com o ato esvaziado em prol da anistia aos executores de atos antidemocráticos entre o fim de 2022 e início de 2023.

Asilo para paranoicos - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Eduardo Bolsonaro tem o direito de pedir proteção aos EUA, mas seu pleito se baseia em tese delirante, não em fatos

A paranoia é um direito. Se Eduardo Bolsonaro acredita que sofre perseguição política no Brasil, tem o direito de requisitar asilo no país de sua preferência. As autoridades desse país é que correm o risco de cair no ridículo caso concedam a proteção com base em delírios e não em fatos —não que isso seja um problema para os EUA sob Donald Trump.

Tampouco acompanho a argumentação dos que afirmam que Bolsonaro, o Pequeno, com seu teatro, adentra o território do ilícito por difamar o Brasil no exterior. Não penso que exista uma obrigação de zelar pela imagem do país. A liberdade de expressão foi inventada justamente para que as pessoas pudessem criticar qualquer instituição ou autoridade e em termos fortes. Se a crítica para ou não em pé é um outro problema.

Poesia | A Mulher e a Casa, de João Cabral de Melo Neto

 

Música | OSJC e Isabel Fillardis - Se todos fossem iguais a você (Tom Jobim e Vinícius de Moraes)