domingo, 23 de março de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

A guerra de Trump contra a verdade

O Globo

Ataque a universidades, instituições científicas e imprensa ameaça inaugurar era de trevas e ignorância

Os alvos de Donald Trump em seu segundo mandato eram todos conhecidos, mencionados à exaustão em comícios e redes sociais. São — entre tantos outros, da desregulamentação ambiental ao combate a políticas de diversidade — universidades, instituições científicas, veículos de imprensa, juízes independentes. Ele tem investido com ímpeto inaudito sobre quem identifica como adversário.

Cortou US$ 250 milhões em bolsas e verbas dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), responsáveis por pesquisas contra câncer, Alzheimer, diabetes e outras doenças. Cortou US$ 400 milhões da verba destinada à Universidade Columbia, sob a acusação de leniência com o antissemitismo no campus — outras 59 universidades foram postas sob investigação pelo mesmo motivo. Cortou US$ 175 milhões da Universidade da Pensilvânia, por ela ter permitido a uma atleta transgênero competir em provas de natação femininas.

Cortou metade da força de trabalho do Departamento de Educação, responsável por bolsas para universitários e alunos da educação básica de baixa renda, e determinou por decreto sua extinção, quando isso exige aval do Congresso. Pesquisadores estrangeiros, inclusive brasileiros, têm sido barrados no país. Trump vetou a presença no Salão Oval e no avião presidencial de veículos que se recusam a chamar o Golfo do México de Golfo da América, como determinara em decreto. Abriu as portas a publicações sem relevância, mas ideologicamente afins.

O elogio da política - Luiz Sérgio Henriques*

O Estado de S. Paulo

É da nossa experiência comum a noção de que se possa ou se deva simplificar os conflitos e os contrastes inevitáveis da vida social

Política e antipolítica permeia mas mais diferentes correntes e tradições, sem exceção. Salvo em período de guerra declarada, a decisão de fazer política é sinal de maturidade do ator, indica a intenção de se inserir no movimento real da História e, usando a metáfora weberiana, dispor-se a perfurar com paixão e discernimento a madeira dura de que ela é feita. A antipolítica, ainda quando assume aparência de recusa radical, acenando, por exemplo, coma mudança imediata e a regeneração integral dos homens e da sociedade, tem o sinal contrário do entusiasmo fácil e da ilusão que em geral lhe serve de base.

Dispensável dizer que entre uma e outra posição há uma infinidade de nuances e passagens, mas o fato é que no coração do fazer política existe apercepção das múltiplas mediações que definem a concretude das coisas, tão difícil de capturar em meio à digitalização generalizada dos nossos dias. De fato, é da nossa experiência comum a noção de que se possa ou se deva simplificar os conflitos e os contrastes inevitáveis da vida social. Diz-se que vivemos num tempo de polarizações afetivas, enraizadas em sentimentos e ainda mais cortantes do que as polarizações ideológicas de antes – embora estas persistam e ainda sejam, também, o motor de desastres incomensuráveis.

Trump será o fator imponderável para Lula em 2026 – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Eduardo, o filho 03 de Jair Bolsonaro, atua com o propósito de construir uma crise diplomática entre a Casa Branca e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva

O diagnóstico das principais chancelarias do mundo é unânime em relação ao presidente Donald Trump: é imprevisível. Assim sendo, sua interferência nas eleições de 2026 aqui no Brasil é uma variável imponderável para qualquer analista político. Por isso, a histriônica decisão do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) de se licenciar do mandato na Câmara e se autoexilar nos Estados Unidos não deve ser subestimada.

O filho 03 de Jair Bolsonaro atua com o propósito de construir uma crise diplomática entre a Casa Branca e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a partir de duras acusações de autoritarismo contra o Supremo Tribunal Federal (STF). Em particular, contra o ministro Alexandre de Moraes, o principal responsável pelo processo que investiga a tentativa de golpe de Estado de 8 de Janeiro de 2023, em qual o ex-presidente Jair Bolsonaro foi denunciado como um dos envolvidos, pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet.

A forma como Trump age em relação ao México, ao Canadá, ao Panamá, à Groelândia (Dinamarca) e à Ucrânia mostra que as regras do jogo pós-Segunda Guerra Mundial não são consideradas pela Casa Branca. Voltamos aos tempos de Tucídides, há mais de dois milênios: "Os fortes fazem o que querem e os fracos sofrem o que devem", segundo Joseph Nye, em recente artigo publicado no Financial Times (Reino Unido), intitulado Trump e o fim do soft power americano.

O ‘desde que’ contra a isenção do IR - Elio Gaspari

O Globo

O Brasil não se tornou um país desigual anteontem. A ruína vem de longe e vale a pena olhar para trás

O governo mandou ao Congresso um projeto pelo qual isenta, a partir do ano que vem, os contribuintes que recebem até R$ 5 mil do pagamento de Imposto de Renda. A medida beneficia dez milhões de pessoas. Para compensar a perda de arrecadação, quer taxar com um piso de 10% os ganhos de quem recebe mais de R$ 600 mil anuais, o que dá uma renda mensal de R$ 50 mil. A mordida pega 141 mil contribuintes.

O Brasil está entre os campeões mundiais de desigualdade social e a aprovação da isenção é quase certa. Já a taxação do andar de cima abriu um saudável debate. Argumenta-se que Lula deveria pensar primeiro em gastar menos, ou ainda que a taxação inibe investimentos e estimulará a fuga de capitais.

Todos esses argumentos têm seu valor e os debates jogarão luz sobre a questão. O Brasil não se tornou um país desigual anteontem. A ruína vem de longe e vale a pena olhar para trás.

Dosimetria injusta - Merval Pereira

O Globo

Se se condena uma cabeleireira a 14 anos, a quantos anos devem ao ser condenados Bolsonaro e sua turma?

O senador Alessandro Vieira, do MDB, apresentou um projeto de lei para que o Código Penal seja alterado para garantir que as punições aplicadas em caso de crimes de golpe de Estado ou de abolição do Estado de Direito Democrático sejam proporcionais ao envolvimento de cada indivíduo. O tema é relevante porque o Supremo Tribunal Federal está condenando a 14 anos de prisão a cabeleireira Debora Rodrigues dos Santos, que pichou a estátua da Justiça em frente ao prédio do STF com a frase “perdeu Mané”, referindo-se a uma fala do ministro Luis Roberto Barroso para manifestantes numa rua de Nova York.

No caso específico da cabeleireira, não vale a desculpa dada por ela de que não sabia que a estátua de Alfredo Ceschiatti tinha valor artístico alto, pois além dele há sobretudo o valor simbólico que também tem que ser levado em conta. Se não se atentou para esses detalhes, não pode ser excluída por suposta ignorância. Algumas outras pessoas que participaram das manifestações de 8/1 de 2023 já foram condenadas a penas de até 17 anos.

Novo discurso, velho problema - Bernardo Mello Franco


O Globo

Na quarta-feira, Lula ensaiou uma guinada no discurso sobre segurança pública. Em tom mais duro que o habitual, o presidente prometeu “enfrentar o crime” e impedir que o país se transforme numa “república do ladrão de celular”. “O Estado é mais forte que os bandidos. E lugar de bandido não é na rua”, afirmou.

O petista costumava evitar esse tipo de retórica, associado ao campo da direita. Convenceu-se a mudar após pesquisas associarem a queda na popularidade do governo ao aumento da sensação de insegurança.

O tema sempre foi indigesto para a esquerda brasileira. Políticos progressistas falam muito em prevenção, mas resistem a apresentar planos de repressão à criminalidade. A hesitação tem frustrado eleitores que esperam soluções rápidas. De acordo com estudo recente da Fundação Perseu Abramo, até simpatizantes do PT consideram que o partido tem poucas propostas para a área.

Para entender o tempo presente - Míriam Leitão

O Globo

No Poeira, Andrea Beltrão conta uma história que rompe a barreira do tempo num país ainda assombrado por tentativas de golpe

O aconchego que se sente ao entrar no Teatro Poeira é necessário para a história que será contada ali. Uma advogada pernambucana de presos políticos na ditadura militar, Mércia Albuquerque, enfrentará tudo pelas pessoas que defende e vai expor as vísceras de uma máquina de tortura e morte. Os fatos se passam nos piores anos da ditadura. Andréa Beltrão encarnará a personagem de forma intensa, andará pelo palco, fará rir e chorar, ocupando todos os espaços. O Poeira vai abraçar a plateia e isso será bom e necessário.

É a peça “Lady Tempestade” que encerra a segunda temporada no dia 27 de abril no Rio e vai para São Paulo, numa turnê que Andrea deseja que chegue ao Recife, onde a intrépida Mércia viveu e lutou contra os gafanhotos, como chamava os agentes da repressão. O espetáculo estreou em janeiro de 2024, ano em que os 60 anos da ditadura deveriam ser lembrados em 31 de março, mas o governo decidiu desmarcar os eventos. O silêncio sobre golpes não conseguiu chegar ao fim do ano, porque os fatos se impuseram.

A linha vermelha – Dorrit Harazim

O Globo

Se alguma ordem emitida pela Suprema Corte não for cumprida, diz o New York Times, o sistema de freios e contrapesos pode entrar em colapso

Lee Bollinger tem 78 anos, a mesma idade do presidente dos Estados Unidos, e ainda ostenta uma cabeleira natural de fazer inveja a Donald Trump. Está aposentado desde 2023 e pensava em desfrutar a leveza de simplesmente viver, não mais carregar responsabilidades que afetam gerações. Não tem sido fácil. Suas ideias, sua obra e relevância no mundo acadêmico continuam a causar urticária na desintelligentsia da era trumpista.

Eminente estudioso da Primeira Emenda da Constituição americana — que garante a liberdade de expressão e imprensa —, Bollinger exerceu o cargo de reitor da Universidade de Michigan por seis anos na virada do século. Informado logo ao assumir que predominava na instituição um movimento contrário à ação afirmativa de inclusão racial e social, desconsiderou seguir o caminho da acomodação ou capitulação. Levou o caso à Suprema Corte em Washington. Foi um embate e tanto, mas saiu vencedor.

Trump e Bolsonaro contra a Justiça - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Nem tudo o que é bom para os EUA é bom para o Brasil, mas a Justiça é fundamental lá e cá

Na semana em que o Supremo vai julgar se põe ou não no banco dos réus um ex-presidente da República e oficiais de quatro estrelas por tentativa de golpe, é importante refletir sobre “coincidências” entre fatos e movimentos no Brasil e nos Estados Unidos. Lá, como cá, a Justiça lidera a resistência e a defesa do estado democrático de direito e é o alvo principal dos ataques dos tiranos.

Ao voltar ao poder, Donald Trump ultrapassa todos os limites de legalidade e civilidade ao dar acesso a Elon Musk, o sulafricano que se tornou o homem mais rico do mundo e é eminência parda do seu governo, a informações sigilosas sensíveis do Pentágono sobre uma hipotética guerra com a China.

As pretensões imperialistas de Trump - Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo

Presidente não conseguirá se tornar imperador, mas suas tentativas abalarão democracia dos EUA

Os últimos movimentos de Donald Trump confirmam suas pretensões imperiais: do monarca absolutista que usurpa as prerrogativas dos outros poderes e do colonizador que cobiça as riquezas de outros povos.

Trump invocou na calada da noite do dia 14 a Lei do Estrangeiro Inimigo, para deportar 137 venezuelanos sem o devido processo legal. A lei, de 1798, só pode ser aplicada durante guerras. No dia seguinte, ignorou a ordem do juiz James Boasberg de suspensão das deportações para El Salvador e retorno dos aviões que já tivessem decolado.

O responsável por imigração da Casa Branca, Tom Homan, declarou: “Eu não me importo com o que juízes pensam”. Trump postou que o juiz devia sofrer impeachment. Numa rara manifestação pública, o presidente da Suprema Corte, o conservador Robert Smith, qualificou a ideia de “inacreditavelmente perigosa”.

O agronegócio volta ao normal – José Roberto Mendonça de Barros

O Estado de S. Paulo

O Brasil eleva sua participação nos mercados globais tradicionais, como açúcar, café e laranja

A safra 2024/25 será grande, da ordem de 330 milhões de toneladas de grãos, e o agronegócio contribuirá positivamente para o bom crescimento esperado do PIB no primeiro trimestre. Com isso, a inflação de alimentos vai aliviar um pouco, ficando na ordem de 6%.

Os custos de sua implantação foram razoáveis, permitindo esperar margens de normais a muito boas, dado que existem produtos com evidente escassez global e altos preços, como o café, a laranja, o cacau e certas carnes.

O ano que passou deixou uma dura lição para certos agentes. A quebra de safra e o aperto da política monetária colocaram em risco os produtores/operadores muito alavancados, relembrando o tamanho dos riscos financeiros em países instáveis e com juros reais positivos, como é o nosso caso.

Bilhões em risco versus bons exemplos - Rolf Kuntz

O Estado de S. Paulo

Não há por que esperar, até o fim deste mandato presidencial, grandes mudanças na administração federal, na estrutura e na dimensão dos gastos da União

O dinheirão previsto no Orçamento, com R$ 15 bilhões de superávit e R$ 50 bilhões em emendas, deverá ser usado, como sempre, de acordo com interesses políticos e pessoais de governantes, parlamentares federais e seus associados e até, vejam só, de uma parcela dos pagadores de impostos. Este último grupo, o mais numeroso, é em geral o menos influente nas decisões sobre a destinação das verbas. Isso comprova um fato histórico raramente lembrado. Entre o fim da era medieval e o começo da idade moderna, os parlamentos europeus ampliaram e consolidaram, contra o poder real, seu domínio sobre a formação e a gestão do dinheiro público. Mas o ingresso de participantes no jogo e no espetáculo foi muito desigual e assim permanece, como se vê na maior parte do mundo, incluído o Brasil.

Uma decisão histórica - Raul Jungmann*

Correio Braziliense

Decisão do ministro Flávio Dino surge como um alento que pode contribuir efetivamente para o ordenamento na utilização de recursos hídricos e minerais

Num ano em que se discute como será o nosso futuro, em como as mudanças climáticas já afetam a qualidade de vida no planeta, uma decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), surge como um alento que pode contribuir efetivamente para o ordenamento na utilização de recursos hídricos e minerais, e a efetiva e justa distribuição de benefícios e pagamentos às populações indígenas pelo seu uso.

O ministro Flávio Dino determinou que as comunidades indígenas afetadas pela construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira (PA), devem receber 100% do valor repassado pela concessionária à União como participação nos resultados do empreendimento. 

Apesar de a decisão responder a uma ação específica, referente ao pagamento aos indígenas do Médio Xingu de participação nos resultados da UHE Belo Monte, a concessão de eficácia erga omnes à vista de possíveis casos similares extrapola o objeto da ação, podendo ser aplicado a outros aproveitamentos energéticos de recursos hídricos.

Reforma do Imposto de Renda é boa - Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

Quem ganha muito bem vai ter que se sacrificar um pouco para ajudar a professora e o PM

Levou 40 anos, mas a democracia brasileira finalmente produziu uma proposta para tornar o Imposto de Renda mais justo.

Na semana passada, o governo Lula divulgou sua proposta de reforma de Imposto de Renda. É um passo moderadíssimo, cautelosíssimo, mas na direção certa.

A reforma deu isenção completa de Imposto de Renda para quem ganha menos que R$ 5.000 por mês. Entre R$ 5.000 e R$ 7.000 por mês, o cidadão também vai ter desconto, maior se estiver perto do cinco, menor se estiver perto do sete.

A isenção atinge a classe social mais debatida pelos analistas políticos nos últimos anos: quem já escapou da vulnerabilidade extrema, mas ainda está longe do padrão de consumo da classe média "tradicional". É muita gente: o governo estima que a reforma beneficiará cerca de 10 milhões de pessoas.

Brasil e o sucesso terrível da motosserra de Milei na Argentina - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

'El Loco', que inspira direita brasileira para 2026, leva primeiro tombo em pesquisas

A motosserra de Javier Milei encanta direitas e elites brasileiras. Um sucesso econômico e político de Milei vai inspirar ideias e violências assemelhadas por aqui, em 2026, embora o acordão do gasto e o jeitinho no Brasil sejam muito diferentes —até que sobrevenha um colapso.

Milei vai dar certo? Fez um ajuste fiscal espantoso, a economia saiu da recessão, o conserto econômico está longe de acabar e, em março, "El Loco" levou o primeiro tombo nas pesquisas.

Milei zerou o déficit do governo, incluído o gasto com juros. A despesa caiu de a 19,6% do PIB em 2023 para 15,2% em 2024, segundo o Centro de Economía Política Argentina" (CEPA), um instituto independente. No Brasil, seria como cortar metade do gasto com a Previdência do INSS ou três anos de Bolsa Família.

O gasto do governo caiu 27% em um ano, em termos reais (descontada a inflação), na conta deste jornalista. A despesa com Previdência e assistência social diminuiu 15% (imaginem cortar todas as aposentadorias, pensões e benefícios sociais em 15% no Brasil). O gasto com salários de servidores baixou 22% (quase 13% deles foram demitidos, segundo o CEPA, entre funcionários de governo e estatais). A despesa com investimentos ("obras") baixou 76%.

O sequestro do Orçamento - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

O governo ficou refém do Congresso numa farra das emendas que não tem hora para acabar

A aprovação do Orçamento da União é um alívio para a administração pública, uma necessidade para o Executivo e uma obrigação do Legislativo. Não pode desta vez, no entanto, se falar em vitória de nenhum dos dois Poderes. Derrota para ambos.

Não entro nas minudências —nada diminutas, diga-se— do caráter ficcional da peça que prevê superávit e déficit fiscais baseados em exclusão de gastos e superestimação de receitas.

Fico no contexto. E este, francamente, como se dizia antigamente é de fazer padre corar em procissão. Primeiro, o atraso de três meses. Não é inédito; desde o governo Collor, em todos à exceção do período Michel Temer, houve isso. Em 1994, a aprovação só aconteceu em outubro.

Misoginia é variante primal do racismo - Muniz Sodré

Folha de S. Paulo

Os avanços institucionais não atenuam aspectos obscuros e negativos na imaginação arquetípica do feminino

Se a distância mais curta entre dois pontos não é mesmo a linha reta, e sim o ponto de vista, vale aplicar esta regra poética a dois recentes e distantes acontecimentos chocantes. Primeiro, a revelação por uma ativista afegã de que, as mulheres em seu país, proibidas de trabalhar, estudar, cantar e andar sozinhas nas ruas, agora têm de abafar os sons dos saltos de sapato. Segundo, uma atriz brasileira a bordo de avião norte-americano foi brutalmente coagida a ceder o assento preferencial, pelo qual havia pagado sobretaxa, a um passageiro deslocado da classe executiva. Mulher sozinha, o motivo covarde.

Sócrates aberto - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Livro apresenta a vida e as ideias do filósofo grego e propõe a criação de um novo sistema ético com base em seu método

"Open Socrates" (Sócrates aberto), de Agnes Callard, é vários livros num só. A obra funciona como uma apresentação da vida do filósofo grego, traz para o presente algumas das discussões que ele propôs e ainda pretende fundar um novo sistema ético de inspiração neossocrática. A autora se sai muito bem nas duas primeiras tarefas.

Callard é uma filósofa de primeira. É pena que tenha se tornado mais conhecida pelas idiossincrasias de seu arranjo matrimonial do que por seus textos. Ela ganhou fama instantânea depois que a revista New Yorker publicou um perfil seu em que conta como ela, o atual marido e o ex vivem juntos.

Poesia | Escada, de Carlos Drummond de Andrade (leitura Ygor Raduy)

 

Música | Chico Buarque - Sou eu / Tereza da Praia