quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Denúncia contra Jair Bolsonaro é sólida e gravíssima

O Globo

Cabe agora ao Supremo evitar atropelo e lentidão para que o julgamento tenha desfecho justo

Com base num extenso trabalho investigativo da Polícia Federal, a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou o ex-presidente Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF), sob a acusação de ter liderado uma tentativa de golpe de Estado depois de derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva em 2022. Entre os outros 33 denunciados estão quatro ex-ministros, quatro ex-integrantes do Alto Comando do Exército, um ex-comandante da Marinha, assessores palacianos e militares da ativa ou da reserva.

Estão na lista nomes como Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa de Bolsonaro; Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional; Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça; Alexandre Ramagem, deputado federal pelo Rio e ex-diretor da Abin; e Silvinei Vasques, ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal. Se a denúncia for aceita pelo STF, os envolvidos passarão à condição de réus e serão julgados por crimes como tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e participação em organização criminosa. Somadas, as penas de prisão podem chegar a 43 anos.

É de lamentar - Merval Pereira

O Globo

O que incomoda é ter a quase certeza de que, corremos o risco de ver de novo o que aconteceu aos condenados da Lava-Jato

No dia seguinte à denúncia, pelo procurador-geral da República, do ex-presidente Bolsonaro e de mais 33 comparsas, cinco deles militares de alta patente — quatro generais do Exército, um almirante da Marinha —, por tentativa de golpe de Estado, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli anulou com uma canetada monocrática todos os processos contra o ex-ministro dos governos Lula e Dilma Antonio Palocci. Agora ele está livre, leve e solto depois de ter detalhado, por livre e espontânea vontade, todos os crimes que praticou durante o governo Lula, com o conluio do presidente da época, o mesmo Lula que hoje nos preside pela terceira vez.

Não creio que tenha sido de propósito, seria muita perversidade do ministro. Mas denota o completo alheamento da realidade à sua volta. Poderia ter esperado mais um pouco, para evitar que o Supremo seja mais uma vez acusado de beneficiar petistas para prejudicar Bolsonaro.

Por quanto tempo Bolsonaro ficará na cadeia, se é que será preso? Mais ou menos tempo que o presidente Lula, que ficou 580 dias preso e saiu se dizendo inocentado pela Justiça? Mais ou menos tempo que o tenente-coronel Mauro Cid, que negociou um máximo de dois anos de prisão, caso não seja indultado pela Justiça?

Malu Gaspar – O golpe e seu julgamento

O Globo

Julgamento de Bolsonaro deve coroar democracia, e não enfraquecê-la

Como já era de esperar, a denúncia contra Jair Bolsonaro e outros 33 acusados de golpe de Estado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, dividiu o Brasil. Quem já considerava o ex-presidente culpado ou de alguma forma responsável pelo 8 de janeiro comemorou antecipadamente até a provável condenação e, por tabela, o enterro do projeto de anistia aos presos pelos ataques golpistas às sedes dos três Poderes. No polo oposto do espectro político, a acusação foi tachada de frágil, sem evidências ou provas de que Bolsonaro tem ligação com os ataques — para muita gente, tudo não passou de uma baderna generalizada.

Para que se avalie a denúncia pelo que ela realmente é, e não pelo que se pretende fazer dela, porém, é preciso entender de que tipo de crime estamos falando. Um presidente da República que trame um golpe de Estado nunca assinará um recibo ou preencherá um formulário descrevendo o que fará.

Presos em suas próprias provas - Míriam Leitão

O Globo

A denúncia do PGR e a delação de Cid mostram que estivemos muito perto de um golpe ‘A democracia correu riscos’, diz presidente de STM

"Eu te digo com muito assombro que eu não tenho dúvidas de que a democracia correu sérios riscos e que se tivesse sido decretado a GLO provavelmente o golpe teria sido desfechado”. Ouvi isso da ministra Elizabeth Rocha que assumirá em março a presidência do Superior Tribunal Militar. Ela chegou para a entrevista que me concedeu ontem de manhã com um bloquinho no qual tinha anotado pontos importantes da denúncia que ficara lendo até tarde. Disse que o procurador-geral Paulo Gonet apresentou uma denúncia com “começo, meio e fim, os indícios são fortes e a peça bem fundamentada processualmente”. Ela disse que “sem querer prejulgar, acho muito difícil que essa denúncia não seja recebida”.

Tentativa de golpe pode pôr Bolsonaro na cadeia - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Denúncia somente tem precedente no caso do putsch integralista de 11 de maio de 1938, quando o tenente Severo Fournier liderou um ataque ao Palácio Guanabara, residência do presidente Getúlio Vargas

A Procuradoria-Geral da República (PGR) finalmente apresentou a denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 33 pessoas por tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e formação de organização criminosa, crimes que podem levar a penas duríssimas. Bolsonaro é acusado de liderar uma conspiração para permanecer no poder, após a derrota nas eleições de 2022, para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ações para desacreditar o sistema eleitoral, pressionar líderes militares, envenenar Lula e assassinar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes compõem o escopo da denúncia. Isso é muito grave. Porém, as acusações precisam ser comprovadas, principalmente no caso do ex-presidente da República. Todos os acusados têm direito à presunção de inocência e ao devido processo legal, ou seja, à ampla defesa.

A sobriedade de Gonet e a combustão da denúncia - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Se o Centrão já havia majorado o preço para o governo depois da queda de popularidade, fará o mesmo com o bolsonarismo garantindo um espetáculo de boa bilheteria

Depois da denúncia e julgamento da Lavajato, o PT perdeu duas eleições presidenciais consecutivas, viu a base municipal do partido ser dizimada e a bancada na Câmara dos Deputados perder um quinto de suas cadeiras. A revelação dos vícios daquela operação e dos erros no julgamento dela decorrente permitiu a volta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao poder, mas à frente de uma maioria eleitoral e política muito mais apertada e acossada pelo extremismo de direita adubado pelo lavajatismo.

O que importa no show de Trump - Eduardo Belo

Valor Econômico

Impacto das medidas do primeiro mês de governo ficarão claros no meio deste ano, projeta professor da FDC

Em 2017, o economista, escritor e quadrinista americano Scott Adams, célebre por ter criado e publicado por mais de três décadas a tirinha “Dilbert”, uma sátira mordaz do mundo corporativo, lançou o livro “Win Bigly: Persuasion in a World Where Facts Don’t Matter”.

O título é autoexplicativo. Os fatos não importam. O que realmente conta é como convencer pessoas - especialmente as que ainda não têm convicções enraizadas - de que há duas formas de ver o mundo ou de fazer as coisas: a “nossa” e a “errada”.

No livro - cujo título em português é um quase presunçoso “Ganhar de lavada” - Addams desfila técnicas e conceitos de convencimento, muitos deles aplicados na campanha da primeira eleição de Donald Trump, em 2016.

Implicações previsíveis - William Waack

O Estado de S. Paulo

Mesmo a denúncia não tira de Bolsonaro papel central na direita brasileira

A denúncia e a esperada condenação de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado têm pelo menos duas previsíveis implicações. Embaralham o cenário da sucessão em 2026 e aumenta o descrédito em largas parcelas da população brasileira em relação a instituições como o STF.

O roteiro que Bolsonaro pretende seguir é idêntico ao de Lula em 2018 – anunciar sua candidatura mesmo inelegível e mesmo se estiver na cadeia (hipótese nada desprezível). Esse script circunscreve um “herdeiro” ao âmbito da sua família, complicando consideravelmente articulações de centro-direita na busca de candidatos à Presidência entre os atuais governadores.

Sobre zona de conforto, meritocracia e Trump - Eugênio Bucci

O Estado de S. Paulo

Protágoras dizia que o homem é a medida de todas as coisas. Pois, no trumpismo e nas suas adjacências, o dinheiro é a medida de todas as coisas, inclusive do homem

Dia desses, assistindo a uma entrevista num canal de TV da internet, vi um capitalista dizer que, para ganhar mais dinheiro, precisa sair de sua “zona de conforto”. Oh, chavão. Pelo que pude entender, a “zona de conforto” representaria para ele um convite à acomodação e à preguiça improdutiva. Logo, um estado de relaxamento e de calma seria um vício moral; o homem de negócios sem ócios precisa sempre contar com uma dose de aflição, de nervosismo e até de medo, ou não terá disposição para correr riscos, mesmo que calculados. Moral da história: o conforto não é bom para o tilintar das caixas registradoras.

Bolsonaro na cadeia e Lula 4 - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Prisão do golpista-mor pode ser solução para elite que quer frente ampla contra esquerda

As más notícias sobre o governo devem sair das manchetes por um par de dias graças à denúncia de Jair Bolsonaro e turma. A abertura do processo, em abril, e a provável condenação dos elementos da organização criminosa armada, no dizer da Procuradoria-Geral da República, vai criar ondas de noticiário em tese negativo para certa extrema direita.

É improvável que os danos à imagem dessa parte da oposição contribuam para aumentar o prestígio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Decerto atrasam a organização da direita para 2026. Mas essa bem pode ser uma solução para quem quer derrotar Lula.

Deputado gosta de apanhar - Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Se anistiar os depredadores, a Câmara mostrará que mereceu ser invadida, urinada e cuspida

No passado, dizia-se que mulher de malandro apanhava e gostava. Hoje sabemos que ela não reagia porque não podia. Mas aquela história pode ser contada em nossos dias, tendo no papel os deputados brasileiros. Segundo arrotos recentes de Bolsonaro, a Câmara "já assegurou o quorum para aprovar o projeto de lei" que anistia os terroristas do 8/1 —anistia que se estenderia num perdão a ele próprio. Essa maioria inclui, diz ele, além dos deputados de oposição, outros pertencentes a partidos nominalmente aliados do governo.

Pouca esperança na segurança pública - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

Nenhum outro assunto abre tamanho fosso entre o temor dos cidadãos e o dar de ombros do governo

Recentes pesquisas mostram agudo declínio na avaliação positiva do presidente Lula. Mas, nos últimos dois anos, algo tem se mantido constante nas medições dos humores do povo.

A segurança é invariavelmente citada como a principal preocupação do público (acima até da saúde). Mesmo que alguns indicadores da criminalidade revelem discretíssima melhora nos últimos anos —em alguns estados e para certos delitos—, a sensação geral é de desamparo diante do que pobres, ricos ou remediados vivem como ameaça cotidiana.

Entregando o ouro...Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*

Enquanto a governabilidade é distraída com as versões e narrativas errantes do Executivo, com as inconstitucionalidades de Morais e oportunismo de meia dúzia de sujeitos, uma das maiores minas de estanho do mundo, que tem como subproduto ferro ligas de nióbio e tântalo, além de conter resíduos de urânio, (usado na produção de energia nuclear), acaba de ser vendida para os chineses. Sem um projeto de Nação, um presidente que governe e um Supremo que respeite a cidadania, o País está tomado por uma governança vacilante. Não se sabe o que fazer, entre outras coisas, com o petróleo da foz da Amazônia, com as reservas naturais   estratégicas. Anda-se na contramão das tendências mundiais, colocando em risco a própria soberania. 

É a economia idiota! (II) - Alfredo Maciel da Silveira

"The Economy Stupid!"...(James Carville, campanha de Clinton, 1992)...

Vai fazer um ano, 02/03/24, que tive publicado aqui mesmo neste blog artigo praticamente de mesmo título. Alguns podem achar que a economia “tem melhorado”. Mas o quadro político acho que reforça meus temores de um ano atrás. E a presente análise econômico-política é continuação da anterior.

Dos estimados 3,5% do crescimento do PIB brasileiro em 2024, pode-se afirmar – a partir das próprias estimativas do IBGE – que uns 2,5% vem de efeitos diretos e indiretos do dinamismo do Agro!

( "Linkages" de investimentos à la Hirshman, mais multiplicadores do "superavit comercial", à la Kalecki, com forte presença do Agro.)

Nem mesmo os desenvolvimentistas (sem adjetivos) dão uma "dura" no "Biden (ops!) Lula da Silva". Estariam aguardando serem demandados por alguma nova composição de forças para 2026?

Belluzzo sabe tudo, mas "pega leve", talvez pela amizade pessoal com Lula.

Poesia | Façam silêncio, de Pablo Neruda

 

Música | Diogo Nogueira - Samba de Arerê / Zé do Caroço