segunda-feira, 10 de março de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Congresso adota agenda de fundo corporativista

O Globo

Em vez de tratar de preocupações da população, parlamentares elegem pauta ditada pelos próprios interesses

Findo o recesso de carnaval, os congressistas parecem ter escolhido suas prioridades na pauta de votações. Nenhuma tem a ver com as maiores preocupações da população, saúde e segurança. Vencidos, graças ao acordo com o Supremo, os obstáculos para liberar emendas parlamentares, o principal objetivo do Parlamento mantém-se o mesmo: defender os próprios interesses. No topo da lista, estão propostas de mudanças na legislação eleitoral, que precisam ser aprovadas até outubro para valerem já nas eleições de 2026.

A mais preocupante altera a Lei da Ficha Limpa, facilitando o acesso às urnas dos criminosos condenados em segunda instância. Pronta para ir ao plenário, ela deveria ser engavetada ou rejeitada por qualquer parlamentar preocupado com a infiltração do crime nas instituições da República.

Também formou-se consenso no comando das duas Casas legislativas de que as mudanças no Código Eleitoral e a minirreforma eleitoral, aprovadas na Câmara e estacionadas no Senado, devem avançar. Caberá à Comissão de Constituição e Justiça do Senado recolocá-las em tramitação. É compreensível que o assunto esteja no radar, mas não é aceitável que seja motivo para mudar regras que, em vez de alteradas, precisam antes ser cumpridas.

Entre as ideias em discussão, há desde a proposta de flexibilizar a cota feminina para candidatos ao Legislativo até o afrouxamento das normas para prestação de contas partidárias. Uma das mudanças de interesse dos políticos é limitar a R$ 30 mil as multas por falhas na prestação de contas, valor sem qualquer proporcionalidade com as cifras que o Tesouro transfere às legendas (apenas para o fundo eleitoral das eleições municipais do ano passado foram destinados quase R$ 5 bilhões).

Mercosul: o último tango em Washington? - Assis Moreira

Valor Econômico

Países do bloco examinam negociações em curso, enquanto Milei visa acordo com Donald Trump

A partir desta semana começam efetivamente as reuniões da presidência rotativa da Argentina no Mercosul. Será a ocasião para os parceiros tentarem identificar como o governo de Javier Milei planeja realmente atuar à frente do bloco.

Milei insiste que trabalha intensamente em um projeto de acordo comercial com os EUA, aproveitando a afinidade ideológica com Donald Trump. De seu lado, Trump disse estar aberto à possibilidade de avançar num tratado comercial com o ‘grande lider’ Milei.

BC mantém cautela apesar do PIB fraco - Alex Ribeiro

Valor Econômico

Diretores do Banco Central dizem que não pretendem reagir preventivamente à possibilidade de novos estímulos à economia, mas têm indicado a intenção de ajustar a dosagem da política monetária caso seja preciso

Quando o Banco Central decidiu dar um choque de juros, em dezembro, sua avaliação era que haveria uma “nova expansão da atividade econômica no quarto trimestre, sem sinais claros de desaceleração relevante”. Na sexta, ficamos sabendo, pelos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que o BC errou sua previsão.

Apesar da surpresa negativa, o Produto Interno Bruto (PIB) não deve alterar o plano de voo do Comitê de Política Monetária (Copom), que, na semana que vem, vai subir os juros para 14,25% ao ano e provavelmente deixará em aberto o que pretende fazer na reunião seguinte, de maio.

Políticas para mulheres: como ir além do papo-furado? - Bruno Carazza

Valor Econômico

Intenção do governo é positiva, mas falta ênfase para melhorar a condição feminina no Brasil

Numa entrevista que concedeu ao Valor no início da campanha eleitoral de 2022, o candidato Ciro Gomes tentou atacar o seu rival Lula descrevendo como seria a composição do ministério do petista caso ele saísse vitorioso na eleição:

“Ele [Lula] vai botar um banqueiro na Economia, entregar as políticas de papo-furado - mulher, índio e negro - para o PT se divertir, a política e o orçamento pro Centrão e vai passear no estrangeiro”, afirmou Ciro, com a sua habitual falta de senso. Na época pegou bastante mal para o político cearense chamar de “papo-furado” políticas públicas voltadas para importantes contingentes minorizados da população.

O STF e a conspiração - Marcus André Melo

Folha de S. Paulo

O perfil de agente passivo de arbitragem não dá mais conta face às investidas virulentas e sem precedentes do Executivo e aliados

O julgamento da conspiração de membros da cúpula do governo Bolsonaro tem sido analisado em relação ao seu provável impacto —ganhos e custos— para o governo e a oposição. Mas há outro poder envolvido: o Poder Judiciário. Para o STF, o saldo líquido será certamente negativo em qualquer cenário.

É um truísmo afirmar que, na última década, o STF tornou-se hiperprotagonista do jogo institucional. Não se trata de algo trivial, mas da maior transformação em nosso sistema político pós 88.

São quatro os principais fatores explicativos para o hiperprotagonismo do STF: sua jurisdição como corte criminal; o impeachment presidencial de 2016; a contenção de um presidente francamente hostil à ordem constitucional; e, como desdobramento desta última, o julgamento da conspiração. A trajetória linear de expansão do protagonismo está sofrendo radical inflexão, e os desafios da corte são agora de outra ordem de magnitude.

Polarização e radicalização - Michel Temer

O Estado de S. Paulo

No Brasil, não há mais discussão de ideias quando se trata daqueles que querem chegar ao poder federal para dirigi-lo

Reservo a palavra polarização para o embate de ideias, de programas. Ela é fundamental na democracia. Esta exige visões diferentes de país, de mundo, de governo. Não há, nem houve nunca, uma ideia única no meio social. A não ser aquelas postas pela ditadura, ou seja, aquele sistema que desautoriza controvérsias. E até as pune.

No Brasil, não há mais discussão de ideias quando se trata daqueles que querem chegar ao poder federal para dirigi-lo. Há, sim, radicalização, que é atividade distante do campo programático. É a disseminação do mal querer, do ódio entre pessoas e até entre instituições. É a agressão verbal, até física, entre brasileiros e até contra instituições. Vide o 8 de janeiro de 2023. Veja-se a agressão a prédios públicos quando se discutiam as indispensáveis reformas trabalhista e previdenciária em 2017. Nada de formulação de conceitos ou posições. Apenas agressividade. E tudo nasce da pregação do “nós” contra “eles”. Percebia-se que, durante muito tempo, o “nós” tinha organização e militância.

Entre o aeroporto, a cadeia e o perdão - Diogo Schelp

O Estado de S. Paulo

Se Bolsonaro deixar para a última hora a escolha de um sucessor, acabará criando dois problemas

Jair Bolsonaro disse que só morto indica outro candidato para disputar a Presidência em 2026. Ele já errou outras vezes em previsões em que atrelou sua morte ao seu futuro político. Em 2021, em um dos muitos momentos em que flertou com a recusa em deixar o cargo, disse que só encerraria o mandato preso, morto ou com vitória. Não foi preso, não morreu e tampouco foi vitorioso. Optou pelo aeroporto às vésperas da posse de Lula.

Em 2026, só será diferente em um ponto: é provável que até lá Bolsonaro esteja, de fato, preso. Na melhor das hipóteses, para ele, continuará eleitoralmente morto, ou seja, inelegível. Ninguém duvida que acabará indicando um candidato para concorrer à Presidência em seu lugar. A questão é quando fazê-lo. Agora ou na última hora?

Trump e a reconfiguração do mundo - Denis Lerrer Rosenfield

O Estado de S. Paulo

Resta aos europeus reconhecer que o mundo mudou, suas concepções não mais vigoram e sua diplomacia está ultrapassada

Não temos ainda nem dois meses de governo Trump e as transformações geopolíticas por ele provocadas estão reconfigurando o mundo. Não apenas simbolicamente quer mudar os mapas existentes, ao nomear o Golfo do México de Golfo da América, mas está tomando decisões que se demarcam claramente da ordem diplomática vigente até agora. As mudanças abruptas e o seu ritmo são frenéticos, deixando muitos atores estatais e a opinião pública mundial perplexos.

É, portanto, da máxima importância compreender esse novo fenômeno como se apresenta, tal como se analisa um fenômeno natural. Talvez ninguém goste de um furacão, sobretudo os que dele estão próximos. Nem por isso deixaremos de tentar compreender o que está acontecendo. Serve para a geopolítica um pequeno breviário de retórica, escrito por um dos primeiros-ministros de Luiz XIV, Cardeal de Mazar in. Segundo ele, o domínio das relações política sé o da manipulação, dou soda mentira e do engano, da imprevisibilidade e da construção arbitrária de narrativas.

Princípio de ano novo, fim de uma época – Fernando Gabeira

O Globo

Faltará recurso para combater o aquecimento global e ajudar os povos em desenvolvimento

Depois do carnaval, começa o ano no Brasil. Espero que seja próspero e feliz, mas duvido. Passamos por um momento difícil. Algo parecido com o que li neste início de romance: “Naquela época o céu era tão baixo que nenhum homem ousava se erguer em toda a sua estatura. No entanto havia vida, havia desejos e festas. E, ainda que nunca se esperasse o melhor neste mundo, esperava-se a cada dia escapar do pior”.*

Os Estados Unidos se retiraram não apenas do Acordo de Paris, mas também deixaram de apoiar a Ucrânia. Isso significa que a Europa tem dois caminhos: assumir o esforço de guerra sozinha ou receber milhões de refugiados da ocupação russa. Talvez os dois, na pior das hipóteses.

O telefonema de Lula – Miguel de Almeida

O Globo

Ouvi a simpática conversa entre Lula da Silva e Walter Salles pela conquista do Oscar. Mais uma ação de marketing do ministro Sidônio — parabéns. Outra marca de diferença com o ex-presidente Bolsonaro, um ser incapaz sequer de velar pela memória de João Gilberto.

Salles já declarou que “Ainda estou aqui” não teria sido produzido sob o governo do capitão. Este retrucou, dizendo que jamais buscou a censura. Mentiu de novo. “Marighella”, dirigido por Wagner Moura e tendo Seu Jorge como protagonista, só chegou ao público depois de superar vários senões burocráticos construídos por seus acólitos, com a intenção não disfarçada de boicote à história do ex-militar que se tornou guerrilheiro. Ao ser lançado, o filme teve boas plateias e ajudou a colocar na ordem do dia a revisão de um período ainda mantido sob o tapete na História brasileira. Neste momento, deixemos Bolsonaro de lado, um morto-vivo prestes a iniciar seu percurso no cárcere.

O telefonema de Lula da Silva a Salles, sob a incerteza de uma reforma ministerial, talvez pudesse mostrar uma inflexão no identitarismo marcante na formação inicial do governo e nos empecilhos de sua alarmante política cultural.

Estamos aqui – Irapuã Santana

O Globo

O debate público se transforma numa disputa de identidades, onde não importa a coerência, mas a lealdade a um lado

Nos últimos anos, as redes sociais se tornaram o epicentro da polarização política, lugar onde os extremos encontram espaço para amplificar suas vozes. Antes hábito restrito a nichos e círculos ideológicos, agora é um espetáculo global. Assistimos a algumas das maiores contradições da contemporaneidade, e a recente premiação do filme “Ainda estou aqui” no Oscar é um exemplo perfeito.

O filme, produção nacional que alcançou reconhecimento num dos prêmios mais prestigiados do mundo, deveria ser motivo de celebração. No entanto parcela dos autoproclamados “patriotas” rejeitou a conquista simplesmente por não se identificar com os ideais políticos que associam à obra ou a seus realizadores. O que antes era discurso de valorização da cultura nacional cedeu espaço à torcida contra, apenas porque o filme não correspondia a suas expectativas ideológicas.

Barreira mais alta em 2026 acelera fusões partidária

Lauriberto Pompeu e Dimitrius Dantas / O Globo

Em busca da sobrevivência, partidos como PSDB e PDT miram fusões ou federações para fugir da cláusula de barreira

Outras nove legendas também buscam alternativas; veja avanços e entraves

Partidos que correm o risco de não atingir a cláusula de barreira nas próximas eleições vêm intensificando negociações para se unir em busca de sobrevivência. Ao todo, 11 legendas com representação na Câmara estão perto da linha de corte que será estabelecida. A maioria delas participa de conversas avançadas, como o PSDB, que deve se fundir ao Podemos e ao Solidariedade.

Para 2026, o critério para um partido obter verba pública e tempo de TV será possuir ao menos 13 deputados federais distribuídos por um terço dos estados ou a obtenção de a partir de 2,5% dos votos válidos nas eleições à Câmara, espalhados por um terço ou mais das unidades da federação, com um mínimo de 1,5% dos votos válidos em cada uma.

Em 7 estados, trabalho informal supera 50%.

Carolina Nalin e Henrique Barbi* / O Globo

Em dez anos, diferença de rendimento entre vagas com e sem carteira caiu de 78% para 31%

O Brasil atingiu recorde de vagas formais e o menor nível de desemprego da História em 2024, mas a informalidade ainda predomina em algumas regiões do país. Em sete estados, mais da metade dos ocupados não tem carteira assinada. Os dados, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua trimestral do IBGE, foram compilados pelo pesquisador Rodolpho Tobler, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), a pedido do GLOBO.

Segundo especialistas ouvidos pelo GLOBO, contribuem para esse quadro a baixa remuneração em vagas formais, especialmente para as que exigem pouca qualificação, além do desejo de maior flexibilidade de horários e da distância para o local de trabalho, no caso de quem mora na periferia.

Pesa ainda o fato de que a diferença de rendimento entre trabalhadores formais e informais no Brasil diminuiu nos últimos anos, conforme os dados do IBGE compilados por Tobler. Em 2015, a remuneração de empregados com carteira superava em 73% a daqueles sem carteira. No fim de 2024, essa diferença caiu para cerca de 31%.

Poesia | Viajar! Perder países! De Fernando Pessoa

 

Música | Samba que elas querem - "Nós somos mulheres"