segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Rio de Janeiro deveria ser capital honorária do Brasil

O Globo

Proposta do prefeito Eduardo Paes repararia perdas do passado e abriria novos rumos no futuro

Nas últimas décadas, a cidade do Rio de Janeiro sediou, com orgulho e competência, eventos de repercussão internacional, como a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), os Jogos Pan-Americanos de 2007, a Jornada Mundial da Juventude em 2013, a final da Copa do Mundo de 2014, a Olimpíada de 2016 e a cúpula do G20 no ano passado. A vocação da capital fluminense e ex-capital federal como anfitriã e referência do Brasil é inequívoca. O Rio é um centro cultural pujante de onde emana a imagem que o mundo tem dos brasileiros— e os próprios brasileiros também.

Por isso é oportuno o pedido que o prefeito Eduardo Paes (PSD) levará ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para que o Rio — segunda cidade mais populosa do país, com 6,7 milhões de habitantes — seja reconhecido oficialmente como capital honorária do Brasil e cidade federal. Paes sugere que a decisão seja tomada por decreto. Propõe que o ato seja assinado em julho, na cúpula do Brics, próximo evento de alta envergadura internacional sediado no Rio.

É preciso repensar a política em tempo de incerteza – Fernando Gabeira

O Globo

Está cada vez mais difícil acreditar em progresso inclusivo. A tendência é acentuar as diferenças

Estou lendo um livro que estimula a imaginação. Chama-se “O cogumelo no fim do mundo: sobre a possibilidade de vida nas ruínas do capitalismo”. Sua autora é Anna Tsing, e é um trabalho sério de pesquisa coletiva. Algumas conclusões, portanto, não podem ser atribuídas ao livro, mas a meu exercício de imaginar.

Matsutake é o nome de um cogumelo aromático muito valorizado no Japão. Ele sobrevive em áreas devastadas pela indústria madeireira, como no Oregon, e reapareceu em Hiroshima depois da explosão atômica. Esse crescimento inesperado em áreas devastadas faz do matsutake uma inspiração para repensar a política de nossos tempos, marcados pela incerteza: mudanças climáticas, ascensão de Trump, precariedade do trabalho.

O Estado pedinte – Miguel de Almeida

O Globo

Estava em Alto do Moura, agreste pernambucano, quando começou a onda de taxação do Pix. Na loja de dona M., separei algumas lindas peças em cerâmica. Quis pagar, mas ela enrolou:

— Só aceito em dinheiro — me disse. — Nada de Pix. Dizem que vão cobrar imposto.

— Mas a senhora vai perder a venda?

— Fazer o quê? — retrucou.

Alto do Moura, em Caruaru, é a terra de Mestre Vitalino, artista do barro, autodidata genial. Seu talento inspirou gerações de artesãos, e hoje a cidade tem dezenas de oficinas de cerâmica. O charmoso lugarejo vive da arte — cerca de 95% da receita tem origem naqueles delicados estúdios, um ao lado do outro. Pequenos museus registram a trajetória dos artistas. Pelas ruas ecoam conversas em francês, inglês e até em árabe — ao contrário de Miami, preferida por muitos brasileiros, por ali chegam turistas de várias partes do mundo. As peças reproduzem personagens do cotidiano, como casais, cangaceiros apaixonados ou ainda cenas do trabalho camponês. É um mundo idílico, onírico, construído sob a aridez do sol — e único em sua beleza.

Pobres do mundo pagam a conta de Trump - Natalia Fingermann

O Globo

Corte na Usaid prejudica combate à desnutrição e programas de saúde em países subdesenvolvidos, sobretudo na África

Dentre as inúmeras ordens executivas assinadas pelo presidente Donald Trump no dia de sua posse, em 20 de janeiro, uma pôs em xeque a credibilidade dos Estados Unidos junto aos países do Sul Global. A paralisação, por 90 dias, dos programas de ajuda externa da Unites States Agency for International Development (Usaid) logo teve impactos significativos em programas de combate à desnutrição e de saúde em países subdesenvolvidos, especialmente na África Subsaariana.

Principal doador mundial, com recursos que representam aproximadamente 40% de toda a cooperação internacional, o governo americano desempenha papel chave na provisão de serviços públicos em mais de 200 países. Em 2024, os Estados Unidos desembolsaram US$ 7 bilhões na África, destinando recursos significativos a políticas de prevenção do HIV, combate à malária, auxílio agrícola e alimentar, além de iniciativas ligadas às mudanças climáticas.

O PT chega envelhecido aos 45 anos - César Felício

Valor Econômico

Partido tem dificuldades para renovar quadros e discurso

A média de idade dos deputados federais no Brasil em 2022, data da eleição, era 49 anos. É consideravelmente maior que a do atual presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), 35 anos hoje, 33 quando saiu das urnas. Mas é bem menor que a média de idade dos deputados do PT, um pouco menor que 56 anos. A bancada federal petista é aproximadamente uma geração mais velha do que o parlamentar paraibano.

O ano padrão de nascimento dos seus integrantes oscila entre 1966 e 1967, época em que estavam sendo constituídos a Arena e o MDB, partidos do regime militar. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não fazia parte da direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo . Em sua maioria, os deputados petistas eram adolescentes em 10 de fevereiro de 1980, quando, em uma reunião no Colégio Sion, em São Paulo, foi fundado o PT, há exatos 45 anos.

O recado de Musk e Milei para Barroso e os togados - Bruno Carazza

Valor Econômico

Desconexão de autoridades judiciais com realidade abre flanco para ações autoritárias

“Tribunal de Rondônia garante salários acima de R$ 400 mil a juízes”. “Em Minas, 32 magistrados receberam salários de mais de R$ 300 mil em 2024”. “Todos os juízes do Tribunal de Justiça de Sergipe receberam salários acima do teto”. “Tribunais usam ‘dezembrada’ para pagar benefícios e penduricalhos milionários a juízes”. “Ministério Público de São Paulo autoriza penduricalho de até R$ 1 milhão a promotores”.

Apesar de todas essas evidências factuais, coletadas em manchetes de jornais publicadas apenas no último mês, o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal, mais uma vez minimizou os absurdos remuneratórios no Poder que dirige. No discurso de abertura do ano judiciário, Barroso declarou que “é preciso não supervalorizar críticas que muitas vezes são injustas ou frutos da incompreensão do trabalho dos juízes”.

Quando o BC vai atingir a meta de inflação? - Alex Ribeiro

Valor Econômico

Copom tem assumido o compromisso de que fará o que for necessário para cumprir a meta de inflação, mas carece de credibilidade perante o mercado

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deu um choque de juros em dezembro, que levará a taxa Selic a um patamar “bastante restritivo”. Mas, ainda assim, participantes do mercado financeiro não estão seguros sobre quando a meta de inflação deve ser cumprida.

As contas do Banco Central não fecham. O Copom vai subir os juros dos atuais 13,25% ao ano para 14,25% na próxima reunião, em março. Os analistas econômicos consultados na pesquisa Focus antecipam que a autoridade monetária vai seguir em frente nos encontros seguintes, levando a Selic a 15% ao ano. Mesmo considerando todo esse aperto monetário, os modelos de projeção do BC estimam a inflação em 4% no período de 12 meses até setembro de 2026.

Motta defende o indefensável - Diogo Schelp

O Estado de S. Paulo

Ele se prepara para fazer o errado com orgulho, seguindo o modelo de Trump e de Bolsonaro

Stephen M. Walt, um dos cientistas políticos mais influentes da atualidade, publicou em 2010 um curto e provocativo artigo intitulado Defendendo o indefensável: um guia prático. No texto, ele observa que autoridades e simpatizantes tornam-se “apologistas” quando se veem obrigados a justificar decisões oficiais que são claramente erradas ou contraprodutivas.

Walt expõe a evolução de um discurso apologético em 21 passos, que começam com a negação pura e simples (“não fizemos isso!”), passa pela confirmação do ato seguida de uma minimização das consequências (“os resultados podem ser imperfeitos, mas a intenção era nobre”) e termina com a defesa escancarada do indefensável (“um dia o mundo vai nos agradecer”) e com ameaças (“se ficarem criticando, vamos ficar bravos e fazer algo realmente maluco”).

Táticas de Trump desorientam a oposição e a mídia - Oliver Stuenkel

O Estado de S. Paulo

Estratégia conhecida como flooding the zone busca dificultar a construção de uma resposta eficaz

O maior desafio para analistas políticos, jornalistas e governos ao redor do mundo desde que Donald Trump voltou ao poder tem sido diferenciar notícias relevantes de manobras diárias de distração. Trump certa vez pediu a seus principais assessores que pensassem em cada dia de sua presidência como um episódio de um programa de televisão no qual ele derrota seus rivais. Isso implica acumular vitórias – mesmo que meramente simbólicas – e produzir, de forma metódica, notícias bombásticas que lhe permitam pautar a agenda política. Essa estratégia, conhecida como flooding the zone (inundando a área), busca desorientar e atordoar a oposição e a mídia, dificultando a construção de uma resposta eficaz.

Trump - Denis Lerrer Rosenfield

O Estado de S. Paulo

Apesar de seu estilo desagradar a muitos, presidente americano é um fino estrategista. Sabe utilizar as armas que tem: a força militar e o poderio econômico

É Donald Trump “louco”? Bravateiro? A seguir boa parte da cobertura midiática e jornalística, o mundo estaria à beira da falência. Outros o qualificam como “colonialista”, “imperialista”. Todavia, tais apelações apenas expõem a perplexidade da esquerda e de autointitulados “especialistas”, que procuram tão só aferrar-se a suas ideologias. A questão consiste, porém, em que quando não se entende um fenômeno, a única alternativa reside na repetição de velhas fórmulas e ações infrutíferas. Se há loucura em Trump, é a que se faz com método.

Trabalho indecente - Ana Cristina Rosa

Folha de S. Paulo

Número de pessoas em condições análogas à escravidão mostra que Brasil segue ancorado em raízes escravocratas

A quantidade de gente que se encontra em condições análogas à escravidão ou submetida a trabalho forçado no Brasil é (além de um escândalo) evidência de que a lógica do escravismo nunca deixou de ferir direitos humanos em território nacional.

Exploração extrema, trabalho forçado, maus tratos, acomodações insalubres, restrição de locomoção, retenção ou ausência de remuneração são algumas das práticas que afrontam a legalidade e a civilidade das pessoas submetidas ao trabalho escravo contemporâneo. A relação entre essa prática abjeta e os quase quatro séculos de escravização é flagrante. A verdade é que o Brasil segue ancorado em raízes escravocratas.

Os Poderes da República estão perdidos no espaço - Lygia Maria

Folha de S. Paulo

Discurso sobre inflação, gastos do Judiciário e farra das emendas mostram que Lula, STF e Congresso estão desconectados da realidade dos brasileiros

Como disse Jack Swigert, astronauta da Apollo 13: "Houston, we have a problem". No Brasil, os Poderes estão fora de órbita, completamente desconectados da realidade social do país.

Em meio à alta da inflação, Luiz Inácio Lula da Silva disse que o povo precisa aprender a trocar alimentos caros por mais baratos para que os preços baixem.

Até um extraterrestre perceberia o disparate dessa fala. Acostumados historicamente com situações de carestia, os brasileiros já estão substituindo produtos.

Bolsonaro e a Lei da Ficha Limpa - Marcus André Melo

Folha de S. Paulo

Qual o significado de longo prazo de mudanças institucionais virtuosas e viciosas?

Há uma dinâmica curiosa em relação à corrupção e abuso de poder. Quando um grupo político é hegemônico e está no poder, e sua hegemonia é avassaladora, não há registro de denúncias por duas razões. Esse grupo tipicamente controlará meios de comunicação e instituições de controle, aqui incluídas as congressuais; a oposição legislativa terá assim baixa capacidade de incidir sobre a corrupção. As denúncias, portanto, terão pouca visibilidade. Ações individuais e coletivas da sociedade civil terão a mesma sorte: há poucos incentivos para as denúncias. Afinal, por que agir se as chances dessas ações prosperarem são baixas? Quando não há grupo hegemônico, mas dois competitivos, os incentivos são outros. Quanto mais competitivo o sistema, mais incentivos para a criação de um escândalo que afete o incumbente.

Castrando nossos futuros Elon Musk - Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*

O uso do celular em sala de aula remete a  situações divertidas,  Intrigantes e até transgressoras  mesmo .   Ficaram  registradas   no histórico  da vida docente. Eram   turmas de 40 a 50 estudantes . Uma aluna  transmitia minhas aulas para fora da sala, não sei para onde, nem para quem, descobri tarde. Um aluno negociava drogas no campus de dentro da sala de aula, sem eu perceber. Duas estudantes  teciam comentários jocosos  pelo celular,  acredito que sobre a aula.  Uma outra fotografava tudo que escrevia no quadro.   Em termos de socialidade, entretanto,  era um belo grupo. Não sei se uma rede.

Poesia | Os 07 poemas mais Lindos da Literatura Brasileira

 

Música | Casuarina - Arco Íris