segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Opinião do dia – Luiz Sérgio Henriques

Estabelecer os fios, visíveis e invisíveis, dessa ligação é tarefa de primeira ordem, pois a guerra de trincheiras precisa de atores que não apostem em terra arrasada nem em investidas de “choque e pavor”. Salvo casos extremos, dos quais estamos, felizmente, distantes, não se trata de destruir inimigos e salgar suas terras, mas de fazer e refazer continuamente o delicado consenso em torno das instituições democráticas, sem as quais estamos destinados, sem perdão possível, a uma austera, apagada e vil tristeza.
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Tradutor e ensaísta, é um dos organizadores das ‘Obras’ de Gramsci no Brasil. “Duas ou três notícias do front”, O Estado de S. Paulo, 18 de outubro de 2015

Dilma reage à pressão de Lula e diz que Levy fica na Fazenda

Dilma diverge do PT e diz que Levy fica no Ministério da Fazenda

• Presidente demonstrou impaciência com perguntas sobre a reunião de sexta-feira, em Brasília, que ampliou rumores sobre demissão do ministro; opinião do PT e do governo sobre o tema são divergentes

Andrei Netto - O Estado de S. Paulo

ESTOCOLMO - A presidente Dilma Rousseff afirmou na tarde deste domingo, 18, em Estocolmo, na Suécia, que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não está saindo do governo. A garantia enfática foi feita em sua primeira entrevista concedida após a reunião realizada na sexta-feira, em Brasília, quando cresceram os rumores sobre a suposta iminente saída de Levy.

Irritada com as perguntas, Dilma quis colocar um ponto final nas questões sobre o tema. "Ele (Levy) não está saindo do governo. Ponto. Eu não trato mais desse assunto", afirmou. "Qualquer coisa além disso está ficando especulativo. Vocês não farão especulação a respeito do ministro da Fazenda comigo."

Indagada sobre se concordava com a avaliação feita pelo presidente do PT, Rui Falcão, que em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo afirmou que ou Levy muda sua política econômica, ou deve sair do governo, a presidente deixou clara sua divergência com seu partido, o maior da base de sustentação do governo. "O presidente do PT pode ter a opinião que ele quiser. Mas não é a opinião do governo", disse Dilma. "Se eu disse que não é a opinião do governo, o ministro Levy fica."

A presidente reiterou ainda que não discutiu a eventual demissão na reunião realizada na sexta-feira, em Brasília, com Levy, o chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa. "O que nós conversamos na sexta-feira foi sobre quais são os próximos passos e qual é a nossa estratégia no sentido de que se aprovem as principais medidas sobre o equilíbrio fiscal", reafirmou, assegurando que "não se tocou no assunto" demissão.

Dilma disse ainda que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não solicitou a substituição do ministro. O nome do ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, seria o seu favorito. "Ele nunca me pediu nada (a respeito). O presidente Lula, quando quer alguma coisa, não tem o menor constrangimento de falar comigo."

Demonstrando impaciência, a presidente ainda voltou a criticar as "especulações" em torno da saída do ministro. "As pessoas que estão no meu ministério hoje, eu espero que vão até o final do meu mandato. É essa a visão geral", argumentou. "O resto é tentativa errada de especulação, porque cria instabilidade, cria tumulto."

Na Suécia, Dilma nega acordo para salvar Eduardo Cunha

'Lamento que seja um brasileiro', diz Dilma sobre denúncias contra Cunha

• Presidente diz que não haverá acordo com o presidente da Câmara dos Deputados, trocando trégua na pressão por renúncia por mais estabilidade política

Andrei Netto - O Estado de S. Paulo

ESTOCOLMO - A presidente Dilma Rousseff afirmou três vezes neste domingo, 18, em Estocolmo, na Suécia, que "lamenta" que as denúncias relacionadas ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, envolvam um brasileiro. Segundo ela, não houve acordo entre os chefes dos dois poderes, Executivo e Legislativo, por mais estabilidade política, mas acusou "a oposição" de firmar um entendimento com Cunha.

Dilma está na Suécia em primeira etapa de uma turnê pelo norte da Europa que envolve ainda a Finlândia. Na tarde de hoje, após se encontrar com os monarcas da Suécia, o rei Carlos XVI e a rainha Silvia, a presidente concedeu sua primeira entrevista. Questionada pelo Estado sobre se considera pertinente firmar um acordo com Eduardo Cunha que garanta a trégua na tramitação do impeachment na Câmara, Dilma descartou a hipótese.

"Eu acho fantástico essa conversa de que o governo está fazendo acordo com quem quer que seja", disse ela, atacando seus opositores. "O acordo de Eduardo Cunha não é com o governo, era com a oposição. Era público e notório. Até na nota aparece", disse ela. A presidente se referia a um comunicado emitido em 8 de outubro pelas direções do PSDB, DEM, PPS e PSB, no qual a oposição pediu o "afastamento do cargo" do presidente da Câmara para que ele pudesse "exercer seu direito constitucional à ampla defesa". A nota foi interpretada como fraca, uma prova de que a oposição não deseja de fato sua renúncia.

Dilma disse que não comentaria as denúncias de que Cunha tem contas não declaradas na Suíça, nas quais teria recebido propinas. Mas, indagada sobre a repercussão internacional do escândalo de corrupção envolvendo o presidente da Câmara, a presidente afirmou três vezes: "Eu lamento que seja um brasileiro".

Sobre se a crise política estaria menos intensa após as denúncias contra Cunha, a presidente afirmou não ver "grandes alterações ao longo desse semestre", mesmo depois da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que derrubou a interpretação do presidente da Câmara sobre o rito processual de um eventual processo de impeachment. "Nós ainda temos de alcançar uma estabilidade política baseada em um acordo no sentido de que os interesses partidários, pessoais, de cada corrente, têm de ser colocados abaixo dos interesses do país", argumentou.

Indagada sobre a qual "acordo" se referia, a presidente respondeu: "Com toda a sociedade".

Presidente rejeita pressões sobre Levy e diz que ele 'fica'

Por Claudia Safatle, Ribamar Oliveira e Daniela Fernandes

BRASÍLIA e ESTOCOLMO - A presidente Dilma Rousseff pôs termo a mais uma onda de pressões pela saída do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, do governo. "Ele fica. E se ele fica é porque concordamos com a política econômica dele", afirmou. Sobre uma das fontes dos ataques, o PT, a presidente disse que o partido pode pensar o que quiser mas, no caso de Levy, "não é a opinião do governo", referindo-se à entrevista do líder da legenda, Rui Falcão, à "Folha de S. Paulo", defendendo que o ministro deveria deixar o cargo se não concordasse com mudanças que estariam a caminho na política do governo.

Levy, por seu lado, só sairá do governo no dia em que achar que não tem mais qualquer possibilidade de lutar pela estabilização a partir do ajuste fiscal, premissa para o crescimento. Por enquanto, acredita que ainda tem. A intensa circulação de informações na sexta-feira sobre a iminente demissão do ministro, a suposta carta de demissão que levaria consigo à reunião privada com a presidente e sua insatisfação por estar o governo cedendo à pressão do PT não são fatos que guardam relação com a realidade.

Voltou com força na sexta feira a informação de que o ex-presidente Lula estaria forçando a substituição de Levy pelo ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Fontes próximas a Meirelles relatam que ele foi sondado, mas teria colocado duas condições para aceitar o posto: escolher os nomes do ministro do Planejamento e do presidente do BC com quem trabalharia. A área econômica do governo desconhece as propostas de Meirelles para uma nova política.

Levy acompanha todos esses movimentos, tem ciência da gravidade da situação, mas diz e repete a seus assessores: "Paciência é a palavra chave". Ele não esconde o desconforto com seu isolamento no governo, principalmente depois dos ataques do ex-presidente Lula à política econômica, em uma tentativa de se colocar como oposição.

"Isolado, mas não morto", disse Levy a assessores, depois do encontro com a presidente, quando discutiu na Junta de Execução Orçamentária medidas para garantir o superávit primário de 0,7% do PIB em 2016. O ministro acha que não há motivo que justifique a sua saída, pois, em sua avaliação, não existe alternativa ao que está fazendo e propondo à presidente.

Dilma diverge do PT e diz que Levy fica no governo

• Presidente afirma que opinião do partido não é a do Planalto

Em recado ao Congresso, ela defendeu aprovação da CPMF para equilibrar as contas públicas e reconheceu que sem o novo imposto será ‘ muito difícil’ atingir a meta de superávit de 0,7% do PIB estabelecida para 2016

Em viagem oficial à Suécia, a presidente Dilma Rousseff garantiu que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, fica no governo. A política econômica adotada pela pasta tem sido alvo de críticas do PT e do expresidente Lula. Dilma afirmou que respeita o PT como partido “mais importante” da base aliada, mas disse que a posição contrária a Levy, manifestada pelo presidente da legenda, Rui Falcão, “não é a opinião do governo”. Ela defendeu a aprovação da CPMF, a principal medida na proposta de ajuste fiscal enviada ao Congresso, como essencial para o equilíbrio econômico. “Sem a CPMF isso é muito difícil. Não vou dizer impossível. Mas está no grau de dificuldade máximo.

 'O ministro Levy fica’

• Dilma diz que opinião do PT sobre política econômica não é a do governo e defende a CPMF

Martha Beck e Fernanda Krakovics - O Globo

- BRASÍLIA- Diante dos ataques do ex- presidente Lula e de dirigentes do próprio PT ao ajuste fiscal e ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a presidente Dilma Rousseff se viu ontem obrigada a garantir, de forma taxativa, que ele permanece no cargo. Em viagem oficial à Suécia, Dilma foi questionada sobre a situação do ministro, que, na última sexta- feira, chegou a redigir uma carta de demissão e a pedir uma reunião privada para tratar do assunto. Ela, no entanto, disse que Levy não demonstrou nenhuma insatisfação e que os dois só conversaram sobre medidas para reequilibrar as contas públicas, como a recriação da CPMF, que, segundo a presidente, “é crucial para que o país volte a crescer”.

— O ministro Levy fica. Ele não está saindo do governo. Ponto. Eu não toco mais nesse assunto — disse a presidente, com a voz exaltada.

E diante da insistência dos repórteres, rebateu com irritação ao que chamou de especulação:
— Vocês não farão especulação a respeito do ministro da Fazenda comigo. É essa a minha fala final. E, a partir de agora, não vou responder a respeito do ministro Levy, porque, vocês me desculpem, isso é fantástico. A política econômica dele, se ele fica, é porque concordamos com ela. Então, vamos encerrar essa conversa em definitivo e parar de especular.

O ministro da Fazenda tem dito a interlocutores que as críticas de Lula e do PT dificultam o esforço do governo para conseguir aprovar as medidas do ajuste fiscal no Congresso. Segundo integrantes da equipe econômica, o vazamento da informação de que ele escreveu uma carta de demissão foi justamente uma manobra para se fortalecer e garantir apoio do Palácio do Planalto para conduzir a economia. A carta não foi entregue e a reunião privada também não se concretizou.

Opinião de Falcão é contestada
Dilma disse que Lula nunca lhe pediu que tirasse Levy do cargo, destacando que o ex- presidente não tem qualquer constrangimento em dizer o que pensa:

— Ele nunca me pediu nada. O presidente Lula, quando quer uma coisa que diz respeito a posições dele, não tem o menor constrangimento em falar comigo. Então, eu não posso tomar pelo valor de face o que está sendo dito. (...) Ele jamais disse isso para mim.

A presidente disse ainda não concordar com o presidente do PT, Rui Falcão, que, em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”, defendeu mudanças na política econômica e a saída de Levy, caso ele não concorde.

Referindo- se ao PT como um partido da base aliada, Dilma disse que a opinião de Falcão não é a do governo:

— Eu acho que o presidente do PT pode ter a opinião que ele quiser, algo que não é a opinião do governo. Então, a gente respeita a opinião do presidente do PT, até porque ele é o presidente do partido que integra a base aliada, do partido mais importante. Mas isso não significa que ela seja a opinião do governo.

Dilma destacou que é preciso conseguir aprovar no Congresso, até o fim do ano, várias medidas que garantam a meta fiscal de 2016, sendo a principal delas a volta da CPMF. Isso, no entanto, é pouco provável. Tanto que o relator da peça orçamentária do ano que vem, deputado Ricardo Barros ( PP- PR), já declarou que não vai incluir a previsão de arrecadação decorrente da CPMF, de R$ 32 bilhões, na proposta a ser votada, alegando que essa é uma receita incerta. O governo, no entanto, vai insistir na medida.

Sem a contribuição, afirmou a presidente, será muito difícil estabilizar as contas públicas:

— Sem a CPMF isso é muito difícil. Não vou dizer que é impossível. Mas está no grau de dificuldade máximo.

A presidente fez um mea- culpa a respeito da política de desonerações implementada em seu primeiro mandato e admitiu que o governo gastou além do desejável. A redução de tributos foi um dos fatores responsáveis pela forte queda na arrecadação e pela dificuldade do governo para conseguir realizar a meta fiscal de 2014 e de 2015.

— No meu primeiro governo, um dos fatos que levaram à nossa dificuldade agora é que tivemos um nível de desoneração para além do que era desejável — reconheceu Dilma, acrescentando que não tinha como saber que no futuro haveria “o fim do superciclo das commodities e que a China iria desacelerar nessa proporção”.

Aumento de imposto é preciso
Com a arrecadação em queda livre e despesas engessadas, a equipe econômica enviou ao Congresso a proposta orçamentária de 2016 com uma previsão de déficit de R$ 30,5 bilhões. A decisão foi duramente criticada pelo mercado e levou a agência de classificação de risco Standard &Poor’s a rebaixar o Brasil e a retirar do país o grau de investimento, selo de bom pagador. Na semana passada, outra agência, a Fitch, também rebaixou o país, mas sem perda do grau de investimento.

Por isso, o governo tenta reequilibrar o orçamento de 2016 com medidas que garantam uma meta de superávit primário ( economia para o pagamento de juros da dívida pública) de 0,7% do Produto Interno Bruto ( PIB, soma de bens e serviços produzidos no país). A volta da CPMF é a mais importante delas.

O único encontro entre Dilma e Levy na sexta- feira também teve a presença dos ministros da Casa Civil, Jaques Wagner, e do Planejamento, Nelson Barbosa. Os três falaram sobre o orçamento de 2016 e sobre as contas de 2015. O governo já sabe que não conseguirá atingir a meta de 0,15% do PIB fixada para este ano e terá que pedir ao Congresso uma nova alteração do texto.

— O Brasil precisa aprovar a CPMF para que a gente tenha um ano de 2016 estável, do ponto de vista do equilíbrio das nossas finanças. Nós discutimos, sobretudo, isso. Como iremos assegurar que não só a CPMF, mas a DRU ( Desvinculação de Receitas da União), todas essas medidas fiscais que nós enviamos, sejam aprovadas — disse a presidente destacando que não queria aumentar impostos. — Não estamos aumentando impostos porque queremos, estamos aumentando impostos porque precisamos.

Dilma afirmou que o maior problema do governo é estabilizar a economia e garantir que o país volte a crescer. Questionada se não seria a crise política, ela disse que uma coisa se relaciona à outra:

— A crise politica é um componente hoje da econômica. As duas são importantes de serem resolvidas. Pode ser que, melhorando o quadro político, melhore o quadro econômico, mas não é automático.

‘ Lamento que seja com um brasileiro’, diz Dilma sobre Cunha

• Presidente nega que contas secretas do deputado na Suíça constranjam país

- O Globo

BRASÍLIA - Após delator acusar o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral, já são 62 os políticos investigados. Sobre Eduardo Cunha, a presidente Dilma lamentou, ontem, que “seja um brasileiro” envolvido com contas secretas na Suíça. - BRASÍLIA- Em viagem oficial à Suécia, a presidente Dilma Rousseff lamentou, ontem, diante da repercussão internacional, que o escândalo das contas secretas na Suíça mantidas pelo presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha ( PMDBRJ), envolva um brasileiro. O peemedebista nega ser o titular das contas, apesar de documentos repassados ao Brasil pelo Ministério Público da Suíça mostrarem que Cunha usou passaporte diplomático, endereço residencial no Rio e telefones da Câmara e do Palácio do Planalto para abrir as contas naquele país.

Questionada em entrevista coletiva se causava constrangimento a repercussão internacional do caso Eduardo Cunha, a presidente respondeu:

— Seria estranho que causasse. Ele não integra o meu governo. Eu lamento que seja um brasileiro, se é isso que você está perguntando. Eu acho que se distingue perfeitamente, no mundo, o país de qualquer um de seus integrantes. Nenhum país pode ser julgado por isso ou aquilo. Eu lamento que aconteça com um brasileiro, com um cidadão brasileiro.

Dilma negou que o governo tenha negociado um acordo com o presidente da Câmara para evitar a abertura de um processo de impeachment, em troca da preservação do mandato de Cunha. O PSOL e a Rede protocolaram representação contra ele no Conselho de Ética da Casa.

— Eu acho fantástico essa conversa de que o governo está fazendo acordo com quem quer que seja. Até porque o acordo do Eduardo Cunha não era com o governo, era com a oposição, e é público e notório. Até na nota aparece ( nota em que a oposição defende o afastamento de Cunha do cargo). Acho estranho atribuírem ao governo qualquer tipo de acordo que não seja acordo que se faz com presidente de Poder para passar CPMF, DRU, MPs — afirmou a presidente, referindo-se à pauta legislativa.

Dilma não quis opinar sobre a permanência ou não de Cunha na presidência da Câmara nem sobre as liminares concedidas pelo Supremo Tribunal Federal ( STF), na semana passada, suspendendo o rito estabelecido pelo peemedebista para a tramitação de pedidos de impeachment. Ela alegou serem assuntos do Legislativo e do Judiciário.

Tentativa de blindagem
Em conversa na segunda- feira passada, o presidente da Câmara pediu ao ministro Jaques Wagner ( Casa Civil) que o governo interferisse nas investigações contra ele, sua mulher e sua filha na operação Lava- Jato; no andamento de processo contra ele no Conselho de Ética da Câmara, e ainda na substituição do ministro José Eduardo Cardozo ( Justiça) pelo vice- presidente Michel Temer. Essas foram as condições colocadas para não deflagrar um processo de impeachment, de acordo com relato de Wagner a aliados. Tanto o ministro da Casa Civil quanto Cunha negam ter havido essa negociação.

O governo alegou não ter como entregar o que Cunha pedia, principalmente o controle das investigações do esquema de corrupção na Petrobras. A presidente Dilma também resiste em rifar Cardozo, o que já foi pedido pelo ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que acusa o ministro de ter perdido o controle da Polícia Federal.

Cunha estava especialmente preocupado em tentar blindar sua mulher e sua filha. Documentos enviados pela Suíça e que estão em poder da Procuradoria- Geral da República revelaram que as contas do presidente da Câmara naquele país foram abastecidas com dinheiro desviado da Petrobras e financiaram gastos pessoais de sua família no exterior.

Após a conversa entre Cunha e Wagner, a situação do presidente da Câmara se agravou. A pedido do procurador- geral da República, Rodrigo Janot, o ministro Teori Zavascki, do STF, autorizou, na última quinta- feira, a abertura de novo inquérito para investigar se Cunha, a mulher dele, Cláudia Cruz, e a filha do casal, Danielle Dytz da Cunha Doctorovich, têm dinheiro em contas na Suíça não declaradas.

Janot também enviou ao tribunal uma ampliação da denúncia já apresentada contra o presidente da Câmara em agosto. O pedido tem como base a delação premiada do lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano. Em um dos depoimentos da delação, Baiano disse que entregou entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão em espécie ao presidente da Câmara, como informou o “Jornal Nacional”, da Rede Globo.

O dinheiro repassado a Cunha seria parte de propina de US$ 40 milhões que Julio Camargo, outro delator, confessou ter pagado ao parlamentar e a outros investigados em troca da compra de dois navios- sonda da Samsung Heavy Industries pela Petrobras. Baiano disse que entregou o dinheiro no escritório de Cunha, em outubro de 2011, a um homem identificado como Altair.

Cunha já responde a outro inquérito no STF em decorrência da Lava- Jato. Ele foi denunciado pelo procurador- geral da República por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O presidente da Câmara nega todas as acusações.

Depois de já dar como certa a deflagração de um processo de impeachment, o governo ganhou fôlego na última terça- feira quando o STF concedeu as liminares suspendendo o rito estabelecido por Cunha, o que freou as articulações para tentar derrubar Dilma. Tanto o governo quanto Cunha querem tempo. O Planalto para tentar reconstruir sua base aliada e garantir os votos necessários se o processo de impeachment for aberto. E o presidente da Câmara porque, a partir do momento em que tomar uma decisão sobre esse assunto, deve ser abandonado pela oposição.

Deputado afirma que resposta ‘ será inevitável’

• Aliados do presidente da Câmara acham que reação pode ser aprovar pedido de impeachment

Simone Iglesias, Maria Lima e Fernanda Krakovics - O Globo

- BRASÍLIA- As declarações da presidente Dilma Rousseff, ontem, em Estocolmo, devem dificultar a semana do governo no Congresso. Com a necessidade de ambos os lados ganharem tempo, a expectativa até o fim de semana era de que Cunha segurasse a análise do novo pedido de impeachment de Dilma que será apresentado amanhã pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reali Júnior. Ontem à tarde, no entanto, o cenário mudou e o Palácio do Planalto corre o risco de ter desperdiçado o fôlego conquistado.

Segundo pessoas próximas a Cunha, ele ficou irritado com as declarações e não descartam que ele dê “um cavalo de pau”, deferindo a ação contra Dilma. Auxiliares presidenciais, por sua vez, buscam consertar o potencial estrago causado pela presidente a milhares de quilômetros de casa. Os governistas passaram a ver com pessimismo os próximos passos de Cunha:

— Será uma semana de alta adrenalina. Ela botou fogo no estopim da bomba da cassação. No governo, tem sido assim: apagar o incêndio criado por ele mesmo — disse um ministro que pediu reserva ao GLOBO.

Em conversas com aliados ontem à tarde, Cunha disse que não iria “colocar pilha” pelo áudio da entrevista de Dilma que ouviu, mas que deverá respondêla hoje quando chegar na Câmara, depois de avaliar os detalhes da fala da presidente pelas matérias publicadas na imprensa.

— Será inevitável responder — disse Cunha.

Risco de deferimento é alto
Interlocutores do presidente da Câmara dizem que ele não descarta deferir o impeachment, e que tratará da abertura de um eventual processo como algo absolutamente natural, já que é esperada a apresentação de um documento com substância jurídica.

— Não tenha dúvida de que o risco de Eduardo deferir o pedido de Bicudo depois de ser atacado por Dilma é alto. Ele pode ampliar a crise para que seu desgaste seja diluído. Teremos fortes emoções aí pela frente. A situação dele é insustentável, e nós não vamos segurar. Vai perder a presidência da Câmara ou o mandato, ou os dois, dependendo da evolução do quadro. Ele iniciou um namoro com a oposição, que estava interessada em aprovar o pedido de impeachment. Depois, migrou para o governo. Foi abandonado e agora não tem mais conversa com a gente — disse um dos líderes da oposição que ainda mantém diálogo com o presidente da Câmara.

Um dos mais próximos interlocutores de Cunha, o líder do PSC, deputado André Moura ( SE), disse que o presidente da Câmara já sabe exatamente o que fazer quanto ao andamento do impeachment.

— Não vou dizer que ele está tranquilo porque a situação é muito delicada. Mas se mostra consciente de tudo e está sabendo exatamente os próximos passos que irá tomar — disse Moura, que vai se reunir com o presidente da Câmara hoje, em Brasília.

Apesar da avaliação de aliados de que sua situação é frágil porque o processo pode ser contaminado por falta de credibilidade, um peemedebista afirmou ontem que o estilo de Cunha é de se manter em posição de ataque quando ameaçado.

Aécio critica decisão de cortes em sete programas sociais do governo

• Para dirigente do PSDB, presidente deve explicar ‘ a conta que sociedade está tendo que pagar’

- O Globo

- BRASÍLIA- O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves ( MG), criticou a decisão do governo Dilma Rousseff de cortar recursos de sete programas sociais: Minha Casa Melhor, Farmácia Popular, Fies, Ciências sem Fronteiras, Pronatec, Água para todos e aquisição de alimentos, conforme reportagem do GLOBO publicada ontem. O tucano disse que Dilma não teve coragem de vir a público explicar os cortes de programas inflados para sua reeleição à Presidência.

— Lamentavelmente, o que ocorre no Brasil, hoje, prova o uso meramente eleitoral de programas sociais que poderiam auxiliar as famílias brasileiras. Mesmo com o corte drástico de pelo menos sete programas essenciais para a população, ainda falta à presidente coragem para vir a público assumir a responsabilidade de seu governo pela conta que a sociedade está tendo que pagar — criticou Aécio em sua página nas redes sociais.

‘Lula é corresponsável’
Em entrevista publicada ontem no jornal argentino La Nación, Aécio afirmou que o governo e setores próximos ameaçam com a possibilidade de convulsão social em caso de aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff.

— Essa é sempre a ameaça dos regimes totalitários e populistas. Quando esses regimes se enfraquecem, e em nossa região temos vários exemplos, particularmente o da Venezuela, começam com esse discurso divisionista do “nós contra eles” e “elites contra pobres”, buscando gerar mais conflitos para se agarrar ao poder. E são os supostos beneficiários desses regimes, os mais pobres, que pagam mais caro pela incompetência da gestão econômica: desemprego, inflação, desabastecimento. São coisas que vemos em alto grau na Venezuela, mas que também começam a ocorrer no Brasil — disse Aécio.

Questionado se o ex- presidente Lula tem responsabilidade pelo que está ocorrendo no Brasil, Aécio respondeu que tanto Lula quanto Dilma têm responsabilidades que não podem ser transferidas, e que o dinheiro da corrupção usado para financiar o projeto do PT foi usado também para o enriquecimentos pessoais:

— Lula é corresponsável porque foi quem, em 2010, utilizou todo seu poder para eleger Dilma, que não estava preparada para ser presidente. Corrompeu o Estado para que o PT se mantivesse no poder, mas o dinheiro que controlaram era tanto que sobrou para o enriquecimento ilícito de muitos.

Para Planalto, impeachment se esvazia

Por Rosângela Bittar, Marcos de Moura e Souza e Raphael Di Cunto – Valor Econômico

BRASÍLIA e BELO HORIZONTE - O risco do impeachment foi contido, mas não passou, e o governo não desligou seus alarmes. Fatores de agravamento da crise, como a difícil situação da economia e a Operação Lava-Jato, persistem. O governo considera que obteve alguns trunfos, como a reforma ministerial, que deu fôlego à presidente e o agravamento da situação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que tem a atribuição de acolher pedidos de impeachment. Não só o surgimento de provas agravou a desdita de Cunha, como a abertura de mais inquéritos, o tratamento agressivo a ele dado pelo Ministério Público, bem como a ação forte, rápida, do STF. Para alguns tucanos e aliados, o impeachment "subiu no telhado".

Governo vê impeachment se esvaziar, mas receia fatores imponderáveis

Dilma, na Suécia: para Planalto risco maior já passou, mas há receios sobre Lava-Jato, economia e base aliada

O governo registra que conseguiu, sobretudo pela ação da última semana, domar bem o impeachment, que estava agudo. Mas, sabe que não o matou, ainda. Nem os mais otimistas ministros creem que já podem cruzar os braços, e os pessimistas, então, mantêm a pressão sobre a política em nível máximo.

A vitória, então, está sendo cantada por quê? Especialmente são três as razões para celebrar, como também são três aquelas que levam o governo a ter cautela.

A primeira, do êxito no combate ao impeachment, é que a presidente conseguiu fazer uma reforma ministerial que lhe deu um pouco de ar, mudou o clima, trocou o discurso porque afastou algumas personalidades que cultivam o atrito, e o governo ficou mais cordial, pouco impositivo, nada irracional, passando a ideia de ter se tornado tolerante e negociador. A reforma, porém, está incompleta, não atendeu a uma necessidade básica. Para ter efeito forte, a presidente precisaria surpreender, e não o fez.

Dilma tem um Palácio novo, mais político, mas continua sendo um Palácio do PT, fechado, e aí está o problema. As pessoas - outros partidos, a sociedade, as instituições - não estão dispostos a salvar o PT. Mas como melhorou muito o clima, ficou sendo uma grande reforma.

A segunda razão concreta para a descompressão é que o presidente do Senado, Renan Calheiros, retirou da pauta de votações os vetos presidenciais ao reajuste do Judiciário, adiando um teste dos efeitos da reforma sobre a consolidação da base de apoio no Congresso que poderia funcionar mal numa aplicação precoce. Não se imagina a intensidade do alívio nos partidos.

E a terceira foi o agravamento da situação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que tem a atribuição de acolher os pedidos de impeachment. Um agravamento representado não apenas pelo surgimento de provas, de abertura de novos inquéritos, do tratamento agressivo a ele dispensado pelo Ministério Público, bem como pela ação forte, rápida, do Supremo Tribunal Federal. Nunca se viu o STF agir dessa maneira, um absurdo estatístico na Corte.

O STF, que já havia interferido no exercício da presidência de Cunha ao derrubar o rito de apreciação das contas do governo, reprovou também o rito de tramitação do impeachment. Mais, tinha feito outras intervenções de peso, daquela vez no trabalho do juiz Sergio Moro, ao descentralizar a investigação da Lava-Jato, e ao aprovar habeas corpus para presos da cadeia de Moro. O governo avaliou, com dados concretos, que o conjunto da ação do STF lhe foi favorável.

E de maneira acintosa: passou-se a não mais esconder a orientação do ex-presidente do Supremo e ex-ministro da Justiça Nelson Jobim junto aos ministros do STF, e esses passaram a falar abertamente fora dos autos sobre o temperamento, o comportamento e o que não gostam na atitude do deputado. O presidente da Suprema Corte, Ricardo Lewandowski, desferiu ataques a Eduardo Cunha para quem lhe quisesse ouvir, pelos corredores.

Tendo que se virar com a avalanche impressionante de denúncias - ao que parece todo delator tem um arsenal contra o presidente da Câmara, ou terão também sobre outros mas o presidente da Câmara não tem companhia na berlinda do Ministério Público - Eduardo Cunha perdeu-se um pouco na negociação do impeachment, desvio ajudado pela percepção de que a oposição o deixaria sozinho depois que obtivesse o que queria. Com o aprofundamento de sua desdita, Cunha não pode reagir ao refluxo do impeachment, embora seu poder de ação não tenha sido exterminado pelo Supremo: mesmo nas cordas ainda impôs derrotas ao governo.

O risco do impeachment, porém, foi contido mas não passou, e o governo não desligou seus alarmes. Os fatores de agravamento da crise permanecem.

A primeira razão da permanência da instabilidade é a Operação Lava-Jato. Embora se multipliquem as vitórias sobre o juiz Sergio Moro, o resultado do trabalho desse grupo é imponderável para Lula, o PT, o governo, o PMDB, o PP e outros arrolados como fregueses do esquema da Petrobras. Uma das críticas mais ácidas que se fazem em Brasília aponta uma mistura equivocada de atribuições e tarefas em Curitiba entre o Judiciário, o Ministério Público e a Polícia Federal.

A segunda é que o fator econômico também continua imponderável. "Se alguém no mercado acha que o dólar pode chegar a R$ 5,00, é impasse para o governo, isso não pode acontecer". Depois, falta consistência à orientação econômica. "Não pode ter a política do Levy, do Nelson, do Delfim, da Unicamp, do Eduardo Cunha, do baixo clero da área de serviços (aqui se destacam as corporações da indústria, por exemplo, mencionadas jocosamente dentro do governo).

E a terceira é a razão política. A reforma ministerial tem que resultar em manutenção dos vetos, em aprovação de imposto. "A base ainda não passou por um batismo de fogo", diz interlocutor da presidente.

Na análise do governo sobre a sua própria situação, na política mais do que avaliar os fatos do momento é mais produtivo observar as tendências. "Os fatores que agravaram a crise permanecem, mas qual a tendência?" A tendência é a tese do impeachment esvaziar-se.

Planalto quer queda rápida do presidente da Câmara

Valdo Cruz, Gustavo Uribe, Débora Álvares – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Para tentar evitar um cenário de paralisia, o Palácio do Planalto vai orientar seus aliados no Congresso a trabalhar por um desfecho rápido da crise que atingiu o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

A equipe da presidente Dilma Rousseff avalia que o melhor é acelerar uma saída de Cunha do comando da Casa, costurando nos bastidores para que a presidência da Câmara continue com o PMDB.

Segundo assessores presidenciais, a situação de Cunha ficou insustentável com as novas revelações sobre suas contas na Suíça, mas o governo teme que o deputado consiga se manter no comando da Casa até o fim do ano.

Nesta hipótese, o Planalto teme que votações de seu interesse, como a renovação da DRU (mecanismo que desvincula receitas da União) e o Orçamento de 2016, fiquem paralisadas, contribuindo para agravar a crise econômica.

O governo sabe que Cunha tentará resistir e seguirá ameaçando acatar um pedido de impeachment contra Dilma. Avalia, porém, que ele perdeu credibilidade para comandar o processo.

A expectativa é que até a oposição passe, de forma mais veemente, a cobrar a saída do peemedebista para preservar a imagem da Câmara.

O comando do PMDB também avalia como inevitável a saída de Cunha e já discute nomes para substituí-lo.

O partido, que não pretende abrir mão na indicação para o posto, tem buscado uma alternativa "independente", que possa favorecer um consenso entre os grupos da sigla favoráveis e contrários ao apoio do PMDB ao governo.

Para evitar que Cunha tenha controle do processo e faça um sucessor, a cúpula do partido pretende levar a discussão para a Executiva Nacional do PMDB, com as participações das bancadas na Câmara e no Senado.

Se Cunha realmente renunciar, como é a aposta da maioria da legenda, quem assume é o vice, Waldir Maranhão (PP-MA). Ele teria cinco sessões para convocar novas eleições. O eleito assumiria o comando da Câmara pelo tempo que restaria a Cunha, ou seja, até janeiro de 2017.

O comando do PMDB sabe que o líder da bancada na Casa, Leonardo Picciani (RJ), irá pleitear o cargo, mas considera improvável que ele consiga apoio suficiente para viabilizar seu nome depois de ter batido de frente com os deputados para indicar dois ministros na reforma ministerial.

Na tentativa de conseguir um consenso, tem ganhado força a indicação de "nomes históricos" da legenda que sejam independentes, mas que passem a imagem de estabilidade diante da crise política. Nessa linha, são lembrados Osmar Serraglio (PR), que relatou a CPI dos Correios, e José Fogaça (RS), que já foi prefeito de Porto Alegre.

O ex-governador de Pernambuco Jarbas Vasconcelos é também cotado e tem o apoio da oposição. Por já ter defendido a renúncia da presidente Dilma, no entanto, sofre resistência de peemedebistas governistas.

Em outra frente, Cunha articula dois nomes próximos a ele: Jovair Arantes (PTB-GO) e Andre Moura (PSC-SE). Sua intenção é manter no comando da Câmara um nome que siga suas orientações e garanta o apoio do chamado baixo clero, os deputados com pouca expressão política.

No momento, porém, nem aliados e auxiliares de Cunha acreditam que ele tenha condições de fazer um sucessor.

Há também outros nomes com interesse em assumir a Câmara, mas que têm pouca força: Silvio Costa (PSC-PE), Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Alessandro Molon e Miro Teixeira, ambos da Rede-RJ.

Para aliados de Aécio, ação anti-Dilma 'subiu no telhado'

Por Marcos de Moura e Souza - Valor Econômico

BELO HORIZONTE - A oposição errou ao achar que seria mais fácil do que de fato tem sido afastar a presidente Dilma Rousseff (PT). A avaliação é do deputado federal Paulo Pereira da Silva (SD-SP), aliado do senador Aécio Neves (PSDB-MG) no embate com governo. Segundo o deputado, o impeachment "subiu no telhado".

Suas opiniões são semelhantes às que correm agora entre nomes de destaque do próprio PSDB, em conversas a portas fechadas. "O impeachment, no curto prazo, acabou", resumiu um deles ao Valor.

"A gente estava fazendo impeachment pela imprensa e ninguém consegue fazer impeachment pela imprensa. Na hora que você fala que vai fazer, o adversário se prepara. O governo Dilma não tem mais força política", afirmou Silva à reportagem, mas teria o que chama de "ramificação" em todos os poderes da República. "Nós subestimamos um pouco isso. Achávamos que era muito mais fácil tirar a Dilma do poder do que está sendo."

O parlamentar diz que os oposicionistas colaboraram para esvaziar a pressão contra Dilma quando emitiram, dias atrás, uma nota que pedia a saída do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da Câmara. Cunha era visto como aliado-chave na estratégia pelo impeachment. "Foi um erro grave que fez com que o impeachment subisse no telhado." O próprio Silva incluiu seu nome na nota, mas diz que se arrependeu.

Cunha vem sendo apontado como dono de conta suspeita na Suíça que teria movimentado dinheiro de propina em contratos da Petrobras. As evidências contra ele dividiram a oposição.

Silva insiste que é preciso apoiar Cunha. "Para mim está claro: se cair o Eduardo, não tem impeachment. E o governo sabe disso e está jogando tudo para tirar ao Eduardo. Nós vamos manter o apoio a ele porque nosso objetivo principal é derrubar a Dilma", disse ele, na sexta. No domingo, apesar de novas notícias que complicam Cunha, Silva disse sobre sua posição em relação ao peemedebista: "Nada mudou".

Mas um tucano vê Cunha cada vez mais enfraquecido e as chances de um impeachment se reduzirem quase a zero. Pesou também contra o plano, a reforma ministerial que ampliou a base de Dilma.

Em conversas reservadas, tucanos têm dito que convém claramente a Aécio que a tese de impeachment vá murchando porque se prosperar, ele, como presidente do PSDB, será pressionado a levar o partido a apoiar ou participar de um governo de Michel Temer (PMDB), no qual provavelmente medidas antipopulares continuariam a ser tomadas. O PSDB passaria a ser vidraça.

Aécio ainda parece acalentar esperança de que Dilma e Temer tenham de deixar seus cargos por supostas irregularidades nas doações para a chapa dos dois em 2014. Isso levaria a eleições antecipadas. É um cenário, no entanto, visto com ceticismo por parte dos tucanos e também por aliados.

"Para tirar Dilma dá esse trabalho todo, imagina tirar o Michel junto", diz Paulo Pereira da Silva. "Nós não temos força para fazer um governo sem o PMDB. O PSDB sonhou com isso [impugnação de Dilma e Temer], mas eu não acredito."

Ao falar da ação penal no STF na qual é acusado de participar de um esquema de desvios de recursos do BNDES, o deputado diz que o governo tenta "enfiar todos na lama": "É um processo que não tem muito fundamento e que tenho certeza de que vou ganhar no Supremo."

Operação Lava- Jato já envolve 62 parlamentares e dirigentes de partido

• PP é a legenda com mais acusados: 31; enquanto PT e PMDB têm 12 cada um

Evandro Éboli - O Globo

- BRASÍLIA- O número de políticos envolvidos no escândalo da Petrobras, derivado da Operação Lava- Jato, já chega a 62 parlamentares, ex- parlamentares, dirigentes de partido, ministros e governadores. Entre os envolvidos têm os que, até agora, foram apenas citados por delatores, os investigados — que respondem a inquérito —, os denunciados — com maiores indícios de envolvimento — e os condenados e presos.

Os investigados formam o maior grupo, 48 ao todo. Parlamentares com mandato respondem a inquéritos no Supremo Tribunal Federal ( STF) — 31 deles — , os governadores, no Superior Tribunal de Justiça ( STJ), e os demais, sem mandato, na primeira instância. Sete meses depois de conhecida a "lista de Janot" — do procurador- geral da República, Rodrigo Janot —, em março deste ano, e com a determinação de abertura de inquérito pelo ministro Teori Zavascki, relator do caso no STF, esses investigados vivem a expectativa do desfecho do caso. Eles têm prestado depoimentos, encaminhado documentos e aguardam a manifestação da Polícia Federal, que comanda a investigação ainda em curso. Em muitos casos, a PF tem solicitado mais prazos no inquérito ou quebras de sigilos bancário, fiscal e telefônico.

Até o momento, foram seis os denunciados pelo procurador- geral, entre eles, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ) e o expresidente da República, Fernando Collor de Mello ( PTB). Dois políticos já foram condenados e estão presos: o ex- deputado petista André Vargas e o ex- tesoureiro do partido, João Vaccari. Estão presos mas ainda não foram julgados o ex- ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex- deputado Luiz Argôlo, que era filiado do Solidariedade.

Os outros quatro da lista são os que foram citados na delação premiada do lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, e seus nomes vieram à tona na semana passada: o senador e presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL), o líder do governo, no Senado, Delcídio Amaral ( PT- MS), e Jader Barbalho ( PMDB- PA), além do ex- ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau, que ocupou o cargo no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Os envolvidos na Lava- Jato são ou já foram filiados a sete partidos. O Partido Progressista ( PP) continua no topo da lista, com 31 políticos; PT e PMDB têm, cada um, 12; o PSB tem 2; o PSDB, o PTB e o Solidariedade, um cada; e dois estão sem partido.

Investigações ainda no início para o caso de três senadores

• MPF aguarda indícios que seriam apresentados por Fernando Baiano

- BRASÍLIA- Os políticos envolvidos na Lava- Jato negam participação no caso, independentemente do tipo de acusação que pesa contra cada um. Entre os envolvidos, os processos seguem r itmos distintos. Há casos como os de André Vargas e João Vaccari, que já foram condenados e estão presos, e outros em que os procedimentos de investigação ainda estão no início, como os dos senadores Renan Calheiros, Jader Barbalho e Delcídio Amaral, além do ex- ministro Silas Rondeau. Fernando Baiano citou os quatro e terá que apresentar indícios do envolvimento deles. Se forem contundentes, o Ministério Público poderá pedir ao STF que os parlamentares sejam investigados.

O senador e ex- governador de Minas Gerais Antônio Anastasia ( PSDB) já passou pela sensação de preocupação e de alívio, mas continua na expectativa. O tucano é investigado no STF sob a suspeita de que um emissário do esquema teria entregue pessoalmente a ele o valor de R$ 1 milhão. O procurador- geral da República não entendeu haver provas suficientes contra Anastasia e pediu o arquivamento do inquérito contra ele no Supremo. Mas a Polícia Federal requisitou ao ministro Teori Zavascki mais prazo para investigar novas informações.

Cerca de US$ 1,5 para Delcídio
Delcídio Amaral também experimentou momentos distintos. Ele vive um vai e vem no caso. Primeiro, foi envolvido no caso mas, o STF, em março, arquivou a investigação. Ele era apontado como beneficiário do esquema pelo ex- diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Delcídio comemorou a decisão. Agora, é citado por Fernando Baiano por, supostamente, ter recebido US$ 1,5 milhão na negociação da refinaria Pasadena.

O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão ( PMDB), e o ex- governador do Rio Sérgio Cabral Filho também estão na expectativa. Eles são alvos de inquérito no Superior Tribunal de Justiça ( STJ), por suposto envolvimento no caso. A Polícia Federal encaminhou documento ao STF pelo arquivamento dos dois por falta de provas.

Conquistas do real em risco

• Rubens Ricupero, ex- ministro da Fazenda de Itamar Franco, alerta para indicadores econômicos ruins

• Para Ricupero, o aumento da inflação e a tentativa do PT de derrubar Joaquim Levy, atual titular da pasta, ameaçam as conquistas obtidas com o Plano Real

Monica Gugliano - O Globo

Ministro da Fazenda de Itamar Franco, Rubens Ricupero vê riscos às conquistas do Plano Real, relata O embaixador Rubens Ricupero tem uma fisionomia que remete à imagem de um religioso. O olhar tranquilo, a fala suave, mas enfática. O presidente Itamar Franco recordava que o embaixador fora o primeiro nome em quem pensara para conduzir a economia quando tomou posse interinamente, em outubro 1992. Na época em Washington, Ricupero preferiu ficar naquele que sempre foi o principal posto brasileiro no exterior. Dois anos depois, acabou aceitando o convite. Na história do Plano Real, que agora, será recontada no Memorial da República Itamar Franco, o diplomata aparece ao lado de Itamar, sorridente, segurando a nova moeda: o real. Itamar o chamava de “o sacerdote do real”. Hoje, Ricupero teme que a estabilidade alcançada com tanto trabalho seja perdida.

— O Plano Real e todas as conquistas que ele nos trouxe correm perigo. A inflação rompeu o patamar simbólico dos dois dígitos. E, se O PT e o ex- presidente Lula, como os jornais noticiam, pretendem tirar da Fazenda Joaquim Levy, o dia de amanhã será pior que o de hoje — alertou.

Itamar Franco convidou Ricupero para a Fazenda novamente quando o então titular da pasta, Fernando Henrique Cardoso, teve que deixar o cargo. FH, estimulado pelo presidente, disputaria a sucessão ao Palácio do Planalto. O sociólogo fez aliança com o PFL e o PTB, e ficou em segundo lugar nas pesquisas até a metade do ano. O sucesso da moeda, lançada em julho, e a desconfiança que o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, despertava nos agentes econômicos decidiram a eleição, e FHC venceu.

Até chegar a Fernando Henrique — que liderara uma equipe de economistas para criar o Plano Real — e, depois, nomear Ricupero, Itamar já tivera outros três ministros da Fazenda. O primeiro, o advogado pernambucano Gustavo Krause, mal completou dois meses na função. Depois, foi o economista mineiro Paulo Haddad que, até então, ocupara o Ministério do Planejamento. Menos de cem dias depois, outro ministro: o engenheiro civil e mineiro Eliseu Resende ( morto em 2011).

— Ele estava no cargo e veio a denúncia de que tinha ligações com a construtora Odebrecht. Não havia nada a fazer senão trocá- lo — contou o presidente do Instituto Itamar Franco, Marcelo Siqueira.

O ministro da Fazenda, soube Itamar pelos jornais, viajara a Nova York com as passagens e o hotel pagos pela construtora Odebrecht. Ele chamou Resende, e a conversa foi curta: “Tenho muito apreço pelo senhor. Mas ministro do meu governo não viaja com os custos pagos por empreiteiras”, disse.

Itamar, afirmam ex- colaboradores e amigos, tinha duas obsessões. A primeira era implementar um plano social de combate à fome. Criou o Conselho de Segurança Alimentar ( Consea), organismo ligado à presidência que tinha entre seus integrantes o sociólogo Herbert de Souza ( o Betinho), e é considerado o precursor das políticas compensatórias dos governos petistas, como o Bolsa Família, e do Programa Fome Zero, do governo FHC.

— Ele achava que o governo tinha que lutar contra a desigualdade brasileira, por isso também era imprescindível terminar com a inflação — observou Ricupero.

Ao convidá- lo, recorda o diplomata, o presidente só lhe pedira que mantivesse a equipe de Fernando Henrique e levasse o Plano Real adiante. Ricupero assim o fez. Lidou com a maior habilidade possível com Itamar, que insistia num congelamento de preços e se recusava a conversar com os economistas da Fazenda indicados por FH. Negociou com o Congresso, conversou com empresários e sindicatos. Fez palestras e deu entrevistas. Até que, numa delas, a Carlos Monforte, da TV Globo, já em plena campanha eleitoral, escorregou e disse: “O que é bom a gente mostra; o que é ruim gente esconde”.

— Foi um momento terrível, do qual me penitencio até hoje. A frase vazou pelas antenas parabólicas. Se é possível justificar ou explicar, eu estava dizendo o que é mais ou menos óbvio. Ninguém quer contar o que é ruim — disse o embaixador.

A frase era injustificável. Ricupero mesmo tomou a iniciativa de deixar o cargo. A campanha estava no auge, e Itamar convidou o então governador do Ceará, Ciro Gomes, para a Fazenda. Ciro, como fizera seu antecessor, levou adiante as medidas até a eleição de Fernando Henrique.

Então, toda uma geração cresceu sem saber o que era a inflação que tanto incomodava Itamar.

Piora previsões para inflação e PIB em 2015 e 2016

Por Ana Conceição – Valor Econômico

SÃO PAULO - As expectativas para a inflação neste e no próximo ano continuam a se deteriorar e, com isso, o mercado espera uma queda menor na taxa de juros em 2016, de acordo com o boletim Focus, do Banco Central. As previsões para a atividade econômica também pioraram.

De acordo com a pesquisa semanal do BC, a mediana das previsões para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para este ano subiu de 9,70% para 9,75% e, para o próximo, saiu de 6,05% para 6,12%. Em 12 meses, a estimativa subiu de 6,24% para 6,27%. Assim, a previsão para o IPCA em 2016 se aproxima do teto da meta, de 6,5%. Há apenas quatro semanas, a expectativa era de que a inflação subisse 5,70% no período.

Apesar de o IPCA estar chegando próximo aos 10%, os analistas não acreditam numa alta de juros este ano. A taxa Selic está atualmente em 14,25%. Na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, decide se ela continuará neste nível.

Para 2016, o mercado ainda vê uma redução na Selic, mas menor do que se esperava antes. Agora, a expectativa é que a taxa caia a 12,75% ao fim do ano que vem. Na semana anterior, a aposta estava em 12,63% e, há um mês, em 12,25%.

A inflação tem sido pressionada pela desvalorização do câmbio e também pela alta dos preços administrados, como energia elétrica e gasolina. Em 2015 esses preços devem subir 16% e, em 2016, 6,35%, taxas acima da inflação prevista para ambos os períodos. No Focus, os analistas não mexeram na previsão para o dólar em 2015 (R$ 4,00), mas reduziram ligeiramente a estimativa para 2016, de R$ 4,15 para R$ 4,13.

Entre os analistas Top 5, a mediana das estimativas de médio prazo para o IPCA deste ano subiu de 9,61% para 9,81%. Para o próximo, seguiu em 6,72%. Quanto à Selic, as projeções são as mesmas do mercado em geral.

Atividade
Enquanto a inflação sobe, a atividade cai. A previsão para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano saiu de queda de 2,97% para retração de 3% e a do próximo ano cedeu de menos 1% para recuo de 1,22%. A produção industrial deve cair 7% em 2015 e 1% em 2016, estimativas inalteradas.

Os dados mais recentes sobre a economia indicam uma deterioração maior que a esperada. Na sexta-feira, o BC divulgou seu Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), que veio pior (-0,76%) que o previsto (-0,6%) em agosto ante julho, e reforçou a expectativa de recuo de 3% no PIB deste ano, segundo economistas.

Ainda na semana passada, o IBGE informou que as vendas do varejo restrito caíram 0,9% em agosto, bem mais que o 0,6% esperado. O tombo no ano chega a 3%. Em 12 meses, a 1,5%. Inflação e desemprego em alta continuam a afetar o setor, que teve o pior agosto desde 2000, disse o IBGE. Os serviços tiveram queda real de 3,5% no mês e de 1,1% em 12 meses. Para a FGV, o recuo de serviços indica que a retração da economia está se acelerando. Aqueles prestados às famílias recuaram 8,2%.

Em meio à série de dados negativos, a Fitch rebaixou a nota brasileira, de BBB para BBB-, com perspectiva negativa, citando o peso da dívida pública, piora no cenário econômico e desafios na consolidação fiscal.

Aécio Neves - A marca do PT

-Folha de S. Paulo

É inconcebível o que o PT tem feito ao Brasil. Sob qualquer ponto de vista –econômico, político, ético–, o que assistimos é a revelação estarrecedora da dimensão do fracasso petista. Que algo ia mal já se sabia havia muito tempo, mas é inacreditável a magnitude do precipício em que fomos jogados.

A combinação letal de sandice econômica, demagogia política e irresponsabilidade gerencial provocou uma derrocada gigantesca que nos custará anos de sacrifício para ser superada. Essa é a verdade, nua e crua.

Vejamos algumas notas tristes das últimas semanas: um milhão de empregos foram eliminados neste ano, a inadimplência atinge mais da metade das empresas brasileiras, 26 dos 27 Estados encontram-se em recessão, o país lidera a fuga de capital entre os países emergentes. A lista de números negativos é enorme.

O governo mentiu ao governar, mentiu para se reeleger, mente agora para se defender. Chega a ser patético o ir e vir de posições oficiais: num dia, o governo nega de pés juntos a existência das famosas pedaladas fiscais; no outro, ao ser condenado por unanimidade pelo Tribunal de Contas da União, alega que elas foram cometidas para manter os benefícios sociais.

A verdade é que os programas sociais como Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida não somaram nem 4% da despesa primária do governo central. O maior volume de pedaladas foi a conta de R$ 50 bilhões de subsídios concedidos e ainda não pagos pelo Tesouro a grandes empresas pelo governo, via bancos públicos.

O PT sempre desprezou a Lei de Responsabilidade Fiscal. O ideário petista não prioriza o equilíbrio das contas públicas com o pretexto do discurso do atendimento aos mais pobres. Falácia. A máscara caiu. São os programas sociais que atendem aos mais vulneráveis, os que mais sentem as consequências dos desatinos cometidos ao longo dos últimos anos. Educação e saúde foram áreas que tiveram grandes cortes. A inflação cresce, e o Bolsa Família não tem reajuste há mais de um ano.

O PT errou grosseiramente nos fundamentos econômicos. E quem paga a conta são os mais pobres.

Infelizmente o governo não tem respostas críveis. A orquestrada verborragia de suas lideranças procura mais uma vez separar o Brasil entre "eles" e "nós". O discurso da vitimização, de tão usado, já não surte efeito. É impossível salvar o que foi destruído: reputação e confiança.

Não há esteio moral para quem herdou um país arrumado, respeitado, na boa trilha do crescimento, e o coloca agora nesse estado de desequilíbrio, sem credibilidade, à deriva. Com tantas barbeiragens, quem rebaixou o Brasil não foram as agências de risco A ou B. Foi o governo do PT.
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Aécio Neves, senador e presidente nacional do PSDB

José Roberto de Toledo - Instável e perene

- O Estado de S. Paulo

Inflação acelerando, dólar subindo 50% em nove meses, taxa de desemprego acima de 7%, PIB encolhendo, mau humor crescente, maioria achando o governo ruim ou péssimo e o "Fora presidente" na rua. É assim em 2015, foi assim em 1999. A descrição da economia vale para o primeiro ano do segundo mandato tanto de Dilma Rousseff (PT) quanto de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). A diferença, fundamental, está na opinião pública e no apoio político que cada um conseguiu reter.

Embora os petistas tentassem emplacar o "Fora FHC", o então presidente não correu um risco de impeachment tão grave quanto Dilma ainda corre. Sua base de sustentação no Congresso era bem menos movediça do que a atual. Vai ver é porque o ex-presidente era mais sedutor. Bom chiste, má resposta. A pulverização partidária tornou a governabilidade mais cara ao longo dos anos, e o pessimismo é muito mais profundo e generalizado hoje em dia. O pavio do público encurtou.

Seja pelo acúmulo de casos de corrupção, seja porque a ascensão social via consumo mostrou-se limitada e insatisfatória, seja porque as redes tipo Facebook viralizam ideias e críticas instantaneamente, fato é que atinge-se o grau de saturação social com muito mais rapidez. O câmbio de humor é repentino, como foi na avalanche de protestos de junho de 2013. A reação da população a problemas econômicos de intensidade semelhante é muito mais impaciente e virulenta do que era há 16 anos.

A demonstrar isso, um estudo comparativo do Ibope Inteligência mostra os sinais reais da economia e como a população reagiu a eles em três momentos-chave e equivalentes da transição do primeiro para o segundo governos de FHC e de Dilma: dezembro de 1998 e 2014, março de 1999 e 2015 e setembro de 1999 e 2015.

No dezembro do ano em que se reelegeram, tanto Dilma quanto FHC amargaram uma contração de 0,2% do PIB. Essa taxa chegou em março seguinte a -2,0% para a petista e a -2,6% para o tucano. Mais um semestre, e desceram a -2,5% e -3,3%, respectivamente.

Ao mesmo tempo, a taxa de ruim e péssimo de ambos os governos cresceu muito rapidamente, superando as avaliações positivas. Para FHC, de 15%, em dezembro de 1998, para 41% em março de 1999, e 51% em setembro. No caso de Dilma, ela já partiu de um patamar negativo mais alto, mas o crescimento foi equivalente: de 27% (dezembro) para 64% (março), para 69% (setembro). A retração da economia foi menor, mas a da popularidade, maior.

No mesmo período, a inflação sob o tucano dobrou duas vezes, de 1,7% para 3% e para 6,3%. Sob a petista, partiu novamente de um patamar bem mais alto, mas cresceu proporcionalmente menos: de 6,4% para 8,1% e, meses depois, para 9,5%. Porém, o pessimismo é maior hoje: os que acham que a inflação vai aumentar cresceram de 72% para 76%. Sob FHC, atingiram 62%, mas caíram para 51%.

Com o desemprego, foi o oposto: a taxa oficial cresceu mais devagar no governo FHC. De 6,3% para 8,2%, e então refluiu para 7,4%. Com Dilma, pulou de 4,3% para 6,2% e, agora, chegou a 7,6%. Na cabeça da população, os movimentos foram distintos também: o medo de aumento do desemprego cresceu de 68% para 73% sob FHC, mas depois caiu para 62%. Com Dilma, saiu de patamar mais baixo, 55%, mas não parou de subir: 67% e, agora, 70%. Tudo isso pode ser resumido na percepção do público sobre a própria renda. Enquanto sob FHC quem apostava que ia ter menos dinheiro oscilou de 22% para 26% e caiu a 19%, sob Dilma a taxa de quem tem medo de ficar mais pobre disparou de 15% para 39%.

A crise de 2015 se equivale à de 1999 no papel. Mas, na cabeça dos brasileiros, é mais grave (51%) e difícil de superar (71%). Provoca, assim, mais instabilidade para Dilma do que causou a FHC. Essa volatilidade deve assombrar futuros presidentes - ao menos enquanto o preço da governabilidade subir como o dólar.

Valdo Cruz - Lula, o diversionista

- Folha de S. Paulo

Lula, acuado, tenta de tudo para fugir de sua agenda negativa. Sentindo o cheiro da Lava Jato chegar perto dos seus –familiares e amigos–, o petista mira no que reúne e anima sua tropa. Bater no ministro Joaquim Levy.

O ex-presidente não se conforma com o estado de ruindade da economia brasileira. Acredita piamente que a vida do PT, da presidente e a sua, apesar de toda lambança do petrolão, não estaria neste miserê todo se o país estivesse crescendo.

Só que, a cada dia, tudo fica pior. Até otimistas de plantão já falam que o cenário econômico só melhora no final do ano que vem. Daí, por instinto de sobrevivência, Lula desce a lenha sem dó na política econômica de Levy e estimula sua turma a fazer o mesmo.

Difícil saber até onde faz isto como estratégia diversionista ou se deseja, de fato, que sua criatura adote uma linha populista de estímulo ao crédito quando todos estão endividados. Ou é desespero mesmo.

Afinal, Lula defende que Henrique Meirelles assuma a cadeira de Levy. Uma troca que não traria nenhuma guinada na política econômica. Pelo contrário, seria uma continuidade em doses mais salgadas.

Enfim, Lula tenta salvar o que pode de seu legado e, para tal, pressiona sem rodeios sua criatura a mudar o que considera equivocado.

Até pouco tempo, reclamava que ela não lhe dava ouvidos. Agora, com a crise em altíssima voltagem, sente que o clima mudou e ela passou a ceder a suas pressões.

Como na troca da Casa Civil. Depois de relutar, trocou Aloizio Mercadante por Jaques Wagner, o nome certo para o posto, mas que deveria ter chegado lá um pouco mais cedo.

A batalha agora parece ser na economia. Neste domingo, ela deu um chega para lá no lulista Rui Falcão, que pediu em público a cabeça de Levy. Foi além. Disse concordar com sua política econômica. Só que tudo pode não passar de puro diversionismo dilmista. A conferir.

Ricardo Noblat - Moralistas sem moral

- O Globo

“Esses são meus princípios. Mas se você não gosta deles, tenho outros” Groucho Marx, comediante americano

Há uma semana, a presidente Dilma estava no chão, e a caneta de Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, cheia de tinta para assinar o ato que autorizaria a abertura do processo de impeachment contra ela. Esta semana começa depois de mais um movimento abrupto da gangorra do poder: agora é Eduardo que está no chão, atingido por novas denúncias de roubalheira. E Dilma posa de vencedora.

AMANHÃ FARÁ uma semana que Dilma perguntou a sindicalistas reunidos por Lula para escutá-la em São Paulo: “Quem tem força moral, reputação ilibada e biografia limpa suficiente para atacar a minha honra? Quem?” Entusiasmada com os aplausos que recebeu, chamou o impeachment de “golpismo escancarado”, e seus adversários de “moralistas sem moral”
.
DE FATO, são “moralistas sem moral” os políticos que tratam Eduardo com brandura, interessados apenas em que ele ceda às pressões e ponha para tramitar na Câmara o processo de deposição da presidente reeleita há menos de um ano. Mas serão “moralistas com moral” aqueles que igualmente tratam Eduardo com brandura, empenhados apenas em que ele desista de derrubar Dilma?

NA CONDIÇÃO de investigado, Lula desembarcou em Brasília para ser ouvido por procuradores da República. Aproveitou a viagem para negociar com Eduardo o fim do impeachment em troca da salvação do mandato dele, ameaçado de ser cassado pela Câmara. E da boa vontade da Justiça quando fosse obrigada a julgar Eduardo por corrupção, lavagem de dinheiro e sonegação de impostos.

COMO LULA, sem ser um amoral, poderia garantir a Eduardo que deputados ligados ao governo negarão seus votos para cassá-lo? Como Lula, sem ser um amoral, poderia prometer que o governo empregará toda a sua força para que Supremo Tribunal Federal absolva Eduardo dos seus crimes? Ou pelo menos para que não lhe aplique duras penas? Diante da mesma plateia de sindicalistas que recepcionou Dilma em São Paulo, Lula justificou as “pedaladas fiscais” do governo que resultaram na rejeição de suas contas de 2014 pelo Tribunal de Contas da União. E o que disse? Que o governo foi obrigado a pedalar para não deixar sem dinheiro o Bolsa Família e demais programas de assistência aos mais pobres.

MENTIU – o que não pega bem para um moralista com moral. Para um sem moral não faz diferença. As pedaladas tiveram a ver com despesas feitas pelo governo para além do que o orçamento permitia. Com isso, desrespeitou a Lei de Responsabilidade Fiscal. Quem desrespeita lei incorre em crime. Não vale a desculpa imoral usada por Dilma de que governos anteriores procederam assim também.

QUANTO À PERGUNTA que ela fez aos sindicalistas: “Quem tem força moral, reputação ilibada e biografia limpa suficiente para atacar a minha honra?” Há muita gente que tem, sim. Talvez falte motivo para o ataque. Em compensação, há motivos de sobra para que se ponha a conduta de Dilma em dúvida. É provável que ela não tenha roubado. Mas que sequer tenha visto que roubavam?

SEU SUCESSOR no Ministério das Minas e Energia é suspeito de ter roubado. Sua sucessora na Casa Civil, de tráfico de influência. Como mandachuva na Petrobras, aprovou negócios que envolveram propinas. E viu a empresa submergir em um mar de lama. Dinheiro sujo financiou suas duas campanhas. Se tudo isso a surpreendeu, por carecer de competência não tinha condições de presidir o país. Não tinha mesmo.

Marcos Nobre - O novo pacto lulista

• A política se impôs sobre o mercado pela ameaça da hecatombe

- Valor Econômico

Depois de nove meses de crise aguda, o quadro agora se tornou apenas crônico. Instalou-se um governo-tampão dentro do governo Dilma. Seu primeiro horizonte são as águas de março de 2016. A atual recessão política crônica deve continuar a acompanhar a sua irmã gêmea, a recessão econômica prolongada, e o ajuste político será pago em prestações, da mesma forma como o ajuste fiscal e econômico. O que pode indicar que o atual arranjo talvez não seja exceção, mas regra de razoável duração. Pode ser uma espécie de experimento piloto do que virá: algo como dois ou três sucessivos governos de seis meses, cada um com seu horizonte, agenda e desafios.

O primeiro e mais urgente desafio da agenda deste primeiro governo-tampão é colocar alguma ordem nas contas públicas. No grau que for possível, da maneira como der. Porque uma característica marcante do novo pacto lulista em prestações é um radical rebaixamento das expectativas de ajuste. Por ter sentido no rosto o bafo do colapso econômico, o mercado se rendeu a qualquer arranjo de estabilização, desde que dure mais do que uma semana. Praticamente abriu mão, mesmo que de maneira provisória, de exigências que considera habitualmente inegociáveis, como a de um ajuste que indique sustentabilidade de médio prazo, por exemplo.

O desespero chegou a tal ponto que uma estabilização de seis meses se tornou o equivalente de equilíbrio sólido. Não por acaso, até defesas apaixonadas da CPMF se multiplicaram, vindas de onde menos se poderia esperar. Não que adiante muito a esta altura, já que a CPMF parece mesmo enterrada. Mas é um sintoma importante da Síndrome de Estocolmo do mercado, que passou a defender com veemência o mesmo sistema político que o sequestrou nos últimos meses.

A rendição do mercado mostra que as expectativas se reduziram agora a estancar a sangria. Se o governo conseguir impedir que o rombo de 2015 pare de aumentar e se conseguir convencer de que o buraco de 2016 não vai ser assim tão grande, já terá conseguido o apoio da elite econômica de que precisa para atravessar esse primeiro mandato-tampão. A abdicação de Dilma em favor de Lula significou a volta de um fiador crível, do ponto de vista do mercado. No velho estilo dos seus dois mandatos, Lula promoveu a celebração de um pacto que promete manter o sistema político e a base da sociedade sob relativo controle sem desesperar a elite econômica. Só que, desta vez, o mercado vai ter de aceitar as condições escorchantes impostas pela bancarrota política.

Porque Lula tem também de combinar com o povo que sofrerá os horrores da recessão prolongada e com as suas próprias bases mais tradicionais de apoio. Esse é o segundo desafio mais premente. Joaquim Levy não é ele mesmo o problema. É apenas um símbolo do governo anterior de Dilma, o da crise aguda. Pode ter de ser afastado para marcar um novo começo. Nada pessoal.

Lula tem de entregar o prometido em termos de relativa calmaria social e política. O sistema político continua se esfaqueando pelos cargos de segundo escalão. Não se trata das navalhadas de sempre, porque agora a máquina pública foi declarada terra devoluta, sem qualquer cordão sanitário de proteção nem mesmo para áreas de mananciais. Mas, dentre mortos e feridos nessas disputas de grilagem, cercas e porteiras vão acabar sendo erguidas em algum momento próximo.

Do lado do sofrimento social, a orientação será de reforçar na medida do possível mecanismos de proteção ao emprego e à renda, de reduzir juros e de aliviar o compulsório dos bancos, além de retomar um patamar mínimo para o investimento público, simplesmente dizimado em 2015. Também sob esse aspecto, o mercado se verá obrigado a engolir adicionalmente uma taxa de inflação que já subiu no telhado da meta.

Mesmo sendo implementadas com sucesso, essas medidas não bastarão para colocar a insatisfação social sob relativo controle. Em junho, Lula teria dito que ele e Dilma estavam no volume morto. A queda do nível do reservatório teria feito emergir o verdadeiro fiador da presidente, o próprio Lula, a quem Dilma deveria urgentemente entregar governo se quisesse salvá-lo. Desde então, repete até hoje de maneira insistente que o governo precisa produzir um discurso capaz de dar sentido ao sofrimento presente e de descortinar alguma perspectiva de futuro.

Essa é a principal dificuldade política do momento atual. E não apenas para o presente governo-tampão, que pode jogar a população nos braços das forças anti-Dilma a partir de fevereiro do ano que vem se não conseguir dar alguma explicação e alguma perspectiva de melhora para a desgraça de hoje. Também a turma pró-impeachment tem enorme dificuldade para produzir um discurso crível. Ganha um impeachment de caramelo suíço quem conseguir explicar para a maior parte do eleitorado o que é uma "pedalada fiscal" e convencê-la de que isso seria equivalente a usar recursos ilícitos para pagar contas privadas da casa de um presidente no exercício do mandato, como foi o caso de Collor, em 1992.

Levar o atual governo-tampão até março do próximo ano significa ainda sobreviver à fase de maior turbulência e desorganização da Lava-Jato. Será o momento em que a operação já deverá ter praticamente completado o seu álbum de figurinhas de quem será alijado do jogo. É só a partir daí que o sistema político poderá efetivamente estabelecer acordos que não fiquem invalidados pela próxima leva de denúncias de prisões.

Mesmo com a continuidade da recessão política e econômica, chegar até março permitiria estabelecer um novo governo-tampão para os seis meses seguintes, tendo como horizonte as eleições municipais de 2016. Da mesma forma, passadas as eleições municipais, o horizonte se deslocaria imediatamente para 2018, levando já em conta o novo quadro partidário que resultar das prefeituras conquistadas. Seria o momento em que o prazo do mandato-tampão seguinte poderia então passar de seis meses para um ano e meio. Pode até funcionar. O que não se sabe é o que vai sobrar do país depois disso tudo
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Marcos Nobre é professor de filosofia política da Unicamp e pesquisador do Cebrap

Marcus Pestana - A corrupção que ameaça as instituições

- O Tempo (MG)

Há um evidente mal-estar na sociedade brasileira. As pessoas estão saudavelmente indignadas, enojadas, saturadas com os níveis inaceitáveis de corrupção que alcançamos. Confesso meu abatimento quando outro dia, no avião, saindo de Brasília, abri o jornal e vi a manchete: “92% dos brasileiros acham que todo político é corrupto”. Para quem vai completar 40 anos de militância e 34 anos do primeiro mandato, não é fácil encarar isso. 

Em recente conversa com minha filha, admiti que não era esse o país que queríamos entregar às novas gerações. Um sentimento generoso e uma utopia ousada moveram minha geração. Fizemos muito. A redemocratização, o combate à miséria, a estabilização da economia. Mas o Brasil de 2015 não é portador do futuro que imaginávamos. Há uma distância abissal entre os cidadãos e o mundo político. Os laços não são de confiança, admiração, esperança, ao contrário. Mas nesse mesmo dia, na praça onde caminhava, quatro senhoras colhiam assinaturas em apoio a um Projeto de Lei de Iniciativa Popular propondo dez medidas contra a corrupção.

A corrupção não nasceu hoje nem é monopólio brasileiro. Faz parte da condição humana. Onde há burocracia, interesses, balcões de intermediação, poder, dinheiro, potencialmente está a semente da corrupção. A política carrega, como nenhuma outra atividade humana, as contradições de nossa existência, virtudes e pecados. O problema é que, no Brasil, a corrupção se tornou endêmica, sistêmica, institucionalizada, operada em escala amazônica e industrial. Não há uma cultura republicana vitoriosa. Não houve aprendizado. A crise de Collor, a CPI do Orçamento, o mensalão não produziram a mudança cultural esperada. Não é à toa que figuras como Joaquim Barbosa e Sérgio Moro se transformam em verdadeiros heróis nacionais. Essa é a vitória, as instituições estão se fortalecendo, mas ainda impera certo ceticismo, como se no fim tudo fosse acabar em pizza.

A corrupção corrói o tecido social, mina a confiança, rouba eficiência da economia, dilacera a política, dinamita a solidariedade entre as pessoas. A cruzada anticorrupção deve envolver a todos. Não há corruptos sem corruptores. O empresariado tem papel central, estancando o estabelecimento de relações promíscuas.

Maquiavel nunca disse que “os fins justificam os meios” e identificava na corrupção generalizada a razão da queda da República romana. Jamais a diferença, em Weber, entre a ética da convicção e a ética da responsabilidade autorizou o assalto aos cofres públicos em nome de uma “boa causa”. Nem os assaltos e sequestros da extrema esquerda nos anos 60, nem a mentira para ganhar eleições, nem a corrupção para comprar apoio parlamentar.

Mas o pior é que hoje, no Brasil, se trata de corrupção pura e simples, enriquecimento ilícito, roubo do dinheiro de todos. Verdadeiros corruptos sem causa. Os tempos são cinzentos, mas juntos, não tenho dúvidas, reconstruiremos a esperança e a decência.

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Marcus Pestana, deputado federal (PSDB-MG)