quinta-feira, 20 de março de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

BC não poderá ceder a apelos populistas

O Globo

Autoridade monetária tem agido bem até aqui. Seu papel será ainda mais crucial diante do risco fiscal futuro

Banco Central (BC) terá, na segunda metade do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, papel ainda mais crucial que na primeira. Não que os últimos dois anos tenham sido tranquilos. Para estimular a economia, o governo expandiu sem cerimônia o gasto público. Um dos efeitos colaterais foi a inflação. Em 2023, ela ficou em 4,62%, pouco abaixo do teto da meta. No ano passado, subiu para 4,83%, acima do limite. Nos últimos 12 meses, está em 5,06% (mais de meio ponto de estouro).

De um lado, o governo jogava lenha na caldeira e, do outro, o BC tentava baixar o fogo subindo os juros. No último trimestre do ano passado, a economia finalmente desacelerou. À primeira vista, poderia ser o prenúncio de menor pressão inflacionária e de política monetária menos restritiva. Mas, como mostrou nesta quarta-feira a alta dos juros — a taxa básica foi para 14,25%, nível mais alto desde outubro de 2016 —, a história não é bem assim. No comunicado, o BC acertadamente deixou a porta aberta a novos aumentos, mas previu ajustes menores. Espera-se que continue a se orientar por razões técnicas.

Queda de braço - Merval Pereira

O Globo

Os mercados, e não apenas o brasileiro, não acreditam que Lula tenha condições de mudar a rota que traçou para seu governo

Não é de hoje que o presidente Lula tem o mercado financeiro como um dos principais adversários em sua vida política, por uma visão ideológica que enxerga o capitalismo como projeto de poder que privilegia as classes dominantes na sociedade. Embora tenha sido um dos mais populares líderes políticos do país, nunca obteve maioria no Congresso. Sempre usou a pressão popular para forjar maiorias eventuais e aprovar seus projetos.

Essas maiorias, como se sabe historicamente, sempre surgiram com o apoio de partidos que, em troca, recebiam pequenas, mas importantes, parcelas do Estado brasileiro como compensação, sem que Lula precisasse aproximar-se politicamente deles, nem que tivessem voz nas decisões do governo. Recompensas por meio de estatais como a Petrobras, como no caso do petrolão, esquema descoberto pela Operação Lava-Jato, ou simplesmente de outras, como no mensalão.

Guerra à vista na direita - Malu Gaspar

O Globo

Enquanto o governo Lula aproveita o raro momento de tranquilidade com o anúncio da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, a disputa pelo espólio eleitoral de Jair Bolsonaro ganhou contornos mais concretos nos últimos dias.

O ato em Copacabana por anistia aos presos do 8 de Janeiro flopou. Silas Malafaia pôs a culpa num hábito que atribuiu ao carioca: acordar tarde aos domingos. Mas a comparação com o ato nas mesmas condições em abril de 2024 sugere que a capacidade mobilizadora do bolsonarismo encolheu.

Com isso, o plano de usar a massa para pressionar o Congresso a aprovar a anistia ficou prejudicado. O presidente da Câmara dos DeputadosHugo Motta (Republicanos-PB), que andou flertando com a ideia de pautar a votação do projeto nos primeiros dias de mandato, já a abandonou.

Nesse contexto, a ida de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) para os Estados Unidos nada tem de improvisada. Ao contrário, obedece a uma estratégia com finalidades bem claras. A primeira é criar um factoide, não necessariamente com o objetivo de dispersar a atenção dos adversários, mas para engajar o minion que precisa de razões para continuar na guerra ideológica, às vésperas do início de um julgamento que monopolizará a atenção do Brasil por meses — e que deverá acabar em condenação para Jair Bolsonaro.

Julgamento de Bolsonaro antecipa articulações eleitorais à Presidência - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Ex-presidente insiste na manutenção da pré-candidatura e pretende fazer do seu julgamento, no Supremo, um palanque

O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para manter os ministros Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin e Flávio Dino no julgamento da denúncia contra Jair Bolsonaro e mais 33 pessoas por suposta tentativa de golpe de Estado. Os três ministros fazem parte da Primeira Turma do Supremo, que na próxima terça-feira analisará a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o chamado núcleo da organização criminosa, que seria formado pelo ex-presidente e sete aliados. A defesa de Bolsonaro também pediu que a denúncia fosse julgada pelo plenário do Supremo, composto pelos 11 ministros, e não pela turma, que tem cinco.

Entre os réus, estão os generais Walter Braga Netto e Mário Fernandes. Os advogados do primeiro pediram o afastamento de Moraes da relatoria das investigações; a defesa do segundo, o de Dino. A defesa de Bolsonaro defendia o impedimento de Zanin e Dino. Argumentava que os ministros do STF já processaram o ex-presidente no passado.

Os ministros que são alvos dos questionamentos não analisaram os recursos contra eles, somente os relacionados aos colegas. Votaram contra impedimento Luís Roberto Barroso, presidente da Corte, Gilmar Mendes, Cristiano Zanin, Dias Toffoli e Luiz Edson Fachin, além de Dino e Moraes.

Os juros vão continuar a subir - Míriam Leitão

O Globo

Copom eleva Selic e indica outra alta em maio. Qualquer que seja o percentual, os juros ficarão acima de quando inflação atingiu dois dígitos

Os juros continuarão subindo, mas em ritmo menor. Esse foi o principal recado do Banco Central ontem, embora não tenha indicado de quanto seria essa nova alta. O Copom preferiu se deixar livre para decidir, em 7 de maio, por dois motivos: no Brasil, os dados são imprecisos; e no exterior, a incerteza é enorme em função da política comercial do governo Donald Trump. Apesar do verdadeiro choque de juros que o BC já aplicou no país, nas últimas três reuniões, a economia continua crescendo. “Ainda que sinais sugiram uma incipiente moderação no crescimento”, diz o comunicado.

inflação ficará acima do teto da meta no final do ano. Mas quanto? Ontem, o Ministério da Fazenda divulgou relatório falando em 4,9%. O BC usou os dados do mercado, que coleta através do Boletim Focus, e aponta que as projeções subiram muito: 5,7% para o final de 2025 e 4,5% em 2026.

Lula vence primeira batalha pelo eleitor bolsonarista - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Questão agora é saber com que roupa se agregarão os sócios de todos os naipes que esta isenção vai atrair

Três meses depois de a intenção do governo de isentar de Imposto de Renda a faixa até R$ 5 mil levar o dólar a R$ 6,26, o projeto foi enviado ao Congresso. No dia seguinte, o dólar fechou em R$ 5,64.

O fenômeno encontrou uma miríade de explicações dentro e, principalmente, fora do governo. Em dezembro, diz um, o mercado tinha pedido sushi (ajuste fiscal) e recebeu macarronada (isenção de IR para mais pobres). A neutralidade tributária da proposta está mais amarrada e convincente, diz outro. E ainda há quem sustente que é moralmente indefensável atacar uma saída que minora a desigualdade de renda do país.

Como a situação fiscal não mudou, as leis que regem as contas públicas continuam a impedir que se aprovem despesas sem previsão de receitas e a moralidade pública nunca foi um impedimento à apropriação de riqueza no país, as explicações parecem insuficientes.

Otimismo com cautela na temporada de balanços desafiadora - Nelson Niero

Valor Econômico

A grande preocupação é como o macro está batendo no micro, especialmente no equilíbrio entre as receitas de vendas das empresa e os custos

No mundo dos negócios, não existem problemas nem dificuldades, há desafios. “Desafiador” é o adjetivo preferido dos executivos para explicar aquelas situações que em ambientes menos formais seriam definidas sucintamente por um palavrão. O Brasil é desafiador por natureza, e estes são tempos muito desafiadores, para qualquer lado que se olhe, até para os padrões escrachados do país que, segundo o magistrado, ainda precisa ser “recivilizado”.

Não é preciso dizer que nesta temporada de resultados das companhias de capital aberto, que começou em fevereiro, fez uma pausa para os desafios carnavalescos e voltou para a reta final, os executivos estão sendo educadamente pressionados pelos analistas e investidores nas teleconferências de apresentação dos números a explicar em detalhes o tamanho das dificuldades, ou melhor, dos desafios, que estarão diante das companhias neste ano.

Copom procura manter as rédeas do ciclo de aperto - Alex Ribeiro

Valor Econômico

O colegiado indicou claramente que a próxima alta dos juros, a ser decidida em maio, será menor do que o ritmo de 1 ponto percentual utilizado nas três últimas reuniões

Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central preferiu jogar no seguro, dizendo claramente que o ciclo de aperto monetário não terminou, evitando reações negativas de setores do mercado que defendiam uma postura mais firme do comitê.

O colegiado procurou manter as rédeas do ciclo de aperto monetário, indicando também claramente que a próxima alta dos juros, a ser decidida em maio, será menor do que o ritmo de 1 ponto percentual utilizado nas três últimas reuniões.

Qual vai ser a próxima decisão do Copom? A sinalização deixa em aberto três possibilidades: alta de 0,75 ponto, de 0,5 ponto e de 0,25 ponto. Está certo que, hoje, parece improvável uma alta de apenas 0,25 ponto percentual, dado o cenário inflacionário como um todo. Mas essa hipótese não foi excluída do leque de possibilidades e, portanto, não deveria ser completamente ignorada.

Cem anos dessa praga - Eugênio Bucci

O Estado de S. Paulo

‘Mein Kampf’ não é página virada. O Terceiro Reich foi projetado por Hitler para durar mil anos. Como doutrina, já durou cem. E vem mais por aí

Em julho de 1925, o livro Mein Kampf (Minha luta), de Adolf Hitler, foi lançado na Alemanha. No ano seguinte, 1926, chegou aos leitores um segundo volume, este mais dedicado ao tema da organização partidária. A partir daí, nas edições posteriores, os dois volumes foram reunidos num só e Mein Kampf fez sua carreira editorial dividido em duas partes: a primeira, com 12 capítulos, e a segunda, com 15. Nesse compêndio de horrores, o autor destila ódio, megalomania, ressentimento, antissemitismo, nacionalismo, xenofobia e apologia da violência para fixar o ideário nazista. Com êxito.

Faz um século – e não passou. A coisa nunca mais arredou pé. Em 30 de janeiro de 1933, Hitler foi nomeado chanceler pelo presidente Paul von Hindenburg. Ato contínuo, transformou seu país numa ditadura totalitária. Logo que chegou ao poder, foi saudado por passeatas noturnas em que jovens fardados carregavam tochas em formação militar. Eram as Fackelzug. No documentário O Fascismo de Todos os Dias, de 1965, dirigido pelo russo Mikhail Romm, podemos ver esses rios ígneos apavorantes.

Colheita de resultados - William Waack

O Estado de S. Paulo

As benesses políticas com a reforma do IR devem ficar aquém do que o governo espera

Na visão de Lula é infalível a fórmula de injetar dinheiro para consumo e esbravejar na peleja ricos contra pobres. É o que promete a reforma do IR para fazer “ricos” pagarem por um benefício para “pobres” (a isenção para quem ganha até R$ 5 mil por mês).

Há anos que se apontam as severas distorções do sistema tributário brasileiro e sua falta de progressividade – um dos piores exemplos entre as maiores economias do mundo. Se aprovada como proposta, a reforma vai reduzir para apenas 10% da população economicamente ativa a base de contribuintes do IRPF.

Embora eloquente como retrato do nível de desigualdade do País, não é isto que está em discussão. Nem se trata também de “justiça histórica” em relação à tungada sofrida por contribuintes há décadas por conta da falta de correção da tabela do IR.

PIB de 2024 cresceu 3,4%, mas... - Roberto Macedo

O Estado de S. Paulo

É preciso cobrar do governo uma atuação bem mais forte pelo crescimento econômico do País

A notícia foi divulgada pelo IBGE no dia 7 de março de 2025, e só hoje a estou comentando porque no dia anterior eu havia publicado meu artigo neste espaço, e escrevo a cada duas semanas. O governo e muitas pessoas se contentaram com a taxa de 3,4%, mas ela veio de novo no contexto de baixas taxas de crescimento econômico desde 1980. E esse crescimento é cíclico, em ondas que não se sustentam. Entendo que isso ainda é mal compreendido pela população do País, que parece dominada por baixas aspirações quanto ao crescimento econômico nacional e não reclama.

De minha parte, acho que o Brasil deveria ter uma meta de crescimento maior, começando com 4% ao ano, e num caminho marcado por mais investimentos públicos e privados, porque hoje são muito baixos. E são maiores investimentos em Formação Bruta de Capital Fixo que levam a uma produção maior, a mais empregos, mais renda, tudo aquilo que impulsiona a economia de um país e seu Produto Interno Bruto (PIB).

BC duro sem perder a ternura - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Autoridade monetária não dá sinais de que está mais preocupada com PIB do que com inflação

A praça financeira fazia pressão para que o Banco Central não amolecesse. Isto é, não desse sinal de que a campanha de elevação da Selic teria fim no horizonte visível. Os "falcões" (a favor da dureza nos juros) ameaçavam morder o BC "pombo" (mole com a inflação).

Nesta quarta, o BC foi duro sem perder a ternura, para recorrer de modo irônico ao clichê. Não houve indício de que está mais preocupado com o ritmo da economia do que com o controle da inflação. Mas disse que agora vai mais devagar com o andor.

Segundo o BC, a Selic aumenta mais uma vez na próxima reunião do Copom, em maio. Para junho, não há indicação. No entanto, depreende-se, pela descrição que o BC faz de riscos e outras avaliações de conjuntura, que esta campanha contra a inflação não tem data para acabar.

Eduardo Bolsonaro não é exilado político - Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Entre a Disney e o seu país, preferiu chorar nos ombros do Pateta

Eduardo Bolsonaro não é exilado político. Pela lei americana, em especial a Lei de Refúgio de 1980, não é elegível ao asilo político o estrangeiro sobre o qual há sérias razões para considerar que tenha cometido um crime comum grave fora dos EUA, ou que tenha ordenado, incitado, auxiliado ou participado da perseguição de qualquer pessoa devido à sua opinião política.

É insincero o choro de crocodilo do clã Bolsonaro, dizendo-se perseguido ao ser pego pela Justiça tentando perseguir e matar seus inimigos políticos, segundo as investigações. Perseguição haveria se a família Bolsonaro tivesse sido bem-sucedida no golpe que intentou.

Falta algo na pauta popular do governo - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

Às esquerdas toca avançar no caminho da equidade num país longe de assegurar igualdade de oportunidades

Entrevistado por Mônica Bergamo, no domingo (16), o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, não poderia ter sido mais claro quanto ao caminho a seguir: "É mudar de assunto, é entrar na pauta popular. A minha linha agora é que este ano de 2025 é o ano do Lula. É Lula sendo Lula. É Lula falando da vida do povo, é o Lula do Pé-de-Meia, é o Lula do crédito ao trabalhador, que vai beneficiar 40 milhões. É o Lula do Vale-Gás, é o Lula da isenção do Imposto de Renda".

A esta altura é impossível avaliar o impacto eleitoral desse conjunto de medidas. O que se pode dizer é que o presidente e seu partido apostam que tais iniciativas ­—somadas ao crescimento continuado da economia e do emprego— os ajudarão a permanecer no governo federal a partir de janeiro de 2027.

Bolsonaro precisa aprender português - Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Ele e os seus serão julgados conforme a lei, o que a ditadura que admiram não permitia aos adversários

Bolsonaro precisa aprender português. Quer ser absolvido de crimes que diz não ter cometido. Como ser absolvido de algo de que não se é culpado? Outro dia subiu a um palanque para pedir anistia para os inocentes que tocaram o terror em Brasília no 8/1 na tentativa de induzir o Exército a dar um golpe. Mas é possível anistiar inocentes? E ele não admite que se condene a 17 anos uma doce velhinha de Bíblia na mão, saída de seu burgo na roça, apenas porque ela se deixou iludir pelas mentiras que ele próprio disseminou. Como ela poderia saber que estaria em tão más companhias quando lhe ofereceram um passeio a Brasília com tudo pago e uma aprazível temporada num camping diante de um quartel?

Poesia | Mundo Grande, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Beth Carvalho, Ivete Sangalo - Brasil Pandeiro